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 O Dia Mundial dos Animais

e o pioneirismo de SP na proteção aos bichos

No dia 4 de outubro comemora-se o Dia Mundial dos Animais. Embora já fosse comemorado desde 1925, na Alemanha, por iniciativa do cinologista Heinrich Zimmermann, a data ganhou maior proporção a partir de 1978, quando a UNESCO publicou a Declaração Universal dos Direitos dos Animais. Este documento estabelece que os animais são seres sencientes e que os seres humanos têm o dever de protegê-los e respeitá-los.

A data é referência ao sepultamento de São Francisco de Assis, em 4 de outubro de 1.226. O santo católico que, rico de nascença, abriu mão de seus bens para se dedicar aos pobres era também conhecido por ser um protetor dos aniamais.

A convivência humana com os animais remonta à pré-história, quando, então, o homem nômade tinha no animal, tanto um predador, quanto uma presa. O processo de domesticação teve início desde a pré-história, quando a proximidade entre homens e animais era relatada nas pinturas de cavernas. 

A arte de domesticar animais se iniciou na cultura humana quando os homens começaram a viver em determinadas regiões e passaram a usar a criação de animais para auxiliar na produção de alimentos, para transporte de pessoas ou cargas e até mesmo para cuidados com os terrenos.  Este processo fez com que os animais não só se aproximassem dos homens como também se tornassem mais dependentes deles.

Em nossa sociedade moderna os animais continuam sendo fundamentais para a sobrevivência da raça humana. Bois, vacas, galinhas, frangos, porcos e outros são fontes de alimento para nós. Várias espécies são usadas como cobaias em testes dos mais variados produtos, de medicamentos e cosméticos. Animais podem ser vetores de transmissão de doenças, como ratos e pombos ou podem ser os nossos melhores amigos, como cães e gatos.

Muitas civilizações antigas viam os animais como seres divinos ou mitológicos, sendo frequentemente associados a divindades ou forças naturais, e eram vistos como símbolos de poder, sabedoria ou fertilidade.

O gato, para os egípcios, era associado à deusa Bastet. A cobra era associada ao deus Apep, e o falcão era associado ao deus Horus.

Para os gregos o leão era associado ao deus Zeus, o cavalo era associado à deusa Atena, e o elefante era à deusa Ísis.

Já para os chineses, a representação do dragão (que convenhamos é um animal que não existe) é considerado um símbolo de poder e sorte. O tigre é um símbolo de força e ferocidade, e o cão é um símbolo de fidelidade e proteção.

Astecas, Incas, Indianos, os povos originários da América do Norte, todos projetavam em algum animal a representação do desconhecido, do bom ou do mau agouro.

São Paulo criou a ONG pioneira na proteção dos animais

 

Primeira publicação da UIPA – Ata da Assembleia de fundação, em 1895.

 

No ano de 1893, um morador da capital paulista, o suiço Henri Ruegger, dispôs-se a denunciar os maus-tratos a que era submetido um cavalo, em plena área central de São Paulo, mas tomou ciência de que inexistia, no país, entidade destinada à proteção dos animais. Assim, iniciou uma mobilização junto à nata da sociedade paulistana para fundar uma entidade que defendesse os direitos dos animais.

Sua revolta chegou aos ouvidos da imprensa paulista e ao jornalista do Diário Popular, Furtado Filho, que acabou publicar um importante artigo sobre os maus tratos impostos aos animais e conclamou a sociedade paulistana a se unir na defesa dos direitos dos animais.

Pessoas visitam o abrigo da entidade, nos anos 50.
 

Dois anos mais tarde, liderados por Ignacio Wallace da Gama Cochrane, um grupo de damas e cavalheiros da sociedade paulistana uniram-se para a criação daquela que hoje é a mais antiga associação civil do Brasil: A União Internacional Protetora dos Animais,

Assim, em 30 de maio de 1895, constituiu-se a primeira Diretoria da UIPA, cujo presidente era Ignácio Wallace da Gama Cochrane, descendente de nobres ingleses, Superintendente das Obras Públicas de São Paulo, Senador da República, fundador do Instituto Pasteur e da Companhia Telefônica de São Paulo.

Antes da Lei 390, de 1899, caes e gatos de rua eram sumariamente envenenados pelos agentes da prefeitura.

O início de funcionamento da instituição começou a causar muito impacto na defesa dos animais em São Paulo. Ainda no século 19 a UIPA conseguiu uma importante vitória de defesa animal junto à prefeitura que foi a criação de depósitos para animais apreendidos (não se falava abrigo ainda) e também a decisão de passar a enviar os “cães vagabundos”, como eram chamados os cães de rua, para os novos depósitos que seriam geridos pela entidade, ao invés dos animais serem mortos envenenados.

Para se ter uma ideia da crueldade oficial vigente na época, cães de rua sequer eram levados para algum tipo de centro de zoonoses. Eles eram mortos por veneno no próprio local onde eram encontrados pelos agentes públicos. Isso só mudou com a ação da UIPA.

Pouco mais de dez anos após sua criação, nas proximidade de 1910, a UIPA já havia se estabelecido como o braço sólido de apoio ao poder público e a população na defesa animal. As touradas da Praça da República, que fizeram muito sucesso entre 1900 e 1908, foram deixando de existir muito pela pressão desta associação, que tinha em seus quadros nomes de peso, como seu próprio fundador Ignacio Wallace da Gama Cochrane (bisavô de Eduardo Matarazzo Suplicy), Antônio Prado, Affonso Vidal, Alcântara Machado e René Thiollier.

No período em que Thiollier foi presidente da UIPA a associação cresceu e ampliou suas ações junto à proteção animal. Foi neste período em que a entidade lançou a publicação “Zoophilo Paulista” inspirada na revista portuguesa “Zoophilo”. A revista foi a primeira dedicada a falar de animais mas teve curta duração, sendo raríssimos os exemplares sobreviventes.

Entidade ocupava áreas que viriam a ser o Ibirapuera
Área do canil da UIPA é hoje parte do Parque Ibirapuera.

Nesta mesma época foram dados os passos para a construção da nova sede da entidade, no número 400 da rua França Pinto, Vila Mariana, onde além de receber denúncias contra os maus tratos a animais passaria a ter o primeiro hospital veterinário de São Paulo e também um cemitério de animais.

Este número ficava onde hoje é o Parque do Ibirapuera, entre os portões 4 e 5. Ou seja, parte do parque era da UIPA. 

Eles foram um dos pioneiros da região, estabelecendo ali inicialmente os abrigos de animais, para cães e gatos, além de estábulos e também abrigos para outros animais. Logo se tornaram uma referência na região, especialmente com o hospital veterinário cujo primoroso atendimento levava pessoas de todos os cantos da cidade com seus animais de estimação. Mesmo com a inauguração do Parque do Ibiraquera em 1955 a UIPA foi mantida no local, a proposta da entidade em uma área relativamente pequena do parque ia de encontro ao projeto de uma área de natureza. 

Tão logo a UIPA estabeleceu-se na Vila Mariana, a entidade tratou de arrecadar fundos para tornar realidade a criação do primeiro hospital veterinário de São Paulo, décadas antes do poder público pensar em algo do gênero (o primeiro hospital veterinário público só chegou há alguns anos atrás). Para tanto eram feitos bailes de gala e campanhas arrecadatórias, com seus resultados divulgados nos jornais paulistanos, com o intuito de estimular outras pessoas a doarem ou se associarem à instituição.

Outro hábito da UIPA era divulgar mensalmente nos jornais de São Paulo as atividades da entidade em relação a seu campo de atuação, com os animais recolhidos, multas aplicadas, etc..

Pessoas aguardam atendimento no então único hospital veterinário publico da capital.

Já o hospital veterinário tornou-se uma realidade no ano de 1929. No local antes até funcionavam atendimentos mas era muito mais simples. A enfermaria geral do então Hospital Zoophilo de São Paulo foi inaugurado no dia 15 de novembro daquele ano. 

A unidade foi chamada de Pavilhão Dr. Marcello Thiollier e vinha completar as demais instalações da UIPA que correspondiam a administração, área de isolamento, asilo e o cemitério. O total da área toda da UIPA com o novo hospital atingia 13.200 metros quadrados.

Mas a atuação da UIPA na Vila Mariana começaria a mudar na década de 70 na gestão do então prefeito Figueiredo Ferraz que fez tudo que estava a seu alcance para remover a UIPA de sua área original. A ideia do então prefeito era levar a associação para o mais longe possível, sendo oferecido e recusado um terreno em São Miguel Paulista.

O prefeito acabou acertando a mudança para um local mais próximo, no bairro do Pari em plena Marginal Tietê (ao lado do Estádio do Canindé) onde a entidade está até os dias atuais.

No terreno da UIPA na Vila mariana foi construído o primeiro cemitério para animais da capital. Ele seria desocupado em 1972 e sua área incorporada ao Parque do Ibirapuera.

Dos anos 1970 para cá o cenário da proteção animal mudou bastante. Novas instituições surgiram pelo país para aumentar ainda mais a defesa dos bichos, novas leis foram escritas e novas punições foram criadas. Mesmo com todas estas novidades, a mais antiga instituição brasileira ligada à defesa animal sobreviveu e está até hoje atuando com muita força e garra.

Apesar de seus quase 130 anos de atuação, a UIPA, como muitas outras instituições nacionais, enfrenta muitas dificuldades para manter-se ativa e protegendo os animais, pois são financiadas quase que exclusivamente por doações e se mantêm ativas graças a muitos voluntários.

Então fica a dica. Neste post contamos a história da UIPA por seu pioneirismo em São Paulo, mas muitas entidades são igualmente atuantes e importantes na proteção dos nossos amigos. Se puder, procure conhecer e ajudar alguma delas!

Fonte:

http://www.uipa.org.br/

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