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Museu do Ipiranga. De símbolo da independência

a importante centro histórico e cultural

Nascido como uma forma de afirmar a importância geográfica e cultuar a memória do ato simbólico da proclamação da Independência por Dom Pedro I, o Museu do Ipiranga já viveu tempos difíceis. Hoje, recuperado, se tornou importante polo de difusão histórica e cultural na cidade de São Paulo 

Vista panorâmica do Parque Independência, dentro do qual está o Museu Paulista.

Vista panorâmica do Parque Independência, dentro do qual está o Museu Paulista.

A historiadora Renata Geraissati, no editorial As Múltiplas independências: a formação de uma identidade nacional, lembra que todos os anos, ao nos aproximarmos do 7 de setembro, invariavelmente vem à nossa memória alguns trechos do hino nacional, em especial a imagem do “ouviram do Ipiranga as margens plácidas”. Cristalizado como um momento que deixou profundas marcas na construção da identidade nacional brasileira, representando o rompimento com a metrópole portuguesa.

A figura daquele que seria o futuro imperador, Dom Pedro I, e a proclamação da independência às margens do Rio Ipiranga se tornaram um símbolo da história do Brasil como nação independente.

O 7 de setembro e a criação de um memporial à independência

Você já parou para pensar que nem sempre o 7 de setembro foi uma unanimidade como uma data a ser celebrada?

Perpetuar uma imagem de “origem” da “nação” envolveu inúmeras disputas dentro do governo imperial. No calendário comemorativo do Império, o 7 de setembro não foi comemorado até o ano de 1926, quando aprovado pela Assembleia Legislativa em um esforço de legitimação do governo monárquico, com sua celebração até então estando restrita à São Paulo.

Em 1869 o comendador Jerônimo José de Mesquita dirigiu à Câmara Municipal de São Paulo um ofício sobre “a necessidade de erigir-se nas margens do Ipiranga um monumento que mostre aos vindouros o logar onde se soltou o glorioso grito – Independência ou Morte – que tornou o Brasil por encanto Império e Império livre (…)” (CMCMSP, 23.04.1869, p.114.).

Em sessão extraordinária da Câmara, realizada no dia seguinte, foi nomeada uma “Comissão Central” composta por políticos atuantes na Corte que dariam andamento na promoção do monumento, se encarregando de gerenciar o plano de obras e os recursos necessários para construí-Ia (CMCMSP, 24.04.1869, p.121). Contudo, apesar do pronto reconhecimento como um local de importância simbólica e das subscrições feitas para sua construção, o monumento só foi erguido muitos anos depois.

O concurso
Obras da construção do edifício principal do atual Museu Paulista, à época denominado “Monumento do Ypiranga”, em 1888.

O jornal Correio Paulistano em sua edição de 13 de fevereiro de 1876, publicou o concurso “Monumento do Ypiranga”, cujas propostas seriam recebidas até 31 de julho daquele ano. No entanto, apesar do concurso, a construção do monumento não avançou por um longo período.

Somente a partir de 1881, o projeto começou a se concretizar com o desenho elaborado pelo italiano Thomaz Gaudêncio Bezzi, nascido em Turim, em 1844, e formado engenheiro-arquiteto na mesma cidade.

Além do edifício principal, o projeto contemplou também uma proposta urbanística para promover a ocupação da região, com o loteamento de importantes áreas, a abertura de ruas e avenidas, bem como a delimitação dos terrenos destinados ao Monumento e à praça, que viriam a compor o futuro parque da Independência.

Contudo, a construção do conjunto que compõem o Parque da Independência demorou mais alguns anos com a construção do “Monumento à Independência”, inaugurado apenas em 1922, nada menos do que um século após o “Grito do Ipiranga”. O Monumento foi idealizado pelo também italiano de Palermo, Ettore Ximenes.

Um bairro impulsionado pela presença libanesa
Anúncio da Tecelagem Ypiranga, com a imagem da fábrica construída no Ipiranga. Curioso observar que a administração central ficava na Rua Florêncio de Abreu.

O Ipiranga surgiu como bairro da capital paulista, efetivamente, em 7 de Setembro de 1822, a data da Proclamação da Independência, por Dom Pedro I, às margens do ribeirão Ipiranga. Mas a localidade era ocupada originariamente pelos índios Guaianazes e sua localização era estratégica pois sua geografia relativamente plana e os rios da região formavam um “corredor” entre a Serra do Mar e o centro da Vila de São Paulo dos Campos de Piratininga (a região do Páteo do Colégio, centro da capital paulista).

Com o passar do tempo, o bairro deixou de ser apenas essa passagem entre o mar e a cidade, e a região do Ipiranga testemunhou as modificações urbanas provocadas pela indústria, principalmente pela presença das Indústrias Jafet, uma das primeiras famílias libanesas a chegarem a São Paulo.

Pioneiros da industrialização paulistana, seus membros criaram um dos maiores grupos empresariais familiares do Brasil, com empreendimentos no ramo têxtil, mineração, metalurgia, siderurgia, serviços financeiros e navegação.

Os irmãos Jafet, Nami, Benjamin, Basílio e João chegaram à São Paulo a partir de 1887 e após um tempo instalados na região da 25 de março abriram, em 1906, a Fiação, Tecelagem e Estamparia Ypiranga Jafet S.A, justamente no bairro do Ipiranga.

A chegada da indústria dos Jafet ao Ipiranga mudou a característica de um bairro que era praticamente desabitado. Não apenas porque com a indústria, as vilas operárias passaram a ocupar as ruas como também porque eles decidiram ir morar na região. O bairro passou então a ser morada de praticamente toda a família Jafet, que construiu palacetes inspirados na arquitetura europeia e mourisca.

Alguns destes palacetes ainda podem ser vistos bem próximos do Museu do Ipiranga.

Aliás, voltando ao museu…
Em 1912 famílias já usavam o entorno do Monumento para realizar “piqueniques”.

Em 1895, na edificação erguida às margens do Riacho do Ipiranga, foi criado o Museu de Ciências Naturais, ou Museu do Estado (Museu Paulista). Quando das comemorações do centenário da Independência, em 1922, o caráter histórico da instituição foi reforçado, com a criação de novos acervos voltados principalmente à história de São Paulo. Na mesma época foi criada a decoração interna do edifício, com pinturas e esculturas apresentando a história do Brasil no saguão, escadaria e salão nobre.

Em 1934, o então interventor de São Paulo (cargo correspondente ao de governador), Armando de Salles Oliveira, criou a Universidade de São Paulo e, quase trinta anos depois, em 1963, o Museu Paulista foi incorporado ao patrimônio e ficou sob gestão da USP.

Como órgão da Universidade de São Paulo, o museu exerce pesquisa, ensino e extensão. A instituição mantém um acervo de mais de 125 mil unidades, entre objetos, iconografia e documentação textual, do século XVII até meados do século XX.

A importância do acervo do Museu Paulista, entretanto, não impediu que o prédio histórico sofresse com abandono e manutenção deficitária. Tanto assim que, no ano de 2013, o Museu Paulista foi fechado, por riscos aos visitantes.

Em outubro de 2019, se iniciaram as obras de restauro do conjunto arquitetônico, e o projeto “Museu do Ipiranga 2022” teve como objetivo a restauração e modernização completa do Museu. Várias etapas foram então desenvolvidas: elaboração de Programa de Necessidades, Diagnóstico Estrutural e das Fachadas, Concurso Público para Seleção do Projeto Arquitetônico e de Restauro, Estudo Preliminar, Projeto Básico, Projeto Executivo, licitação e execução da Obra e implantação das novas exposições e áreas técnicas do Museu.

Com grande pompa o Museu foi reinaugurado na noite de 06 de setembro de 2022.

O novo projeto determinou que todo o edifício, (patrimônio tombado nas três esferas do governo), fosse dedicado exclusivamente à visitação pública, com exposições e espaços de fruição visual de sua arquitetura monumental plenamente renovados, com acessibilidade universal e integrados ao conjunto urbanístico do Parque da Independência.

O Museu ganhou uma nova área de 6.800 m², incluindo sala de exposições temporárias, salas para atendimento do programa educativo, auditório, loja e uma área confortável de acolhimento, tornando-o compatível com os grandes museus internacionais. O Novo Museu ampliou de forma significativa a sua visitação pública, podendo receber um público acima de 500.000 visitantes/ano.

No dia 6 de setembro de 2022 em uma festividade para convidados, o novo Museu do Ipiranga foi inaugurado com pompa e solenidade. No dia 7 de setembro daquele ano foi aberto à visitação.

Visitas e acervo online
No próximo dia 7 de setembro, o Museu terá extensa atividade cultural e entrada gratuita.

Para felicidade não apenas dos paulistanos, como do povo brasileiro, após sua reinauguração, em 2022, o Museu do Ipiranga, passou a ter uma permanente curadoria de exposições e programação cultural em suas instalações, além de disponibilizar grande parte de seu acervo de forma digital.

Confira as nossas dicas para aproveitar o melhor do novo Museu do Ipiranga:

Para começar, o endereço. O museu fica na Rua dos Patriotas, 100 – Ipiranga – São Paulo/SP

Os jardins do Museu do Ipiranga tem acesso gratuito, de segunda a domingo, das 5h às 20h.

Já para realizar uma visita ao prédio principal e às suas exposições permanentes e temporárias é preciso adquirir um ingresso antecipadamente, o que pode ser feito online, ou na bilheteria do Museu.

Atualmente os valores variam de R$ 15,00 (meia entrada) a R$ 30,00 (inteira).

Todas as quarta-feiras, no primeiro domingo do mês, no dia 25 de janeiro (aniversário de São Paulo) e 7 de setembro (comemoração da independência), a entrada é gratuita, mas é preciso também  retirar ingresso na bilheteria do local.

A bilheteria abre às 9h nos dias pagos e 10h nos dias de gratuidade.

https://museudoipiranga.org.br/visite/

O acervo online do Museu pode ser acessado por meio deste link.

Fontes:

https://museudoipiranga.org.br/

https://www.saopaulo.sp.gov.br/conhecasp/monumentos/monumento-a-independencia/

Arquivo: