Fábricas paulistanas de brinquedos
que fizeram história
O Dia das Crianças se aproxima e hoje, com as novas tecnologias e um mercado globalizado, qualquer lojinha de bairro traz em suas vitrines uma variedade de brinquedos, sejam nacionais ou importados a preços acessíveis. Isso, sem contar os grandes fabricantes mundiais, com suas marcas que trazem franquias de super heróis, de filmes e desenhos de gigantes como a Disney, por exemplo.
Mas nem sempre foi tão fácil assim, e São Paulo teve fábricas pioneiras que lançaram brinquedos que se transformaram em ícones das gerações nascidas entre as décadas de 1940 e o final de 1980.
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Trol, a pioneira dos brinquedos de plástico
A indústria de brinquedos Trol começou como uma pequena fábrica de botões na garagem da casa de Ralph Rosenberg, um imigrante alemão que chegou ao Brasil em 1935. Em 1939, ele transformou a instalação caseira na Trol S.A. Indústria e Comércio.
A empresa era uma das únicas a fazer injeção de plástico, e com isso a Trol não demorou a se tornar líder em três segmentos: peças industriais sob encomenda, plástico para utensílios domésticos e brinquedos.
A empresa passou por uma fusão com a CIBRAP (Companhia Brasileira de Peças Industriais S.A.), em 1967, e mudou o seu controle acionário ao mesmo tempo em que expandia o seu parque industrial para uma área de 108 mil metros quadrados próximo à Via Anchieta, zona sudeste de São Paulo, onde ampliou a produção de brinquedos injetados em plástico.
Se nos primeiros anos de sua fundação a Trol produzia apenas botões, pentes e bijuterias, com o crescimento, sua divisão de brinquedos diversificou a produção, lançando no mercado bichinhos em polietileno, mini móveis de bonecas, a boneca “Pierina”, o “Velotrol” e jogos de tabuleiro. A empresa foi uma das primeiras licenciadas para produzir em plástico personagens da Turma da Mônica.
Um dos grandes sucessos da empresa foi o Playmobil, uma coleção de bonecos em miniatura desenvolvido por Hans Beck na Alemanha e lançado no Brasil em outubro de 1976. A Trol conseguiu a licença exclusiva e o brinquedo tornou-se o carro-chefe da empresa.
Também teve sucesso seu Autorama TCR que permitia ultrapassagens com mudança de pista, diferente do Autorama da Estrela.
A bonequinha “Fofolete” que era vendida dentro de uma “caixa de fósforos” também foi grande sucesso da empresa nas décadas de 1960/1970.
Criado em 1956 na TV Tupi do Rio de Janeiro pelo diretor e ator Fábio Sabag, o programa infantil “Teatrinho Trol” apresentava adaptações de obras de autores como Monteiro Lobato, Maria Clara Machado, entre outros.
Era patrocinado pela empresa e ficou no ar por dez anos.
O Grupo Trol experimentou um grande crescimento entre as décadas de 1960 e 1980 desmembrando seus negócios e parques industriais, mas ao final da década de 80, não conseguiu sustentar esse crescimento, tendo sua falência decretada no ano de 1993.
ATMA a fabricante dos “trenzinhos”
Outra fabricante paulistana de brinquedos foi a ATMA. Nascida como ATMA Paulista, foi a principal fabricante de brinquedos relacionados ao ferromodelismo no Brasil (miniaturas de ferrovias, trens, trilhos e componentes). De 1950 a 1976, a Atma foi a única fabricante nacional de ferromodelismo.
No final dos anos 60 a ATMA conquistou a representação dos personagens Marvel Comics, e passou a fabricar bonecos como o Homem Aranha, Capitão América, Homem de Ferro, Thor e Hulk. Uma sensação entre o público infantil da época, que só conhecia os personagens nos desenhos da TV.
A empresa investiu em uma diversidade de bonecas em seu catálogo. Desde a simples boneca de pano Annabela, de 1975, até a linha de bonecas que possuíam nomes de mulheres, como Alice, Raquel, Rosana, Andrea, cujo slogan da propaganda era “Quanto mais amigas a gente tem, mais a gente brinca”.
A fábrica da ATMA ficava na Rua do Curtume, no bairro da Água Branca. Um incêndio destruiu a fábrica em 1994, e isso, aliado a uma concorrência acirrada com os importados, fez a ATMA fechar as portas naquele mesmo ano.
Estrela, a mais famosa
Você, não importa sua idade, provavelmente já teve um brinquedo da Estrela, empresa paulistana fundada em 1937, pelo alemão Siegfried Adler, que comprou uma pequena fábrica de bonecas de pano falida no bairro do Belém, São Paulo, e lançou a primeira boneca da empresa, com corpo de pano, rosto de massa, e 38 centímetros de altura. Foi um grande sucesso.
Logo a empresa diversificou o portfólio com novos brinquedos, inclusive o jogo de tabuleiro mais famoso do mundo, o Monopoly, lançado pela empresa com o nome de Banco Imobiliário e que foi responsável por um estrondoso sucesso de vendas, projetando o nome da fabricante em todo o Brasil.
No início dos anos 50, a linha de bonecas de tecido e massa passou a ser de plástico. A primeira boneca desse novo material se chamava Pupi. Totalmente articulada e fechava os olhos, uma grande inovação para a época.
Na década seguinte, já com o fundador falecido, sua esposa, conduzindo a empresa, lançou os primeiros brinquedos elétricos, entre eles o famoso Auto-Rama (era assim que se escrevia).
Também é dessa época é a boneca Susi,inspirada na Barbie americana. Segundo a história nunca comprovada ou desmentida pela Estrela, a empresa tentou licenciar a Barbie, mas não conseguiu, então criou sua própria “fashion-doll”, bonecas que andam na moda, se vestem como adultas e têm acessórios de vestuário. A Susi também foi um estrondoso êxito, e foi fabricada ininterruptamente até 1985.
Mario Adler, o filho de Siegfried, assumiu a presidência da empresa em 1964, trazendo ideias novas à companhia, principalmente com relação à modernização e ao marketing, o que ajudou ainda mais sua consolidação e liderança no mercado brasileiro. Nessa época, a Estrela era a maior anunciante do país, tanto em mídia impressa quanto em propaganda para a televisão.
A linha de produtos não parava de crescer. Nos anos 70 lançou a linha de bonecos Falcon, (G.I. Joe americana). Os bonecos tinham diversos acessórios para viver grandes aventuras. Hoje um dos brinquedos mais lembrados da história da Estrela.
Carrinhos rádio controlados, bonecas interativas, jogos eletrônicos como o Genius… A diversificação dos produtos crescia sempre mas mesmo com toda essa força, a Estrela teve maus momentos na década de 90, quando brinquedos importados começaram a ser uma opção de compra mais barata para a população.
Além disso, nos anos 2000 a empresa se envolveu em uma batalha judicial ainda em curso, com a fabricante multinacional Hasbro, detentora de várias licenças de personagens e jogos que a Estrela comercializa no Brasil e que estão sob contenda da justiça para definir se a companhia brasileira, pode, ou não, continuar a comercializar.
De qualquer forma, enquanto fabricantes menores não aguentaram a crise e fecharam, como vimos acima, a Estrela, apesar de sofrer muito, continuou de pé, apostando em uma modernização ainda maior e no relançamento de clássicos.
Outras veteranas ainda atuam
Elka
Eliano Kapaz começou a trabalhar como muitos filhos de imigrantes sírios e libaneses, ajudando seu pai Bady Kapaz em uma loja de tecidos da Rua 25 de Março. Porém, aos 16 anos, decidiu partir para um novo desafio: Montou uma pequena tecelagem que, mais tarde, viria a se transformar na Indústria de Plásticos Elka Ltda.
Assim, com apenas uma máquina injetora instalada em um galpão, iniciou a produção de utensílios plásticos e utilizando a matéria prima, passou também a produzir brinquedos.
Situada na Av. Casa Verde, zona norte de São Paulo, a fábrica ocupa uma área de 12.000 M2, é administrada pela segunda geração da família, que mantém-se fiel aos princípios da empresa de produzir brinquedos criativos, de qualidade e seguros, com preços acessíveis para todas as faixas de mercado.
O foco atual da empresa são brinquedos para bebês e primeira infância, também lançando mão dos licenciamentos de franquias de personagens de gigantes do entretenimento como a Disney.
Gulliver
Fundada em 1959 pelo imigrante espanhol Mariano Lavin Ortiz na cidade de São Caetano (Grande São Paulo), a Gulliver se notabilizou pelos brinquedos plásticos baseados em seriados de TV de temas do velho oeste americano como o Forte Apache, Acampamento Apache, Caravana, Chaparral e Super-Heróis como Batman e Robin, Super-Homem, Mulher-Maravilha, Homem-Aranha, Hulk, Capitão América, Homem de Ferro, sem falar no inesquecível Batmóvel clássico.
Hoje a empresa mantém ainda uma extensa linha de jogos, brinquedos para praia, licenciados da Turma da Mônica, miniaturas, jogos de futebol de botão e blocos de montar, todos em plástico.
Naturalmente o mercado brasileiro tem outras fabricantes mais recentes e uma grande rede de empresas menores e artesãos que produzem brinquedos educativos, fora do “grande mercado” internacional de marcas e personagens famosos.
Seja com um brinquedo altamente tecnológico ou com cartolina, barbante e cola, a gente deseja às crianças de 0 a 100 anos um excelente dia das crianças!