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A história de uma empresa que marcou a paisagem

e os costumes na cidade de São Paulo

Quem inventou o telefone?

Apostamos que você respondeu de imediato Alexander Graham Bell. Mas… a história mostra que não foi bem assim.

Em 14 de janeiro de 1876, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a resolução 269, pela qual se reconheceu que o inventor do telefone havia sido o italiano Antonio Meucci e não Bell.

O cientista italiano Antonio Meucci se mudou para os Estados Unidos em 1850. Lá se estabeleceu em Staten Island, ao lado de Nova Iorque. No ano de 1856 Meucci, movido pela necessidade, construiu um telefone eletromagnético – que denominou telettrofono – para conectar seu escritório, no andar térreo de sua casa, ao seu quarto, localizado no segundo andar, pois sua esposa sofria de reumatismo e assim os contatos seriam facilitados.

Na época em dificuldades financeiras, Meucci só conseguiu pagar uma patente provisória do invento, que ele tentou vender à empresa de telégrafos Western Union. Esta, por sua vez, não deu importância ao projeto.

Quando Meucci exigiu a devolução dos seus projetos, em 1874, alegaram que haviam sido perdidos. Dois anos mais tarde, em 1876, Alexander Graham Bell , que havia dividido um laboratório com Meucci, conseguiu obter a patente do telefone e fez um negócio lucrativo com a Western Union. Foi quando Meucci processou Bell e recebeu o reconhecimento de sua invenção pelo Congresso Norte Americano.

A Suprema Corte dos Estados Unidos acolheu o caso e iniciaram-se as acusações por fraude. Mas o inventor faleceu em 1889, e o caso foi encerrado. Assim, Graham Bell obteve a patente definitiva do telefone.

Em São Paulo, uma empresa icônica marcou época

Quase 100 anos depois do reconhecimento da invenção do telefone por Meucci, na cidade de São Paulo nascia uma empresa que ficaria marcada na memória dos paulistas que viveram nas décadas de 70, 80 e 90. A TELESP.

A Telecomunicações de São Paulo S/A (TELESP) foi a empresa operadora de telefonia do sistema Telebras no estado de São Paulo, sucessora da CTB e da COTESP, permanecendo em atividade de maio de 1973 até o processo de privatização, em julho de 1998.

É preciso lembrar que, à época da formação da TELESP e praticamente até o seu fechamento, em 1998, não havia telefonia móvel celular e que o Estado, por suas subsidiárias, como a TELESP tinha o monopólio das comunicações telefônicas.

Não pense que, como fazemos hoje, para comprar uma linha telefônica, bastava ir a uma loja da TELESP e sair com seu número. A coisa era muito, muito mais complexa.

Primeiro, porque quem queria uma linha telefônica precisava se inscrever no chamado “plano de expansão”. O interessado ia até uma agência da TELESP, consultava se a região em que ele morava tinha ou iria ter os serviços de telefonia fixa. Caso tivesse, precisava se inscrever no plano de expansão, pois a demanda era muito maior do que a procura. 

Depois de meses ou mesmo anos na fila, a pessoa que fosse “contemplada” com uma linha, precisava fazer um contrato com a TELESP, iniciar os pagamentos da compra da linha e aguardar mais alguns meses ou anos para a efetiva ligação.

Todo esse processo gerava um mercado paralelo de venda de linhas telefônicas. 

Segundo o Datafolha,  em junho de 1994, por exemplo, o preço médio de uma linha telefônica no mercado paralelo em São Paulo ficava entre de Cr$ 9,5 milhões e Cr$ 17,1 milhões, valor suficiente para comprar um Uno Mille novo!

O curioso e que o mercado paralelo de linhas telefônicas era uma atividade ilegal, mas era amplamente tolerada pelas autoridades. Os vendedores de linhas telefônicas eram conhecidos como “corretores” e atuavam em lojas abertas nas ruas ou mesmo em anúncios classificados de jornais.

Falta de linhas exigia uma oferta pública de comunicação

Já deu para perceber que não era fácil a vida de quem queria uma linha telefônica em São Paulo. Tanto pela demora, quanto pelo custo do mercado paralelo. Já pensou em decidir se compra um carro ou um telefone?

Por essa razão a TELESP disponibilizava milhares de pontos de acesso público à telefonia. Os famosos “orelhões” eram encontrados com facilidade pelas ruas da capital, ou nos postos de atendimento da própria empresa.

Aliás, falando no orelhão, você sabia que ele é um projeto brasileiro? 

Oficialmente Telefone de Uso Público (TUP), o “orelhão” é um telefone público projetado pela arquiteta e designer chinesa, naturalizada brasileira, Chu Ming Silveira. Lançado em 4 de abril de 1972.

A ideia surgiu em princípios de 1970, quando Chu Ming chefiava o Departamento de Projetos da Companhia Telefônica Brasileira. Na época, os telefones públicos eram simples cabines de madeira ou metal, sem proteção contra as intempéries. Chu Ming queria criar um telefone público que fosse mais funcional e acessível, e que pudesse ser instalado em qualquer lugar.

O projeto da arquiteta foi um sucesso. O orelhão era feito de fibra de vidro, tinha um design moderno e colorido, que se tornou um símbolo da paisagem urbana brasileira.

Em pequenas cidades do interior do Brasil, em escolas, postos de saúde, e outros locais coletivos, era comum que as pessoas soubessem o número do, geralmente, único “orelhão” do local e ligassem para ele. Quem atendia, ou anotava o recado, ou chamava a pessoa que estava sendo procurada.

A sede da TELESP na capital paulista

Quando criada, e por ser uma empresa que administraria a telefonia em todo o estado de São Paulo, era previsto que a TELESP tivesse inúmeras sedes no estado, mas a sede central da companhia foi instalada no chamado Complexo Sete de Abril, localizado na Rua Sete de Abril, 309 – República,  há menos de 2 km aqui da Casa da Boia.

O Edifício sede da empresa foi inaugurado em 1939, com projeto do consagrado Escritório Técnico Ramos de Azevedo & Severo Villares, a construção é tombada desde 1992 e abrigou a história da telecomunicação nacional.

Desde sua inauguração, como sede da Companhia Telefônica Brasileira (CTB), antecessora da TELESP, até a era dos grandes grupos de telefonia, como a própria TELESP e as multinacionais Vivo e Claro. 

O edifício foi esvaziado em  2010, quando teve suas operações comerciais encerradas.

Atualmente o edifício é o segundo na cidade de São Paulo a receber o alvará para realizar um retrofit dentro das normas da lei do programa Requalifica Centro. 

Ele está sendo reformado para se tornar um edifício de uso misto. Residencial e comercial. Um condomínio de apartamentos com uma galeria aberta de lojas e restaurantes.

As fichas, as listas e os fuscas

Em termos de telefonia, nada é mais icônico em São Paulo, além dos orelhões, do que os “fusquinhas” amarelos, com suas escadas no teto, que faziam a manutenção da rede telefônica e dos orelhões. 

Outra nostalgia da época eram as fichas telefônicas, que liberavam os orelhões para o uso.

Elas eram feitas de uma liga metálica leve, eram vendidas em cartelas em postos de atendimento da TELESP, lojas, e, principalmente, bancas de jornais.

Para usar um orelhão era necessário introduzir as fichas. Quanto mais se falava, mais fichas eram necessárias.

Não havia um paulistano, ou paulistana, que não tivesse algumas na bolsa ou bolso!

E, para consultar os números de pessoas e empresas, as famosas e grandes listas telefônicas. Livros gigantes, de letras miúdas, com a relação de nomes e números de todos os assinantes. “Obrigatórias” em estabelecimentos comerciais e nas residências que tinham telefones instalados.

Elas eram distribuídas aos assinantes, de forma que, quem não tivesse uma linha telefônica precisava pedir emprestada a lista, ou pedir o favor de consultar a lista do vizinho.

A virada dos anos 90 para os anos 2000, as agendas digitais, o surgimento dos celulares e a popularização da telefonia móvel foi tornando tudo isso obsoleto. Memórias de um tempo não tão antigo assim, da paisagem e hábitos do paulistano.

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