Os fatos que deram nome
a ruas paulistanas
Assim como em várias outras cidades do país, São Paulo tem ruas, praças, avenidas, viadutos e outros espaços cujos nomes são, na verdade, datas: 23 de maio, 9 de julho, 12 de outubro, 15 de novembro, 7 de abril, são apenas alguns exemplos desses lugares pelos quais passamos sem nos dar conta dos fatos históricos a eles relacionados.
Os paulistanos estão tão acostumados a passar por certos lugares de São Paulo que fazem referência a datas históricas que quase 100% das vezes não param para pensar a respeito dos fatos e acontecimentos que estão por trás daquele nome.
Então, já que estamos publicando esse post em 23 de maio, vamos começar nossa viagem histórica por uma das mais famosas vias da capital.
Originalmente conhecida como Avenida Itororó e, depois, Avenida Anhangabaú, a 23 de maio é o principal corredor de ligação dos bairros da região sul à região central da cidade. Faz parte do chamado corredor Norte-Sul.
Seu nome deve-se aos acontecimentos que precederam a Revolução Constitucionalista de 1932. Naquele ano as elites econômicas e culturais de São Paulo estavam profundamente descontentes com os rumos da política nacional, conduzida por Getúlio Vargas.
No dia 23 de maio de 1932, durante uma manifestação contra o governo, um grupo de pessoas tentou invadir a sede do Partido Popular Paulista (PPP), uma organização político-militar, sustentáculo estadual do regime de Getúlio Vargas, cuja sede era na Rua Barão de Itapetininga esquina com a Praça da República.
Os governistas do PPP, se antecipando à provável invasão, resistiram por meio de armas e granadas, tão logo os manifestantes se postaram na frente do edifício. Após o tiroteio, houve vários feridos e mortos, entre os quais, os nomes das pessoas que deram origem a sigla M.M.D.C: Mário Martins de Almeida, Euclides Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa e Antônio Américo Camargo de Andrade.
Aliás, embora não seja uma data, existe uma rua no bairro do Butantã, que leva o nome do chamados mártires da Revolução de 1932. A rua MMDC.
Mas o movimento revolucionário seria posteriormente gravado permanentemente na memória paulistana por meio do nome de uma das suas famosas avenidas: a Avenida 9 de Julho.
A 9 de Julho nasce no bairro dos Jardins, na capital paulista, e segue em direção à Avenida Paulista. Passa por baixo dela e continua seu trajeto até chegar no centro de São Paulo.
Foi em 9 de julho de 1932 que efetivamente a população paulista pegou em armas e declarou guerra ao governo federal.
O conflito se estendeu por cerca de três meses, principalmente em cidades da região do Vale do Paraíba, que fazem divisa com o estado do Rio de Janeiro, então sede do governo federal.
Depois de intensas batalhas nas trincheiras do estado, os paulistas acabaram derrotados pelas tropas federais.
Rua 7 de Abril. A extensa rua do centro da capital liga a Xavier de Toledo à Praça da República. Ela surge em São Paulo lá pelos idos de 1798 como continuação de uma pequena ponte sobre o Rio Anhangabaú, conhecida como Ponte do Lorena. Em frente à ponte foi aberta uma rua, que ganhou o mesmo nome.
Em 1865, por proposta do vereador Malaquias Rogério de Salles Guerra, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou o nome de Largo Sete de Abril para a atual Praça da República. Por isso, no ano de 1873 o vereador Alves Pereira sugeriu a mudança do nome da rua da Palha para rua Sete de Abril, pelo fato dela seguir em direção para o largo de mesmo nome, o que foi aprovado.
Foi no dia 7 de abril de 1831, que o então regente do Brasil, Dom Pedro I, oficializa a sua abdicação ao trono de rei em favor de seu filho, D. Pedro de Alcântara (Dom Pedro II), com o seguinte bilhete: “Usando do direito que a Constituição me concede, declaro que, hei mui voluntariamente, abdicado na pessoa do meu muito amado e prezado filho, o sr. D. Pedro de Alcantara. Boa Vista, sete de abril de mil oitocentos e trinta e um, décimo da Independência e do Império. Pedro.”
Aqui bem pertinho da Casa da Boia fica uma das mais famosas ruas de São Paulo, a 25 de março.
Ela nasce nos finais do Séc XVIII, acompanhando as voltas que o Rio Tamanduateí dava em seu trajeto original, seguindo seu traçado e a várzea do rio, embaixo do Mosteiro de São Bento. Por essa razão, fora conhecida como rua Várzea do Glicério, rua das Sete Voltas, rua de Baixo e rua Baixa de São Bento.
Em 28 de novembro de 1865 o vereador Malaquias Rogério apresentou ofício sugerindo a mudança de nome de algumas ruas, entre elas, a alteração da Rua de Baixo para Rua 25 de Março.
O nome é uma referência à data da publicação da primeira constituição de nosso pais, outorgada pelo governo imperial em 25 de março de 1824.
Outra rua cujo nome tem relação com a história da formação de nosso país também está aqui pertinho da Casa da Boia: a rua 15 de novembro.
Esta rua teve sua origem como uma ligação entre o Pátio do Colégio e o Largo de São Bento, no início da urbanização da cidade de São Paulo. Durante o século XVII.
Já foi denominada Rua Manuel Paes Linhares, Rua do Rosário (em função da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos) e Rua da Imperatriz, em homenagem à família Imperial que visitava a cidade à época. Permaneceu assim até a Proclamação da República, quando ganhou o nome atual, em referência à data em que nosso país trocou o regime monarquista pelo republicano.
Se as ruas abordadas até aqui tem relação íntima com a história de São Paulo, ou do Brasil, uma outra famosa via da região da Lapa é uma referência à descoberta do continente americano.
A rua 12 de Outubro é um importante polo de comércio, principalmente de moda, na região oeste da capital, e seu nome se refere à 12 de outubro de 1492, quando o navegador genovês Cristóvão Colombo chega à região das Bahamas, oficializando a descoberta de um novo continente.
Mas voltando à nossa história e para não alongar muito o nosso giro pelas ruas de datas significativas, vamos relacionar ainda duas outras ruas da região central que lembram acontecimentos do mês de maio e outra relacionada.
A rua 24 de maio, paralela, aliás, à 7 de abril, tem traçado bem parecido. Liga a Conselheiro Crispiniano, ao lado do Theatro Municipal à Praça da República.
Seu nome é uma referência à Batalha do Tuiuti, o maior e mais sangrento embate campal de toda a Guerra do Paraguai e do continente sul-americano, por ter envolvido mais de 55 mil homens.
O combate foi travado no dia 24 de maio de 1866, em uma região pantanosa, arenosa e de difícil locomoção chamada Tuyutí, no sudoeste do Paraguai.
Outro local que faz menção ao conflito armado envolvendo Brasil e Paraguai é a Avenida 11 de junho, que fica no bairro da Vila Mariana.
No dia 11 de Junho de 1865, nas águas do Rio Paraná, próximo à confluência do riacho Riachuelo, travou-se um combate naval que recebeu o nome do pequeno afluente.
A Esquadra Brasileira, sob o Comando do Chefe-de-Divisão Francisco Manuel Barroso da Silva (Almirante Barroso), combateu contra os navios da esquadra paraguaia, às ordens do CMTE Mezza.
Esta foi a pior batalha naval do continente e custou a vida de muitos brasileiros e paraguaios. Ao final, a esquadra do Almirante Barroso saiu vitoriosa e assumiu o controle fluvial da região.
Finalmente uma das ruas boêmias da capital, onde se encontram desde teatros a muitos restaurantes italianos, na região conhecida como Bexiga, não por acaso, faz referência à data em que o Senado Brasileiro sanciona e a Princesa Isabel de Orleans e Bragança assina a lei da abolição da escravatura no Brasil: 13 de maio de 1888.
Embora hoje a rua 13 de maio seja mais conhecida pelas inúmeras cantinas italianas, reflexo da ocupação destes imigrantes na região a partir do Século XIX, é preciso lembrar que os íngremes morros que a cercam eram uma ocupação quilombola, portanto de raízes africanas.
Denominar uma de suas ruas com a data da abolição da escravatura foi uma forma de marcar esta origem.
Assim como temos as ruas que referenciam datas históricas, temos aquelas que homenageiam personagens importantes também, tema que abordaremos em postagem futura. Mas, se você tiver curiosidade, no post em que contamos a história da rua 25 de março, a gente prestou uma homenagem aos árabes que acabaram por denominar ruas aqui pertinho da Casa da Boia.