45 anos da conquista do Mundial de Basquete
pelo Esporte Clube Sírio
Há exatos 45 anos, em um sábado, 6 de outubro de 1979, no Ginásio do Ibirapuera, acontecia um feito histórico para o esporte amador brasileiro. Pela primeira vez um clube de nosso país, se tornava Campeão Mundial da Copa Intercontinental da Federação Internacional de Basquete, ou do “Campeonato Mundial de Basquete”. Este feito inédito tem intrínsecas relações com a comunidade árabe paulistana e com a família Rizkallah.
A rigor essa história começa nos Estados Unidos, em 1891, quando o educador físico James Naismith cria as regras de um esporte que pudesse ser jogado em ginásios, fugindo assim do rigoroso inverno norte americano, e que também proporcionasse uma atividade física com bola, mas com menos contato físico entre os atletas do que acontecia no agressivo futebol americano.
Naismith pensou em um jogo em que duas equipes tinham como objetivo arremessar a bola em uma cesta elevada, de cada lado da quadra. Para cada bola “encestada” na área adversária da quadra a equipe somava pontos. Vencia o jogo quem somasse mais pontos em determinado tempo. Nascia o “Basketball”, ou o Basquete.
Em 1896 o norte-americano Augusto Shaw recebeu um convite para dar aulas na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, e quando aqui chegou trouxe o esporte para o Brasil.
Vale destacar que o basquete fez sucesso primeiro entre as mulheres, já que os homens ainda estavam deslumbrados com uma outra novidade recente no país, o futebol.
Ainda assim, no mesmo ano ele conseguiu organizar a primeira equipe masculina do Mackenzie College e também a primeira da história do basquete no Brasil.
Tanto quando o futebol e mais até do que o vôlei, o basquete se popularizou nos colégios particulares da elite e, por consequência, nos clubes da sociedade paulistana e também do Rio de Janeiro, se popularizando também nos clubes populares.
Não foi diferente em um clube formado na capital paulista, no dia 14 de julho de 1917, quando jovens imigrantes sírios e libaneses comemoravam, neste dia, o aniversário de Milhem Simão Racy, num quarto de pensão na rua Augusta, e lhe deram de presente a primeira presidência do então criado e batizado “Sport Club Syrio”.
O clube teve sua primeira sede em uma sala na Rua do Comércio, centro de São Paulo. No início de 1920, a sede social foi transferida para um conjunto na rua Florêncio de Abreu. Depois, o clube passaria por um terreno na Ponte Pequena e finalmente construiria a sede que ocupa hoje nas proximidades do Ibirapuera.
Assim como fizeram outros abnegados associados, em um momento de construção na nova sede, o fundador da Casa da Boia, Rizkallah Jorge, doou vultosa quantia em dinheiro e viabilizou a construção da sede social, cujo salão principal, aliás, leva o seu nome.
Vários descendentes da família Rizkallah exerceram voluntariamente cargos na direção do clube, nos mais de cem anos de sua existência, como nosso diretor Mario Roberto Rizkallah, que presidiu o clube entre 1991 e 1992, Antonio Jorge Rizkallah, seu primo, que também foi presidente por dois mandatos, 1967/1968 e 1973/1974 e Salim Rizkallah Jorge, filho de nosso fundador e pai de nosso diretor, que presidiu o Sírio entre 1959 e 1960.
Dos primeiros arremessos ao Campeonato Mundial
A Revista do Esporte Clube Sírio, edição 222, traz uma matéria, que reproduzimos abaixo, que conta a trajetória do basquete no clube até a emocionante conquista do ano de 1979:
O basquete do Sírio começou nos anos 50, mas suas principais conquistas se sucederam nas décadas de 60 e 70. O primeiro título expressivo do basquete do Sírio foi das mulheres, no Campeonato Paulista de 1951. A equipe feminina voltou a ser campeã do estadual em 1955. Nesta época, o basquete levava a curiosa denominação de “bola ao cesto”.
Em 1959 a equipe masculina de basquete do Sírio conquistou 21 títulos oficiais, entre eles dois de relevância maior: Campeão Metropolitano e Estadual. Daí para diante, sucedeu-se uma escalada de conquistas em direção ao topo: Campeonato de Aspirantes, Metropolitano, Estadual, Brasileiro, Sul-Americano; o Sírio ganhava boa parte dos torneios que disputava.
O segundo lugar no Mundial interclubes de 1973
O auge desse ciclo inicial de vitórias foi em 1973, quando o time disputou o Campeonato Mundial Inter-Clubes no Brasil.
O Sírio promoveu o campeonato, e se preparou com um grande time para buscar a inédita taça, disputada no Ginásio do Ibirapuera, lotado, com cerca de dez mil pessoas. A equipe era formada por Radvillas, Ubiratan, Robertão, Arturo Guerrero (mexicano trazido como reforço), Marquinhos, Andreotti, Menon, Succar, Hélio Rubens, Moutinho e Mosquito. O técnico era Pedro Genevicius, Ruy Dip era Diretor de Basquete e Artur Andreotti, Diretor de Esportes.
Os adversários eram o Vaqueros de Bayamon, de Porto Rico, Ignes Varese, da Itália, o Marthon Oil, dos Eua, e o Jugoplastika Split, potência da Iuguslávia. Após vencer o Jogoplastica e o Marathon Oil, dois times favoritos, o Sírio foi enfrentar o Bayamon.
Durante a partida, o time da casa esteve à frente no placar na maior parte do tempo, mas não conseguiu sustentar a vitória.
O Sírio perdia por apenas três pontos. Em um lance difícil, o juiz deu posse de bola para a equipe de Porto Rico. Esta arbitragem foi considerada equivocada, e deu origem a uma grande confusão, culminando com a expulsão de jogadores e a interrupção da partida. Os 40 segundos finais foram disputados no dia seguinte, a portões fechados. Em tão pouco tempo, o time caribenho venceu a partida.
O Sírio ainda tinha um jogo, contra o italiano Ignes Varese, mas para ser campeão precisava vencer com uma diferença superior a 16 pontos. Venceu a disputa, mas por uma diferença de apenas 13 pontos, ficando a duas cestas de realizar o sonho de ser campeão mundial em casa.
Mundial de 1979: trajetória até a consagração
O time passou por um natural período de perda de atletas, que já não eram mais tão jovens, mas, passados alguns anos, se reestruturou com a intenção de conquistar o ainda inédito título mundial. Em outubro de 1979, estando à frente da organização da disputa, mais uma vez no Ginásio do Ibirapuera, o Sírio pleiteia o título do XIII Campeonato Mundial de Clubes Campeões de Basquetebol (Copa William R. Jones).
No primeiro jogo, o time veio com tudo e, veloz, atropelou o Quebradillas (114 x 81), time de Porto Rico. Em seguida, contra o Mokan Club, dos EUA, cometeu erros de rebote e perdeu a partida (91 x 98). O técnico Mortari, ao final, declarou: Não podemos nos desesperar. Nós, infelizmente, não estávamos em uma boa noite. Só nos resta, agora, corrigir nossos erros e partir para o jogo seguinte, pois nem tudo está perdido.
O Sírio jogou, então, com o time italiano Emerson Varese. Se perdesse, estaria fora da disputa do título.
Começou marcando bem, mas muito nervoso. Estava perdendo e só conseguiu virar ao final da primeira fase (45 a 40). Voltou mais equilibrado e administrou a vantagem, vencendo por 83 x 79. Em seguida, na final, muitos achavam que o time brasileiro não seria páreo frente ao forte time Bosna Sarajevo da Iuguslávia, o país que era a maior potência no basquete à época. A partida foi batizada pela imprensa como “jogo dos gigantes”.
Apesar do favoritismo do Bosna, o Sírio, estimulado por 15 mil torcedores, entrou marcando forte e levando a melhor nos rebotes. Mesmo assim, os iugoslavos se movimentaram de forma surpreendente, com destaque para Delibasic (considerado melhor jogador do campeonato), que marcou 42 pontos. Em um primeiro tempo tenso, os dois times erraram muitos arremessos. Mesmo assim, o Bosna terminou na frente (39 a 35). Na etapa complementar os times se soltaram mais e o jogo ficou vibrante e dramático.
Os times se alternaram na liderança da partida a cada cesta, tornando a partida ainda mais eletrizante.
Três arremessos para ganhar ou perder o mundial
A seis segundos do final, o Sírio perdia por apenas uma cesta, 88 a 86, quando Oscar sofreu uma falta. Diante da perplexidade do público, errou o primeiro arremesso. Tinha mais dois. Se acertasse, levaria a partida à prorrogação. Se errasse, seria, mais uma vez, o fim do sonho da conquista do mundial. O Sírio seria “Tri-vice campeão Mundial”.
Para o delírio dos torcedores, Oscar acertou os dois arremessos.
A prorrogação de cinco minutos foi assim descrita à época no Jornal da Tarde:
Na prorrogação aconteceu o que poucos esperavam. O Sírio passou a jogar com perfeição incrível. Não errava nada. Marcação perfeita, ataques muito bem concatenados e o principal: seus jogadores não erravam nenhum arremesso.
Em contrapartida, o Bosna descontrolou-se ante a perfeição do time brasileiro e quando se recuperou era tarde. O Sírio era o senhor da quadra e do jogo e quando o árbitro deu por encerrada a partida uma grande justiça estava estampada no placar: Sírio 100 x Bósnia 98.
A torcida invadiu a quadra e começou a festa.
Revista do Esporte Clube Sírio, edição 222,
Vale lembrar a escalação desse time histórico. A equipe, comandada por Cláudio Mortari, era formada por:
Dódi (Washington Joseph) – armador
Paulinho (Paulo César Rossi Esteves) – ala
Saiani (José Carlos Santos) – armador
Renato (Renato José Elias) – ala
Mike (Miachel Ray Daugherty) – pivô
Marquinhos (Marcos Antonio Abdalla Leite) – pivô
Agra (Eduardo Nilton Agra Galvão) – ala
Marcel (Marcel Ramón Ponikwar de Souza) – ala
Marcelo (Marcelo Vido) – ala
Larry (Larry Dyal Willians) – pivô
Oscar (Oscar Daniel Bezerra Schmidt) – ala
Luisão (Luis Carlos Videira) – pivô
Russo (Edmond Azar Filho) – ala
Feito pioneiro só seria repetido 35 anos depois
A conquista do Mundial de 1979 pelo Esporte Clube Sírio só foi repetida no ano de 2014, quando o time de basquete do Flamengo sagrou-se campeão mundial no Rio de Janeiro. O Flamengo repetiu o feito no ano de 2022, no mundial do Cairo, Egito.
Mais recentemente outro time tradicional brasileiro, o Sesi Franca, entrou para o seleto grupo de clubes brasileiros campeões mundiais ao conquistar o Mundial de 2023 em Singapura.
Se você é fã de basquete, se interessa por história ou apenas quer se emocionar com uma das maiores conquistas de um time amador brasileiro, a gente encontrou e reproduziu abaixo um vídeo que está o canal do Youtube “Arquivo Edu Cesar V” em que o narrador Sílvio Luiz e o comentarista Flávio Prado cobrem, para a TV Record, os segundos finais deste jogo histórico do clube paulista: