Um giro pelas sorveterias
de rua paulistanas
De massa, de palito, frito, italiano, caseiro, em “gelinho”, raspadinho… será que existe algum ser humano adulto em São Paulo que nunca experimentou um sorvete? Na última segunda-feira, dia 23 de setembro, foi comemorado mais um “dia do sorvete” no Brasil, data criada pela Associação Brasileira das Indústrias e do Setor de Sorvetes, em 2002.
Capital gastronômica que é, São Paulo tem ainda dezenas de locais (fora dos shopping centers) onde é possível se refrescar com variações dessa delícia. Alguns bem próximos da Casa da Boia.
Escolha seu sabor preferido e acompanhe neste post a história do sorvete e onde apreciar um gelado na capital.
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Nascido na China, o que se conhece como o sorvete mais próximo daquele que temos hoje, chegou ao Brasil ainda no Séc. XIX.
Os cariocas foram os primeiros a experimentar a delícia gelada que vinha ganhando o mundo. Em 1834, o navio americano Madagascar, vindo de Boston, aportou na cidade do Rio de Janeiro com cerca de 200 toneladas de gelo em blocos, com o objetivo de serem usados na fabricação de sorvete.
Como naquela época não havia como conservar o sorvete depois de pronto, as sorveterias anunciavam a hora certa de tomá-lo, causando alvoroço na cidade. Até as mulheres, que então eram proibidas de entrar em bares, cafés e confeitarias, resolveram quebrar o protocolo e fizeram fila para experimentar a novidade.
Mas, o sorvete começou a ser distribuído em escala industrial no país a partir de 1941, quando a empresa U.S. Harkson do Brasil, começou a produzir o produto nos galpões alugados da antiga fábrica de sorvetes Gato Preto, no Rio de Janeiro.
Pausa para uma curiosidade. Embora pareça, as letras U.S. não significam “United States”, são a abreviação de “Ulysses Severin” Harkson. Um cidadão norte americano que era dono da Hazelwood Ice Cream Company, de Xangai, na China.
Os anos 1940 foram os anos da Segunda Guerra Mundial. Os japoneses se aliaram à Alemanha Nazista, e, por uma extensão nem sempre muito justa, os asiáticos de um modo geral, acabaram sendo associados ao chamado “eixo”, a aliança militar entre Japão, Itália e Alemanha e o comércio de produtos da Ásia no mundo ficou bastante prejudicado.
Harkson, procurando uma alternativa segura para o desenvolvimento de seu negócio, decidiu por mudar a sua fábrica para a América.
Se você ainda não ligou o nome da empresa à marca de seus produtos é porque ainda não sabe qual foi seu primeiro lançamento comercial, no ano de 1942: o sorvete Eskibon, logo seguido pelo Chicabon. Dezoito anos depois, a Harkson mudou o seu nome para Kibon e assim reinou absoluta na fabricação de sorvetes por décadas.
Quem tem mais de 30 anos certamente já tomou um sorvete Kibon com a antiga marca de um “K” azul sobre fundo amarelo. A marca passou ao controle da Unilever em 1998 e mudou o logotipo para o coração vermelho atual.
Alaska, a sorveteria que marcou gerações
No bairro do Paraíso, rua Rafael de Barros, em um espaço comercial já bastante desgastado pelo tempo, funcionava, até o mês de maio de 2019, a mais antiga sorveteria “de rua” da capital.
Fundada em 1910 a “Sorveteria Alaska” se tornou um ícone paulistano em sorvete de qualidade.
Na década de 1950, era referência em sorvetes na cidade. Em 60, dois imigrantes portugueses (Alberto Mota e Lino Seabra) compraram a marca do antigo proprietário, Maximino Carvalho, e focaram na qualidade do produto.
Em 70, a Alaska aparecia até em anúncios imobiliários, mostrando que o comprador de um apartamento no Paraíso teria a sorveteria a poucos quarteirões. Na década de 80, a procura era tanta que a Alaska ficava aberta até as 3h.
Mas, o negócio familiar não conseguiu se adaptar à concorrência de novas marcas, nem teve flexibilidade para se renovar e o cardápio tradicional de sorvetes artesanais (e caros) não sustentava mais o ponto comercial, que fechou as portas em 2019, dando lugar ao restaurante árabe Fairuz.
Em Moema, imigrante sírio abre sorveteria
Se o Paraíso perdeu uma de suas maiores referências comerciais, com o fechamento da Alaska, as oportunidades se abriram para o imigrante Alaa Kaseem, que há cerca de dez anos veio da Síria para o Brasil
Mesmo com experiência com culinária árabe, quando chegou ao Brasil, como não entendia a língua, Alaa inicialmente trabalhou vendendo água e café na Rua 25 de Março, (alguém notou alguma semelhança com a trajetória de nosso fundador Rizkallah Jorge?).
Depois de conhecer a esposa, Luciana Tucci, cliente do restaurante em que então trabalhava, no centro, Alaa decidiu montar a sua sorveteria.
Assim surgiu a Al Kassem Gelato, na Alameda dos Nhambiquaras, Moema. A casa é especializada na produção do sorvete “Buza”, um sorvete de nata com água de flor de laranjeira, miski e baunilha enrolado em pistache.
Hoje a sorveteria tem uma filial na rua Dr. Melo Alves, nos Jardins.
Um geladinho pelas ruas da cidade
É claro que você não precisa caminhar mais do que um quarteirão para encontrar uma loja de conveniência, uma padaria, um mercado, uma lanchonete ou até mesmo uma loja em que seja possível encontrar sorvetes das grandes marcas.
Mas a arte do sorvete artesanal sobrevive mesmo em tempos de produção em massa (sem querer fazer trocadilho) e em todas as regiões de São Paulo resistem as sorveterias “de rua”. A gente separou alguns endereços onde é possível saborear um geladinho para encarar o calor da cidade de uma forma como se fazia há décadas pelas ruas da capital:
🍧Alfreddo Veggani
Sorvetes veganos, feitos à base de água ou de leite vegetal, sem qualquer ingrediente de origem animal. Há uma segunda loja na Consolação.
Rua Dna. Inácia Uchoa, 271, Vila Mariana, região sul, tel. (11) 2257-2700, @alfreddoveggani
🍧Babaê Gelato
Do salão decorado com lambe-lambes coloridos dá para ver a produção de sorvetes. Lá são criados sabores inventivos, como banana com Nutella, banoffee, cookies, Snickers, s’mores e alcoólicos, que podem levar vodca ou Amarula.
Rua Ferreira de Araújo, 281, Pinheiros, região oeste, @babaegelato
🍧Bachir
Tradicional do Líbano, a rede fundada em 1936 ganhou uma unidade paulistana. Os sorvetes tem a opção da casquinha de ashta, massa feita de leite com essência de flor de laranjeira, que ganha uma cobertura caprichada de pistache iraniano torrado.
Rua Diogo Jácome, 686, Moema, região sul, WhatsApp (11) 97301-7070, @bachirbrasil
🍧Baobá Sorvetes Artesanais
Prepara sorvetes sem adição de conservantes ou aromatizantes perto da avenida Paulista. Os sabores estão disponíveis de acordo com a sazonalidade e incluem sorbets refrescantes, feitos à base de água, com frutas menos convencionais, como lichia, maçã verde e mexerica.
Rua Peixoto Gomide, 1.078, Jardim Paulista, região oeste, WhatsApp (11) 94102-0122, @baoba.sorvetesartesanais
🍧Cangote
Os sabores do Nordeste dão o tom dos sorvetes artesanais. Há opções veganas, preparadas à base de água com frutas como cajá, seriguela e caju, e as que levam leite, como tapioca, nata com goiaba e queijo-coalho. Por cima, vão coberturas de melaço de cana ou farofa de rapadura.
Rua Aureliano Coutinho, 278, Vila Buarque, região central, tel. (11) 97825-9452, @cangotesorvetes
🍧Da pá Virada
Passam pelas cubas geladas cerca de 200 sabores de sorvetes à base de água ou de leite. Dez opções são fixas, como pistache e chocolate belga, e algumas aparecem de tempos em tempos, como requeijão e figo turco com nozes, por exemplo.
Rua José Jannarelli, 455, Vila Progredior, região oeste, WhatsApp (11) 97068-0534, @dapaviradagelateria
🍧Damp Sorvetes
Em operação desde 1970 no bairro do Ipiranga, a sorveteria tradicional oferece diariamente 54 sabores de sorvetes de fabricação própria, vendidos por peso, como o doce de leite, tapioca, gorgonzola com nozes e os inusitados água de rosas e violeta.
Rua Lino Coutinho, 983, Ipiranga, região sul, tel. (11) 2274-0746 e (11) 2272-7059, WhatsApp (11) 97075-4434, @dampsorvetes
🍧Davvero Gelato Tradizionalle
Uma bolachinha artesanal de castanhas colocada no topo de cada sorvete servido dá o diferencial neste endereço. Na vitrine de sabores há chocolate ao leite belga, gianduia crocante, pistache importado da Itália, doce de leite e frutas vermelhas, entre outros.
Rua Pais de Araújo, 129, Itaim Bibi, região oeste, tel. (11) 3881-6552, @davverogelato
🍧Dumbo Ice Cream
Serve o taiyaki, doce japonês em formato de peixe feito com massa de panqueca, uma opção à casquinha e que recebe o sorvete de estilo soft, feito em máquinas como as de fast-food, mas de forma artesanal..
Rua Oscar Freire, 978, Jardim Paulista, região oeste, @dumboicecream
🍧Frida e Mina
Faz sorvetes artesanais sem uso de itens industrializados. Além de receitas permanentes como o sorvete com base de baunilha e pedaços de macadâmia crocante misturados com açúcar mascavo, manteiga e mel, há sabores sazonais, dependendo das frutas da estação.
Rua Artur de Azevedo, 1.147, Pinheiros, região oeste, WhatsApp (11) 2579-1444, @fridaemina
🍧Gelato Boutique
Uma das trações da casa é o baked Alaska, que leva uma bola de sorvete sobre uma base de pão de ló, envolta por merengue maçaricado e com cobertura que pode ser de ganache de chocolate meio amargo.
Rua dos Pinheiros, 444, Pinheiros, região oeste, tel. (11) 3541-1532, @gelatoboutique
🍧Le Botteghe Di Leonardo
Os clássicos gelatos artesanais italianos ganham toques tipicamente brasileiros em receitas como castanha-do-pará, tapioca e coco, açaí e cambuci. O menu ainda inclui picolés, biscoitos e bolos que levam sorvetes e ganham coberturas.
Rua Oscar Freire, 42, Jardim Paulista, região oeste, tel. (11) 3898-4517, @lebotteghedileonardobrasil
🍧Mari Di Sapore
Os gelatos feitos à base de água com frutas de todo o Brasil são o destaque da sorveteria que nasceu em Santos, no litoral paulista, e subiu a serra em 2021. O catálogo muda semanalmente.
Rua Simão Álvares, 1.029, Pinheiros, região oeste, WhatsApp (11) 99667-1029, @maredisapore
🍧Mooi Mooi
A casa tem uma máquina que tritura e mistura ingredientes dentro do sorvete ou do milk-shake na hora do pedido, permitindo personalizar os sorvetes escolhidos.
Rua Manuel Guedes, 249, Itaim Bibi, região oeste, tel. (11) 94456-8050, @mooimooi.br
🍧N2 Extreme Gelato
Com unidades em 12 países, a sorveteria tem um diferencial: as receitas são preparados com nitrogênio líquido, que resfria o ingrediente e o transforma em sorvete. O menu faz referência à tabela periódica, e dele se escolhem entre quatro bases (sem açúcar, chocolate, natural ou sem lactose) e diferentes sabores para combinar, como doce de leite, paçoca, morango e cheesecake.
Rua Bela Cintra, 1.783, Cerqueira César, região oeste, WhatsApp (11) 94906-4687, @n2.brasil
🍧Nhô sorvetes
Bombons como KitKat e Suflair são incorporados aos sorvetes de estilo soft nos copos chamados max. São três sabores de massa: baunilha, chocolate ou mista, servidas também na casquinha ou no cascão, que podem ganhar bordas e recheios como Nutella e doce de leite.
Rua Vieira de Morais, 103, Campo Belo, região sul, WhatsApp (11) 94595-9110, @nho.campobelo
🍧Nice Cream
A sorveteria trabalha apenas com ingredientes naturais, sem aditivos ou corantes. Cerca de dez sabores são oferecidos diariamente, com opções veganas, sem açúcar e low carb. Uma segunda loja fica em Pinheiros.
Rua Vicente Leporace, 1.060, Campo Belo, região sul, tel. (11) 5044-0378, @nicecream.br
🍧Pine Co.
Da calçada já dá para sentir o cheiro da casquinha sendo preparada: é ela quem rouba a cena, com um toque de canela. O cone pode receber uma bola de sabores artesanais, que variam de acordo com a estação. São exemplos os de caramelo com sal, maracujá com manga, cheesecake de morango, banoffee, menta com pedaços de chocolate e pistache.
Rua Mateus Grou, 140, Pinheiros, região oeste, tel. (11) 3064-1480, @gelatopine.co
🍧Pinguina
A sorveteria cria sabores sazonais. Entre as opções estão chocolate branco com caramelo e macadâmia, baunilha com hibisco e limão com framboesa. A mais pedida, de pistache, é feita com a oleaginosa torrada na casa.
Rua Medeiros de Albuquerque, 337, Vila Madalena, região oeste, @pinguina_sorveteria
🍧San Lorenzo Gelateria
A casa apresenta 60 sabores de sorvete, que se revezam na vitrine. Entre as criações estão os de baba de moça, gorgonzola, hibisco, strudel e o San Lorenzo, feito com ricota, mel, alecrim e pinoli.
Av. Jorge João Saad, 900, Morumbi, região oeste, tel. (11) 2893-0387, @sanlorenzogelateria
🍧San Paolo
Nascida em Fortaleza, a rede oferece gelatos artesanais em sabores como pavlova de morango, cajá, musse de maracujá, tapioca, chocolate venezuelano, doce de leite e red velvet.
Rua Haddock Lobo, 1.260, Cerqueira César, região oeste, WhatsApp (11) 99747-4659, @sanpaologelato
🍧Sorveteria do Centro
Serve sorvetes artesanais de estilo soft na casquinha, como omerengão, feito com sorvete de morango com pedaços da fruta, calda de leite, suspiro e pimenta-rosa.
Rua Epitácio Pessoa, 94, República, região central, @sorveteriadocentrosp
🍧Stuzzi Come L’ítalia
A sorveteria de inspiração italiana conta com três endereços na cidade. Cerca de cem sabores se alternam nas cubas, com destaque para os criados para o público vegano, caso do de tâmara, que não leva açúcar, e do de pistache. Há ainda pães, bolos, tortas e outros quitutes feitos na casa.
Rua Harmonia, 1.198, Vila Madalena, região oeste, tel. (11) 3815-8887, @stuzzicomelitalia
🍧Walnuts
A sorveteria tem cardápio enxuto, mas criativo. É possível cruzar com sabores como queijo da serra da Canastra com goiabada, café com cardamomo e nibs de cacau e o sorbet vegano de chocolate com banana, por exemplo.
Rua Morgado de Mateus, 195B, Vila Mariana, região sul, tel. (11) 5082-1824, @walnutssorvetes
🍧Tem Umami!
Localizada no Centro de São Paulo, mais precisamente, dentro do Edifício Copan, a Tem Umami! – é sorveteria, cafeteria e doceria dentro de um mesmo local. Sua especialidade é o sorvete soft, aquele de máquina, só que feito de maneira artesanal – coisa que a própria sorveteria sinaliza com orgulho, em letras garrafais na parede da sorveteria: “é sorvete mesmo, não gordura hidrogenada com açúcar”.
E o melhor, dá para ir a pé a partir da Casa da Boia!
Edifício Copan, Avenida Ipiranga, 200 – loja 74, @temumami
Fontes: