Os nomes por trás de ruas
do centro histórico de São Paulo
Em nosso último post trouxemos a história de datas que dão nomes a ruas, praças e outras localidades de São Paulo e prometemos trazer uma continuação do assunto, mas relacionado aos locais cujos nomes homenageiam personagens famosos de nossa história.
Poderíamos tratar do assunto um ano inteiro e não teríamos terminado a relação, então, resolvemos fazer um “corte” passando pelas ruas próximas da Casa da Boia e explorar os personagens que dão nome a locais de nosso centro histórico.
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Começamos a viagem pelo viaduto Dona Paulina.
Paulina de Souza Queiroz, conhecida como Dona Paulina, nasceu em São Paulo em 19 de Julho de 1859. Filha de Vicente de Souza Queiroz, Barão de Limeira e Vereador da Câmara Municipal de São Paulo e de Francisca de Paula Sousa, “A Baronesa de Limeira”, donos de grande extensão de terras conhecida como “Chácara do Barão de Limeira” que juntamente com outras áreas pertencentes a tradicionais famílias paulistanas, deram origem aos atuais bairros do centro da cidade e adjacências.
Dona Paulina residia em uma mansão localizada em um terreno onde hoje é parte do Viaduto Dona Paulina.
Anita Garibaldi
Na regidão da Sé, encontramos a rua Anita Garibaldi. Ela já teve as seguintes denominações: “Rua Detrás da Cadeia” (Século XVIII) e “Rua do Trem” (a partir de 1865).
Em 1907, recebeu oficialmente o nome de “Anita Garibaldi” em homenagem à heroína Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva, nascida em Morrinhos (SC) no ano de 1821 e falecida na Itália em 1849.
Anita participou, ao lado de Giuseppe Garibaldi, da Guerra dos Farrapos (RS), da luta contra o ditador argentino Rosas no Uruguai e da campanha pela unificação da Itália.
Conselheiro Furtado
Já caminhando da Sé em direção à Liberdade, passamos pela avenida Conselheiro Furtado.
Francisco Maria de Souza Furtado de Mendonça, conselheiro Furtado, nasceu em Luanda, Angola, África, em 18 de setembro de 1812. Vindo criança para o Brasil adquiriu a nacionalidade brasileira.
Em São Paulo estudou Humanidades, estudo das letras clássicas, e matriculou-se na Academia de Direito do Largo São Francisco em 1831 com apenas 17 anos.
Bacharelou-se em 1838 e em 1839 foi nomeado professor substituto da Faculdade. Em 1856 foi catedrático de Direito Administrativo. Desde 1851, porém exerceu o cargo de delegado de polícia.
Brigadeiro Luiz Antonio
Saindo do centro da cidade em direção à Avenida Paulista, encontramos a avenida e o viaduto Brigadeiro Luis Antonio.
Luiz Antônio de Souza Queiroz nasceu em Amarante, Portugal, no ano de 1746. No Brasil, teve uma carreira militar significativa na Companhia de Cavalaria de Itú, Regime de Milícias¹, ocupando os postos de tenente agregado em 1786 até Coronel em 1798, aos 52 anos.
Luiz Antonio foi um grande negociante de fazendas em São Paulo e dono do primeiro navio que saiu de Santos, carregada de mercadorias, com destino a Lisboa.
Durante 32 anos serviu em diversos corpos de Milícias além de doar generosas quantias de dinheiro a instituições como a Santa Casa, Hospital Militar, Jardim Botânico, entre outros. Por decreto do dia 16 de dezembro de 1818, foi reformado no posto de Brigadeiro, entretanto, faleceu poucos meses depois em 30 de maio de 1819.
Venceslau Brás
Já mais próximo da Casa da Boia, ainda no entorno da Praça da Sé, passamos pela rua Venceslau Braz.
No século XVIII, este logradouro era conhecido como “Rua que vai para Santa Tereza”, uma referência ao Convento de Santa Tereza que localizava-se na atual Rua Roberto Simonsen. Posteriormente, teve também a denominação de “Travessa da Sé”, uma vez que a rua tinha o seu início num dos cantos do antigo “Largo da Sé”, ao lado da Igreja de mesmo nome.
No começo do século XX a travessa foi prolongada até a antiga “Rua do Mercado” (atual “25 de Março”) e recebeu a denominação de “Rua Doutor Wenceslau Braz”, época em que o homenageado ainda estava vivo.
Venceslau Brás Pereira Gomes, nasceu dia 26 de fevereiro de 1868 em São Caetano da Vergem Grande, atual Brasópolis, Minas Gerais. Formou-se bacharel em direito em 1890 na Faculdade de Direito de São Paulo. Assumiu a presidência da República em 15 de novembro de 1914. Faleceu na cidade de Itajubá, estado de Minas Gerais, em 15 de maio de 1966.
Rangel Pestana
Um pouco mais abaixo, em direção à Avenida do Estado, abre-se a larga avenida Rangel Pestana.
Francisco Rangel Pestana, nasceu em Iguaçu, Estado do Rio de Janeiro, em 26 de novembro de 1839. Em 1859, matriculou-se na Faculdade de Direito de São Paulo – Capital, bacharelando-se em 1863.
Fundou vários jornais, entre eles a “Opinião Liberal” e o “Correio Nacional”. Advogado e jornalista, no final de 1874, em diante, com Américo de Campos, trabalhou como redator chefe do grande órgão de imprensa “A Província de S. Paulo”, que posteriormente passou a ser “O Estado de São Paulo”.
Em 1884 foi eleito deputado provincial, e reeleito por mais de uma vez. Proclamada a República, Rangel Pestana toma parte no triunvirato que assumiu a direção da Província; constituído por ele, Prudente de Morais e Coronel Souza Mursa.
Em 1890, o Governo Provisório o nomeou membro da comissão encarregada de elaborar o projeto e Constituição da República. De 1899 em diante, exerceu os cargos de deputado federal, como representante do Estado do Rio de Janeiro, vice-presidente deste Estado e senador. Faleceu em São Paulo – Capital, em 17 de março de 1903.
João Mendes
Entre a Liberdade e a Sé, encontra-se a grande praça Praça João Mendes.
A Praça começou a ser formada pelos idos de 1756, quando a Irmandade de N. S. da Conceição e São Gonçalo Garcia escolheu o local para a construção de uma capela. Em 1757 já existia um pequeno pátio defronte da mesma capela que recebeu o primitivo nome de Campo ou Largo de São Gonçalo.
No ano de 1791, era inaugurado nesse mesmo Largo o novo edifício da Câmara Municipal de São Paulo que, também, abrigava a cadeia, construída em 1787, (a cadeia localizava-se no mesmo prédio da Câmara).
Por conta disso, a população também chamava o Largo de São Gonçalo de Largo da Cadeia e Largo Municipal. Entre finais do século XIX e início do XX, vários prédios foram demolidos, ampliando sobremaneira o espaço do antigo Largo que, a partir de então, incorporou trechos das antigas Ruas da Cadeia e do (Teatro -1864), (desaparecidas com a reforma urbana). No dia 29 de Novembro de 1898, através da Resolução nº 102, o mesmo logradouro foi oficializado como Praça Dr. João Mendes.
João Mendes de Almeida nasceu na cidade de Caxias, Estado do Maranhão, em 22 de maio de 1831 e faleceu na cidade de São Paulo, SP, em 16 de outubro de 1898.
Iniciou seu curso superior na Faculdade de Direito de Olinda, transferiu-se depois para a cidade de São Paulo, aonde bacharelou-se no ano de 1853. Em seguida, exerceu por um curto período o cargo de Juiz em Jundiaí e, também, na capital até 1858, quando abandonou a magistratura para dedicar-se à política.
Ingressando no Partido Conservador, foi um dos seus chefes e pelo qual, de 1859 a 1878, sucessivas vezes, foi eleito deputado, ora da antiga Província de São Paulo, ora nacional. Apesar de monarquista convicto, trabalhou intensamente para a libertação dos escravos no Brasil.
Foi o principal redator da Lei do Ventre Livre, a qual defendeu através de inúmeros artigos publicados na imprensa. É dele também o projeto da Reforma Judiciária, convertida em Lei no ano de 1871. Além de sua atuação na advocacia, magistratura, jurisprudência e na política, João Mendes escreveu textos históricos e foi um atuante membro da imprensa.
Na cidade de São Paulo, fundou e dirigiu os seguintes jornais: “A Lei”, “A Opinião Conservadora”, “A Ordem”, “A Autoridade”, “A Sentinela” e “A Sentinela Monarquista”. Colaborou também no “Diário de São Paulo” e no “Jornal do Comércio” do Rio de Janeiro.
Benjamin Constant
Do outro lado da praça da Sé, a pequena Rua Benjamin Constant homenageia o militar brasileiro que ficou conhecido por ter lutado na Guerra do Paraguai, o maior conflito da história brasileira. Ele também foi uma das figuras mais importantes na defesa do republicanismo no Brasil e um dos articuladores do golpe que levou à Proclamação da República em 1889.
Também ficou conhecido por ser um grande educador, dedicando-se à Matemática e à Física e trabalhando durante anos no Instituto dos Meninos Cegos, depois renomeado como Instituto Benjamin Constant.
O militar levou sequelas de uma malária que contraiu na guerra durante sua vida e morreu em decorrência de problemas hepáticos.
Quintino Bocaiuva
Outra das estreitas ruas próximas à Catedral da Sé é a Quintino Bocaiuva.
Quintino de Souza Bocaiuva nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 04 de dezembro de 1836. Desde muito jovem começou a sua vida como tipógrafo, dedicando-se ao jornalismo. Como republicano as suas ideias em favor desse regime sempre se fizeram ouvir na tribuna popular e na imprensa.
Proclamada a República foi chamado pelo governo provisório para ocupar a Pasta do Exterior. Como ministro plenipotenciário em missão especial na Argentina, desempenhou importante papel diplomático, sendo depois eleito senador e presidente do Estado do Rio.
Faleceu em 11 de julho de 1912.
José Bonifácio
Localizada no chamado centro histórico da cidade, a rua José Bonifácio homenageia não o patriarca da independência, como é de se supor, mas sim seu sobrinho.
José Bonifácio de Andrada e Silva, sobrinho do Patriarca José Bonifácio de Andrada e Silva, nasceu em Bordéus, durante o exílio de seu pai, em 8 de novembro de 1827.
Foi doutor em Direito e professor jubilado pela Faculdade de São Paulo, Senador do Império e Conselheiro do Imperador. Fez o curso da Academia Militar, como alferes-aluno, por motivo de doença foi desligado da academia militar e seguiu para São Paulo. Faleceu em São Paulo, em 26 de outubro de 1886. Até 1822 esta rua chamava-se Rua do Ouvidor.
Roberto Simonsen
Do outro lado da praça, uma rua estreita que abriga o Solar da Marquesa de Santos, encontramos a histórica rua rua Roberto Simonsen.
Ela é uma das mais antigas ruas de São Paulo. Inicialmente chamou-se Rua de Santa Teresa, uma vez que ali encontrava-se edificado, desde 1685, o “Recolhimento de Santa Tereza” que abrigava moças.
No dia 28 de novembro de 1865, através da sugestão do vereador Malaquias Rogério de Salles Guerra, o logradouro recebeu o nome de Rua do Carmo, uma referência à Igreja do Carmo, localizada nos antigos limites da rua.
Em 1948, os vereadores sugeriram alguns logradouros da cidade para hhomenagear o empresário Roberto Simonsen. A rua escolhida foi justamente a do Carmo que, algum tempo depois, passou a chamar-se Rua Roberto Simonsen.
Roberto Cockrane Simonsen nasceu em Santos, em 18 de fevereiro de 1889.
Diplomado em engenharia civil pela Escola Politécnica aos 20 anos de idade, trabalhou na Southern Brazilian Railway e, mais tarde, na Prefeitura Municipal de Santos.
Nessa época escreveu: “O município de Santos”, organizado para a Exposição de Turim, a mesma na qual a Casa da Boia ganhou o diploma “Medalha de Ouro”, em 1911.
Em 1912 fundou a Companhia Santista de Habitação Econômica, para a construção de bairros operários. Daí por diante, desenvolveu sempre intensa atividade, lançando-se a uma série de empreendimentos. Convidado pelo governo brasileiro, seguiu em 1919 para a Inglaterra, como representante de São Paulo na missão comercial que visitou aquele País.
Em 1928,juntamente com outros industriais, fundou o “Centro das Indústrias”, posteriormente denominada FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Foi eleito senador da República em 1946. Era membro da Academia Brasileira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
João Brícola
Outra rua pequena bem perto da Casa da Boia homenageia o benemérito João Brícola.
João Bricola nasceu em 26 de outubro de 1853 em São Paulo. Estudou na Inglaterra, onde se diplomou contador. Ao voltar ao Brasil entrou para o serviço da Santa Casa, exercendo alí suas atividades durante 29 anos.
Tendo acumulado grande fortuna, ao falecer, deixou grande parte de seus bens à Santa Casa de Misericórdia da Capital Paulista.
General Carneiro
Seguindo pela rua Boa Vista, chegamos a outra rua icônica de São Paulo, a ladeira General Carneiro.
O General Carneiro nasceu em Serro, Minas Gerais, no ano de 1846. Estudou no seminário de Diamantina em 1856 e no Mosteiro dos Beneditinos, no Rio de Janeiro. Participou do início da Guerra do Paraguai, atuando em São Borja.
Conquistou os postos de Sargento e de Alferes. Matriculou-se na Escola Militar em 1872, passando então a tenente em 1875, a capitão em 1877, a major em 1887, a tenente-coronel em 1890, a coronel em 1892 e, finalmente, a general. Percorreu o sul do Brasil como engenheiro e foi o idealizador do Colégio Militar em 1889. Faleceu em 1894, em um combate travado na cidade da Lapa, Paraná, onde atuava como comandante-geral das tropas legalistas que lutavam contra as forças da revolução federalista.
Fernando Costa
Finalmente, no Parque Dom Pedro, praticamente iniciando a rua 25 de Março, a Praça Fernando Costa homenageia um dos mais ativos empreendedores do agro paulista.
Fernando Costa nasceu na capital Paulista em 10 de junho de 1886. Fez seus estudos primários no Liceu do Sagrado Coração de Jesus, ingressou depois na Escola Agrícola Luís de Queiroz, onde se diplomou. Fixou residência em Pirassununga, dedicou-se à profissão de agrônomo e também à indústria.
Em 1912 foi eleito prefeito do município, cargo que exerceu com grande eficiência; deu início a construção de várias estradas de rodagem, ampliou o ensino rural e fundou o Asilo de Assistência a Velhice e Mendicidade.
Em 1927 foi convidado para ocupar a Secretaria da Agricultura. Fundou, nessa oportunidade, o Instituto Biológico e iniciou a campanha em prol da citricultura, instalou o Museu Agrícola e o Parque da Água Branca, cujo nome oficial é “Parque Fernando Costa”.
Em 5 de maio de 1941 foi nomeado interventor federal em São Paulo, cargo que ocupou até 30 de outubro de 1945. Durante o primeiro ano de interventoria, promoveu a criação do Presídio das Mulheres, junto à Penitenciária do Estado, instituiu a Comissão de Fiscalização dos Preços dos Gêneros Alimentícios de Primeira Necessidade, restabeleceu a Secretaria de Segurança Pública, extinguiu o Instituto do Café e delimitou, na Fazenda Butantã, uma área para a construção da Cidade Universitária.
Em janeiro de 1942, deu início à construção da Escola Profissional Rural, em Ribeirão Preto. Mais tarde, construiu estabelecimentos do mesmo gênero em Bauru, Guaratinguetá, Rio Preto e Piraçununga, aplicando nessas obras o dinheiro resultante da liquidação do Instituto do Café.
Entre as realizações efetuadas em São Paulo no ano de 1943 incluem-se a inauguração da rodovia Anhanguera, ligando a capital a Campinas, e a criação da Bolsa de Café e Mercadorias de Santos.
Fernando Costa dedicava-se à campanha eleitoral como candidato ao Executivo paulista quando veio a falecer, em desastre de automóvel em 21 de janeiro de 1946.