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Gravura em Foco

Exposição na Casa da Boia reúne o melhor da gravura brasileira

Quem conhece a Casa da Boia sabe que o principal produto vendido pela empresa é o cobre. Seja em barras, bobinas, tubos e chapas.

É justamente a partir das chapas de cobre que o talento de artistas que se utilizam de diversas técnicas de gravação, faz surgir obras de encantadora beleza e técnica.

Parte da produção brasileira de gravura em metal estará em exposição na Casa da Boia de 14 de setembro a 1 de dezembro de 2023.

Pela primeira vez estarão reunidas cerca de 50 obras de artistas de diversas gerações da gravura brasileira contemporânea, pertencentes ao Gabinete de Estampas da Universidade de Campinas, reunidas sob curadoria do pintor e também gravador Sérgio Niculitcheff.

 “O Gabinete de Estampas da Unicamp possui um acervo de mais de 3 mil obras. Para a exposição, fiz uma curadoria que pudesse reunir trabalhos de várias gerações de artistas gravadores ou que fazem uso dessa linguagem, desde renomados e estabelecidos no panorama artístico, até gerações intermediárias e os mais jovens, que estão produzindo gravuras em metal atualmente”, diz Niculitcheff, que também é coordenador do Gabinete de Estampas da Unicamp. Para ele, não haveria espaço melhor para a mostra, como a Casa da Boia, que é um fornecedor tradicional de matéria-prima necessária para gravadores em metal, em especial chapas de cobre e latão.

Sérgio Niculitcheff, curador da exposição.

“A mostra ressalta, ainda, a importância da coleção e o pertencimento destas obras à comunidade externa à universidade, enfatizando seu papel em desenvolver ações educativas e de formação de profissionais que buscam refletir e questionar os meios e rumos do contexto artístico contemporâneo”, explica.

O público poderá apreciar na exposição, por exemplo, obras de artistas como Marcelo Grassmann, que possui trabalhos espalhados por vários acervos de museus do mundo e é apresentado por muitos críticos como o maior gravurista brasileiro. Também terá acesso à técnica de Maria Bonomi, que possui obras em vários espaços públicos, como estações de metrô e em fachadas de prédio, sempre dialogando com a população.

A mostra também contará com gravuras de outros nomes de destaque, como Alex Cerveny, Arnaldo Battaglini, Arthur Piza, Claudio Mubarac, Darel Valença, Evandro Carlos Jardim, Feres Khoury, Lygia Eluf, Marcio Périgo, Marco Buti, Mario Fiori, Mario Gruber, Renina Katz e Rubens Matuck, entre outros.

Adriana Rizkallah, diretora da Casa da Boia Cultural

“No ano em que comemoramos 125 anos de atividades, queremos abrir as portas para valorizar a gravura como ofício, por meio do artista gravador e impressor. Somos tradicionais e reconhecidos por diversas gerações pela comercialização das chapas que são suportes essenciais para a confecção e gravação”, diz Adriana Rizkallah, diretora da Casa da Boia.

Adriana, que também é artista visual, lembra da época da faculdade, nos anos 1980, quando seus professores Rubens Matuck e Evandro Carlos Jardim, que também estarão com obras na exposição, eram clientes da loja. “Com a exposição, queremos criar ainda mais conexão com as comunidades que circulam pela Casa da Boia”, finaliza.

Um pouco da história da gravura

A primeira evidência de padrões de gravura de hominídeos é uma concha cinzelada , datada entre 540 mil e 430 mil anos, de Trinil, em Java, na Indonésia, onde o primeiro Homo erectus foi descoberto. 

Faixas hachuradas em cascas de ovos de avestruz usadas como recipientes de água encontradas na África do Sul no abrigo rochoso Diepkloof e datadas da Idade da Pedra Média, por volta de 60.000 aC, são o próximo caso documentado de gravura humana.

A gravação em osso e marfim é uma técnica importante para a Arte do Paleolítico Superior , e pinturas rupestres maiores gravadas em rochas são encontradas em muitos períodos e culturas pré-históricas ao redor do mundo.

Na antiguidade , a única gravação em metal que podia ser realizada eram as ranhuras rasas encontradas em algumas jóias após o início do primeiro milénio a.C. A maioria dos chamados desenhos gravados em anéis de ouro antigos ou outros itens eram produzidos por cinzeladura ou, por vezes , uma combinação de fundição por cera perdida e entalhe. 

Na Idade Média europeia, os ourives usavam gravuras para decorar trabalhos em metal. Possivelmente começaram a imprimir impressões dos seus desenhos para os registar. 

A partir daí surgiu a gravura em chapas de cobre para produzir imagens artísticas em papel, na Alemanha da década de 1430. Logo depois, artistas italianos começaram a se expressar pela técnica.  Muitos dos primeiros gravadores tinham experiência em ourivesaria. O primeiro e maior período da gravura foi de cerca de 1470 a 1530, com mestres como Martin Schongauer , Albrecht Dürer e Lucas van Leiden .

A partir do século XV, alguns fatores contribuíram para o avanço da gravura em metal, como o desenvolvimento de processos gráficos, a mecânica das prensas e e técnicas que melhoraram a resistência às grandes tiragens e edições.

Antes do advento da fotografia, a gravura era utilizada para reproduzir outras formas de arte, por exemplo pinturas. As gravuras continuaram a ser comuns em jornais e em muitos livros no início do século 20, pois eram mais baratas para impressão do que imagens fotográficas.

As técnicas da gravura em metal

As técnicas de gravura em metal estão relacionadas às formas ou ferramentas mais comuns usadas para gravar uma imagem na matriz. 

A gravação direta, a ponta seca, é quando o artista usa ferramentas para marcar, riscar, sulcar a chapa. Ferramentas como o buril, instrumento de aço com ponta cortante em V; o roulette, que permite atingir um traçado irregular, como se fosse feito com um lápis grafite; o berceau, brunidor e raspador, instrumentos usados na técnica conhecida como maneira negra, são exemplos de ferramentas utilizadas na gravação direta.

Outras técnicas se utilizam de ácidos e outros produtos químicos para gravar a chapa de acordo com as intenções do artista, como a água-forte, (do latim aqua-fortis), assim chamado por causa do ácido nítrico usado nesta técnica. O procedimento consiste em proteger a chapa, geralmente cobre, latão ou zinco, com uma camada de verniz que aplicada sobre a chapa cria uma camada protetora. Para a retirada do verniz das áreas que se pretende gravar com ácido, é utilizado uma ponta de metal de extremidade  arredondada, para evitar que a matriz seja riscada. Em seguida a chapa é levada para o banho do ácido onde acontece a gravação da matriz.

A água-tinta é um método que permite a realização de gradações tonais em semelhança com as aguadas de nanquim ou sépia. Seu procedimento consiste no polvilhamento de uma resina de pinho, conhecida como breu, que após aquecida fixa-se sobre a chapa ao resfriar. Os sucessivos banhos de ácido criam as gradações tonais pela corrosão das áreas que contornam os pequenos grãos de breu grudados à chapa.

Gravura já foi tema de documentário e exposições na Casa da Boia

Grupo de artistas com Roberto Grassman, no lançamento da exposição “Impressões”, em 2006.

Em 2006 a gravura em metal foi tema do documentário “Expressões. A Arte Comentada de Roberto Grassmann”. O documentário, patrocinado pela Casa da Boia, abordava a técnica da gravura em metal não exatamente pelo olhar do artista gravador, mas sim, do impressor.

Como já falamos acima, para que o trabalho do gravador seja transferido para o papel é preciso da arte do impressor. 

Roberto Grassmann, irmão do artista Marcelo Grassmann foi um dos maiores impressores paulistas a quem um seleto grupo de artistas, dentre eles Rubens Matuck, Feres Khoury, Sergio Fingermann, Francisca Do Val, Maurício Parra, Zizi Baptista e o próprio Marcelo Grassmann, confiava suas matrizes para a produção de suas gravuras.

O documentário foi distribuído gratuitamente a mais de 1.000 escolas de arte, museus e instituições pelo Brasil. 

Ao comemorar seus 108 anos de atividades, a Casa da Boia realizou uma exposição com gravuras deste grupo de artistas nas dependências do Museu Rizkallah Jorge.

Ao comemorar os seus 120 anos, em 2018, a Casa da Boia Cultural abriu suas portas para a expressão de dois artistas contemporâneos, Ennio Possebon e Sérgio Niculitcheff.

Pela primeira vez o porão da loja centenária foi sede de uma exposição de gravuras, que, durante os três meses em que os trabalhos da dupla estiveram expostos, trouxe ao espaço mais de 1.000 pessoas.

Com a nova exposição, “Gravura em Foco” a Casa da Boia dá continuidade a um trabalho de divulgação de uma forma artística de grande importância no cenário das artes.

A entrada é gratuita e o horário de visitação será de segunda a sexta-feira, das 10h às 17h. Ao longo do período expositivo, serão realizadas mesas-redondas.

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