capa-blog

O legado da família Ohtake

na cidade de São Paulo

Tomie, Ricardo (no colo) e Ruy Ohtake.

São vários os nomes que lembramos quando falamos em famílias e seu legado para a cidade. A família Jafet e o desenvolvimento industrial do Ipiranga, a família Matarazzo, várias famílias de origem árabe que construíram a base do comércio de nossa capital, como a família Assad Abdalla, por exemplo e a família Rizkallah, claro, que literalmente ajudaram a construir nossa capital.

Há outra família de relevante legado para a cidade e para a qual nem sempre a gente olha com a devida atenção. Recentemente, no último dia 21, se estivesse viva, sua matriarca teria completado 110 anos: a japonesa Tomie Ohtake.

Monumento em homenagemaos 70 anos da imigração japonesa, na avenida 23 de maio.

Nascida Tomie Nakakubo, chegou ao Brasil no ano de 1936. Casou-se com Ushio Ohtake, de quem incorporou o sobrenome e com quem teve dois filhos, Ruy e Ricardo Ohtake.

Em 1952 iniciou na pintura com o artista Keisuke Sugano. Passeou pela pintura figurativa e abstracionista e a partir dos anos 1970, passou a trabalhar com serigrafia, litogravura e gravura em metal.

Tapeçaria no Memorial da Améria Latina.

Mas, os paulistanos, talvez até mesmo sem saber, tem outras referências da artista que se naturalizou brasileira, em 1968. É na capital paulista que se encontra um acervo de obras de sua autoria em espaços públicos pela capital. Grande parte produzida a partir de seu interesse pela escultura em grandes dimensões.

Quem nunca passou pela descida (ou subida) da Avenida 23 de maio entre o Centro e o Paraíso e não se encantou com as formas fluidas de três “ondas” que “surfam” no canteiro central e que compõem o Monumento aos 80 anos da Imigração Japonesa.

Ou então não se impressionou com a força da tapeçaria gigantesca do auditório Simón Bolívar, no Memorial da América Latina.

Obra “As quatro Estações” na estação Consolação do Metrô.

Passando pela Avenida Paulista, seja pela superfície, ou embaixo dela, outras obras icônicas da artista.

Na plataforma de embarque da estação Consolação, a obra “As quatro Estações” traz quatro painéis em cerâmica representando, como diz o título, o verão, a primavera, outono e inverno.

Na própria avenida, está a última obra pública da artista, uma escultura orgânica, em aço, com 8,5 m de altura.

No Vale do Anhangabaú, mais especificamente na Ladeira da Memória, os paulistanos podem ver outra obra da artista, já integrada à paisagem urbana, uma pintura gigante em empena do edifício, com seus tons em amarelo.

Painel no Auditório Ibirapuera.

Um painel gigantesco em gesso, vermelho, uma das cores com as quais a artista mais se expressava, recepciona os visitantes do Auditório Ibirapuera.

No Campus da USP, o paulistano pode apreciar mais uma série de obras da artista.

Em frente à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas; a escultura “Ultramarinho”, em frente ao Espaço das Artes; o mural de pastilhas na recepção do Instituto de Estudos Brasileiros, dentre outras obras espalhadas pelo Campus.

Mas, se falamos aqui da grandiosa obra da matriarca da família Ohtake, que faleceu em 2015, estendemos nosso post à presença marcante da obra de seu filho, Ruy Ohtake, também falecido, em 2021. Esta expressa na arquitetura.

Hotel Unique.

Possivelmente seu projeto mais famoso seja o “barco” do hotel Unique, nos jardins em São Paulo. Mas Ruy tem outras inúmeras obras na capital de estilo próprio, como o também hotel Renaissance, na região da Paulista, ou o edifício Maison Mouette, em Santo Amaro.

Dentre outras tantas inúmeras intervenções urbanas na capital Ruy também dedicou seu talento a obras públicas, como a estrutura do terminal de ônibus Sacomã ou o complexo de edifícios que urbanizou parte da favela de Heliópolis, na mesma região.

E, claro, o edifício do Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, que é presidido, por outro membro da família, de igual relevância para a capital paulista: Ricardo Ohtake, menos conhecido por sua produção artística e mais por seu talento na gestão cultural.

Terminal de ônibus Sacomã.

Gestor cultural, arquiteto e urbanista, artista gráfico, curador, Ricardo Ohtake já ocupou uma série de cargos relevantes à gestão cultural. Dirigiu o Centro Cultural São Paulo (CCSP), foi diretor do Museu da Imagem e do Som e da Cinemateca Brasileira e foi Secretário da Cultura do Estado de São Paulo. 

Dirige o Instituto Tomie Ohtake desde sua fundação.

Assim como no final do Séc. XIX e início do Séc. XX, famílias de imigrantes contribuíram para a construção de nossa cidade, a família Ohtake foi igualmente importante para a construção de uma identidade urbana refletida nas obras de arte, nos edifícios e nas políticas culturais de nossa cidade.

Arquivo: