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As simpatias de ano novo
no Brasil e no mundo
Nesta virada de ano, se você pulou 7 ondas, comeu um prato de lentilhas, guardou sementes de romã na carteira ou realizou alguma outra simpatia de ano novo você perpetuar tradições sincretizadas de diversas culturas e até de tempos milenares. Conheça a origem de algumas destas tradições.
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O costume de celebrar a chegada de um novo ciclo no calendário não é algo novo na história da humanidade, existe há pelo menos 4 mil anos, mas a passagem do tempo, então era regida pelas estações do ano, algo natural, pois antes das revoluções industriais a humanidade se regia basicamente pelos ciclos da natureza.
Assim, o primeiro povo a celebrar a festa de passagem teria sido o da Mesopotâmia, área que corresponde hoje aos territórios de Iraque, Kuwait, Síria e Turquia.
Atualmente, na maior parte dos países ocidentais, o Réveillon é comemorado no 1º de janeiro, mês criado pelos romanos, no século VIII a.C., em homenagem a Jano, deus romano das mudanças e das transições.
No entanto, os romanos ainda celebravam a passagem de ano no início da primavera, que se dava em março, mesmo quando, em 46 a.C., o antigo calendário romano foi substituído pelo calendário juliano, nomeado assim em homenagem a Júlio César. O início do ano, na tradição popular romana, ainda recaía sobre março.
A partir da cristianização da Europa, alguns dos reinos que existiam na Península Ibérica durante a Idade Média, passaram a adotar o 1º de janeiro, mas ainda assim, nesse período, havia uma intensa disputa, uma vez que muitos reinos cristãos queriam que o Dia da Anunciação, 25 de março, fosse considerado como o dia do Ano Novo.
O dia 1º de janeiro foi oficializado como Dia de Ano Novo devido à mudança do calendário no século XVI, realizada pelo papa Gregório XIII (o calendário gregoriano, em substituição ao calendário juliano). Com o tempo, outros países foram adotando esse novo calendário, e a celebração do Ano Novo passou a ser em 1º de janeiro.
Tradições de todas as origens
Embora o primeiro de janeiro tenha sido escolhido o dia no Ano Novo “por decreto”, digamos assim, mesmo os povos que se converteram à data acabaram por sincretizar suas antigas tradições naquilo que chamamos de “simpatias de ano novo”, como algumas das quais vamos comentar as suas origens:
Vestir branco
Essa tradição surgiu por influência de religiões como a Umbanda e o Candomblé, inicialmente nas praias do Rio de Janeiro e Salvador, mas hoje é praticada em todas as cidades, de norte a sul. O branco representa o orixá Oxalá, que é associado à criação, à paz, à harmonia e à sabedoria, sendo associado a Jesus Cristo.
Réveillon, no Brasil, é sinônimo de viagem à praia para muitos brasileiros, e estando na praia, pular sete ondas é essencial para finalizar um ano e começar outro.
Segundo a tradição, isso traz a purificação e força de Iemanjá, mais uma tradição vinda das religiões afro-brasileiras. Já o número sete representa uma referência ao orixá Exú.
Muitas famílias não deixam faltar lentilha na ceia do Ano Novo, uma tradição foi trazida para o Brasil pelos imigrantes italianos.
Segundo a tradição, o grão abundante deve ser o primeiro alimento consumido no Ano Novo para atrair fartura e prosperidade financeira. Apesar de ser um pouco questionável,muitos dizem que o formato da lentilha lembra uma moeda.
A simpatia do romã pode ser praticada até o Dia de Reis, no dia 6 de janeiro. A origem de colocar os caroços dos grãos na carteira remete aos três Reis Magos, Baltazar, Gaspar e Belchior, que levaram presentes a Jesus em seu nascimento.
A fruta é consumida há pelo menos seis mil anos, tendo vindo da região entre Irã e Noroeste da Índia.
Ela foi considerada por muitas religiões como um fruto sagrado, associado à fertilidade.
Muitos que praticam esta simpatia acreditam que manter sementes da fruta na carteira atrai a prosperidade.
Não comer aves na ceia de Ano Novo
Ao contrário da ceia de Natal, em que perus, chesters e outras aves são bem aceitas (para o azar delas), no ano novo, o azar, pode vir para quem consumir as aves.
A razão desta simpatia é bem conhecida, já que aves, em geral, para se alimentar, ciscam o chão em movimentos para trás e não para frente.
Os adeptos desta simpatia, não veem como um bom presságio comer uma ave que passa a vida se alimentando andando para trás.
Comer carne de porco
Já um alimento muito presente na ceia do Ano Novo é a carne de porco. Sua simbologia está atrelada ao fato de o porco ser um animal que “fuça para frente”, o que remete a crescimento, evolução e sucesso no ano que se inicia.
A tradição do champagne no Ano Novo começou no século XIX, na França.
A bebida era considerada mais luxuosa e bem mais cara do que o vinho comum, então se popularizou entre a realeza e a aristocracia, que utilizavam a bebida como símbolo de status para celebrar ocasiões importantes.
Por associação, beber champagne na virada do ano é uma representação de conquista, dando um ar sofisticado à passagem do ano.
Simpatias de Ano Novo ao redor do mundo
Apesar do brasileiro ser um dos mais sincréticos povos do mundo, vários outros tem suas tradições particulares,conheça um pouco estas simpatias e tradições ao redor do mundo:
Mala vazia na América do Sul
Em países latinos como Peru, Colômbia e Venezuela, uma das superstições de Ano Novo tem o objetivo de garantir muitas viagens no ano vindouro. À meia-noite, as pessoas saem de casa carregando uma mala vazia e dão a volta no quarteirão, como se estivessem embarcando para a próxima aventura.
Porta dos fundos na Inglaterra
Assim que o relógio marca a virada do ano, muitos britânicos abrem a porta dos fundos da casa, permitindo que o ano velho vá embora e não volte mais.
Sem faxina nos Estados Unidos
Se no Brasil, muitos gostam de limpar a residência para receber o ano que chega, nos Estados Unidos, o medo do azar fala mais alto do que o senso de limpeza. É tradição no país não lavar a louça e nem retirar o lixo das casas no 1º de janeiro. Isso para não correr o risco de quebrar uma louça ou derrubar o lixo dentro de casa, evitando perdas no ciclo do novo ano que está chegando.
Mergulho do “urso polar” no Canadá
No Canadá, não há um litoral exuberante como o brasileiro, para pular as sete ondas, mas nem por isso os canadenses passam longe da água… muitos mergulham mesmo na água congelante dos rios. Para cada mergulho, uma promessa.
Dinheiro no sapato no Oriente
Essa superstição está ligada à crença de vários povos orientais de que os pés são portais de energia do nosso corpo. Assim, em vários países o costume é guardar uma nota de alto valor dentro do sapato durante o réveillon para atrair prosperidade financeira durante o ano todo.
Pedido no champanhe na Rússia
Na Rússia também o champagne é a bebida da virada do ano, mas lá a tradição é fazer um pedido, escrever em um papel, queimar e, então, colocar as cinzas no champanhe. Aí, é só beber mentalizando novamente o pedido.
Banho de moedas na meia-noite na América Latina
Para atrair prosperidade e riqueza, em alguns países da América Latina, principalmente na Bolívia, as pessoas têm o hábito de tomar um banho de moedas à meia-noite do dia 1º de janeiro. Para isso, eles fervem algumas moedas em dois litros de água e, após esfriar, jogama água sobre a cabeça e o corpo.
Quebrar pratos e pular cadeiras na Dinamarca
Ir até a casa de um amigo e, diante da porta dele, quebrar pratos é uma das tradições mais curiosas. Ela é bastante praticada na Dinamarca. Para os dinamarqueses o ritual é um sinal de amizade e desejo de boa sorte para o próximo ano. Quanto mais cacos uma pessoa tem na porta, portanto, mais amigos ela tem e mais sorte ela terá no ano que está por vir.
Os dinamarqueses tem ainda outra superstição curiosa. Na noite de Réveillon, costumam subir em uma cadeira e pular dela assim que o relógio marcar meia-noite. A ideia é afastar os espíritos ruins e atrair boa sorte para o novo ano.
Cadeiras voltadas para a porta para os mortos na Irlanda
Algumas culturas têm uma relação diferente com pessoas mortas. Na Irlanda, uma tradicional superstição de Ano Novo é colocar cadeiras viradas para a porta de entrada da casa durante a noite de Réveillon, exatamente para garantir que os espíritos dos familiares que já morreram possam descansar durante a celebração.
Comer 12 uvas à meia-noite na Espanha e Grécia
Na Espanha, muitas pessoas têm o hábito de comer 12 uvas quando o relógio marca meia-noite, representando uma para cada badalada do relógio, e uma para cada mês do novo ano. A mesma superstição também existe na Grécia..
Porcos para sorte e fartura na Alemanha
Assim como os brasileiros, muitos alemães também têm a superstição de comer carne de porco durante a ceia de Ano-Novo. Mas a relação deles com os suínos vai além: é tradição por lá ter porquinhos em miniatura em casa, visto que o animal é considerado símbolo de sorte e fartura.
Círculos como sinônimo de prosperidade nas Filipinas
No Brasil muitos usam amarelo no Ano Novo para atrair dinheiro. Nas Filipinas o povo gosta mesmo é de usar roupas com bolinhas na virada. Isso porque, para eles, os círculos são símbolos de prosperidade.
E é por desejar tanto um novo ano próspero, inclusive, que os filipinos também mantêm a tradição de comer coisas redondas na ceia.
Depois deste giro de simpatias pelo mundo, o que a gente deseja mesmo é que todos tenham um excelente 2025!
Fontes: