capa-blog

50 anos do

Metrô de São Paulo

Entre um misto de incredulidade, certo receio, admiração e muita curiosidade, no dia 14 de setembro de 1974, há 50 anos, cidadãos paulistanos experimentaram uma novidade até então sem precedentes na mobilidade urbana da cidade: um sistema de trens subterrâneos. Entrava em operação comercial naquela data histórica o Metrô de São Paulo.

O primeiro trem do Metrô de São Paulo chega ao páteo do Jabaquara no início da década de 1970.

A inauguração da operação comercial do Metrô representou ao mesmo tempo a consolidação de um processo que estava mudando a paisagem urbana da capital, e o início de um processo de contínua (embora extremamente lenta) expansão permanente de um modal de transporte público que chegou ao Brasil com muito atraso em relação a outros países, mas, que, de qualquer forma, viria a ser o principal e mais tecnológico a partir de então.

Os projetos de implantação de um sistema de trens na capital paulista datam do Séc. XIX. As primeiras discussões sobre a implantação de um metrô surgiram em 1888, quando o engenheiro alemão Alberto Kuhlmann conseguiu uma concessão de cinquenta anos para explorar uma linha férrea elevada ligando os Largos do Rosário e do Paiçandu. No entanto, Kuhlmann não conseguiria concluir a obra no prazo estipulado em seu contrato, que acabou cancelado. Vários outros projetos foram surgindo na década de 1920, 30, 40 do Séc. XX, mas nenhum deles foi adiante.

A ideia do metrô ganha força na década de 1960

No início dos anos 1960, Francisco Prestes Maia assumiu novamente a prefeitura de São Paulo e Ademar de Barros, ao governo do estado. Eles criaram, em 13 de fevereiro de 1963, as comissões estadual e municipal para os estudos de criação do Metrô, mas foi só em 31 de agosto de 1966, durante a gestão do prefeito Faria Lima, que foi formado o Grupo Executivo do Metropolitano (GEM).

O grupo organizou uma concorrência internacional, ao mesmo tempo em que câmara municipal aprovou a lei número 6.988, em 26 de dezembro de 1966, autorizando a criação da Companhia do Metropolitano de São Paulo. No ano seguinte, a concorrência foi vencida pelo consórcio HMD (formado pelas empresas alemãs Hochtief e DeConsult e pela brasileira Montreal).

O prefeito de São Paulo, Faria Lima, dá início simbólico às obras do Metrô.

O projeto aprovado previa uma rede básica dividida em quatro linhas: Norte–Sul (Santana ↔ Jabaquara), Nordeste–Noroeste (Casa Verde ↔ Vila Maria), Sudeste–Sudoeste (Jóquei Clube ↔ Via Anchieta) e Paulista (Vila Madalena ↔ Paraíso); e mais dois ramais: Moema (Paraíso ↔ Moema) e Mooca (Pedro II ↔ Vila Bertioga). 

No ano de 1968, enquanto o projeto do metrô avançava, o sistema de bondes de São Paulo foi desativado no dia 27 de março e o transporte público da cidade ficou a cargo exclusivamente dos ônibus. Em 24 de abril, foi criada pela prefeitura a Companhia do Metropolitano de São Paulo, que iniciaria as obras da linha Norte–Sul em 14 de dezembro do mesmo ano.

Porém, por seu alto custo, logo a Companhia do Metrô foi assumida pelo governo estadual (em 1979).

A cidade vê sua paisagem se transformar e o metrô é responsável pela primeira implosão do Brasil
O Edifício Mendes Caldeira foi implodido para viabilizar a construção da maior estação do sistema, a Sé.

O primeiro impacto que os moradores de São Paulo sentiram em relação ao novo meio de transporte foi o da transformação urbana.

Os tranquilos bairros do Jabaquara e de Santana foram os primeiros a perceber o impacto da obra, pois ali foram construídos os pátios de manutenção e manobras. Para se ter uma ideia, no Jabaquara, uma área de chácaras com nada menos do que 330.000 m² foi desapropriada para construção do pátio de manobras e manutenção dos futuros trens.

Não foi apenas nos extremos da primeira linha em construção que a cidade foi testemunha de transformações. O metrô foi responsável pela primeira implosão de um edifício no Brasil.

O Edifício Wilson Mendes Caldeira foi um dos maiores prédios da cidade de São Paulo e do Brasil durante a década de 1960. Tinha 30 andares e 364 escritórios e ficava ao lado da Praça da Sé, justamente o local onde o projeto do metrô previa a construção de sua maior estação.

O edifício teria de ser retirado do local e sua implosão foi realizada em 16 de novembro de 1975. Foi a primeira vez em que um edifício foi implodido no país. Na época, chegou-se a temer que o edifício caísse sobre a Catedral da Sé e a prejudicasse estruturalmente, mas tudo ocorreu conforme o planejado e o Metrô pode dar prosseguimento à obra que ia mudando a rotina e a paisagem urbana em torno do traçado da linha Norte-Sul, com centenas de desapropriações, escavações, estaqueamento e construção dos túneis subterrâneos.

Em 1972 a primeira composição do Metrô fez uma apresentação à população, rodando pouco mais de 500 m.

Numa manhã fria e nublada de uma quarta-feira, 6 de setembro de 1972, São Paulo parou para testemunhar a viagem de estreia do primeiro trem protótipo do Metrô, formado por dois carros fabricados pela MAFERSA.

Cerca de duas mil pessoas se acomodaram em um belvedere especialmente construído para este evento, que teve a presença do presidente da República Emílio Médici; do governador Laudo Natel e do prefeito de SP, José Carlos de Figueiredo Ferraz.

A composição partiu da única linha completa no Páteo Jabaquara na ocasião, e seguiu até as proximidades da estação de mesmo nome, ainda em obras, a 20 km/h, percorrendo uma extensão de apenas 500 metros. Mas, o impacto na população foi grande e só fez aumentar a expectativa pela inauguração do novo meio de transporte.

Finalmente o Metrô entre em operação
O primeiro bilhete do Metrô paulistano. De papel, com uma tara magnética.

Em 14 de setembro de 1974, às 10h o primeiro trem comercial do Metrô deixou a Estação Jabaquara com destino à Estação Vila Mariana, então o ponto final da linha 1. Um trecho inicial de apenas 7 km.

Nesse primeiro trecho, o atendimento ao público era das 10 às 15 horas e o Metrô funcionava apenas de segunda a sexta-feira.

A escolha desse traçado foi motivada pela inexistência de alternativas de transporte coletivo ferroviário para os moradores dests bairros, e também para desafogar o complicado trânsito no centro da capital. 

O Consórcio que venceu a licitação para construção da linha aplicou as mais modernas tecnologias disponíveis na época, como carros em aço inoxidável, sistema automático de controle e sinalização dos trens, terceiro trilho biometálico, tração elétrica dos carros e controle eletrônico de potência e frenagem, tornando o Metrô de São Paulo um dos mais velozes e modernos do mundo.

Em 17 de fevereiro de 1975, a Linha 1 – Azul, chegou ao centro da cidade, com a inauguração do seu segundo trecho: Vila Mariana–Liberdade. Em 26 de setembro do mesmo ano, foi inaugurado o terceiro trecho: Liberdade – Santana (ainda sem a Estação Sé). 

Assim, a linha passou a operar seu trajeto completo, do Jabaquara a Santana, operando comercialmente das 6h às 20h30. Estava pronta a primeira linha de metrô paulistana, com 16,7 km de extensão e 19 estações.

Uma breve cronologia da expansão das linhas
A Estação Sé. A maior do sistema metroviário.

Em 17 de fevereiro de 1978, foi inaugurada a Estação Sé, a maior do sistema, que interliga as linhas 1- Azul e 3 – Vermelha, com circulação média diária de cerca de 850 mil pessoas.

No dia 10 de março de 1979, o primeiro trecho da Linha 3-Vermelha (Sé-Brás) entrou em operação comercial.

No dia 24 de abril de 1982, entrou em operação a Estação República, a primeira do lado oeste. Em 26 de novembro de 1983, foram entregues a Estação Anhangabaú, em 10 de dezembro de 1983, a Estação Santa Cecília e, no dia 31 de maio de 1986, as estações Carrão e Penha. Com isso, a Linha 3-Vermelha passou a funcionar de Santa Cecília a Penha.

Em 30 de novembro de 1987, uma solenidade marcava o início das obras do trecho Paulista da Linha 2-Verde (Sacomã-Vila Madalena). No mesmo dia, foi emitida a ordem de serviço para o início das obras da extensão Norte (Santana-Tucuruvi), da Linha 1-Azul.

No segundo semestre de 1988, foram entregues as estações Marechal Deodoro e Barra Funda, concluindo os 22 quilômetros da linha 3 – Vermelha, a mais extensa do Metrô. Atualmente, cerca de 1,9 milhões de pessoas utilizam diariamente essa linha.

No dia 25 de janeiro de 1991 o primeiro trecho da Linha 2-Verde, com 3,1 quilômetros de extensão e três novas estações (Brigadeiro, Trianon/Masp e Consolação, além da Estação Paraíso, que foi reformada), entrou em funcionamento. 

Em 1998, foram inauguradas as estações Jardim São Paulo, Parada Inglesa e Tucuruvi, ao norte da estação Santana. Com isso, a Linha 1-Azul (então denominada de Norte-Sul) passou a contar com mais 3,5 quilômetros de extensão e três novas estações. Atualmente, a linha conta com 20,2 quilômetros de extensão e 23 estações. Cerca de 2 milhões  de pessoas são usuárias diárias da linha.

Em 30 de janeiro de 2010 foi inaugurada a Estação Sacomã e a Linha 2-Verde passou a ter 11,7 quilômetros e atualmente transporta 550 mil passageiros em média por dia útil.

Em 20 de outubro de 2002, começou a operação do  trecho inicial da Linha 5-Lilás, entre as estações Capão Redondo e Largo Treze, no centro do bairro de Santo Amaro. A linha permaneceu em obras até 2019 (em 28 de setembro de 2018, foram inauguradas as estações Hospital São Paulo, Chácara Klabin e Santa Cruz, conectando a linha ao restante da rede do Metrô), e apenas em 8 de abril de 2019, a estação Campo Belo, última a ser entregue, foi inaugurada, concluindo as obras no ramal lilás.

Em 30 de agosto de 2014 foi inaugurado o primeiro trecho da Linha 15 – Prata, entre as estações Vila Prudente e Oratório. Vale ressaltar que esta é a única linha do Metrô sobre monotrilho. Atualmente vai da Vila Prudente até o Jardim Colonial, em São Mateus.

Acidentes e atrasos marcam também a história do Metrô
Em 2007 o primeiro acidente de grandes proporções em uma obra do Metrô.

Nem só de sucesso é feita a história do Metrô. Acidentes graves marcaram as obras de expansão da rede na capital.

Em 2007, um desmoronamento no canteiro de obras da Linha-4 Amarela provocou a abertura de uma cratera de 80 metros de diâmetro às margens da Marginal Pinheiros. Na ocasião, a cratera engoliu veículos da obra, como caminhões e uma van que passava pela rua. Sete pessoas morreram soterradas, e várias casas foram danificadas. As obras ficaram interrompidas por vários meses.

Em fevereiro de 2022 outra cratera foi aberta, desta vez na Marginal Tiete, quando o “tatuzão” a gigantesca máquina que cava os túneis do Metrô se aproximou demais de uma enorme galeria de esgotos, que cede e provocou a inundação de toda a obra, inclusive do “tatuzão” e, claro interrompeu por meses o prosseguimento da construção da linha laranja.

Em março de 2023, ainda fora do horário da operação comercial, dois trens se chocaram no monotrilho da linha prata. Embora violento, o choque interrompeu a operação da linha apenas pelo tempo necessário para recolher os trens avariados.

No mesmo ano e na mesma linha, em 11 de setembro, um pneu de uma composição do monotrilho se desprendeu do trem e caiu na Av. Professor Ignácio de Anhaia Melo, felizmente sem provocar vítimas.

Em maio de 2024, nas obras da linha laranja, outra cratera foi provocada pela obra de escavação, desta vez em um condomínio na zona norte de São Paulo.

O metrô em números

Segundo dados do próprio Metrô, o sistema hoje é composto por 71 km de linhas e possui 63 estações que são atendidas por 169 trens. No ano de 2023 o sistema transportou nada menos do que aproximadamente 850 milhões (isso mesmo) de pessoas, uma média de 2,9 milhões de pessoas diariamente.

Os sistemas de metrô mais antigos do mundo
Mapa do “London Tube”, com as linhas indentificadas por cores distintas. Inspiração para o Metrô de SP.

O London Underground, em Londres, Reino Unido, data de 1863 e é o mais antigo sistema de metrô do mundo. Sua inauguração revolucionou a forma como as pessoas se locomoviam em grandes cidades. Inicialmente, os trens eram movidos a vapor.

O “Chicago L”, nos Estados Unidos, foi inaugurado em 1892, é o sistema elevado de trem urbano considerado um dos mais antigos do mundo.

Em 1896 foi inaugurado o metrô circular de Glasgow que é um dos sistemas de metrô mais antigos da Europa. 

Entrada da Estação da Bastilha, em Paris, em janeiro de 1904.

Também de 1896, a  linha de metrô histórica de Budapeste é a segunda mais antiga do continente europeu e uma das mais belas do mundo. Suas estações são verdadeiras obras de arte, assim como o métropolitain de Paris, França, de 1900,  conhecido por sua arquitetura elegante, um ícone da cidade.

Datam também do início do Séc. XX o U-Bahn de Berlim, Alemanha (1902) e o metrô de Nova York, Estados Unidos (1904), um dos maiores do mundo em termos de extensão e número de estações. Possui aproximadamente 472 estações, número que varia ligeiramente dependendo da fonte que considera ou não algumas estações de transferência.

 

“Te encontro na catraca”

Um fato incontestável para quem mora na cidade de São Paulo e utiliza o Metrô é que ele, nestes 50 anos, se tornou muito mais do que apenas um meio de transporte, faz parte de cotidiano paulistano de muitas formas.

Suas estações reúnem uma coleção de obras de arte de artistas contemporâneos, além de frequentemente também apresentaram atrações culturais como pocket shows, esquetes teatrais e declamação de poesias.

Gerações de paulistanos já marcaram encontros dos mais variados nas catracas de acesso das estações. Desde o primeiro encontro amoroso até entrega de mercadorias. Quantos grupos de estudantes já não embarcaram em viagens para o conhecimento usando os trens do Metrô.

E até mesmo para as visitas monitoradas aqui da Casa da Boia, o Metrô é o mais indicado meio de transporte para chegar ao nosso sobrado histórico, já que estamos há poucos metros da Estação São Bento.

Arquivo: