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Fatos e memórias de Silvio Santos

pela cidade de São Paulo

Há pouco mais de um mês falecia na capital Paulista, o empresário e, sobretudo, comunicador genial Silvio Santos. Nascido no Rio de Janeiro, foi em São Paulo, entretanto, que Silvio estabeleceu raízes e construiu um conglomerado empresarial. Mais do que falar sobre a história do apresentador, exaustivamente contada pelos meios de comunicação quando de sua morte, nosso post procura fazer uma pequena viagem por fatos, situações e locais que marcaram a trajetória do empresario na capital paulista.

Silvio Santos, cujo nome de batismo era Senor Abravanel, nasceu no Rio de Janeiro no dia 12 de dezembro de 1930, na Travessa Bem Te Vi, no bairro da Lapa, região central da cidade.

Na adolescência, começou a trabalhar como camelô, até que um dia, foi pego por um fiscal e levado ao chefe da fiscalização, que teria ficado admirado com a sua voz, indicando-lhe um concurso para locutor na Rádio Guanabara.

Envolvido com o rádio, Silvio foi trabalhar na Rádio Tupi e depois na Rádio Continental, em Niterói. Este meio de comunicação ainda era o grande veículo da época, já que a TV era uma tecnologia nascente na década de 50.
O diretor da Rádio Nacional, sediada no Rio de Janeiro, Victor Costa, abriu em 1952, a Rádio Nacional de São Paulo, contratando nomes importantes do rádio paulista, entre eles, o radialista Manoel de Nóbrega.

Silvio era muito amigo do irmão de Nóbrega, que trabalhava na Rádio Continental de Niterói e em 1954, Silvio foi contratado pela rádio paulista para ser locutor comercial no programa de Manuel. Logo Silvio Santos passou a ter o seu próprio programa, fato que selou a sua mudança para a capital paulista, onde viria a estabelecer o seu grupo empresarial.

O Baú que iniciou a felicidade

A parceria de Sílvio com Manoel da Nóbrega viria a se intensificar ainda nos anos 50 e seria fundamental para o progresso empresarial do comunicador. Foi Nóbrega que propôs a Silvio que adquirisse um negócio do qual queria se desfazer, chamado “Baú da Felicidade”.

Sílvio aceitou comprar o “Baú” que era um sistema em que pessoas adquiriam um carnê e pagavam uma mensalidade para receber, ao final deste carnê, um baú com brinquedos e utilidades domésticas.
Para formalizar o negócio Silvio abriu a primeira empresa na cidade, a Senor Abravanel com sede na rua 13 de Maio, na Bela Vista.

Mais ou menos no mesmo período Victor Costa adquiriu a TV Paulista. Que foi a segunda emissora de TV de São Paulo, depois da TV Tupi, de Assis Chateaubriand.

Sua sede era apenas um pequeno apartamento do Edifício Liège, na Rua da Consolação, 2570, e os estúdios eram montados na garagem e num espaço para uma loja no térreo do mesmo prédio. Pouco depois, transferiu-se para a Rua das Palmeiras, no bairro de Santa Cecília.

Foi na TV paulista que o radialista Silvio Santos aprendeu a linguagem deste meio de comunicação que começava a se popularizar. A emissora tinha alguns programas, como o “Circo do Arrelia”, “A Praça da Alegria”, com Manoel da Nóbrega e “O Mundo é das Mulheres”, com Hebe Camargo. Silvio começou a participar destes programas como “esquentador de auditório”.

Em 1960, estreia o “Vamos Brincar de Forca”, com Silvio Santos à frente do programa o que fez impulsionar carreira de comunicador e os negócios do Baú.

Com a visibilidade de estar na TV, Silvio passou a abrir locais físicos na capital paulista para que os clientes do Baú pudessem retirar as mercadorias (economizava no frete dos baús e, claro, incentivava os clientes a comprar outras mercadorias), e durante seu programa não perdia a oportunidade de fazer propaganda do carnê e das lojas. A rede chegou a ter cerca de 40 pontos (lojas) na capital paulista, várias delas no centro de São Paulo.

Só para constar, Silvio Santos se desfez de todos os pontos físicos das lojas do Baú em 2011, vendendo todos para o Magazine Luiza.

Da Globo ao SBT

A imagem de Sílvio Santos está intimamente ligada ao Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), fundado por ele em 1981, mas vale ressaltar que, como a TV Paulista foi vendida para o Grupo Globo, de Roberto Marinho, em 1965, Silvio passou a ter o seu programa veiculado pela Globo.

Ao mesmo tempo Sílvio ia marcando seu terreno na capital paulista.

O Baú da Felicidade virou uma rede de lojas espalhadas por toda São Paulo, surgiu a Vimave (Vila Maria Veículos), concessionária da Volkswagen, que ficava na Vila Maria, (Rua Guaranésia, 1309) e as lojas de móveis Tamakawy, também com vários pontos comerciais distribuídos por São Paulo.

Em 1972, Silvio adquiriu o edifício da antiga TV Excelsior, na Rua Dona Santa Veloso, 575. No local ele passou a gravar os programas que apresentava e depois lá instalou o Teatro Silvio Santos.

Silvio Santos sabia que mais cedo ou mais tarde teria que ter o seu próprio canal. A oportunidade veio em 1975, quando a concessão do canal 11 do Rio de Janeiro foi colocada em leilão. Silvio apresentou a proposta ganhadora do leilão.

Em 14 de maio de 1976, a TV Studio Silvio Santos, ou TVS, entrou no ar. Nesse mesmo ano, o contrato de Silvio Santos com a Rede Globo não foi renovado, encerrando uma parceria de 8 anos. O apresentador passou a transmitir o seu programa dominical pela TV Tupi, pela TV Record (do qual era sócio), e claro, pela TVS.

Já o Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) foi fundado em 19 de agosto de 1981 pelo empresário. A emissora surgiu a partir de uma concorrência pública e utilizou algumas concessões da extinta Rede Tupi e a partir de então a Vila Guilherme passou a ser a sede operacional da emissora trazendo uma intensa vida não apenas de técnicos e artistas, como de pessoas que se dirigiam à Vila Guilherme para participar dos auditórios dos programas da TV.

Essa atividade frequente no bairro durou até a inauguração do complexo de estúdios às margens da Rodovia Anhanguera, zona oeste da capital paulista, a partir de 1996.

A briga com Zé Celso Martinez Corrêa

Ao longo da construção de sua imagem pessoal Silvio Santos se colocou ao público como uma pessoa bem humorada, acessível, generoso, mas há ao menos uma passagem na biografia do empresário que dá conta de um outro lado de sua personalidade.

Para situar, vale registrar que, até a mudança do SBT e do Grupo Silvio Santos para o complexo Anhanguera, a sede das empresas do grupo ficava em um edifício vizinho ao Teatro Oficina, na rua Jaceguai, 520, no bairro do Bexiga.

Além do edifício sede do grupo Silvio Santos foi adquirindo vários terrenos no entorno do Teatro Oficina ao longo do tempo e, em determinado momento, decidiu construir no local um shopping center, além de torres de edifícios comerciais.

A comunidade artística e os defensores do patrimônio cultural representado pelo teatro argumentam que os projetos de construção poderiam comprometer a atmosfera e a identidade do bairro, além de prejudicar as atividades do Teatro Oficina. Vale lembrar que o Oficina é tombado pelos Patrimônio Histórico Municipal, Estadual e Federal. 

O Grupo Silvio Santos, por sua vez, alega ter o direito de utilizar seus terrenos da forma que desejar, dentro dos limites da lei.

Esta briga foi personalizada pelos líderes dos dois lados. Defendendo o Oficina o diretor de teatro José Celso Martinez Corrêa e pelo grupo Silvio Santos, seu próprio fundador, que alimentaram a contenda publicamente durante cerca de 40 anos.

Durante anos, Zé Celso e Silvio Santos se reuniram diversas vezes para tentar resolver o impasse do terreno, sem sucesso.

Em 2018, O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), do Ministério da Cultura, deu parecer favorável para o Grupo Silvio Santos construir prédios residenciais ao redor do Teatro. Em 2022, porém, a Justiça vetou a liberação. O Grupo Silvio Santos recorreu à segunda instância.

Em fevereiro deste ano o Grupo Silvio Santos fechou com tijolos uma das áreas adjacentes ao Teatro, alterando sua estrutura de acesso, o que provocou a fúria da comunidade artística.

Na época, o grupo empresarial respondeu que a intervenção respeitava o tombamento.

Fato é que este imbrólio terminou no último dia 6, sem que Zé Celso ou o próprio Silvio Santos, ambos falecidos em 2023 e 2024, respectivamente, presenciassem o acordo estabelecido entre o Grupo e a Prefeitura de São Paulo pelo qual esta pagou R$ 65 milhões à empresa pelo terreno, e o local virará parque no futuro. Por enquanto, é denominado Parque do Rio Bixiga.

Um pequeno paralelo com Rizkallah Jorge

Senor Abravanel, não imigrou para o Brasil, tal como Rizkallah Jorge. Já nasceu em nosso país. Porém, embora em magnitudes econômicas diferentes, ambos compartilharam muito das estratégias que os fizeram empresários bem sucedidos.

Rizkallah soube aproveitar os acontecimentos de seu tempo para alavancar os negócios da Casa da Boia. Com o sucesso da empresa, investiu na aquisição e mesmo construção de imóveis para geração de renda.

Silvio Santos também soube compreender a evolução da comunicação em massa com a chegada da TV, e com ela, alavancou os negócios que constituiu ao longo de sua atuação.

Ambos com raízes em países estrangeiros encontraram em São Paulo uma terra fértil em oportunidades que souberam enxergar, cada qual a seu tempo e sua maneira.

Ambos deixaram um legado material e imaterial para a memória paulistana.

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