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São Jorge, a sede do Corinthians

e sua relação com a comunidade árabe paulistana

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No dia 23 foi comemorado o dia de São Jorge, uma figura muito popular na religião católica. O santo é o padroeiro da Inglaterra, além de ser festejado na Espanha, em Portugal, no Canadá, Lituânia, na Rússia, na Bulgária, entre outros países. No Brasil, a devoção ao santo move um autointitulado “Bando de Loucos” pelo Esporte Clube Corinthians, cuja primeira sede foi adquirida do Esporte Clube Sírio.

Jorge teria nascido por volta do ano 280 d.C. na Capadócia, atual Turquia, e se mudou mais tarde para a região da Palestina. Ao longo da vida, ele se alistou no exército do Império Romano.

O legionário, que era cristão, teria sido morto em 23 de abril de 303 d.C. porque teria se negado a matar e perseguir cristãos, uma ordem direta do imperador Romano Diocleciano. 

Embora a figura histórica de São Jorge não tenha a existência comprovada, sua santidade surge tempos depois.

“Com o fim da perseguição aos cristãos e depois com a cristianização do Império Romano em 380 d.C., a memória dos cristãos que deram sua vida antes os transformou em mártires.”m, comenta Fernando Torres Londoño, professor do departamento de História da PUC-SP em entrevista para o UOL.

“Com as primeiras cruzadas, a fama de São Jorge se expandiu ao regresso dos soldados à Europa. Capelas em nome do santo que teria protegido os cristãos dos muçulmanos se levantaram por toda Europa e um dos símbolos do santo, a cruz com as quatro pontas iguais em vermelho, se espalhou por brasões e bandeiras”, acrescenta Londoño, na mesma entrevista publicada no UOL.

A lenda de São Jorge contra o dragão

Lenda, mesmo, o santo guerreiro virou a partir de 1290. Nesta época, um escriba dominicano conhecido como Jacopo de Varazze compilou histórias dos primeiros santos em um livro conhecido como “Lenda Dourada”. São Jorge estava nas páginas – mas a história do soldado turco ganhou ares muito diferentes.

No capítulo dedicado a São Jorge há a história de uma cidade que sofre com um dragão que queimava casas e contaminava a água. Para acalmar o monstro, jovens virgens eram entregues para sacrifício.

“Quando foi a vez da filha do rei, São Jorge teria aparecido montado em seu cavalo. Após vencer o dragão, o santo teria cortado a cabeça do animal. Toda a cidade se converteu ao cristianismo depois do episódio”, conta Londoño.

Um santo popular

A devoção por São Jorge se espalhou por diversos países da Europa, não apenas os ibéricos, como Portugal e Espanha. É o santo padroeiro em diversas partes do mundo, como Inglaterra, Geórgia, Lituânia, Sérvia, Montenegro e Etiópia, além de ser um padroeiro das seguintes cidades: Londres, Barcelona, Génova, Régio da Calábria, Ferrara, Friburgo, Moscow.

No oriente, por conta de sua suposta origem, São Jorge é também popular entre os árabes, o que nos remete à curiosa história da primeira sede do Corinthians, em SP.

Parque São Jorge e as origens sírias
Assad Abdalla

Em 1910 um grupo de operários formado por Anselmo Corrêa, Antônio Pereira, Carlos Silva, Joaquim Ambrósio e Raphael Perrone fundaram o Sport Club Corinthians Paulista, na esquina das ruas José Paulino e Cônego Martins, no bairro do Bom Retiro.

sete anos depois, um grupo de imigrantes sírios fundou, na Rua Augusta, o  Sport Club Syrio.

A história das duas agremiações se encontraria alguns anos depois.

O Syrio havia adquirido uma sede esportiva no bairro da Ponte Pequena e, ao mesmo tempo, um terreno, uma “fazendinha”, na zona leste da cidade, que era uma sede de campo do clube em 1926 venderia o terreno para o Corinthians, conforme consta no site oficial do clube paulistano:

“Na tarde de 18 de agosto de 1926, o então presidente do Corinthians, Ernesto Cassano, assinava, no 6º Tabelionato de Notas de São Paulo, a escritura de compra de 45 mil metros quadrados no Tatuapé, a primeira gleba do Parque São Jorge. O local se perpetuou como sede social do Corinthians, e passou a ser chamado de “Fazendinha”, por ser situado em local repleto de árvores e ao lado do Rio Tietê, ainda despoluído. No terreno, já havia um campo de futebol com arquibancadas, praça de esportes, campo de tênis, salão de dança e bar. A inauguração aconteceria dois anos depois, em 22 de julho de 1928, em partida contra o América-RJ, diante de dois mil torcedores, e que terminou empatada em 2 x 2.“

Nagib Salem

O Corinthians acertou a compra do local por 750 contos de réis dos vendedores Assad Abdalla e Nagib Salem, membros do Esporte Clube Sírio, e teria 12 anos para pagar. 

De acordo com o livro “Coração Corintiano”, de Lourenço Diaféria, o balancete do clube mostrou o pagamento de 65 contos em 1926, nada em 1927, 50 contos em 1928, 55 contos em 1929, 60 contos em 1930, 65 contos em 1931 e 45 contos em 1932.

No primeiro semestre de 1933, o clube paga outra parcela de 60 contos e já somava 400 contos do pagamento, em sete anos, restando ainda 350 contos para completar a conta. 

No mesmo período, 439 contos haviam sido investidos em benfeitorias no local.11 anos após a compra, um ano antes do acertado, com ajuda de Alfredo Schürig, o time quitaria o local. Em 5 de abril de 1937, pagaria 210 contos de réis, com juros, para ficar definitivamente com a área.

Um bairro distante com influência síria

O Tatuapé do começo do século 20 ainda tinha ares rurais e estava longe de ser o bairro pulsante que é hoje. 

Naquela época, essa porção da cidade era dominada por chácaras de frutas e verduras e também por algumas olarias, que se instalaram às margens do Rio Tietê quando este ainda era sinuoso e limpo. Muitos dos trabalhadores e proprietários de terras eram imigrantes portugueses e italianos.

Vista da “Fazendinha” quando o Rio Tietê ainda não era retificado.

Mas os sírios e libaneses – que se instalaram principalmente na região da Rua 25 de março quando chegaram a São Paulo – também tiveram o seu quinhão na história do bairro. Eles estão por trás do loteamento do Parque São Jorge

Em 1916, o Imigrante Sírio Assad Abdalla, que chegou ao país junto com Rizkallah Jorge, em 1895, vindo de Homs, na Síria, já estava com seus negócios estabelecidos na Rua 25 de Março. 

Seguindo à risca o princípio de que deveria guardar metade do lucro anual para investir em imóveis, comprou um terreno de um milhão de metros quadrados no Tatuapé, terras que iam da Avenida Celso Garcia até o Rio Tietê.

Abriu ruas – sendo a principal delas a Rua Síria – e construiu imóveis, começando, assim, o Parque São Jorge. 

Alfredo Schürig

Em outro ponto, mais ao fim da Rua São Jorge, havia uma quadra esportiva e um parque para passeios e lazer. Esse foi o terreno, com cerca de 45 mil m², vendido ao Sport Club Corinthians Paulista em 1926.

Em 2014 o Esporte Clube Corinthians Paulista inaugurou seu novo estádio no bairro de Itaquera.Conhecido como Neo Química Arena, o estádio tem capacidade para 49.000 pessoas, bem mais do que o antigo estádio da Fazendinha, mas, ainda por construir uma história junto à cidade assim como a do terreno do Parque São Jorge.

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