Pequenas histórias
de grandes comerciários da Casa da Boia
No próximo dia 30 de outubro é comemorado no Brasil o Dia do Comerciário. A data remete à uma reflexão sobre aqueles que nos ajudam nas relações de consumo e o quão importantes são estas pessoas para o sucesso de um comércio.
Seja por sua facilidade de comunicação, seja por suas habilidades em gestão, pelo talento em bem atender, pela desenvoltura nas operações de logística, seja por tantos outros talentos, todos os que trabalham no comércio são um elo fundamental entre a empresa que representam e os clientes que esta atende.
Não há como ser de outra forma na Casa da Boia. É assim desde que Rizkallah Jorge Tahan dava os primeiros passos com seu empreendimento, acompanhado pelos seus primeiros funcionários, nos idos de 1898, quando fundou a sua empresa.
Pouco sabemos destes primeiros funcionários. A bem da verdade, pouco mais do que os dados pessoais protocolares das pessoas que trabalharam na Casa da Boia no início do Séc. XX. Mas, se destes pouco conhecemos, outros colaboradores de nossa empresa puderam rememorar sua trajetória na Casa da Boia em relatos colhidos por ocasião das comemorações dos 120 anos de atividades, em 2018.
Esses relatos trazem um recorte da relação destas pessoas com a nossa empresa. Histórias que nos mostram que, por trás de um comércio, existem as pessoas que o fazem:
O dia em que o patrão foi expulso da empresa
José Bispo tinha 19 anos quando, saindo de um emprego, veio ao centro fazer a rescisão trabalhista. Na mesma tarde, passando em uma agência de empregos, conseguiu uma entrevista para ajudante de estoque em uma empresa em Santo Amaro. Era a época em que a Casa da Boia tinha uma filial naquele bairro.
Chegou e ficou. Trabalhou na filial até que foi transferido para a matriz, no centro, para ser vendedor de balcão. Hoje, atuando nas vendas de atacado, lembra o “susto” que passou quando expulsou um visitante intrometido da filial:
Eu já tinha uns dois anos na Casa da Boia, mas nunca tinha conhecido a matriz até então. Certo dia estava eu na expedição, horário de almoço e, de repente chega um senhor entra no local, sem passar pela identificação, e estaciona o carro nas vagas dos caminhões da empresa.
Eu, lá, olhei aquilo e logo abordei o cara: ‘O sr. não pode ir entrando simplesmente, sem se apresentar, estacionar o carro aqui assim. Se meu chefe vir que eu deixei o sr. entrar vou ser despedido. Então, por favor, o sr. se dirija à recepção’.
Bem, a pessoa olhou pra mim, meio assustada, mas educadamente, pediu desculpas e, para minha surpresa, foi embora. Quando percebeu o ocorrido o Sr. Antonio, que era meu chefe, ele veio me questionar.
Eu disse que sabendo das regras da empresa ninguém poderia parar lá dentro. Foi quando o Sr. Antonio me responde: ‘mas bispo aquele era o Flávio Rizkallah, ele é um dos donos da empresa. O que você foi fazer?’
“Achei que ia ser mandado embora”, lembra Bispo, hoje, aos risos.
“Mas depois de um tempo eu voltei a encontrar com ele que acabou me agradecendo pelo cuidado com o que eu estava cuidando do departamento”.
Achei qe vinha trabalhar em um restaurante
“Eu mandei currículos para algumas agências de emprego e uma delas me falou de uma vaga em uma empresa chamada Casa da Boia. Bom, sério. Eu achei que era um restaurante.
Cheguei aqui na rua, olhei o número, estranhei porque era uma loja, mas entrei. Enfim, conversei com o encarregado e acabei sendo contratado.
Eu não tinha noção do que era a Casa da Boia. Só depois que comecei a trabalhar conheci a história centenária da empresa, foi na época em que ela comemorava os seus 110 anos e foi então que eu percebi a dimensão do que era a Casa da Boia.
A gente quando chega não tem essa percepção. Depois é que você percebe a tradição e o peso do nome de uma empresa centenária e o quanto isso representa. Isso vai fazendo você se apegar à empresa e, aí, veja quantos anos já se passaram”.
O comentário é de Francisco Vieira, que chegou à empresa em 2009, como auxiliar de faturamento e hoje ocupa o cargo de Gerente de Expedição e Estoque.
Carro da empresa garantiu a permanência no emprego
“Eu cheguei à Casa da Boia em 1996, já como motorista. Foi ótimo para mim, pois fui trabalhar na filial de Santo Amaro, que era perto da minha casa. Estava feliz da vida. Mas, logo depois a Casa da Boia desativou a filial e vim aqui para a sede da Florêncio de Abreu. Mas aí era longe da minha casa. Então eu quis sair. Não queria ficar.” nos conta o nosso mais antigo motorista, José Lima, o “Sr. Lima”.
“Mas então, o que aconteceu? Como fazia muitas entregas ali naquela região da zona sul, Itapecerica, Taboão, etc. a empresa me deixou ficar com o carro em casa. No dia seguinte vinha para o centro com ele. Aí para quem ia ficar só um ano, fui ficando, ficando e lá se vão 25 anos”.
Veio, foi e voltou
Se o “Sr. Lima” como é carinhosamente conhecido entre nós queria ficar só um ano e já vai para os seus 25, Ana Lúcia Nóbrega talvez tenha achado que sua passagem pela empresa duraria apenas sete anos.
“Foi surpreendente para mim a minha chegada, pois fui contratada no final de dezembro de 1999, não achei que uma empresa fosse contratar alguém nessa época de festas. Já comecei o ano novo empregada”, relata.
“Vim para auxiliar o responsável pela contabilidade, o Sr. Juvandir. Comecei como auxiliar de escrita fiscal. Aprendi muito com ele até que ele se afastou da empresa, a contabilidade foi terceirizada e eu passei ao faturamento.
Algum tempo depois, eu fazia faculdade de direito e precisava estagiar em um escritório. Saí da Casa da Boia com cerca de 7 anos de trabalho, achando que ali terminava esta história. Mas, acabou que em 2017 eu retornei, mais experiente né? Agora assumindo a gerência administrativa e financeira dando continuidade a ela”.
O auxiliar de pedreiro se torna encarregado da expedição
O jovem Marcos Braga chegou em São Paulo em 1994 e como muitos imigrantes foi trabalhar como auxiliar de pedreiro, com o cunhado. Este, por sua vez, foi chamado para fazer um conserto nos telhados da Casa da Boia durante as férias coletivas de 1995, trazendo Marcos como auxiliar.
O trabalho bem feito foi rendendo outros “bicos” na empresa, o cunhado, conhecido por todos como “Sr, Pelé”, prestou serviços à Casa da Boia até falecer, e o então o auxiliar de pedreiro Marcos, já em 1996, foi convidado a integrar a equipe da expedição.
“Comecei na Casa da Boia em 1 de fevereiro de 1996, como auxiliar de expedição. Nunca tinha visto esses materiais que a empresa trabalhava. Barras, chapas, tubos, conexões era tudo novidade… e olha que chegavam caixas e mais caixas de material todo dia. Para quem chega nessa expedição tudo é uma grande novidade”.
Nesses 26 anos de Casa da Boia, Marcos não só aprendeu tudo sobre medidas, espessuras, condutividade, e aplicações dos materiais que se tornou o responsável operacional pela logística do estoque e continua firme na área em que aprendeu a gostar.
Do primeiro emprego à aposentadoria
Das histórias aqui contadas, pequenos recortes de tantas outras possíveis, recordações de quem sempre vestiu a camisa da Casa da Boia, acreditando em seus valores, principalmente o de sempre procurar o bom atender, uma das mais significativas é de Miguel Baldino:
“Foi logo depois do Carnaval de 1979 que eu decidi procurar meu primeiro emprego. Uma época em que a gente procurava emprego pelos classificados de jornal. Pois bem eu vim aqui para o centro, comprei um jornal e vi um anúncio de uma vaga aqui na Florêncio de Abreu 123.
Vim, fiz um teste e fui contratado como auxiliar de faturamento. Era o meio primeiro emprego, e eu me lembro que fiquei impressionado com a quantidade de notas que a gente emitia, das filas de pessoas aguardando para retirar, da movimentação dos produtos. Enfim, para um jovem eu fiquei muito impressionado”.
De auxiliar de faturamento, Miguel passou depois de algum tempo para as vendas.
“Aprendi muito com um antigo e muito querido gerente aqui, o Sr. Leria, e fui crescendo, os anos passando e eu ficando. Tomei gosto e estou aqui, no meu primeiro e único emprego até hoje”.
O segredo da longevidade e a fidelidade a um emprego e empresa reside, na visão de nosso Gerente de Atacado em dois fatores determinantes:
“Primeiro você se sentir bem, gostar do que faz, como eu gosto, como eu me sinto. Segundo, ter o apoio da empresa para desenvolver o seu trabalho.”
46 anos depois de pisar pela primeira vez no sobrado 123 da rua Florêncio de Abreu, já até com tempo de se aposentar, a ideia passa longe ainda de nosso mais antigo funcionário, que continua firme no comando da equipe de vendas.
Ao compartilharmos essas pequenas histórias de nossos colaboradores mais antigos queremos prestar uma homenagem aos cerca de 30 comerciários que hoje compõem a equipe da Casa da Boia. 30 pessoas, 30 seres humanos que com suas imperfeições e qualidades, seus defeitos e virtudes, sua determinação e força ajudam a construir o nosso comércio desde 1898.