A família Dumont
e sua relação com São Paulo
No dia 20 de julho de 2023, o membro mais conhecido da família Dumont completaria 150 anos, se vivo estivesse, claro. Obviamente Alberto Santo Dumont, faleceu há quase cem anos, mas sua memória, esta sim, continua viva para nós, brasileiros, como um dos mais notáveis gênios de sua época.
Santos Dumont, como ficou mais conhecido, é, sem dúvida, o nome mais notável desta família de origem francesa, mas a influência dos Dumont no estado de São Paulo e as memórias na própria capital paulista é uma daquelas histórias que valem ser contadas.
Essa história começa quando François Dumont se casa, na França, com Eufrásia Honorée, filha de um ourives da cidade de Bordeaux. Tendo ouvido falar das minas de ouro e pedras preciosas de Minas Gerais, François decidiu vir com sua esposa para o Brasil para tentar a sorte no mercado de pedras preciosas.
O casal teve três filhos aqui no Brasil, sendo que o segundo é Henrique Dumont, pai de Alberto Santos Dumont e mais sete filhos: Henrique, Maria Rosalina, Virgínia, Luís, Gabriela, Sofia e Francisca.
Henrique Dumont se formou engenheiro na Escola de Artes e Manufaturas de Paris e, voltando ao Brasil passou a prestar serviços à Prefeitura de Ouro Preto.
Durante o Império de Dom Pedro II, Henrique foi encarregado, em 1872, de construir um trecho da Estrada de Ferro Central do Brasil em Minas Gerais, na subida da Serra da Mantiqueira. Com o canteiro de obras fixado na localidade de Cabangu, a família se instalou em uma fazenda próxima. Nesse local, em 1873, nasceria no mesmo dia em que o pai completou 41 anos, o seu filho mais ilustre: Alberto Santos Dumont.
Quando a ferrovia foi concluída, Henrique Dumont decidiu dedicar-se ao cultivo do café. Sai de Minas Gerais e vai para o município de Valença, no Rio de Janeiro, onde fica por um tempo, mas, buscando terras mais apropriadas ao cultivo do café, muda-se para Ribeirão Preto, em São Paulo, e instala-se na Fazenda Arindeúva.
A sua nova fazenda progrediu muito, pois aí aplicou seus conhecimentos de engenharia e estimulou a produção com uma série de inovações. Chegou a ser a mais moderna da América do Sul, com cinco milhões de pés de café, 96 quilômetros de ferrovias e sete locomotivas.
Queda e falecimento
Henrique Dumont se tornou milionário com a produção de café em São Paulo. Pouco antes de completar 60 anos, entretanto, sofreu uma queda de uma charrete que o deixou com graves sequelas. Para tratar de sua saúde, vendeu suas fazendas e mudou com a família para a França.
Ao sentir a proximidade de sua morte, em 1891, emancipou seus filhos e distribuiu sua fortuna entre eles.
Henrique Santos Dumont, o filho
Em 1891, Henrique Santos Dumont, (o filho) ganhou um carro do seu irmão Alberto Santos Dumont, que fez uma viagem turística à Europa e trouxe o presente para o irmão
Assim, as ruas de São Paulo viam circular o primeiro automóvel de motor a explosão no Brasil, um Peugeot movido a gasolina e que tinha um motor Daimler de 3,5 cavalos e dois cilindros em V.
A placa do veículo era P-1, a primeira do país. Esta placa tornou-se muito cobiçada na época e impunha prestígio a quem a tinha.
Abusando deste prestígio, Henrique Santos Dumont recusou-se a pagar um tributo cobrado pelo prefeito paulistano Antônio Prado, alegando que as ruas de São Paulo naquela época estavam em más condições de uso.
A crítica lhe custou caro. O prefeito cassou sua licença para dirigir e lhe tirou a Placa P-1. A placa foi parar no automóvel do conde Francesco Matarazzo, que se tornaria o maior empreendedor do país à época.
Mas não foi apenas o espanto do primeiro automóvel a gasolina do país que Henrique deixaria como legado para a cidade de São Paulo.
Em 1894 ficou pronto o casarão da família Dumont, localizado na Alameda Cleveland, 601, esquina com Alameda Nothmann, no bairro dos Campos Elísios. Sua construção iniciou-se em 1890 no bairro no qual, à época, morava a elite paulista. 0 casarão foi por muitos anos residência de Henrique Santos Dumont – que ali morou ate a sua morte – e a casa em que seu irmão, Alberto Santos Dumont, se hospedava quando estava no Brasil.
Possuía 1.720 m2 de área construída num terreno de 3 mil m2.
A casa dos Dumont vira museu
Felizmente para a memória de São Paulo e do País, a casa da família Dumont, não acabou como tantas outras da região central de São Paulo. Degradadas ou já demolidas.
A propriedade, bem conservada, é hoje a sede do Museu da Energia de São Paulo, inaugurado em junho de 2005. Um espaço aberto à comunidade.
Em suas salas, equipamentos interativos e atividades como jogos e projeções de filmes convidam os visitantes de todas as idades a participar de experiências científicas e a refletir sobre questões atuais envolvendo o tema da energia e seu futuro.
A história da expansão urbana e industrial da cidade de São Paulo nos últimos 150 anos também está presente nas salas do museu.
Os Dummont dos elevadores
Muito provavelmente você já utilizou um elevador da marca Atlas, e também muto provavelmente não tem ideia de que a Atlas e a família Dumont, tem tudo haver.
Em 1918 os engenheiros britânico A.M.Lowsby e Frederich James Pirie criam em São Paulo a empresa Lowsby & Pirie, com o objetivo de fornecer peças e serviços de manutenção para elevadores no Brasil.
Dois anos depois admitiram o engenheiro Carlos Dumont Villares (sobrinho de Alberto Santos Dumont e neto do fazendeiro Henrique Dumont) como sócio. Com o novo sócio, a empresa passou a fabricar elevadores com peças construídas localmente.
A sociedade quase encerrou suas atividades quando Carlos Dumont Villares faleceu vítima de um acidente automobilístico em 1922 aos 29 anos. Nesse momento, a família Dumont preferiu manter suas ações na sociedade e o irmão de Carlos, Luiz, assumiu seu lugar na empresa.
Luiz Dumont Villares passou a investir na diversificação das atividades. Em 1926 assinou um contrato com a General Motors e passou a ser o importador oficial dos refrigeradores Frigidaire e de alguns equipamentos Westinghouse.
Em pouco tempo a empresa passou a ter grandes lucros com esses produtos e tornou-se fornecedora de elevadores para os novos edifícios construídos em São Paulo e no Rio de Janeiro, como o Sampaio Moreira, Martinelli e A Noite.
Durante a Revolução Constitucionalista de 1932 a Pirie, Villares & Cia fabricou bombas para o exército paulista sob supervisão do Instituto de Pesquisas Tecnológicas.
Apesar da Grande Depressão, a empresa continuou crescendo e em 1935 a divisão de construção de elevadores transferiu-se para o bairro do Cambuci e foi rebatizada de Elevadores Atlas S/A.
O nome mais ilustre da família
Alberto Santos Dumont, entretanto, é o nome mais conhecido da família Dumont e não vamos nos alongar em sua história, que é bem conhecida de todos.
Mas, apenas lembrando aqui a inteligência ímpar e o espírito aventureiro de Santos Dumont, que o levaram a participar da “corrida” pela criação de uma máquina mais pesada do que o ar que pudesse voar.
Foram inúmeros protótipos de balões, dirigíveis e “engenhocas” que nada tinham de esquisitas, mas sim muito estudo, até que, em na tarde do dia 23 de outubro, após uma manhã que começara com a quebra e posterior conserto do eixo da hélice de um protótipo de avião chamado “14 Bis”, às 16h45’ uma multidão no campo da região de Bagatelle, na França, ouviu o ronco de um motor e viu a hélice daquele modelo meio desengonçado começar a girar.
Poucos minutos depois, pela primeira vez na história da humanidade, uma pessoa, um brasileiro, fazia decolar, por seus próprios meios, sem auxílio de outros equipamentos, a primeira aeronave autônoma da história. Ao final de pouco mais de 60 metros de vôo, ao pousar, Alberto Santos Dumont havia entrado para a história ao inventar o avião.
Os irmãos Wright e o Flyer
A maior polêmica no mundo da aviação é saber quem inventou o avião. Os Irmãos Wright, americanos, ou nosso brasileiro Santos Dumont.
Para quem é adepto da tese que foram os Irmãos Wright, o primeiro voo motorizado da história aconteceu no dia 17 de dezembro de 1903, na cidade de Kitty Hawk, como avião Flyer. Mas… esse primeiro voo usou uma catapulta e, como o avião não saiu do chão por conta própria, muitos não consideram esse evento como tendo sido o primeiro voo do mundo.
Ademais, o voo dos irmãos Wright não foi documentado, registrado, como o de Santos Dumont e apenas cerca de 5 pessoas teriam testemunhado o voo.
Seja como for, o fato histórico é que foi apenas naquele dia 23 de outubro que uma aeronave decolou, voou e pousou de forma autônoma pela primeira vez.
Há, ainda quem diga, ainda, que a maior prova de que o avião foi inventado por um brasileiro, um mineiro, aliás, é o fato de que as rodas da aeronave são chamadas de “trem” de pouso!