Assis Chateaubriand
e o legado que seu império da comunicação deixou em São Paulo
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Em 4 de abril de 1968 falecia, em São Paulo, aos 76 anos, Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, ou Assis Chateaubriand, pioneiro da comunicação de massa no Brasil e que deixou profundas marcas na cultura paulistana.
O paraibano Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, mais conhecido como Assis Chateaubriand nasceu em Umbuzeiro, Paraíba, no dia 4 de outubro de 1892. Era filho de Francisco Chateaubriand Bandeira de Melo e de Maria Carmem Guedes Gondim Bandeira de Melo.
Quando criança estudou em casa com professores particulares, aprendeu francês e alemão. Com 12 anos de idade foi para o Recife fazer teste de admissão para o ginásio da Escola Naval, sendo admitido na instituição em novembro de 1904. Posteriormente se formou em direito pela Faculdade de Direito do Recife, concluindo o curso em 1913.
Quando estudante colaborava para vários jornais, entre eles o “Diário de Pernambuco”, onde chegou a redator chefe.
Ao se formar foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como advogado e colaborava para os jornais, Correio da Manhã, Jornal do Comércio e Jornal do Brasil. Como jornalista internacional viajou várias vezes para a Europa.
Em 1921 comprou o periódico “O Jornal” e em 1924 comprou o Diário da Noite de São Paulo, o Jornal do Comércio do Rio, e o Diário de Pernambuco. Em 1928 lançou a revista “O Cruzeiro” que foi a mais importante revista brasileira do período.
Em 1934, Chateaubriand fundou, no centro de São Paulo, os Diários Associados, que se tornou um dos maiores grupos de comunicação do Brasil. O grupo chegou a ter 34 jornais, 36 emissoras de rádio, 18 estações de TV e uma agência de notícias.
Marcas de Chateaubriand por São Paulo
Apesar de os Diários Associados serem compostos por empresas de comunicação distribuidas por todo o Brasil, foi na capital paulista que Chateaubriand estabeleceu as sedes de seu império.
O Diário da Noite funcionou na Rua do Arouche, 312, pertinho da Praça da República.
Alguns anos mais tarde, quando Chateaubriand cria os Diários Associados, escolhe o edifício nº 230 da rua 7 de Abril para sede de seu grupo de comunicação.
O local se tornou histórico para a cidade pois foi neste local que a Televisão nasceu no Brasil.
Chateaubriand conhecera a Televisão em uma visita que fizera a Nova Iorque nos anos 40, período em que, este meio de comunicação estava “nascendo” mesmo em nível mundial.
O empresário viu ali a oportunidade de ser o pioneiro no Brasil e não poupou esforços para inaugurar, em 18 de setembro de 1950, a primeira TV da América Latina, a TV Tupi de São Paulo.
Os estúdios eram pequenos, o equipamento precário, mas o nascimento da TV Tupi foi solene.
Chateaubriand presidiu a cerimônia que contou com a participação de um cantor mexicano, Frei José Mojica, que entoou “A canção da TV”, hino composto pelo poeta Guilherme de Almeida, que contou também com a atriz Lolita Rodrigues, especialmente convidada para a ocasião.
Um balé de Lia Marques e a declamação da poetisa Rosalina Coelho, nomeada madrinha do “moderno equipamento” fizeram parte do show.
A jovem atriz Yara Lins foi convocada especialmente para dizer o prefixo da emissora — PRF-3 — e o de uma série de rádios que transmitiam em cadeia o acontecimento. A seguir entrou a programação na tela dos cinco aparelhos instalados no saguão do prédio dos Diários Associados.
Durante seus primeiros anos a torre de transmissão da TV Tupi funcionou no topo do edifício dos Diários Associados.
Nos anos 60 a antena foi transferida para um edifício construído para ser a nova sede da TV Tupi, na rua Afonso Bovero, Sumaré, um edifício de autoria do arquiteto Gregório Zolko em que se destaca na fachada externa painéis artísticos de Gershon Knispel com temática indígena, remontando a imagem do índio tupi que identificava a marca da emissora.
Criador do MASP
Não bastasse ter escolhido São Paulo como sede de seu grupo de comunicação, tornando icônicos estes locais da capital, o gosto de Chateaubriand pelas artes deixaria um legado importantíssimo para a cidade. O Museu de Arte de São Paulo (MASP), criado inicialmente a partir da coleção até então particular do próprio empresário.
Chateaubriand pretendia sediar o futuro museu no Rio de Janeiro, mas optou por São Paulo por acreditar que nessa cidade teria mais sucesso em arrecadar os fundos necessários para formar a coleção.
O mercado de arte internacional passava por um momento propício para quem dispunha de fundos para adquirir obras de relevo e o Brasil passava por um momento de grande prosperidade. Com o fim da Segunda Guerra Mundial e a Europa em reconstrução, muitas coleções eram postas à venda.
Para movimentar-se nesse mercado, selecionando peças de alto valor e com garantias de autenticidade, precisaria do auxílio de um técnico especializado e experiente. Assim, convidou Pietro Maria Bardi para ajudá-lo na empreitada.
Bardi, galerista, colecionador, jornalista e crítico de arte italiano, havia viajado ao Rio de Janeiro na companhia de sua esposa, a arquiteta Lina Bo, para apresentar a Exposição de Pintura Italiana Antiga no Ministério da Educação e Saúde, organizada pelo Studio d’Arte Palma, dirigido por Bardi em Roma.
Durante um almoço em Copacabana, no verão de 1946, Chateaubriand o convidou para auxiliar a criar e a dirigir um “Museu de Arte Antiga e Moderna” no país. Bardi objetou que não deveria haver distinção entre as artes, propondo denominar a instituição apenas como “Museu de Arte”, e aceitou o convite.
Planejando ficar à frente do projeto por apenas um ano, dedicar-se-ia a ele pelo resto de sua vida, tendo dirigido a instituição por quase meio século. Mudou-se definitivamente com Lina para o Brasil, trazendo consigo seu acervo artístico particular e uma vasta fototeca com imagens de obras consagradas.
Em seus primeiros anos a coleção do MASP foi abrigada e exposta no edifício da rua 7 de abril, no centro, até que o famoso edifício “suspenso” da Avenida Paulista, projeto de Lina Bo Bardi, foi inaugurado, em 1968 e passou a abrigar a coleção que se tornou uma das mais importantes do mundo.
Assis Chateaubriand foi uma figura extremamente importante e controversa da história brasileira. Além de empresário, foi também político, tendo sido eleito senador em duas oportunidades, em 1952, pela Paraíba e em 1955 pelo Maranhão. Foi também Embaixador Brasileiro no Reino Unido.
O empresário já foi retratado como personagem no cinema e na televisão, interpretado por Luiz Ramalho no filme “Chateaubriand, Cabeça de Paraíba” (2000) e por Antonio Calloni em trecho da minissérie “Um Só Coração” (2004).
O filme Chatô, o Rei do Brasil, lançado em 2015, tem Marco Ricca no papel de Chateaubriand.
Dentre textos e biografias lançadas sobre o personagem a mais famosa é a do escritor Fernando Moraes, chamada de Chatô, o rei do Brasil, lançado em 1994.