Um olhar sobre
a publicidade da Casa da Boia
Propaganda: substantivo feminino
1 Ato ou efeito de propagar.
2 Disseminação de ideias, informação ou rumores com o fim de auxiliar ou prejudicar uma instituição, causa ou pessoa.
3 Propagação de doutrinas, ideias, argumentos, informações etc., baseados em dados verdadeiros ou falsos, com o objetivo de persuadir ou influenciar o público em geral ou um grupo de pessoas.
4 PUBL Divulgação de mensagens por meio de anúncios escritos, falados ou musicados em veículos de comunicação (rádio, TV, jornal, prospectos etc.), por um patrocinador identificável, visando influenciar o público consumidor; publicidade: A concorrência tem aumentado a quantidade de propaganda nos meios de comunicação.
Estas são as definições do termo propaganda trazidas pelo Dicionário Michaelis. Em essência a ideia de propagar, divulgar, influenciar.
Em última análise, convenhamos, desde que o homem se entendeu como “ser inteligente” passou a usar a propaganda para “vender” uma imagem, uma ideia, um conceito e, cada vez mais após o advento da revolução industrial, um produto.
O dia 4 de dezembro é o dia mundial da propaganda. A data faz menção ao primeiro congresso de profissionais ligados à Publicidade e Propaganda, realizado em 4 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Argentina.
No ano seguinte, em 1937, na data passou a ser celebrado como o Dia Pan-Americano da Propaganda e o reconhecimento como Dia Mundial da Propaganda chegaria só em 1970.
No Brasil, os profissionais da área ainda comemoram outras datas, como o Dia do Publicitário (1º de fevereiro) e o Dia do Profissional da Propaganda (17 de outubro).
Com o início da civilização, nasce a propaganda
É consenso entre pesquisadores que já no Egito antigo a propaganda era utilizada por meio de desenhos em paredes e rochas. A mesma coisa acontecia na Grécia antiga.
Os registros históricos mais antigos do que pode se chamar de propaganda, são de Pompéia onde foram encontradas algumas tabuletas divulgando as casas de banho e lutas de gladiadores além de pregoeiros que divulgavam a venda de produtos como gado e escravos usando a própria voz.
Com a Bula Inscrutabili Divinae, do dia 22 de junho de 1622, o Papa Gregório XV criou a Congregação Propaganda Fide, que tem a tarefa de dar as diretrizes, promover a formação de missionários, impulsionar, propagar a fé e prover o sustento daqueles que estão em terra de missão.
A palavra propaganda, do latim “propagare”, surge a partir de então, com esta acepção de divulgar, propagar e influenciar.
No Séc. XII surge a publicidade
Apesar de os termos propaganda e publicidade trazerem alguma confusão entre si, o primeiro tem o sentido mais amplo, pois qualquer coisa pode ser “propagandeada”, não só produtos, como ideias, conceitos, ideologias, religiões… Publicidade, por outro lado (fora o seu significado etimológico de tornar público) é mais associada à prática, técnica e arte de divulgar um produto para vendê-lo.
Na era moderna o jornal inglês Mercurius Britanicus publica aquele que é considerado o primeiro anúncio publicitário, sobre o lançamento de um livro, em 1625. O jornal La Gazette, da França é o primeiro a ter uma seção de anúncios, em 1631.
Em 1704 foi publicado o primeiro anúncio norte americano, que divulgava um empreendimento imobiliário.
Praticamente junto com a Revolução Industrial (em 1841) nasceu a primeira agência, fundada por Volney B. Palmer, na Filadélfia.
E no Brasil os primeiros anúncios, em jornais, surgiram na segunda metade do século XIX.
Em 1914 foi fundada em São Paulo, por João Castaldi e Jocelyn Benaton a Eclética, a primeira agência de publicidade brasileira, que tinha entre seus clientes a Ford, Kolynos, biscoitos Aymoré e a Quaker.
Casa da Boia entra logo na era da propaganda
Nas pesquisas desenvolvidas pelos historiadores Renata Geraissati e Diogenes Sousa nos documentos do acervo da Casa da Boia o registro mais antigo de algum material de propaganda da Casa da Boia propriamente ditos são o “Catálogo Comercial”, um livro de 220 páginas, que reproduzia em desenhos toda a linha de produtos então fabricada pela Casa da Boia.
O livro, distribuído aos clientes, data de 1920.
Antes disso, porém, Rizkallah Jorge já usava como forma de propaganda, os prêmios que a empresa ganhou na “Exposição Nacional de 1908 em Commemoração do 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil ao Commércio Internacional” e, posteriormente, na “Esposizione internazionale dell’Industria e del Lavoro”, realizada em Turim, Itália, em 1911.
Os impressos da empresa, como papel-carta, recibos e similares traziam a inscrição “Premiada com o Grande Prêmio da Exposição Nacional de 1909” e “Medalha de Ouro Exposição de Turim 1911”. Era uma forma de avalizar a qualidade dos produtos fabricados pela empresa, uma forma de propaganda em seus meios próprios.
Aliás, ainda em referência à Exposição Nacional, a Casa da Boia (Então Rizkallah Jorge e Cia) figurou nas páginas da revista “Vida Moderna, de 1908”, em matéria dedicada à exposição, com a foto do mostruário levado para o evento e um breve histórico do empresário.
“Boca à boca” foi a melhor propaganda
Há marcas que investem muito, muito mesmo, em propaganda, para se manterem no topo das decisões do consumidor, principalmente em mercados muito disputados. Se por acaso você pensou em Coca Cola, por exemplo, está coberto de razão. A marca está presente em praticamente todos os meios de publicidade existentes.
Mas a diversificação de estratégias das marcas e negócios determinam como elas se comunicam com o seu público.
Na história dos quase 125 anos de atividades da Casa da Boia, os registros de seus arquivos mostram que a empresa anunciou em veículos dirigidos a públicos específicos.
Revistas voltadas a engenheiros, do mercado de metais, elétrica, refrigeração, por exemplo.
Mas, poucas propagandas foram tão eficientes quanto a inovação que a empresa trazia em seus primeiros anos, quando era fabricante de uma vasta gama de produtos.
Em seu próprio catálogo de 1920, já exaltava o fato de ter a “única máquina no Brasil a fazer dobras e produzir curvas em siphões e outros artigos de chumbo”.
Por seu pioneirismo na comercialização de um item essencial à São Paulo no início do Séc. XX, a empresa se beneficiou tanto da chamada propaganda “boca à boca”, quando um cliente indica outro, que indica outro, e assim sucessivamente, que seu próprio nome se alterou pela força desta publicidade.
Em entrevista para o projeto de memória dos 120 anos da empresa em 2018, o diretor da Casa da Boia Mario Rizkallah comenta esse fato da história:
“A empresa se chamava Rizkallah Jorge e Cia, quando meu avô a fundou. Quando meu pai e tios entraram na sociedade, lá pelos anos 30, passou a se chamar Rizkallah Jorge e Filhos. Mas, isso só no papel mesmo, porque ela foi ficando cada vez mais conhecida por ser a pioneira a comercializar as boias para caixa d’água”, rememora Mario.
“Nossa sede sempre foi o nosso belo sobrado, que traz em sua fachada uma reprodução enorme de uma boia, e as pessoas diziam ‘vai na casa que tem a boia’ ‘isso você acha naquela casa da boia’, ‘na casa da boia tem’. Isso se tornou tão forte que, após o falecimento do meu avô, seus filhos decidiram oficializar o nome da empresa como Casa da Boia”, conta o diretor, neto do fundador.