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A São Paulo

dos primeiros anos da Casa da Boia

A história de nossa empresa começa em um país muito distante do Brasil. A Síria. Foi lá que nasceu e cresceu Rizkallah Jorge Tahan, o fundador da Casa da Boia.

Rizkallah Jorge nasceu na cidade Síria de Aleppo, em 1869. Era filho de um artesão que já lidava com a manipulação de metais e com seu pai foi aprendendo a arte de criar peças de decoração em cobre.

Com a morte de seu pai, Rizkallah Jorge assumiu os negó­cios da família. Alguns anos depois, recém-casado com a jovem Zekié Naccache, e com os negócios não indo tão bem quanto ele esperava, tomou uma decisão. Tentaria a vida na América. Deixou a esposa na Síria, tomou um navio e desembarcou no Brasil em 1895.

Como não sabia falar o portu­guês e não queria trabalhar como mascate, como outros imigrantes árabes, empregou-se em uma metalúrgica que fabricava e ven­dia artefatos de metais, no centro de cidade.

Contam aqueles que com ele conviveram que sua  primeira ocupação teria sido a de faxineiro e, quando um cliente da loja chegou com um pedido especial de uma peça e o dono estava por recusar o pedido, por não ter condições de fabricá-la, Rizkallah Jorge o convenceu de que seria capaz de produzir a tal peça e assim o fez.

Teria sido assim o início do empreendimento que ele viria a fundar em 1898. A Rizkallah Jorge e Cia, que depois se tornaria a Casa da Boia.

Rizkallah Jorge deixou um país com uma história milenar. Saiu da terceira maior cidade da Síria, um enorme polo de comércio, fundada há mais de 5.000 anos, e fundamental para as rotas comerciais entre oriente e ocidente por milênios, mas que começava a sentir os efeitos da revolução industrial para desembarcar em um país ocupado há pouco menos de 400 anos.

Uma rua de importância fundamental em uma cidade limitada pela geografia

São Paulo contava em 1890 com cerca de 65.000 habitantes, número que subira para 240.000 em 1900. A capital paulista, em 1895, era delimitada pelos traçados dos rios Tamanduateí e Tietê, não se expandindo para mais do que a região da Luz, do Ipiranga e as proximidades dos morros do Bexiga e da colina da Avenida Paulista. Neste contexto, a rua escolhida por Rizkallah Jorge para instalar a sua empresa era uma das mais importantes da cidade.

Aberta por ordem das autoridades nomeadas pela Coroa de Portugal na década de 1780, a Rua Florêncio de Abreu era, nesse tempo, a única via de comunicação entre o Largo de São Bento, no topo da colina onde a cidade nasceu, e os campos do Guaré, uma vasta área de pastagem localizada hoje na região da Luz, constantemente alagada à época pelos rios Tamanduateí e Tietê.

Em homenagem à primeira carta magna brasileira, outorgada por Pedro I em 25 de março de 1824, a rua passou a se chamar Constituição. Finalmente, em 1881, foi rebatizada como Florêncio de Abreu, presidente da província, responsável por seu calçamento.

Em fins do século XIX e início do XX, a Florêncio de Abreu passou por profundas transformações. A antiga via onde ferradores de animais e cocheiros alugavam carruagens e cavalos deu lugar a imponentes edificações, a exemplo do Laboratório Pharmaceutico e Directoria do Serviço Sanitário, estabelecimento dividido em dois pavimentos; no térreo, havia a farmácia na parte frontal e nos fundos o laboratório, enquanto que, no andar superior, funcionavam a diretoria e a seção demográfica. A primeira era responsável pelas questões sanitárias do Estado, enquanto a segunda emitia boletins mensais acerca do movimento meteorológico e populacional, com número de nascimentos, óbitos e casamentos.

Em seu livro “A cidade de S. Paulo em 1900: impressões de viagem”, Alfredo Moreira Pinto apresenta as inúmeras transformações que ocorreram em um curto espaço de tempo na cidade, e descreve equipamentos urbanos de grande expressão que tinham como endereço a rua.

Dentre eles, distinguia o Éden Club, localizado no número 22: um sobrado com um pequeno teatro na sala da frente e diversas mesas para jogos em seu interior, indicando o surgimento de novos hábitos e a incorporação cada vez maior do lazer na vida cotidiana. Além de outros espaços que revelam o início de um processo de industrialização da cidade.

Em uma das esquinas da rua ficava a Companhia Industrial, com atividades de fiação, tecelagem e tinturaria e com cerca de 400 operários; a fábrica de móveis Santa Maria; fábrica de livros Manderbach & Co.; a fábrica de confeitos dos Irmãos Falchi e a fábrica de bebidas Matinho Chaves & Comp, entre outras.

Em 1º de maio de 1919 a Ford inicia a instalação de sua primeira linha de montagem no Brasil em um galpão da rua Florêncio de Abreu, onde dá início à produção do icônico Modelo T.

No ano da chegada de Rizkalah Jorge, acontece a primeira partida de futebol de São Paulo e a fundação do Museu Paulista

A história da chegada do jogo conhecido por futebol tem lá suas polêmicas. Uma das teorias mais difundidas é a do paulistano,  filho de ingleses, Charles Miller, que fora à Inglaterra para estudar na Banister Court School. Lá, se tornou um admirador do futebol e quando retornou ao Brasil, em 1894, trouxe com ele duas bolas na mala.

Em 14 de abril de 1895 aconteceu na Várzea do Carmo, uma partida entre ingleses e anglo-brasileiros, formados pelos funcionários da São Paulo Gaz Company e da Estrada de Ferro São Paulo Railway Company. O amistoso terminou em 4 a 2, com vitória do São Paulo Railway.

Também em 1895, no dia 7 de setembro, é inaugurado o Museu Paulista, informalmente conhecido como  Museu do Ipiranga. Pensado, inicialmente, para ser um memorial ao ato da independência do Brasil, o museu, que fora inaugurado com o nome de “Museu da História Natural” é o museu público mais antigo da cidade de São Paulo e abrange um conjunto documental não apenas relacionado ao ato da independência, mas também da história de São Paulo.

Uma cidade em profunda transformação

Foi em meados do Séc,. XIX que São Paulo passou a assumir uma posição de destaque no cenário nacional, com o avanço dos cafezais, que encontraram na terra roxa do norte da província o solo ideal. 

A expansão da cultura do café exigiu a multiplicação das estradas de ferro, iniciando-se então (1860-1861) em Santos e São Paulo os trabalhos da construção da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí, a São Paulo Railway, responsável pelo primeiro trem a ligar as duas cidades. 

Esse foi um período de grandes transformações, marcado pela crise do sistema escravocrata, que levaria à Abolição em 1888 e que daria lugar, entre outros fatos, à chegada em massa de imigrantes, principal alternativa de solução ao problema da mão de obra na lavoura cafeeira.

São Paulo prosperou muito nessa época e a capital da província passou por uma verdadeira revolução urbanística, resultado da necessidade de transformar uma cidade acanhada, pouco mais que um entreposto comercial, de casas coloniais, sem estrutura e saneamento, em capital da nova elite econômica que se impunha. 

Em meados de 1860, a cidade de São Paulo já era bem diferente da antiga cidade colonial. Os primeiros lampiões de rua queimavam óleo de mamona ou de baleia e a cidade já contava com um parque público, o Jardim da Luz, que passaria por extensas reformas no final do século.

À medida que a cidade se expandia em todas as direções, consolidava-se também um núcleo urbano moderno em torno de alguns marcos simbólicos, como a Estação da São Paulo Railway e o Jardim da Luz. 

Ao seu redor instalaram-se bairros residenciais de elite: os Campos Elíseos -, com seus bulevares ao estilo parisiense. Mas as estradas de ferro também permitiram que surgissem novos bairros populares ao lado da Estação da São Paulo Railway, como o Bom Retiro e o Brás, cujo povoamento foi reforçado pela instalação, nas proximidades, da Hospedaria dos Imigrantes. 

Também os edifícios públicos multiplicaram-se: assembleia, câmara, fórum, escolas, quartéis, cadeias, abrigos para crianças desamparadas. Dezenas de igrejas, conventos e mosteiros ainda continuavam a espalhar-se por toda parte. 

Na área cultural artistas de circo, atores de teatro, poetas e cantores começaram a consolidar seu lugar na cidade.

A Casa da Boia prospera na medida do crescimento paulistano

Fundada em 1898, neste contexto de grande transformação urbana e estando em uma das principais vias logísticas da cidade, não demorou muito para que a Rizkallah Jorge e Cia, começasse a vivenciar uma fase de intenso crescimento.

Rizkallah Jorge colocou inicialmente, em sua empresa, todo o seu conhecimento na manipulação do cobre, produzindo uma extensa linha de produtos de decoração feitos com o metal e que se adequava aos desejos de uma sociedade cada vez mais urbanizada.

Homem de visão empresarial aguçada, não demorou muito para que a empresa começasse a atender outro tipo de demanda da cidade crescente. A necessidade de saneamento das casas.

As condições de higiene naquele final de Séc XIX estavam longe de serem as ideais e a descrença da população de que doenças como a febre amarela eram potencializadas por más condições de higiene começaram a serem desfeitas com os resultados positivos dos médicos Oswaldo Cruz, que atuava intensamente no Rio de Janeiro e Emílio Ribas, em São Paulo. 

Com árduo trabalho, ambos conseguiram mostrar que as intensas campanhas pelo saneamento reduziam a incidência dessas doenças e as autoridades paulistanas começaram a exigir por meio dos códigos de edificação e sanitário, a ligação dos edifícios com a rede de esgotos.

Assim já amplamente conhecida como Casa da Boia, a empresa passa a ampliar vertiginosamente a produção de canos, tubos, sifões, torneiras, válvulas e outras centenas de produtos hidráulicos, inclusive a boia de caixa d’água, produto que seria responsável pela mudança do nome da empresa e que eram comercializados tanto para as pessoas quanto para empresa e o poder público, como para a São Paulo Gas Company e Departamento de Águas e Esgotos, impulsionando o crescimento dos negócios.

Da chegada de Rizkallah Jorge, em 1895, ao início do Séc. XX, acompanhando o crescimento da cidade de São Paulo, a Casa da Boia se torna a mais importante fabricante e comércio de produtos de cobre e hidráulicos da capital paulista.

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