As festas juninas e a tradição dos
doces feitos em tachos de cobre
Chegamos a junho, um dos mais tradicionais e festivos meses do ano, principalmente para quem gosta de milho, paçoca, pipoca, canjica, vinho quente, quentão… é o mês das festas juninas.
Quem nunca esteve em uma gostosa “quermesse” na igreja do bairro e caiu na tentação da gula que atire a primeira paçoca!
Essa tradição associada ao catolicismo começou na Europa, como uma festa pagã, uma forma de afastar os maus espíritos e qualquer praga que pudesse atingir as colheitas. A festa era realizada no solstício de verão, no mês de junho.
Quando o cristianismo começou a ser a principal religião do continente europeu, a festa foi incorporada ao calendário católico, assim como outras manifestações pagãs.
A cristianização da festa junina está diretamente relacionada a importantes figuras do catolicismo, como Santo Antônio (homenageado dia 13 de junho), São João (dia 24) e São Pedro (dia 29).
Como as festas juninas eram tradições bastante populares na Península Ibérica (Portugal e Espanha), foram trazidas para cá pelos portugueses durante a colonização.
Possuíam inicialmente um forte tom religioso, mas a evolução da festa fez com que cada vez mais ela incorporasse elementos da cultura rural.
A figura do “caipira”, instrumentos como a sanfona, as danças e, claro, as comidas do povo simples e que vivia no campo se incorporaram à festa de tal modo que embora elas ainda façam referências aos três santos, se espalharam por todos os cantos do Brasil, não só nas igrejas.
E a comida, um capítulo à parte nessa história, nada mais era do que a popularização da alimentação simples do “caipira”, o milho, o amendoim, o aipim, a mandioca, o fubá, se tornaram os principais ingredientes das guloseimas que toda boa festa junina tem.
Muito dessa inspiração do interior você encontra na Casa da Boia, na forma de belos tachos e panelas de cobre, nos quais a tradição dos doces feitos por doceiras tradicionais em antigos tachos de cobre e fogão a lenha.
Origens distintas das bebidas típicas
E festa junina que se preze tem que ter duas das mais típicas bebidas deste período. O quentão e o vinho quente.
Enquanto o vinho quente é preparado adicionando açúcar, canela, cravo e laranja, o quentão adiciona o gengibre ao açúcar, cravo e canela.
Ao contrário do que possa parecer, a origem das duas bebidas são bem distintas.
Sobre o quentão, não há exatamente uma “data” e nem “local” exato de nascimento, mas é aceito entre pesquisadores que ele teria surgido no sudeste do Brasil.
Mais especificamente, entre São Paulo e Minas Gerais, onde as noites de junho costumam ser bem mais frias que a do Nordeste brasileiro, região onde a tradição das festas juninas é tão grande quanto nas terras da Mantiqueira.
O vinho quente, por sua vez, vem de longe e é uma bebida bem mais antiga, embora muitos pensem que seja brasileira. Não é.
As tropas romanas em suas incursões pela Europa já costumavam preparar uma bebida com o vinho e as especiarias, para esquentar os soldados nas noites frias. Isso lá no Séc. II.
O “mulled wine”, foi disseminado por todo o seu império e nas regiões com as quais eles faziam trocas.
O vinho quente é ainda uma tradição em vários países europeus, da Inglaterra aos países Nórdicos, mas, ao contrário do Brasil, quando é associado às festas juninas, lá a bebida é mais consumida na época do Natal, quando a Europa passa pelo rigoroso inverno característico daquele continente.
A tradição doceira e a polêmica dos tachos de cobre
A imagem da avô cozinhando em tachos e panelas de cobre em fogões a lenha é certamente lembrança dos mais velhos, principalmente aqueles que em algum momento moraram no campo. O fogão à lenha, o vermelho do fogo e dos tachos e cheiro do doce cozinhando lentamente certamente deve estar dando água na boca de quem lê e viveu isso.
Essa tradição dos tachos de cobre é muito forte em algumas regiões do Brasil, principalmente em Minas Gerais.
Esse patrimônio imaterial da cozinha mineira reinou soberano até o ano de 2007, quando a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, instituiu a Resolução 20, de 22 de março de 2007, que especificava “Critérios Gerais para Embalagens e Equipamentos Alimentícios em Contato com Alimentos”.
Esta resolução trazia especificações consideradas seguras para produção dos alimentos e em seu item 3.1.6 considerava seguros”Cobre, latão ou bronze revestidos integralmente por uma capa de ouro, prata, níquel ou estanho tecnicamente puros”.
A resolução, efetivamente, considerava inseguro o cozimento de alimentos em tachos de cobre que não fossem revestidos com algum desses materiais.
A norma provocou um rebuliço nas tradicionais comunidades doceiras que por séculos usaram os tachos de cobre ao natural. Os produtores de doce mineiros argumentam que o cobre tem a preferência na produção doceira por ser mais barato que o inox e por ser uma excelente fonte de distribuição de calor, além de preservar o sabor e a cor original do doce.
Isso porque o metal inativa as enzimas que modificam cor e sabor das frutas usadas na produção do doce, deixando-os mais próximos do sabor original das frutas.
Além disso, o cobre é eficaz contra a proliferação de fungos, bactérias e de vírus, segundo defende a engenheira química, mestre em alimentos e doutora em Bioquímica, Amazile Biagioni Maia.
A resolução da Anvisa vigorou inalterada até maio de 2021, quando a A Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, publicou a RDC Nº 498, de 20 de maio de 2021 que alterou a redação de vários artigos da norma anterior.
Em item 3.1.6., a norma passou a determinar que “… Se permite o uso de equipamentos de cobre sem revestimento para elaboração de alimentos particulares a nível industrial e/ou artesanal a critério da autoridade sanitária competente sempre que se demonstre sua função tecnológica de uso.”
Em outras palavras, o uso de tachos e panelas de cobre sem revestimento está novamente liberado pela ANVISA, desde que de acordo com as orientações das autoridades sanitárias locais.
Desta forma, ao menos em Minas Gerais, de acordo com informações de Ângela Vieira, diretora de Vigilância em Alimentos e Vigilância Ambiental da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), após a modificação em maio de 2021, o equipamento de cobre pode ser usado sem revestimento, a critério da autoridade sanitária municipal competente.
Com ou sem revestimento, você encontra na Casa da Boia
Finda a polêmica, com a liberação da Anvisa, cabe a cada localidade a orientação sobre o cobre in natura ou revestido na culinária e qualquer que seja a necessidade ou decisão, o certo mesmo é que na Casa da Boia é possível encontrar uma variada linha de panelas, tachos e utensílios em cobre, revestidos e ao natural.
Toda a linha de produtos em cobre para gastronomia da Casa da Boia vem de fornecedores artesanais de Minas Gerais. Produtos 100% brasileiros, feitos à moda tradicional, à pronta entrega em nossa loja no centro de São Paulo.