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Um universo de excelência em livros

no centro de SP

“Os livros são objetos transcendentes

Mas podemos amá-los do amor táctil

Que votamos aos maços de cigarro

Domá-los, cultivá-los em aquários

Em estantes, gaiolas, em fogueiras

Ou lançá-los pra fora das janelas

Talvez isso nos livre de lançarmo-nos

Ou o que é muito pior por odiarmo-los

Podemos simplesmente escrever um”

Parte da música “livros” de Caetano Veloso

Tempo de leitura: aproximadamente 9 minutos

Desde que o homem evoluiu para a comunicação escrita, muitos foram os suportes encontrados por nossa espécie para registrar, transmitir conhecimento, nos expressarmos e nos fazer entendidos por nossos pares.

Das paredes das cavernas e seus desenhos rupestres até a fluidez digital das telas dos celulares ou leitores digitais, nenhum outro suporte acompanhou a humanidade tanto quanto os livros. Depois da invenção do papel, com os antigos escribas e após a invenção da prensa, por Gutemberg, os livros foram o suporte principal da produção escrita humana por séculos.

No dia 1 de julho é comemorado o “Dia Mundial das Bibliotecas” e no post de hoje falaremos sobre a segunda maior biblioteca do Brasil (fica atrás apenas da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro) e a cerca de 1 km da Casa da Boia: a biblioteca Mário de Andrade.

Histórico
O primeiro edifício da então Biblioteca Municipal ficava na rua 7 de Abril.

Fundada em 1925 como Biblioteca Municipal de São Paulo, foi efetivamente inaugurada, em 1926, na Rua 7 de Abril, com uma coleção inicial formada por obras que se encontravam em poder da Câmara Municipal de São Paulo, em cujo prédio a Biblioteca funcionava.

Em 1937, incorporou a Biblioteca Pública do Estado e, a partir de então, importantes aquisições de livros, muitos deles raros e especiais, enriqueceram seu acervo. O crescimento de seu acervo e serviços ocasionou a mudança da biblioteca para o atual edifício, localizado na Rua da Consolação. Inaugurado em 1942, na gestão do Prefeito Prestes Maia e tendo Rubens Borba de Moraes como Diretor da Biblioteca, o novo edifício, projetado pelo arquiteto francês Jacques Pilon, é considerado um marco da arquitetura Moderna em São Paulo.

A Seção de Obras Raras e especiais foi criada por Rubens Borba de Morais para organizar e difundir um acervo que já vinha sendo constituído desde os anos 20. Foi aberta ao público em 1945. 

Em 25 de janeiro de 1944, foi inaugurada a Seção Circulante em que as pessoas passaram a poder retirar os livros para devolvê-los posteriormente.

Um ano depois, em 25 de janeiro de 1945, Sérgio Milliet, então diretor da Biblioteca, inaugurou a Seção de Artes, que reuniu a coleção especializada de livros, revistas e reproduções.

Foi em 1960, que a Biblioteca passou a denominar-se Biblioteca Mário de Andrade e em janeiro de 1975, com a criação da Secretaria Municipal de Cultura, a Divisão de Bibliotecas, à qual a BMA estava vinculada, passou a ser o Departamento de Bibliotecas Públicas.

Em 2005, com a criação, na Secretaria Municipal de Cultura, do Sistema Municipal de Bibliotecas, a Biblioteca Mário de Andrade adquiriu o status de Departamento, ganhando, assim, maior autonomia administrativa. No entanto, só em dezembro de 2009 foi aprovada sua reestruturação administrativa. 

De dezembro de 2007 a outubro de 2010, a Biblioteca passou por profunda reforma que envolveu, além das intervenções no edifício, também o restauro do mobiliário, a desinfestação de parte do acervo de livros e a higienização e a reorganização física de todo o acervo.

Em 25 de janeiro de 2011, a Biblioteca foi finalmente reinaugurada, tornando disponível ao público as áreas de consulta das coleções fixas – Coleção São Paulo, Artes, Coleção Geral, Mapoteca e Raros e Especiais – bem como o Auditório. 

A abertura da Hemeroteca (prédio anexo) aconteceu em dezembro de 2012 proporcionando ao público a leitura e consulta de periódicos.

Na década de 40 a biblioteca ganha novo edifício
Obras de construção da Biblioteca Municipal, já na Rua da Consolação, por volta de 1940.

Em 1936, o diretor da Divisão de Bibliotecas, Rubens Borba de Morais, dá início à construção de um prédio que abrigaria adequadamente a grande biblioteca central de São Paulo. Em 4 de maio de 1936, conforme Ato 1078, o prefeito Fábio Prado libera recursos para a compra do imóvel situado à Rua Xavier de Toledo, esquina da rua São Luiz, para nele ser construído o edifício. Posteriormente, outros terrenos do entorno são desapropriados para dar lugar à biblioteca e à futura praça.

Os trabalhos de construção do edifício se estendem até 1942. O prefeito, engenheiro, faz algumas interferências no projeto original de Jacques Pilon – como a troca de pilares laterais da torre por colunas centrais, que reduzem em um terço o espaço de armazenamento da instituição. 

Além disso, abandona a ideia original de se fazerem alicerces para mais duas torres que seriam construídas futuramente. Para Rubens Borba de Morais, essa decisão inviabiliza definitivamente uma futura ampliação do espaço de acervo.

A necessidade de ampliação da área de acervo da Biblioteca, prevista por Rubens Borba de Morais, logo se torna visível e já em 1965, parte da coleção de periódicos tem de ser transferida para o prédio da Biblioteca de Santo Amaro por falta de espaço na torre da Mário de Andrade..

Os estudos para a construção de uma segunda torre correm até o ano de 1970, quando a ideia é deixada de lado com a decisão da prefeitura de construir em área localizada entre a Rua Vergueiro e a Avenida 23 de Maio, um novo grande edifício para a Biblioteca Pública de São Paulo.

Esse projeto, que chega a ser chamado de Biblioteca Metropolitana de São Paulo e até de Biblioteca Mário de Andrade Vergueiro, sofre, nos anos seguintes, uma série de alterações e acaba por dar origem ao Centro Cultural São Paulo, inaugurado em 1982.

As instalações da Biblioteca Mario de Andrade sobrem nova reforma na gestão da Luiza Erundina, nos anos 1990. Mas, focada na solução dos problemas físicos do edifício, sua adequação espacial às novas atividades e novos usos, além da recuperação da beleza e funcionalidade originais do prédio, a reforma acaba por não resultar em novos espaços para a ampliação do acervo.

As necessidades de reparos no edifício e o esgotamento da área de acervo voltaram a se manifestar fortemente nos anos 2000. Durante a gestão da prefeita Marta Suplicy, encomendou-se um projeto de intervenção arquitetônica ao arquiteto Fábio Penteado. O projeto, bastante ousado, sugeria a construção de quatro subsolos junto à Rua da Consolação, os quais serviriam à expansão do depósito de livros.

Em 2006, no bojo de um grande programa de revitalização do centro, que recebeu financiamento do BID, a Biblioteca Mário de Andrade é contemplada com um plano integrado de modernização e restauro desenvolvido pelo escritório Piratininga Arquitetos Associados. A Secretaria Municipal de Cultura obtém da Secretaria de Estado da Cultura permissão de uso do prédio do antigo IPESP – Instituto de Previdência do Estado de São Paulo – como anexo da Biblioteca Mário de Andrade, finalmente solucionando assim a questão da falta de espaço para ampliação do acervo.

A reforma do Anexo teve início em dezembro de 2009 e foi finalizada no segundo semestre de 2012. O prédio, de 16 andares, está localizado à Rua Bráulio Gomes n.139 e é destinado à Hemeroteca. Ali está armazenada a coleção retrospectiva de jornais e revistas de assuntos gerais, bem como o acervo de microfilmes, a coleção ONU e o Arquivo Histórico. Em 2015 recebeu também a Sala de Atualidades para leitura de periódicos atuais. Três andares destinam-se a atendimento ao público.

Mário de Andrade
Por sua incalculável contribuição à cultura brasileira Mário de Andrade passou a nomear a Biblioteca Municipal de São Paulo.

O músico, poeta, escritor, folclorista e pesquisador Mário de Andrade tinha em seu ideal de cultura a preservação da memória brasileira, a fim de cultivar valores nacionais e afirmar nossa tradição. Isso, aliado à crença na aplicação dos ideais modernistas no cotidiano paulistano levou o escritor a participar efetivamente do florescimento da cultura na cidade de São Paulo. 

Nos anos 30 criou e dirigiu o Departamento de Cultura da Municipalidade Paulistana, que mais tarde se tornaria a Secretaria Municipal da Cultura. Nasceu deste departamento a ideia de uma biblioteca que servisse como depositária de toda a história cultural da cidade e do Brasil.

A transferência do prédio da Biblioteca Municipal do singelo prédio à rua Sete de Abril para o marco arquitetônico na praça Dom José Gaspar, representou a concretização do plano de Mário de disponibilizar as conquistas do Modernismo e fazer da arte e da cultura um bem comum. A Biblioteca recebeu seu nome em 1960.

O acervo

A Biblioteca Mário de Andrade possui um dos maiores acervos do país, formado por mais de 3 milhões, sim, milhões, de livros, periódicos, mapas e multimeios. 

Mantém uma das mais relevantes coleções públicas de periódicos da América Latina, um dos mais representativos acervos de arte de São Paulo e uma riquíssima coleção de obras raras, considerada a segunda maior coleção pública do Brasil.

Coleção Circulante
A Biblioteca Circulante atraía milhares de usuários, antes do advento da internet e dos e-books. Ainda hoje atende cerca de 700 pessoas diariamente.

A Seção Circulante da Biblioteca Mário de Andrade, criada em 1944, conta atualmente com mais de 53 mil livros – todos representados no catálogo on-line – que podem ser consultados no local ou retirados por empréstimo. 

Coleção de Obras Raras e Especiais

Dentre as principais aquisições de obras raras e especiais destaca-se a compra, em 1936, da biblioteca de Félix Pacheco, escritor, senador e Ministro das Relações Exteriores, que reuniu a maior coleção privada de obras raras e de Brasiliana do país, em seu tempo.

A coleção de Obras Raras e Especiais conta, atualmente, com cerca de 52 mil volumes de livros, 8.774 volumes de periódicos, publicações oficiais e almanaques e cerca de 3.500 outros documentos, incluindo manuscritos, álbuns de fotografias originais, gravuras, desenhos, cartões-postais e moedas. 

Destacam-se, dentre outras preciosidades, 500 mapas raros, nove exemplares de incunábulos, várias obras únicas sobre o Brasil das quais se conhecem poucos exemplares no mundo, e as edições originais dos principais viajantes estrangeiros, como Thévet, Léry, Barleus, Debret, Rugendas, Spix e Martius. 

Mais de 200 livros raros – 116 sobre o Brasil e 95 sobre São Paulo – e 1.000 gravuras desenhadas por estrangeiros que visitaram e descreveram o Brasil entre os séculos XVI e XIX, além de 4.500 fotografias produzidas por diversos fotógrafos, que retratam a São Paulo antiga entre 1862 e 1922, estão digitalizadas e disponíveis para consulta na Internet.

Coleção de Arte

Inaugurada em 1945 cona com mais de 29 mil volumes de livros, 10 mil volumes de periódicos e cerca de três mil outros documentos (calendários, convites e catálogos de exposições, cartazes e reproduções de arte).

Mapoteca

Formada por uma coleção com cerca de sete mil cartas geográficas e mapas políticos, históricos, físicos e geológicos e ainda por cerca de 4.300 volumes de atlas históricos e geográficos. Merece destaque a coleção de 34 mapas e planos manuscritos do final do século XVIII, de várias partes do Brasil. 

Também estão disponíveis as plantas da cidade de São Paulo do período de 1810 a 1870.

Coleção São Paulo

Localizada no 1º andar do edifício principal da biblioteca, a Coleção São Paulo reúne um acervo de materiais audiovisuais e bibliográficos sobre a cidade de São Paulo, com ênfase em arte, arquitetura e história, disponíveis para consulta no local.

Coleção Geral

Conta com aproximadamente 205 mil volumes e está sendo gradualmente incorporada ao catálogo on-line. 

Coleção de Referência

Constituída por cerca de 3.900 volumes de dicionários, enciclopédias, guias, diretórios, dentre outras publicações, a coleção de referência está presente no catálogo on-line e disponível para consulta no espaço da Circulante. 

Coleção de Periódicos

O acervo de periódicos da Biblioteca Mário de Andrade é formado por cerca de 12 mil títulos de jornais, revistas e publicações oficiais, com coleções que abrangem desde o final do século XIX até nossos dias. Muitos desses títulos não se encontram em outras bibliotecas brasileiras e alguns são únicos no mundo.

A visita é imperdível mas…
Hall de entrada da Biblioteca em dia de show no auditório.

Visitar a Biblioteca Mário de Andrade (com acesso fácil pela estação Anhangabaú do Metrô ou pelas inúmeras linhas de ônibus que circundam a biblioteca) é não só um programa para os interessados em pesquisar o acervo, mas uma oportunidade de entrar em contato com uma programação cultural variada desenvolvida nas dependências da biblioteca, sem falar na oportunidade de conhecer um dos mais icônicos edifícios da cidade,

Mas, se está difícil dar um pulo no centro de São Paulo a Mário de Andrade tem várias formas de consulta ao acervo disponíveis na internet:

 

Para conhecer o catálogo disponíve virtualmente acesse: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/

A Biblioteca Mário de Andrade funciona nos seguintes dias e horários:

Segunda a sexta, das 9h às 21h, e finais de semana e feriados, das 9h às 18h.

Coleções da Torre (Geral, Artes, Raros, São Paulo e Mapoteca) e Coleção Fixa Hemeroteca: segunda a sexta, das 9h às 17h. 

Coleção Circulante e Sala Infantil: segunda a sexta, das 9h15 às 19h45, e finais de semana e feriados, das 10h15 às 16h45.

Arquivo: