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A história das

duas represas paulistanas

Reservatório do Rio Grande (Represa Billings), no alto da serra do mar.

 

Em pleno século 21 e nas grandes metrópoles mundiais, São Paulo, incluída, apertar um botão na parede e imediatamente ter uma lâmpada acesa em nossa casa, empresa, onde quer que seja, ou abrir uma torneira e ter acesso a água potável é algo tão comum, que muitos de nós não se dá conta de que há pouco mais de 100 anos a eletricidade era uma enorme novidade tecnológica.

Essa nova tecnologia emergente àquela época tem relação direta com dois marcos geográficos de nossa capital e também da região metropolitana. As represas Billings e Guarapiranga.

Fundamental para os acelerados processos de crescimento urbano e industrial  do  século XX, a energia elétrica foi produzida por usinas termoelétricas e  hidrelétricas desde os princípios da década de 1880.

Instalada no Brasil desde 1899, a empresa canadense São Paulo Light, Power & Tramway dominou completamente o mercado paulistano  de fornecimento de energia elétrica e  iluminação pública desde os primeiros anos  do século XX . A Light construiu, em 1901,  sua primeira usina hidrelétrica. Atualmente denominada Edgard de Souza, esta unidade de produção, localizada  em Santana de Parnaíba,  foi a principal fornecedora da Capital por vários anos

Complexo Henry Borden e os tubos adutores que vem do topo do planalto paulista.

Entre 1924 e 1925, a falta de chuvas levou à uma significativa diminuição da produção hidrelétrica em São Paulo, obrigando as autoridades municipais a implantarem medidas de racionamento energético, afetando a operação de serviços que dela dependiam como a iluminação pública,  as linhas de bondes e o fornecimento doméstico.  A Light busca então contornar a situação através de diversas medidas emergenciais para aumentar sua produção,  estando entre elas a  construção  acelerada de uma pequena usina em Pirapora de Bom Jesus.

Em 1923, antes mesmo da crise, a Light entregou ao engenheiro Asa White Billings,  um antigo projeto para construção de  uma grande hidrelétrica para aproveitamento do potencial energético da descida da Serra do Mar na cachoeira de Itapanhaú – região de Mogi das Cruzes. 

Billings solicitou estudos na região da serra e acabou por aceitar uma  sugestão do engenheiro F. S. Hyde, que previa  o aproveitamento de uma  queda 725 metros na região do Rio das Pedras, através do  uso de  águas de diversos rios da Bacia do Alto Tietê. 

Dois reservatórios – Rio Grande  e Rio das Pedras – seriam construídos e ligados através de um canal. A Represa do Rio das Pedras – de baixa capacidade – receberia as águas do Reservatório do Rio Grande e as enviaria à uma usina a ser construída em  Cubatão,  através de tubulações que seriam instaladas na encosta da serra. 

Os diversos rios da região que seriam aproveitados pelo projeto  corriam em direção ao Rio Tietê  através do Rio Grande.  Por isso, o curso natural das águas  precisaria ser  invertido através da construção de uma barragem neste rio. Este era o projeto que daria origem às atuais represas Billings e Rio das Pedras, bem como  a usina Henry Borden, em Cubatão.      

Usina Henry Borden, em Cubatão, foi (e ainda é ) fundamental para o crescimento da região metropolitana de São Paulo.

No decorrer do ano de  1925, iniciaram-se obras em  diversas frentes:  da usina, no pé da serra, em Cubatão, dos tubos adutores, nas escarpas da serra; do Reservatório do Rio das Pedras, na crista da Serra; do canal denominado Summit e da barragem do Rio Grande,  em Santo Amaro.

Em 10 de outubro de 1926, foi ligado o primeiro gerador da  usina em  Cubatão. Em janeiro de 1927, as águas do reservatório Rio Grande começam a subir. Em  abril de 1928, o reservatório do Rio Grande atingiu a cota de 727 m e  partir de 1929,  já era possível navegar pelos braços da  represa, ainda que com a cota abaixo da altura máxima,  de 747 metros.

Segundo os defensores do projeto e a imprensa da época, além da sua função primária de abastecer  a Usina Henry Borden, o Reservatório  Rio Grande poderia também servir para abastecimento de água – como de fato ocorreu algum tempo depois – e para amenizar o problema das enchentes em São Paulo, através do controle das águas da bacia do Rio Pinheiros. 

O reservatório do Rio Grande recebeu o nome do responsável pela sua construção em 1949, passando a ser largamente conhecida como “Represa Billings”. 

A usina de Cubatão, cujo nome é “Henry Borden”, foi continuamente ampliada nos anos seguintes, atingindo sua capacidade máxima em 1961.  

O complexo Henry Borden, localizado no sopé da Serra do Mar, em Cubatão, é composto atualmente por duas usinas de alta queda (720 m), denominadas de Externa e Subterrânea, com 14 grupos de geradores acionados por turbinas, perfazendo uma capacidade instalada de 889MW, para uma vazão de 157m 3 /s. 

A mais antiga das usinas possui oito condutos forçados externos e uma casa de força convencional. 

Já a usina subterrânea é composta de seis grupos geradores, instalados no interior do maciço rochoso da Serra do Mar, em uma caverna de 120 m de comprimento, 21 m de largura e 39 m de altura, cuja capacidade instalada é de 420MW.

Represa de Guarapiranga
A represa de Guarapiranga, em construção, foi a primeira da cidade e foi fundamental para a a Usina Hidrelétrica de Santana do Parnaíba, antes da construção da Billings.

A Represa de Guarapiranga, situada na divisa entre os municípios de São Paulo, Itapecerica da Serra e Embu-Guaçu, atualmente oferece água para mais de 4 milhões de pessoas na região metropolitana e tem pouca influência na geração de energia, mas ela nasceu justamente para ser o primeiro reservatório de grande porte a gerar energia para a capital.

Foi formada bem antes da Billings. Inicialmente conhecida por Represa de Santo Amaro, a Guarapiranga teve sua construção iniciada em 1906, pela Cia. Light, sendo concluída em 1908.

Sua finalidade era, originalmente, atender às necessidades de produção de energia na Usina Hidrelétrica de Parnaíba.

Com a entrada em operação da usina Henry Borden, na década de 20 do século XX, a Guarapiranga passa a ser predominantemente um reservatório para abastecimento de água potável a partir de 1928.

Desde sua construção a Guarapiranga se tornou a “praia do paulistano”. Na foto da década de 1940, pessoas aguardam para embarcar nos barcos que faziam passeios panorâmicos pela represa.

Na década de 1940, foram construídas as estações elevatórias de Pedreira e Traição para aumentar a vazão na Usina Henry Borden, revertendo o curso do Rio Pinheiros. O projeto foi ampliado e em 1949 a Billings passou a receber toda a água do Alto Tietê.

No início dos anos de 1980, foi construída uma barragem que separou o braço do Rio Grande do corpo principal da represa Billings. Desde o ano 2000, uma nova captação, em um dos braços denominado Taquacetuba, interligou a Billings à Guarapiranga.

Entre as décadas de 80 e 90 do século passado, a ausência de políticas claras de uso e ocupação do solo por parte da Prefeitura do Município de São Paulo e dos municípios vizinhos contribuiu para a criação de loteamentos irregulares e clandestinos ao redor da represa, que cresceram e hoje são ainda responsáveis por boa parte do lançamento clandestino de esgoto nas águas da represa.

Atualmente sufocada pela ocupação desordenada, a Guarapiranga sofre constantemente com o depósito de esgoto sem tratamento, o que exige um enorme esforço dos responsáveis pelo abastecimento da água na região metropolitana para tratar a água ali captada e fazê-la chegar em condições de consumo adequadas às residências.

Ao longo de seu percurso de 28 quilômetros de margens, a Guarapiranga, abriga inúmeros clubes náuticos, dos quais saíram grandes campeões  da vela, como  o São Paulo Yacht Club, Yacht Club Paulista, Yacht Club Itaupú, Clube de Campo Castelo, Clube de Campo de São Paulo e o Yacht Club Santo Amaro.


Notas e fontes:

Centro de Memória de SBC.

(1) Cf. Marcolin, Neldson. Rotas da Eletricidade. In: Revista FAPESP. Edição 118, dezembro de 2005. Acessível em : https://revistapesquisa.fapesp.br/rotas-da-eletricidade/

(2) – Cf. Saes, Alexandre Macchione. Luz, leis e livre-concorrência: conflitos em torno das concessões de energia elétrica na cidade de São Paulo no início do século XX. In: Dossiê: História, direito e justiça. Revista  História (São Paulo). n.28. Editora Unesp.  2009. Os. 172-234.  Acessível em https://www.scielo.br/j/his/a/kqMDc3Hzwmy5ND3ZqBZ6RSt/

       (3) – CF. Souza, Edgard. História da Light – Primeiros 50 anos. São Paulo: Eletropaulo, 1989. p.191.

       (4) – Cf.  Jornal “O Progresso”, 2/7/1911, p.3.

       (5) –Cf.  Souza, Edgard. Idem.

(6) – Cf. Ibidem. p.91 e p.92.

(7) –   Cf. Ibidem.

( 8 ) – Cf. Macedo, Toninho. Billings Viva. p.80. 

(9)-  Cf.   Souza, Edgard. Idem. p.108.

(10) –  Cf. Macedo, Toninho.Idem. p.80-81.

(11)-  Cf.  Jornal “A Manhã”, 27 de janeiro de 1929. p. 6. 

(11) – Cf. Gomes, Francisco de Assis Magalhães. A Eletrificação no Brasil. In: Revista História & Energia. Número 2. São Paulo:   Departamento de Patrimônio Histórico da Eletropaulo. Outubro de 1986. p.4.

 (12) – Cf. Diniz, Renato & Ferrari, Sueli. A Billings e o Projeto da Serra. In: Revista História & Energia. Número 5. São Paulo:   Departamento de Patrimônio Histórico da Eletropaulo. 1995. p.22-25.

(13) – Cf. Capobianco , João Paulo Ribeiro &  Whately , Marussia. Billings 2000 –Ameaças e Perspectivas Para o Maior Reservatório de Água da Região Metropolitana de  São Paulo.  Relatório do Diagnóstico Socioambiental Participativo da Bacia Hidrográfica da Billings no Período 1989-99. Instituto Socioambiental, março, 2002. p.16.

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https://www.guarapiranga.org/historia

https://www.guarapiranga.org/

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