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A poesia de cordel

e o cordel na Casa da Boia

Hoje, 1º de agosto, é comemorado o Dia do Poeta da Literatura de Cordel, uma manifestação literária feita em versos que, apesar de suas origens europeias, encontrou grande aceitação e tem grandes poetas brasileiros, principalmente na região nordeste. Até mesmo Rizkallah Jorge Tahan, nosso fundador, já foi tema de um poema de cordel.

Tempo de leitura: aproximadamente 8 minutos

De produção fácil e barata a literatura de cordel é acessível e tem incondicionais leitores.

É tido como certo que a literatura de cordel Iniciou-se com os trovadores medievais no momento em que os relatos orais começavam a ser impressos, principalmente após a invenção da prensa por Gutenberg, por volta de 1450.

Esta forma de poesia chegou à América com os colonizadores ibéricos (portugueses e espanhóis) e fincou raízes principalmente no nordeste brasileiro, tendo se tornado uma das mais populares expressões literárias da região.

A poesia de cordel é uma forma de expressão bastante “regrada”, por assim dizer. Em geral, os poemas são estruturados em sextilhas (cada estrofe é composta por 6 versos), havendo septilhas, oitavas e décimas. Os versos, na maioria das vezes, são escritos em redondilha maior (7 sílabas poéticas).

E se há manifestação literária onde a licença poética se manifesta livremente, este é o cordel, cujos temas orbitam os mais variados assuntos, desde o cotidiano das pessoas, devaneios com os seres míticos da cultura e folclore, personalidades, histórias ouvidas pelos cordelistas, tudo transformado em poesia com certa dose de exageros, humor, crítica social e observação comportamental.

A origem do nome cordel

Originado nos primeiros momentos da reprodução gráfica e popular entre as camadas mais simples da população, os poemas de cordel eram comercializados nas feiras das cidades medievais, onde, para facilitar sua exposição, os poetas esticavam barbantes, ou finas cordas, os “cordéis”, em qualquer lugar,e sobre estas cordas apoiavam os seus livros.

A tradição se perpetuou no Brasil colonial e nos povoados do interior, novamente, com ênfase no nordeste, eram nas feiras que estes livretos eram encontrados dependurados nos cordéis.

Aqui,vale ressaltar, o livreto de cordel é quase sempre produzido em papéis baratos, em uma única cor, mas, nesta simplicidade, traz além do valor da obra poética, em si, outra manifestação artística característica: as gravuras que acompanham as histórias.

Quase sempre um livreto de cordel é ilustrado por artistas que usam a técnica de xilogravura, ou seja, se utilizam de uma placa de madeira para compor seus desenhos em relevo. As placas são entintadas e estampadas no papel.

Todo este processo de produção, seja das gravuras, seja o papel ou a impressão simples, é barato, o que torna a literatura de cordel extremamente acessível e anda muito consumida.

O cordel, o repente e a Casa da Boia
O Cordel já fez parte da Casa da Boia. Em 2018, foi tema de nosso Natal e distribuído aos clientes com a história de nossa loja e nosso fundador.

A poesia ocidental nasce de “casamento marcado” com a música. O próprio cordel, poesia impressa, nasce do registro das canções dos trovadores medievais e o ritmo da poesia de cordel, regrada, rimada e de enredo instigante facilita que sejam musicadas.

Nasce daí outra tradição tipicamente nordestina, o repente. O cantor do repente, ou repentista se apropria da métrica típica do cordel e nela coloca seu raciocínio rápido para fazer poesia cantada de forma imediata, sem escrita prévia. Cria os versos na hora, ao mesmo tempo em que os canta acompanhado quase sempre da viola.

Toda esta riqueza cultural fez parte de uma ação promovida pela diretoria cultural da Casa da Boia no ano de 2018, quando a empresa completou seus 125 anos de atividade.

No Natal daquele ano, todos os dias, o cordelista e repentista Sebastião Marinho, acompanhado da também repentista Luzivan Matias, se apresentaram em nossa loja interagindo com os clientes e demonstrando a arte do improviso.

A pedido da Casa da Boia, Sebastião Marinho criou uma poesia de cordel em que retratou a história de nosso fundador, Rizkallah Jorge Tahan.

A poesia foi ilustrada pela artista plástica Adriana Rizkallah e transformada em um livro de cordel, que, como manda a tradição, foi disponibilizado aos clientes expostos em cordéis na loja, fazendo parte das comemorações do aniversário da empresa naquele ano.

Em uma homenagem ao poeta de cordel, reproduzimos a poesia criada por Sebastião Marinho:

 

Ilustração desenvolvida por Adriana Rizkallah para o cordel comemorativo de nossos 120 anos.
A loja que conta histórias

Notável: CASA DA BOIA

Para jovens e decanos
Tem sido a referência
De milhões de paulistanos
Atendidos no percurso
Dos cento e vinte anos.

É no mesmo endereço
Do prédio onde nasceu
Como fundição e loja
Hoje também é museu
Número cento e vinte e três
Rua Florêncio de Abreu.

Anos trinta, século vinte
Ela também se chamou
Rizkallah Jorge e Filhos
Anos cinquenta ousou
Se chamar Casa da Boia
Nome que a consagrou.

A produção da empresa
Na época da fundação
Estava sempre voltada
A ter na fabricação
Arandelas, candelabros
Gradis e decoração.

Início do século vinte
Em São Paulo era incerto
O saneamento básico
Com tanto perigo perto
Lixos se acumulavam
Nas ruas a céu aberto.

Não demorou surgir surtos
De doenças com certeza
Como febre amarela
A população surpresa
Ajudou a dar impulso
Aos negócios da empresa.

Mil novecentos e três
Período que com cautela
O médico sanitarista
Osvaldo Cruz se revela
Tentando erradicar
No Brasil febre amarela.

A empresa na campanha
Aumentou a produção
Cano, caixa de descarga
Boias de caixa, sifão
Vendeu pro Brasil inteiro
Com muita aceitação.

Enquanto os modernistas
E intelectuais
Travavam suas batalhas
Acadêmicas culturais
Sofria a Casa da Boia
Com grupos industriais.

Celebrando a cultura nacional, a Casa da Boia promoveu apresentações de repente e a leitura do cordel em homenagem a Rizjkallah Jorge.

Já em pleno século vinte
Viu-se tudo acontecer
A revolução de trinta
Ameaçar o poder
Indústria de grande porte
Logo se fortalecer.

E evitando desgaste
Em competitividade
Para a segunda fase
De sua atividade
Começou diminuir
Toda produtividade.

Anos quarenta e cinquenta
E sessenta sem fronteiras
Décadas que o século vinte
Entre trancos e barreiras
Aplaudiu o crescimento
Das cidades brasileiras.

Décadas que a Casa da Boia
Revendendo muito mais
Chapa de cobre, latões
Fora um dos principais
Representantes de peso
Da indústria de metais.

Era Vargas. Juscelino
E militares de frente
Foram fatos comentados
Entre donos e cliente
Tudo em torno dos balcões
Do casarão imponente.

Onde compradores vinham
Estranhos ou conhecidos
Faziam pessoalmente
Seus negócios e pedidos
Recebidos pelos donos
Por eles bem atendidos.

E assim como cresceram
Clientes industriais
O bom e velho balcão
Passou a atender mais
Peças trabalhos em cobre
Panelas artesanais.

De setenta para oitenta
Houve mudanças bastante
Tabela, congelamento
E plano mirabolante
Confisco, diretas já
E inflação galopante.

Assim a Casa da Boia
Sendo tradicional
Sem abandonar o bom
Atendimento pessoal
Alinhou-se aos clientes
No espaço virtual.

Luzivan Matias e Sebastião Marinho em apresentação na Casa da Boia.

O casarão centenário
De frontarias cinzentas
Atrai olhares aguços
De criaturas sedentas
Na incessante procura
De peças e ferramentas.

Em granito cinza claro
A fachada está presente
Arcos, colunas e balcões
Trabalhados ricamente
Gradil de ferro fundido
Tudo artesanalmente.

Arabescos e imagens
Mitológicas na estrutura
Portas fabricadas com
Madeira maciça pura
E os vidros jateados
Partes da arquitetura.

As pinturas das paredes
Foram todas restauradas
As cores originais
Foram também resgatadas
E restauração geral
De balcões e de fachadas.

Com seus cento e vinte anos
Resgatando a tradição
A empresa valoriza
O ofício o artesão
Aproximada da mesma
Essência da fundação.

Ilustração desenvolvida por Adriana Rizkallah para o cordel comemorativo de nossos 120 anos.

No museu Rizkallah Jorge
Está toda trajetória
Do fundador da empresa
Um compêndio de memória
Onde a Casa da Boia
Conta também sua história.

Mario Roberto Rizkallah
É neto do fundador
E é da Casa da Boia
O atual diretor
Que dedica a empresa
Muito empenho e amor.

Assim a Casa da Boia
Desempenha a função
Rizkallah Jorge Tahan
Implantou sua visão
Aguça empresarial
No seu projeto real
Avante todos estão.

Sebastião Marinho

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