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No dia nacional do escritor

conheça os “sebos” paulistanos

No dia nacional do escritor, rendemos uma homenagem não apenas aqueles que se dedicam a transmitir ideias e compartilhar conhecimento por meio dos livros, mas também aqueles que, ainda que em tempos de difusão virtual dos livros, resistem no centro de São  Paulo, em comércios que atraíram gerações de paulistanos para os sebos.

Tempo de leitura: aproximadamente 8 minutos

Sebo do Messias, na praça Jolão Mendes, se intitula o mais antigo da capital.

Durante muitas décadas o centro da capital foi não apenas a referência geográfica que muitos usavam para se referir a um local onde a vida econômica, financeira e cultural da cidade de São Paulo acontecia.

Em décadas passadas, quando os bairros ainda não tinham supermercados, grandes lojas, ou os shopping centers, era usual a expressão entre os paulistanos “isso você encontra no centro”, “no centro tem” “hoje vou para o centro”.

Sinônimo de lugar onde tudo acontecia, crescia na cidade também um comércio que se tornou muito ativo de livros usados. Lojas que ocupavam várias salas em edifícios comerciais do centro da cidade onde era possível encontrar os mais variados livros e em muitas delas, os “Long Play”, os famosos discos de vinil.

Um comércio que surge da demanda popular

Vale lembrar que o centro da capital não era apenas o centro comercial, mas, de certa forma, também o centro intelectual, à medida que, ao menos duas grandes instituições de ensino tem suas origens na região central. A Faculdade de Direito da USP, no  Largo São Francisco, e na região da Consolação, a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Sem falar do Colégio Álvares Penteado, na Liberdade, o Colégio São Bento, e inúmeros cursos profissionalizantes que existiam no “centro”.

Com a circulação de estudantes, e de livros usados e um mercado promissor para a sua compra e venda, a partir da década de 50 surgem os “sebos”.

A origem da palavra “sebo” para se referir a livrarias que vendem livros usados no Brasil é incerta e há diversas teorias a respeito:

A teoria mais popular e romantizada sugere que a palavra vem da época em que as pessoas liam à luz de velas. Com o tempo, a cera derretida das velas sujaria os livros, deixando-os “ensebados”. Essa teoria, no entanto, é questionada por alguns, pois a palavra “sebo” se popularizou na década de 1960, quando a luz elétrica já era comum na maioria dos lares, ainda mais nos grandes centros.

Outra hipótese, defendida por escritores e estudiosos como Sérgio Rodrigues e Eurico Brandão Jr., é que “sebo” tenha surgido como uma gíria. A ideia seria que, com o manuseio frequente, os livros usados ficavam com aspecto sujo, “engordurado”, daí a comparação com a gordura animal (sebo).

Uma terceira teoria, menos difundida, associa “sebo” à palavra “alfarrabista”, termo antigo (de origem árabe) para designar vendedores de livros usados. Por deformação popular, “alfarrabista” teria se tornado “sebo”, mas essa explicação também não tem embasamento histórico.

É possível também que a origem da palavra “sebo” seja uma combinação das teorias acima. A cera das velas e o manuseio frequente dos livros podem ter contribuído para a aparência “ensebada” dos livros usados, e essa característica, atrelada à figura do “alfarrabista”, teria popularizado o termo como forma de se referir a essas livrarias.

O mais famoso de São Paulo
Messias Antonio Coelho, com mais de 80 anos, ainda está à frente do sebo que leva seu nome.

Possivelmente o sebo mais famoso de São Paulo, seja o “Sebo do Messias”. Provavelmente qualquer estudante, curioso, amante de livros e literatura nos tempos pré-e-books já circulou pelos corredores estreitos da loja da Praça do Patriarca, a menos de 500 metros da Casa da Boia.

Fundado em 1970 por Messias Antonio Coelho, um mineiro da pequena cidade de Guanhães, o sebo se tornou um verdadeiro oásis para os amantes de livros usados, discos, gibis e outros itens de cultura.

Tudo começou em 1969, quando Messias, então com 28 anos, chegou à capital paulista em busca de novos horizontes. Inicialmente, trabalhou como garçom no Restaurante Dom Fabrízio, mas sua paixão por livros o impulsionava a frequentar os sebos da cidade.

Em 1970 Messias adquiriu uma pequena sala comercial na Praça Doutor João Mendes, na região da Sé, e ali deu vida ao Sebo do Messias. O nome, segundo ele próprio conta, foi escolhido em homenagem à sua fé e à crença no poder transformador dos livros.

Com um acervo inicial de apenas 3 mil livros, o Sebo do Messias logo se destacou pela variedade e pelos preços acessíveis e logo caiu no gosto popular. Messias cuidadosamente selecionava cada obra, priorizando a qualidade e a diversidade de temas.

Com o passar dos anos, o sebo expandiu-se, ocupando diversos andares do prédio original e abrigando um acervo que hoje ultrapassa 1 milhão de livros. Além de livros usados, o local  também oferece CDs, DVDs, discos de vinil, gibis, revistas e outros itens de colecionador.

O Sebo do Messias, ao longo de sua história, sediou diversos eventos literários, lançamentos de livros, palestras e apresentações musicais. 

Com mais de 80 anos, Messias Coelho continua à frente do sebo, que se mantém como um símbolo da resistência cultural e do valor da “loja física” (assim como a nossa Casa da Boia) em tempos de crescente digitalização da produção literária. 

O local recebeu diversos prêmios e homenagens, como o título de “Ponto de Memória da Cidade de São Paulo” e o “Prêmio Jabuti” na categoria “Melhor Livraria Especializada”.

Em 2020, o sebo foi tema do documentário “Sebo: Entre Livros e Memórias”, dirigido por Rodrigo Gurgel, que retrata a história do local e sua importância para a cultura paulistana.

Outros endereços que resistem

Não apenas o centro, atualmente, tem sebos que resistem ao tempo e mantêm os seus espaços físicos. São Paulo tem outros locais em que é possível comprar (e vender) livros usados. Conheça alguns sebos ainda em atividade:

Sebo Pura Poesia

Neste charmoso cantinho no Ipiranga, o público encontra um sebo, café e sorveteria em um só lugar. O projeto começou do sonho de um casal e funcionava apenas aos domingos, como um hobby, porém, a paixão pelos livros levou a ideia para frente e transformou o Pura Poesia em um dos lugares mais disputados da capital paulista.

Rua Costa Aguiar, 1112 – Ipiranga

 

 


Passagem literária

Quem passa despercebido pode não notar, mas entre o cruzamento das avenidas Consolação e Paulista há um sebo subterrâneo que, desde 2015, recebe exposições, apresentações musicais e, claro, bons livros.

Rua da Consolação, sem número (ao lado do 2423) – Consolação

 

 


Sebo Praia dos Livros

Desde 2002, o espaço oferece mais do que apenas livros, CDs, DVDs, LPs e obras de arte. Um espaço de convivência e cultura em uma das melhores regiões da cidade.

 Rua Alceu Wamosy, nº 34 – Metrô Ana Rosa

 

 

 

 


Sebo Nova Floresta

Um dos mais tradicionais sebos do país, está na cidade desde 1999. Sua loja física, na região central, conta com três andares e um acervo de mais de 150.000 títulos.

Onde: Praça Dr. João Mendes, 25 – Centro Histórico de São Paulo

Sebo Liberdade

O Sebo Liberdade existe há mais de 15 anos é uma das melhores opções para encontrar livros bons e baratos, além de livros raros a um preço justo.

Praça Carlos Gomes, 124 – Liberdade.


Sebo José de Alencar

Com mais de 20 anos de história, o sebo reúne mais de 60 mil obras. Entre as opções, estão livros novos por um bom preço e também raros. Além de uma opção de comprar, você também pode vender livros, CDs, DVDs e outros materiais.

Onde: Rua Quintino Bocaiúva, 285 – Sé

 

 

 


Desculpe a Poeira

O sebo vende livros e revistas usados, em ótimo estado. A maior parte do acervo veio da biblioteca do jornalista Ricardo Lombardi, editor do blog Desculpe a Poeira.

Onde: Rua Sebastião Velho, 28A – Pinheiros

 

 

 

 


Sebo Bela Cintra

sebo desCom sua charmosa fachada, o Sebo Bela Cintra atrai o público devido a sua localização privilegiada próxima a avenida paulista, cativando turistas do Brasil e mundo afora. 

Gerido pelo casal Alfeu e Claudia, com uma proposta intimista, os visitantes devem anunciar sua chegada através de um sino, encontrado nas grades do portão que separa o exterior de um acervo de mais 30 mil livros muito bem catalogados, sendo os gêneros mais procurados, os livros didáticos, principalmente os que tratam de matemática, filosofia e psicologia; parte dessa procura se deve a proximidade a uma escola da região.

Rua Bela Cintra, 692 – Consolação

Fontes:

https://saopaulosecreto.com/sebos-de-sao-paulo/

https://casacor.abril.com.br/noticias/sebos-livrarias-sao-paulo-para-conhecer/

https://casadaboia.com.br/no-centro-da-cidade-um-universo-de-excelencia-em-livros/

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