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Os metais não ferrosos

nos instrumentos musicais

Uma flauta de osso é um dos registros mais antigos de um instrumento musical feito pelo homem.

A música acompanha a humanidade praticamente desde que o homem tomou consciência de sua existência.

Há registros de pinturas rupestres feitas há 50.000 anos que já retratam o uso de rudimentares instrumentos, provavelmente feitos de ossos.

A descoberta da manipulação dos metais ocorreu aproximadamente 6.000 anos antes de Cristo. E não é difícil imaginar que isso trouxe uma nova possibilidade para a exploração dos sons. Qualquer pessoa que tenha já batido em um pedaço de metal, seja uma panela trivial, seja um copo de alumínio, uma colher, ou mesmo um serrote já percebeu que dali sai som!

A produção musical de um povo, uma tribo, uma nação, tem muitas particularidades, ligadas à sua região geográfica, à sua ancestralidade, à sua cultura e a sua aptidão em trabalhar os materiais mais facilmente encontrados em suas regiões.

Detalhe do naipe de metais de uma orquestra.

A partir do domínio das técnicas de trabalhar o metal, a diversidade de possibilidades de criar instrumentos capazes de produzirem sons mais elaborados enriqueceu as possibilidades criativas.

Hoje, na música contemporânea, principalmente a ocidental, praticamente é impossível não encontrar o cobre, o latão e o bronze e suas ligas, na produção musical.

Falamos em produção musical porquê não nos limitamos à construção dos instrumentos, mas de toda uma cadeia de equipamentos, como amplificadores, sintetizadores, captadores, microfones, mesas de som, cabos, plugs, caixas acústicas, fones de ouvido, computadores, e inúmeros outros, que utilizam os metais não ferrosos em seus componentes.

Mas, falando especificamente dos instrumentos, o metal é a parte fundamental de uma série deles. O que seria da viola caipira sem as cordas de aço? Do cavaquinho? Da guitarra e baixo elétrico? Todos instrumentos cujos encordoamentos, utilizam ligas de cobre e níquel.

Detalhe das partes complexas de um saxofone, feito em latão.

Os próprios violões, mesmo os que tem encordoamentos de nylon, tem cordas revestidas com liga metálicas.

Mas é nos instrumentos de sopro que os metais não ferrosos são os protagonistas do show.

Não à toa, uma das seções, ou “naipes” de uma orquestra é justamente chamada de “naipe de metais”.

Uma orquestra sinfônica,por exemplo, é dividida em quatro famílias: cordas, madeiras, metais e percussão.

Em todos os naipes encontramos o uso dos metais não ferrosos, mas é no de metais, obviamente, que eles protagonizam os instrumentos. Trompas, trompetes, trombones e tuba são essencialmente construídos em metal.

Feitos em ligas de latão e bronze, são instrumentos de construção complexa, verdadeiras obras de arte e engenharia. 

Jazz: metais em todos os sons

Se na música clássica os metais compõe um dos naipes de uma orquestra, no Jazz, expressão musical surgida já no século XX ele também é fundamental em instrumentos como o saxofone, o trompete, nas cordas da guitarra e do baixo e, principalmente, na bateria.

Pratos de bateria são fabricados por uma liga metálica que consiste em cobre e estanho. A nomenclatura utilizada nos pratos, por exemplo B20, representa a porcentagem de estanho e, consequentemente, de cobre presente na liga. No caso da B20 seriam 20% estanho e 80% cobre.

O diretor da Casa da Boia, Mario Rizkallah, é também músico. Foi baterista da Belabanda, uma banda de jazz paulistana amadora formada por empresários e profissionais liberais. Ele comenta que:

“No meu caso a escolha por um determinado modelo tem haver com o timbre que ele produz. Algo pessoal. Essas características estão infimamente relacionadas às ligas de metal com que são produzidos e as características de fabricação, como diâmetro e espessura”.

Vale uma curiosidade aqui. Uma das mais tradicionais fabricantes mundiais de pratos para bateria é Zildjian, uma empresa, atualmente radicada nos Estados Unidos, tem origem no oriente. A família Zildjian é de origem armênia, e tem tradição na fabricação de pratos desde o século XVII. É uma das empresas em atividade mais antigas do mundo.

“Lembro-me que, certa vez, eu fiquei um dia inteiro na loja imensa que a Zildjian tem na Turquia, escolhendo um prato pelo som que produzia”, diverte-se Mario Rizkallah.

No Brasil, empresa centenária tem excelência na produção de instrumentos musicais
Instalações da Weril, na rua Florêncio de Abreu, no inicio do Séc. XX.

Não tão antiga quanto a Zildjan, mas já uma empresa centenária, o Brasil conta com a excelência dos produtos Weril.

Saxofones, clarins, clarinetas, flautas, trompetes, tubas, trombones… Uma variedade de instrumentos de sopro feitos com as ligas de cobre, como o latão, são produzidos pela empresa genuinamente nacional mas de origens austríacas.

Franz Weingrill, um “Meister – Blasinstrumentenbau” (Mestre na Fabricação de Instrumentos de Sopro) ensinou o ofício a seu filho Pedro Weingrill, que mais tarde juntou-se aos milhares de imigrantes europeus que vieram para o Brasil no final do século 19.

Pedro Weingrill transformou seu sonho em um negócio familiar centenário ao abrir um atelier, no ano de 1909, em uma famosa rua do centro de São Paulo. Ganha um “dó maior” quem adivinhar qual era esta rua.

Sim, a Weril iniciu suas atividades na Florêncio de Abreu, bem próxima da Casa da Boia.

Os pratos de uma bateria, feitos em ligas de cobre e estanho.

Metais não ferrosos, Casa da Boia e música. Este encontro tinha tudo para ser celebrado e vem sendo, aliás, desde que, há 25 anos, acontecia o primeiro “jazz no porão”, uma jam session (encontro de músicos) no porão da Casa da Boia, durante as comemorações dos 100 anos da empresa.

Jazz no porão. Tradicional encontro de músicos para comemorar os 125 aos da Casa da Boia.

 

O evento se repetiu nas festas de 110, 120 e 125 anos da empresa e, neste ano de 2023, a programação musical no porão ganhou outra atividade: a Boia Musical.

O projeto de autoria do músico Rafael Abissamra, vai levar para o porão da Casa da Boia três encontros abertos ao público em um formato interativo que combina apresentação musical e bate papo.

No dia 29 de junho acontece o primeiro encontro: Trajeto Histórico do Samba na Cidade de São Paulo

Será uma palestra sobre o trajeto histórico do Samba na cidade de São Paulo vindo dos grandes cafeeiros até as periferias do centro, e a importância destes processos na formação dos bairros e espaços de memórias negras no grande centro da Capital paulista.

Em sequência, um workshop interativo sobre samba rural será ministrado, difundindo assim a tradição e história do samba preservada em municípios do interior de São Paulo.

Para ministrar a palestra e o workshop, o músico e pesquisador João Mário Machado foi escolhido por seu vasto conhecimento no assunto.

Nascido e criado em Santana de Parnaíba, João Mário Teixeira Braga Machado é articulador e defensor dos grupos tradicionais da cultura popular de Samba de Bumbo do Estado de São Paulo, além de participante como zabumbeiro e versador, é de representar os grupos, fazendo a produção cultural e a defesa perante o poder público, exigindo proteção a estas manifestações do nosso patrimônio cultural paulista.

Tem toda a vida profissional dedicada a proteção e manutenção destas manifestações populares nos mais diversos tipos de ações desde as apresentações culturais, promoção de oficinas, realização de palestras, e busca de recursos financeiros para projetos que preservem estas manifestações.

O trabalho que desenvolve com os grupos de Samba de Bumbo em Santana de Parnaíba e Pirapora do Bom Jesus abrange também os municípios de Piracicaba, Campinas, Vinhedo, Quadra, Mauá e Itú que também abrigam os outros 6 grupos tradicionais existentes do Samba Rural no Estado de São Paulo. Atualmente coordena a “Casa do Samba Parnaibano” um espaço de preservação e manutenção da memória do Samba de Bumbo em Santana de Parnaíba, desenvolveu também trabalho no Centro de Memória e Integração Cultural da Secretaria Municipal de Cultura de Santana de Parnaíba e é ritmista do Vai-Vai, uma das mais tradicionais escolas de samba de São Paulo.

Sendo assim seu foco de estudo e pesquisa consiste no trajeto histórico do Samba na cidade de São Paulo vindo dos grandes centros cafeeiros até as periferias do centro, e a importância destes processos na formação dos bairros e espaços de memórias negras no grande centro da Capital paulista.

Dia 17 de agosto acontece o encontro:  Música Instrumental Brasileira

Haverá duas apresentações de música instrumental dos conjuntos LAB (Rafael Abissamra, Renato Leite e Victor Barreto) e Trio Aroeira (Gustavo Portes, Rafael Abissamra e Victor Barreto). Ambos os grupos apresentam obras autorais e promovem, dentro de uma estética moderna-jazzística, releituras de canções brasileiras.

Por meio de uma sonoridade cool e fluida que une a improvisação e instrumentação jazzística com a música brasileira, ambos os grupos estabelecem um diálogo entre tradição, invenção e desconstrução.

Em suas releituras, obras de artistas como: Chico Buarque, João Bosco, Gilberto Gil, Djavan, entre outros importantes nomes da música popular brasileira serão apresentadas buscando a inovação dentro de um âmbito musical conhecido pelo espectador.

Finalmente, em 7 de dezembro, o encontro:

Materiais – Cobre, Latão, Alumínio e Bronze nos instrumentos musicais

Convidados especiais abordarão aspectos técnicos da construção de intrumentos musicais a partir dos metais não ferrosos.

Neste terceiro encontro, temos portanto a relação dos materiais comercializados pela Casa da Boia e sua utilização para a construção de instrumentos, equipamentos e acessórios musicais.

Os três workshops são gratuitos, e acontecem sempre das 14h30 às 17h00. As vagas são limitadas a 30 pessoas por evento e as inscrições podem ser feitas no site da Casa da Boia Cultural.

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