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Nossa homenagem

a todos os professores

Um tema complexo, uma homenagem simples, mas sincera. Um pouco de história e o reconhecimento de uma aluna a seus professores são os ingredientes do texto que, humildemente e em insuficientes linhas, tem a pretensão, certamente longe de ser alcançada, de prestar uma homenagem àqueles e aquelas que fazem ou fizeram da profissão de Professor (assim, com letra maiúscula mesmo) não apenas uma escolha de carreira, mas um objetivo de vida.

Tempo de leitura: aproximadamente 12 minutos

Alunas do Seminário da Glória, segunda escola pública de São Paulo, fundada em 1825. A foto de Militão Augusto de Azevedo é do ano de 1865.

O “ensinar” e o “aprender” são talvez o que diferencia a espécie humana das demais. Não que não haja aprendizado nas outras, mas nossa espécie consegue fazer do aprendizado, como nenhuma outra, o motor de seu desenvolvimento intelectual e econômico.

Não queremos traçar um estudo sobre o aprender, mas para lembrar brevemente a história do ensino em nosso país precisamos retroceder ao Brasil imperial.

Com a transferência da corte portuguesa para o Brasil, em 1808, a colônia passa a ser sede do reino português e a presença de D. João traz grandes mudanças na educação. 

Além de criar o Museu Real, a Imprensa Régia, a Biblioteca Pública, o Jardim Botânico e os cursos superiores, o regente incentiva a formação de professores, a instrução primária e se interessa pelo método mútuo de ensino. 

A razão do dia do professor

A primeira Lei Geral da educação pública no Brasil Independente, que institui o ensino mútuo obrigatório, foi aprovada no dia 15 de outubro de 1827, e é por este motivo que o Dia do Professor é comemorado nesta data.

No Estado de São Paulo, a primeira lei de ensino público, data de 1846. Ela traçou as bases da educação primária e criou a escola normal masculina. O governo da Província de São Paulo cria e faz funcionar duas casas para órfãos: o Seminário de Sant’Anna (1824), para meninos, e o da Glória (1825), para meninas.

O período republicano traz avanços ao sistema de educação
Parágrafos iniciais da Lei de 15 de outubro de 1827.

A Constituição Republicana de 1890 separou a Igreja do Estado, trazendo o caráter laico à educação. A Carta Magna eliminou o voto baseado na renda e instituiu o voto do cidadão alfabetizado do sexo masculino.

Além das reformas de ensino primário e normal (1890, 1892, 1893), este momento representou a organização de uma rede de escolas normais e complementares.

Neste período foi construído o edifício da Escola Normal de São Paulo (destinada a ser o centro irradiador das inovações didáticas); ocorreram a instalação da primeira escola oficial de educação infantil – o Jardim de Infância anexo à Escola Normal, a criação das escolas superiores – a Politécnica (1895), a Escola de Agricultura em Piracicaba (1901) e a primeira Faculdade de Medicina e Farmácia (1911), momento que coincide com o aparecimento das escolas profissionais oficiais. É fundado, também, o Museu Paulista e reformado o Instituto Agronômico de Campinas.

O desenvolvimento do Liceu de Artes e Ofícios (1883), dirigido à qualificação de trabalhadores para a indústria da construção e mobiliário, confunde-se com o processo de urbanização da cidade de São Paulo.

O sistema escolar paulista, no início do Século XX
A Escola Normal da Capital, hoje Caetano de Campos, sede da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, na Praça da República.

O crescimento demográfico, a presença dos imigrantes, o surto econômico provocado pelo café e a expansão urbano-industrial são acompanhados pelo alargamento de medidas na área educacional.

As realizações convergem para o desenvolvimento e nacionalização da educação popular, com vistas à extinção do analfabetismo e ao “abrasileiramento do brasileiro”. Direcionam-se esforços na expansão quantitativa de escolas preliminares, noturnas, isoladas (rurais e urbanas) e profissionais. 

São introduzidos, neste período, a ginástica e os esportes nos currículos escolares. A educação física, intelectual e moral passa a ser um valor da política pública: introduz-se o escotismo e generalizam-se os coros orfeônicos nos grupos escolares e escolas normais. A tecnologia da difusão da música, ao lado do rádio e do cinema, ocupa importante lugar nesse esforço pedagógico mobilizador.

O Estado Novo e a educação
O principal redator do manifesto de 1932, Fernando de Azevedo, em visita a colégio no Rio de Janeiro, em 1926.

Em 1931 a Associação Brasileira de Educação – ABE, patrocinou o encontro de educadores, intitulado IV Conferência Nacional de Educação, que contou com a presença do então Presidente Getúlio Vargas e Francisco Campos, Ministro da Educação e Saúde Pública. O então Presidente solicitou aos educadores uma proposta de sistematização da educação.

Os intelectuais, identificados como “Pioneiros”, resolveu colocar em um documento escrito, intitulado “Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova – A reconstrução educacional no Brasil: ao povo e ao governo”, suas impressões acerca desse novo momento e das concepções que tinham a respeito da educação no país.

O documento assinado por 26 educadores e que ficou conhecido como “Manifesto dos Pioneiros de 1932”, tinha como objetivo uma reformulação na política educacional em defesa da escola pública obrigatória e gratuita, que valorizasse a experiência da criança, além de defender o ensino rural, meio de fixar o homem no campo. 

Os educadores preocupam-se com o aprimoramento da formação docente: em 1933, a escola normal da capital é elevada a curso superior; surge o Instituto de Educação Caetano de Campos. A Universidade de São Paulo, criada em 1934, reúne o Instituto de Educação, incorporado à recém-criada Faculdade de Filosofia, e as Faculdades de Direito, Medicina e a Politécnica.

Nos anos 40, o crescimento da economia a partir da substituição das importações e a instalação da indústria de base reforçam a necessidade da qualificação profissional do trabalhador. Em 1942, são aprovadas as Leis Orgânicas do Ensino Técnico e organiza-se o SENAI, resultado do convênio do governo federal com as indústrias. 

A equivalência dos ramos do ensino médio (técnico e secundário) é definida pela primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 4024, 1961), permitindo o acesso ao ensino superior. É criada, na capital federal, a Universidade de Brasília.

Do governo militar à redemocratização

Os governos militares expandem as vagas no ensino público, promovem a massificação do ensino de 1º grau, sem no entanto associar o processo à garantia de qualidade. Em São Paulo, embora o crescimento do ensino superior ocorra via setor privado, cria-se a UNICAMP e organiza-se a UNESP.

No processo de redemocratização, a nova Constituição de 1988 universalizou o direito ao voto, incluindo o do analfabeto. A atual LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 1996, introduziu mudanças significativas na educação básica, integrando a educação infantil ao sistema educacional público.

Da teoria à prática um abismo transposto pelo professor
Exceção das exceções, a Escola Estadual Deputado Pedro Costa é a única escola brasileira dentre os três finalistas do prêmio World’s Best School, na categoria Colaboração da Comunidade, da T4 Education. O resultado será conhecido no dia 24 de outubro.

Se na teoria da LDB o ensino universal e gratuito, uma responsabilidade compartilhada pelos entes federativos (União, estados e municípios), é a melhor forma de universalizar a educação de qualidade,  a prática é repleta de exemplos que é no regional, na esfera mais particular desse elo, na escola, que as diferenças acontecem.

Sem ter a pretensão de entrar no mérito dos inúmeros fatores envolvidos, fica claro, evidente, que no ensino público há um grupo de heróis anônimos que se empenham e fazer a diferença, o corpo docente, composto pelos técnicos, auxiliares, pedagogos, profissionais de ensino personificados na figura do professor. 

Aquele que, ao final da cadeia, é o responsável direto pela educação de seus alunos. Verdadeiros heróis mal remunerados, sem praticamente apoio, que se esforçam para transformar a realidade das comunidades em que estão inseridos e que, muitas vezes, representam a diferença entre o desistir e o seguir adiante na jornada de conhecimento e vida de seus alunos.

Com a palavra, aluna e professora

Se nos é impossível contar milhares de histórias de professores que fazem a diferença, nos atrevemos apenas a personificar na história pessoal de uma professora e sua aluna, nas palavras delas próprias. Um pequeno exemplo de como essa relação transforma vidas:

“Cynthia sempre foi uma grande amiga de nossa família. Mas minha relação com esta pessoa incrível mudou quando comecei a ter aulas de computação com ela.

Certa vez, quando as nossas famílias viajavam juntas, minha mãe comentou sobre minha dificuldade em matemática e Cynthia carinhosamente falou:

– ‘Eu posso dar aula para Lú depois da escola!’”, relata Luiza Rizkallah, editora do Blog da Casa da Boia, em sua experiência particular de ensino e transformação:

“Assim foi! Depois disso, minha vida mudou por completo. Passei a compreender a matemática por inteiro e até as aulas na escola passaram a ser uma das minhas preferidas, porque eu compreendia o conteúdo.

Mas, devo dizer que um professor que sabe o conteúdo a fundo não é o suficiente. O que o torna um bom professor é sua didática e isso a Cynthia tem de sobra. Com ela, eu aprendi quantas possibilidades existem na matemática e que resolver problemas, afinal, não é tão ruim assim!

Cynthia tem uma sensibilidade e perspicácia que a torna uma professora única e uma pessoa maravilhosa. 

Eu carrego seus ensinamentos para todas as áreas da minha vida, mesmo depois de nove anos sem nossas aulas semanais.

Cynthia, aqui vai meu eterno agradecimento pelo seu trabalho e pela pessoa que é. Você me ensinou matemática divinamente, mas meu aprendizado ultrapassou a sala de aula! Sou eternamente grata por ter sido sua aluna”, finaliza, emocionada, a aluna Luiza.

A professora Cynthia Zaidan.

A pessoa especial que trouxe uma mudança de perspectiva para o aprendizado de Luiza Rizkallah é a professora Cynthia Zaidan, que conta um pouco desta trajetória sua visão do ensino atual:

“Quando criança fiquei maravilhada com a experiência de aprender a ler, mas ao mesmo tempo, chocada ao descobrir que mais de uma funcionária que passou por nossa casa não sabia. Decidi alfabetizar as funcionárias da minha mãe, o que me fez perceber que ensinar é uma atividade muito prazerosa”, rememora Cynthia.

“Sempre tive enorme admiração pelos meus professores, que foram pessoas que me abriram muitas janelas. 

Particularmente meus professores de português e de história trouxeram conhecimentos fascinantes para minha vida, já que a leitura também sempre foi muito importante para mim. Estes exemplos e estas experiências me fizeram também querer também proporcionar isso para outras pessoas”.

Cynthia fala sobre a escolha da carreira, e lembra que até mesmo a vocação pode ter um “empurrão” do destino:

“No colégio eu sabia que queria dar aula, só não sabia ainda de qual matéria. Português sempre me atraiu, pela complexidade da língua, mas confesso que minha opção pela matemática foi porque me apaixonei pelo professor do primeiro colegial, que era uma das pessoas mais inteligentes que já conheci”, recorda-se, com bom humor.

“A matemática é fascinante, pois está em todo lugar, e nos permite literalmente alcançar as estrelas. Comecei a dar aula na época em que a computação se popularizou no Brasil. Este recurso cheio de possibilidades me atraiu e foi algo natural me interessar por essa área”.

O “ser professor” é algo que transcende a carreira para muitos profissionais e o ensinar faz parte ainda do cotidiano de Cynthia, mesmo afastada do dia a dia das escolas:

“Hoje não dou mais aula em colégio, mas sei que é uma profissão desvalorizada, o que é muito triste, pois são os professores que proporcionam às crianças a oportunidade de evoluir e de atingir seus objetivos de vida, e deveriam ter mais reconhecimento.

Mesmo não dando mais aula em escolas, uma grande parte da minha atividade atual é dar treinamentos, e ter feito licenciatura me ajuda muito nessa atividade, pelas técnicas que aprendi, até porque muita coisa mudou e a formação é fundamental para que, como professores, nos adaptemos a essas mudanças.

Hoje o aluno tem toda informação na ponta dos dedos, pela internet. O professor não precisa mais ser o principal provedor de conhecimento, mas é um importante mediador, ajudando os alunos a selecionar dentre todos os fatos, quais são relevantes, e até o que é verdadeiro no que é pesquisado. O aluno é muito mais questionador, o que obriga o professor a estar sempre se atualizando”, finaliza Cynthia.

Na Casa da Boia mais um exemplo da dedicação de um professor
A experiência adquirida nos anos em que foi professor na FAAP acompanham Mario Rizkallah nas palestras que ministra em eventos corporativos.

Quem conhece a Casa da Boia sabe da importância de nosso diretor Mario Rizkallah, sempre absorto em planilhas, controles, gestão de fluxo financeiro, preocupado com estoques, com o RH e a operação da empresa. Um típico empresário no controle do seu negócio.

Poucos, entretanto, sabem que, por trás do empresário multifacetado (é também músico e integrante de uma banda de jazz) existe uma alma de professor, igualmente revelada pelas impressões de sua “aluna de vida” Luiza Rizkallah:

“Assim como Cynthia, meu pai, Mario Rizkallah, é também um grande professor. Além de me ensinar tudo o que precisei para me tornar adulta, ele também me ensinou matemática durante um tempo. Sua forma lógica e racional de lidar com problemas me ajudou a amadurecer e enxergar a realidade pelo que ela é, e assim, fazer minhas escolhas baseadas na verdade e na correção. 

Ao professor Mario, meu pai, minha eterna gratidão pelo seus ensinamentos em todas as matérias da vida e por também me ensinar a importância da perseverança”.

Mario relembra, em suas próprias palavras essa fase de intensa troca de experiências que a profissão proporciona:

“Me formei em Administração, na Fundação Getúlio Vargas, em dezembro de 1973 e logo comecei a dar aula por um convite de um amigo que conheci ainda na faculdade, ligado à USP e à FAAP. 

Iniciei minha trajetória como Professor de Contabilidade na FAAP em janeiro de 1976, com certo receio pois é uma profissão que exige grande responsabilidade”, relembra.

“O que mais me motivou foi a vontade que tinha de passar conhecimento e o desenvolvimento lógico da matéria que eu ensinava.

Ser professor é muito gratificante, pois acompanhar um aluno aprender algo completamente novo para ele e compreender a matéria através do seu ensino, é maravilhoso. Se eu tivesse 20 anos escolheria novamente ser professor, mas não exclusivamente, como efetivamente aconteceu na minha carreira.

Durante 11 anos consegui conciliar dar aula e trabalhar na Casa da Boia, atividades que se complementavam. Mas, depois de terminar o mestrado, meus objetivos mudaram e passei a trabalhar exclusivamente na Casa da Boia, o que não me fez esquecer aquele período tão rico em minha vida”, finaliza Mario.

Com estes dois depoimentos, pequenos exemplos de dedicação ao ensino, estendemos a todos os professores nossos mais sinceros agradecimentos por transformarem, para melhor, a vida de seus alunos.

Fontes:

http://www.crmariocovas.sp.gov.br/

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm

https://www.educacao.sp.gov.br/escolas-centenarias-do-estado-de-sao-paulo-memoria-do-ensino-no-inicio-do-seculo-xx/

http://www.crmariocovas.sp.gov.br/neh.php?t=001dihttps://www.educacao.sp.gov.br/e-e-sao-paulo-e-uma-das-mais-antigas-estado/

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