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Halloween e as entidades

do folclore brasileiro

A festa do dia das bruxas ou Halloween faz a alegria da criançada, cujos adultos, entre uma gostosura ou uma travessura, normalmente optam por oferecer aos pequenos “fantasmas”, “duendes” e seres “assustadores”, as gostosuras. E dá-lhe balas, chicletes, biscoitos, chocolate…

Muitos atribuem a comemoração, aqui no Brasil, à influência da cultura norte-americana, mas as origens das celebrações baseiam-se na sobreposição de diversas culturas, com a presença de festividades e rituais de diversos povos que aconteciam no mesmo período. 

Uma das origens do Halloween é o festival celta Samhain, que marcava o fim do período de colheita, e era seguido do festival do Dia dos Mortos, quando, supostamente, aqueles que se foram poderiam circular no mundo dos vivos. 

A cultura celta contempla diversos povos que viviam na Europa e tinham cultos em comum. Com a conquista pelos romanos e a cristianização desses povos, muitos desses cultos começaram a ser modificados. “Os festivais celtas estavam relacionados à fertilidade, tanto da terra e dos animais quanto das pessoas, o que, para os cristãos, era considerado bárbaro. 

Os povos cristãos, então, passaram a celebrar seus mortos no dia 2 de novembro e, no dia em que os celtas celebravam o Dia dos Mortos (1º), instituíram o Dia de Todos os Santos.  Para a visão cristã, a ideia de que as almas pudessem circular no mundo dos vivos era extremamente pagã e por isso, os cristãos distanciaram-se da celebração celta: o Halloween (all hallows’ eve).

Se por um lado o 31 de outubro tem a origem no sentido do Samhain; por outro a influência do cristianismo fez a data se converter na festa infantil das “gostosuras ou travessuras”, tão comum nos Estados Unidos.

Do norte da América aqui para o lado de baixo do Equador, a comemoração foi sendo difundida em filmes,séries e pelo “american way of life”, ou seja, cada vez mais a classe média e rica, que tinha acesso às influências culturais dos Estados Unidos foi incorporando em suas comunidades e escolas, a comemoração do Halloween.

O Saci contra-ataca

Mas, se na cultura brasileira não temos referências de grandes bruxas… nosso folclore é rico em entidades sobrenaturais, ligadas, principalmente à proteção das matas e florestas, influência ancestral dos indígenas e de uma sociedade brasileira predominantemente rural até a década de 70/80 do Século passado.

A partir da perspectiva de que não há ligações  entre a celebração do Halloween e a cultura brasileira, a então deputada Angela Guadagnin apresentou, em 2003 o projeto de Lei 2.479-A, para que, no dia 31 de outubro, fosse celebrado no Brasil o Dia do Saci. Em 2004, a data foi oficializada no Estado de São Paulo e, em 2010, no país.

Vale lembrar que a data propõe a valorização dos elementos culturais ligados à formação do brasileiro, mas convenhamos, “competir” com o Halloween não é fácil.

Ainda se considerarmos que, no Brasil, o dia do Folclore é comemorado em 22 de agosto.

Aliás, neste post a gente abordou um pouco das lendas urbanas da capital paulista, que constroem parte do folclore sobrenatural de São Paulo.

Mas o Dia do Saci, oportunidade de resgatar esses valores de nossa cultura tradicional, é levado a sério em muitas localidades.

Em São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo, essa data é comemorada com festa, por pessoas que querem resgatar e valorizar o folclore brasileiro. Segundo Eduardo Coelho, de 54 anos, que se declara um “Saciólogo” (um estudioso e especialista em sacis), o movimento não é uma oposição ao Halloween e sim uma valorização do folclore brasileiro.

Para o Saciólogo, existe explicação para o Saci ser o personagem selecionado como protagonista, dentre tantos outros personagens da mitologia brasileira.

“O Saci é popular no Brasil inteiro, de norte a sul, todos conhecem. Pra gente se tornou o grande ícone, ele puxa a fila de toda mitologia brasileira, foi escolhido também por seu um grande representante da cultura brasileira”.

Eduardo faz uma análise interessante da figura do Saci: “o gorro vermelho do Papai Noel representa os Europeus; a aparência representa nossa descendência afro; já as traquinagens como danças e por ser o guardião das matas, representa os indígenas”, arrisca.

O fato é que o Brasil, de norte a sul, é rico em seres mitológicos, cada qual com suas características fantásticas. Bora conhecer alguns deles:

O folclore paulistano

Repercussão da ocupação europeia na costa e depois interior paulista, quase majoritariamente, dos portugueses (já que franceses se estabeleceram no rio e holandeses no nordeste), os mitos europeus e indígenas, retocados pela emoção africana, tiveram uma área de irradiação que foi além das fronteiras do estado.

O folclore paulistano repete seu padrão em Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás. Os mitos são idênticos sem vestígios de fronteiras entre eles.

São mitos paulistas irradiados para outros estados como o Lobisomem, o Caipora, o Saci, o Cavalo-sem-Cabeça, a Mãe d’Água,… Outros secundários que são adaptações regionais, são; Mãe-de-Ouro, a Pisadeira, o Canhimbora, o Lobo-do-Mato, a Arma-do-Padre-Aranha, a Mãozinha-Preta….

Conheça algumas entidades de nosso folclore nacional

A Cabra Cabriola, era uma espécie de Cabra, meio bicho, meio monstro. 

Em Pernambuco, o mito é do fim do século XIX e início do século XX. Esse mito ocorre também em outros estados do Nordeste, a exemplo de Alagoas, Sergipe e Bahia.

Era um Bicho que soltava fogo e fumaça pelos olhos, nariz e boca. Atacava quem andava pelas ruas desertas nas noites de sexta. Mas, o pior era que a Cabriola entrava nas casas pelo telhado ou porta, à procura de crianças malcriadas e travessas

O Mapinguari é o mais popular dos monstros da Amazônia. Seu domínio estende-se pelo Pará, Amazonas, Acre, vivificado pelo medo de uma população meio nômade que mora nas matas, subindo os rios, acampando nas margens desertas dos grandes lagos e lagoas sem nome.

Caçadores e trabalhadores de todos os ofícios citam o Mapinguari como um verdadeiro demônio do Mal. É um matador por natureza.

Por isso mesmo, Mata sempre, com singular precisão, infalivelmente, obstinadamente, quem encontra pela frente. Mata para comer. 

Descrevem-no como um homem agigantado, negro pelos, cabelos longos que recobrem seu corpo como um manto, de mãos compridas, unhas em garra e fome insaciável…

A Cuca é um ente velho, muito feio, desgrenhado, que aparece no meio da noite para levar consigo crianças inquietas, as tagarelas, aquelas que não além de não dormirem não param de falar.

Para muitos, a Cuca é apenas uma ameaça de perigo sem forma. Amedronta pela deformidade que possa ter. Mas, de verdade, ninguém sabe ao certo que aparência tem essa fantástica criatura.

É um fantasma noturno. Figura em todo Brasil nas cantigas de ninar. É uma aparição que não está localizada em nenhuma região específica, mas em toda parte. 

Atua em todos os lugares. Conduz a criança num saco e some imediatamente depois de fazer a presa, sem deixar vestígios de sua passagem.

O Curupira, em sua descrição mais comum, é um anão de cabelos vermelhos, com pelo e dentes verdes ou azuis. Como protetor das Árvores e dos Animais, costuma punir os agressores da natureza e o caçador que mate por prazer. 

Seus pés voltados para trás, serve para despistar os caçadores, deixando-os sempre a seguir rastros falsos. Quem o vê, perde totalmente o rumo, e não sabe mais achar o caminho de volta. 

É impossível capturá-lo. Para atrair suas vítimas, ele, às vezes, chama as pessoas com gritos que imitam a voz humana. É também chamado de Pai ou Mãe-do-Mato, Curupira e Caapora.

Para os Índios Guaranis ele é o Demônio da Floresta. Às vezes é visto montando um Porco do Mato.

O Boitatá era uma espécie de cobra e foi o único sobrevivente de um grande dilúvio que cobriu a terra. Para escapar ele entrou num buraco e lá ficou no escuro, assim, seus olhos cresceram.

Desde então anda pelos campos em busca de restos de animais mortos. No sul do Brasil se diz que ele come apenas os olhos dos animais capturados ou já mortos, e tantos olhos devora, que fica cheio da luz, mais parecendo uma bola de chamas, um clarão vivo. Se transforma numa espécie de cobra de fogo que serpenteia dentro da escuridão. Com essa forma, algumas vezes, persegue os viajantes noturnos ou caçadores mais distraídos.

No Nordeste do Brasil é chamado de “Alma dos Compadres e das Comadres”. Para os índios ele é “Mbaê-Tata”, ou Coisa de Fogo, e mora no fundo dos rios.

O Boitatá é o Fogo-fátuo ou Fogo-de-Santelmo, luz cintilante, intermitente, que aparece e desaparece sem prévio aviso, produto que surge do processo de decomposição dos fosfatos de hidrogênio dos corpos de animais mortos.

Dizem que o viajante, quando o encontrar, deve ficar parado, imóvel e de olhos fechados, sem respirar, e então, o fogo-fátuo desaparece. Mas, quando o viajante teima em persegui-lo, ele foge, intangível, e tanto mais corre quanto mais se procura apanhá-lo. 

E quando, ao contrário, o homem foge, O Boitatá persegue-o, atormentando-o, deixando ele desorientado, enlouquecido, até que finalmente o mata.

A Lenda do Boto Cor-de-Rosa, ou simplesmente a Lenda do Boto, é uma lenda de origem indígena que faz parte do folclore brasileiro. Ela surge na região amazônica, no Norte do País.

Reza a lenda que o boto-cor-de-rosa, animal inteligente e semelhante ao golfinho que vive nas águas amazônicas, se transforma num jovem belo e elegante nas noites de lua cheia.

Normalmente ele aparece nas festividades de junho, nas comemorações dos santos populares (Santo Antônio, São João e São Pedro), durante as festas juninas.

Vem vestido de branco e com um grande chapéu a fim de esconder o buraquinho que ele tem no alto da cabeça para respirar e para esconder o nariz pontudo, que se mantém após a sua transformação.

Dono de um estilo comunicativo, galã e conquistador, o boto escolhe a moça solteira mais bonita da festa e a leva para o fundo do rio. Lá a engravida e depois a abandona.

Na manhã seguinte ele se transforma em boto novamente. Por esse motivo, a Lenda do Boto é utilizada muitas vezes para justificar uma gravidez fora do casamento.

Helloween ou folclore nacional, o legal é curtir a data sabendo que, por trás de uma festividade aparentemente comercial, há todo um universo cultural, rico, vasto e detalhado que remetem às origens dos povos, sejam eles o europeu ou o brasileiro.

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