Futebol, cerveja e petiscos
uma crônica dos hábitos da torcida durante a Copa do Mundo
A associação entre futebol, cerveja e algum petisco para se acompanhar um jogo pela TV tem tudo a ver com esse clima de Copa do Mundo que estamos vivendo nesse final de ano. Agora, este hábito tão comum, se a gente parar para refletir, tem uma receita bem complexa, pois todo este mix cultural e gastronômico é interdependente de seus ingredientes e a gente comenta neste post algumas relações que nos trouxeram a este hábito tão comum e as mudanças desde que o Brasileiro acompanhou a sua primeira Copa do Mundo pela TV.
Então, pega aí sua bacia de pipoca e vem com a gente que vamos começar lá de trás, bem de trás mesmo…
Vamos do começo. Quando nossos ancestrais, literalmente no tempo das cavernas, começaram a perceber que era mais vantajoso para a sobrevivência da espécie começar a trabalhar em equipe, talvez tenha surgido ali o conceito primitivo de comensalidade.
Era melhor, mais seguro e eficiente caçar em grupo do que sozinho e o resultado coletivo da caça tinha que ser dividido. Possivelmente chegou-se à conclusão de que ao invés de sair sozinho com o seu naco de carne e ir procurar uma colina para comer de olho nos predadores, talvez fizesse mais sentido que o grupo se alimentasse todo junto, aumentando a segurança coletiva.
Ok. Daí a dividir uns petiscos no boteco assistindo futebol tem milhões de anos de distância. E nesse caminho dividir a comida à mesa ganhou muitos significados em diversas culturas e em diversos momentos da história, tantos e tão diversos que a gente nem vai se arriscar a entrar nessa discussão. Vamos passar longe dos banquetes medievais, da fartura colonial, dos hábitos requintados da Europa pré-industrial, e em contrapartida, da privação das classes inferiores nestas mesmas épocas.
Queremos é olhar para um momento de ruptura deste costume de reunir a família ou convidados e sentar à mesa.
Nada foi tão impactante para esta tradição do que o advento da televisão. Nem o rádio, surgido nos primeiros anos do século XX, impactou o hábito das refeições em torno de uma mesa, em grande medida porque não era preciso olhar para o aparelho, apenas ouvi-lo.
Mas, à medida que esta “caixa de som e imagens” ia ganhando os lares, a refeição coletiva nas cozinha ou salas de jantar começou a perder a solenidade que o momento representava para as famílias.
Aí, eis que alguém transmite a primeira copa do mundo pela TV. Foi em 1954. Copa da Suíça, a primeira a ser televisionada, aliás por vídeo tape. Ou seja, a partida era gravada em fita, levada à sede da emissora e então transmitida.
Os brasileiros, cuja seleção vencera a copa da Suécia de 1958 e foram bicampeões em 1962, só ficaram sabendo dos fatos pela TV um bom tempo depois.
Como curiosidade, a primeira Copa do Mundo transmitida ao vivo foi a de 1966 e ainda assim, para apenas 20 países europeus.
Chegamos então à Copa de 70, no México, a primeira transmitida ao vivo e colorido, via satélite. Mas, convenhamos, particularmente aqui no Brasil, TV em cores era coisa para os muito ricos nesta época.
Em grande medida, mesmo a TV em preto e branco era um objeto caro. Tanto que a Embratel, que recebia o sinal do México, organizou a retransmissão para cinemas e outros locais públicos, para que aqueles que não contassem com a modernidade da TV em casa pudessem acompanhar as partidas.
Em cores ou PB a transmissão ao vivo cria novos hábitos
Seguindo a linha, com a popularização das TVs ficou mais fácil e prático assistir aos jogos da seleção brasileira no conforto de casa a partir de então. Ver Pelé, Garrincha, Tostão, Gérson, os craques da época que levaram o time ao tricampeonato mundial, em casa, não tinha preço. Aí já viu… uma coisa puxa a outra e TV, futebol e petiscos se uniram para sempre!
Lá na década de 70 não era difícil se imaginar uma casa, (daquelas que tinham TV e sinal…) em que o jogo fosse acompanhado de palitinhos de salsicha, queijo e azeitona, tudo bem espetadinho em um repolho coberto de papel alumínio (que, aliás, viraria ingrediente para sopa no dia seguinte).
Uma cerveja (de garrafa, claro) servida em copo americano, uma groselha ou um Guaraná “caçulinha” para as crianças também não faltavam nessas ocasiões. Isso, naturalmente, nos centros urbanos, porque vale lembrar que a população brasileira do início dos anos 70 ainda era predominantemente rural, algo que viria a mudar nas décadas seguintes.
E aqueles que não tinham TV em casa, mas contavam com um “boteco”, um “empório” por perto com uma TV, certamente degustaram uma batatinha, ovos de codorna ou uma cebolinha aperitivo, imersas em um grande pote de vidro com vinagre e temperos. Para os mais destemidos, ovos cozidos coloridos acompanhados de um sal “Cisne”.
Industrialização facilita a vida do torcedor (mas não sua saúde, vá lá)
Lá pela década de 80 a industrialização contribuiu para mudar um pouco a cara dos “petiscos da Copa”.
Os congelados começaram a aparecer com dois outros sonhos de consumo do brasileiro, o freezer (que servia para estocar a comida que você comprava no dia 1º do mês por 10 “dinheiros” e no dia 30 do mês já custava 50 “dinheiros”, e o microondas, no qual você podia esquentar rapidinho o que tinha congelado no freezer. Enfim, pergunte a quem viveu aqueles anos.
E nessa altura, as latinhas de alumínio… adeus às garrafas de vidro retornáveis, que você precisava levar ao mercado ou à venda da esquina para que pudesse trazer outra cheia. Aquele Mandiopã, acompanhado de uma latinha de cerveja congelada no freezer novo trouxe uma praticidade ao torcedor dos anos 80… nada mais de espetinhos de salsicha para quem tem agora “Cheetos”, “Ruffles”, “Doritos”… Para quê perder tempo preparando um cuba libre se agora a gente já tinha “Keep Cooler”?
As décadas dos importados e do churrasco acompanham o tetra e o penta
Enquanto a seleção brasileira patinava nas copas, a economia ia entrando em estabilidade no país e a abertura econômica (para quem não sabe o Brasil, até meados dos anos 90 não permitia a importação de centenas de produtos industrializados), começaram a trazer novos sabores para a mesa do torcedor.
- Plano Real e ano do tetracampeonato. Agora o torcedor não precisava se restringir à “Brahma”, “Antarctica” ou “Skol”. Novas marcas de bebidas agora podiam entrar no país. Quem nunca degustou um “Liebfraumilch”, um dos primeiros vinhos importados que circularam pelos bares e lares na década de 90 e que, com razão ou não, ficou com a fama de vinho barato e doce demais?
E dá-lhe batatas-fritas congeladas, nuggets, pipoca de microondas para encarar os jogos nas novas TVs de tubo de 29 polegadas e uns 230 kg de peso, nas quais muitos torcedores puderam ver, finalmente, a seleção brasileira vencer uma copa e conquistando o tetracampeonato mundial… ah e também puderam ouvir Galvão Bueno gritar o até hoje exagerado “é tetra”…
Aí, em 1998, o fiasco da seleção na final da Copa da França, que nem quem tinha condições de degustar um Romanee-Conti Grand Cru conseguiu harmonizar com aquela derrota.
Anos 2000, o tetra estava por chegar e o churrasco também. A década do churrasco com os amigos. Maminha, fraldinha, linguiça, picanha (essa bem pouquinho, porque era cara) e o surgimento de uma iguaria que viria para ficar: o “pão de alho”. Esse foi um “must have” daqueles anos da conquista do tetra.
Fora o temor que a variedade crescente de marcas de cerveja trazia (e traz) aos anfitriões dos churrascos, o de que seu convidado leve uma cerveja baratinha e acabe com o seu estoque de garrafinhas de 300 ml de cerveja belga de R$ 30,00 cada uma…
Passamos pelos bares e voltamos à nossa casa, agora om todo conforto
Mas enfim, os anos 2000 foram os anos dos bares né? Quem não queria preparar um Mandiopã ou convidar os amigos para um churrasco agora tinha os bares… Vila Madalena, aqui em São Paulo, um paraíso alternativo dos anos 70 virou, digamos, o paraíso de quem queria curtir um futebol e uma balada depois, sem ter trabalho.
E olha que foram várias copas nessa pegada até que esta tal de Covid deu uma segurada na onda.
Para quem está em dúvida se vale arriscar um bar cheio, convenhamos… desde que a Copa passou a ser transmitida pela TV, a gente nunca teve tanta condição de ficar em casa com tanto conforto… TVs gigantes de LED, transmissão digital, som estéreo, comida e bebida delivery…
Se a gente está dando uma volta e retornando as origens do assistir uma Copa em casa, podemos fazer isso com muito mais conforto e estilo.
Se a gente puder dar uma dica, dentre todas essas memórias de petiscos e bebidas a gente tem aqui na Casa da Boia um objeto charmoso que vai ajudar a servir os seus convidados com um toque especial do cobre.
Temos bandejas, bowls, pratos, cálices, taças, taças de moscow mule, porta-vinhos, champanheiras e até mesmo panelas, tachos, paejeras e utensílios diversos para quem quiser receber, e muito bem, os convidados para torcer pela nossa seleção.