A controversa história
da invenção do rádio
Guglielmo Marconi e seu rádio
Spotify, Deezer, Amazon Music, Youtube Music, Apple Music. Webradios e Podcasts para todos os públicos navegam pelas ondas da internet e estão ao alcance de qualquer pessoa que tenha um celular ou um computador, conectados a uma operadora, pagando um plano de dados, em local com sinal de internet… É, na verdade, o que nos parece tão simples e acessível, não é tanto assim.
Sabe o que é realmente simples e acessível? O rádio, cujo dia mundial é comemorado em 13 de fevereiro. O avô destas tecnologias web é o meio mais democrático de difusão ainda no Séc. XXI. Dá para imaginar o que foi então, no final do do Séc. XIX e início do Séc. XX, quando a tecnologia foi criada?
Ela revolucionou o mundo, literalmente. Antes do rádio as comunicações eram muito mais difíceis. O entretenimento era apenas local (o teatro era a principal manifestação de entretenimento de massa, incluindo-se aí as trupes circenses) e o mundo não sabia o que era se comunicar por “meio do ar”.
Foi em meados dos Séc. XIX que os experimentos com a energia eletromagnética criaram as bases para o surgimento desta tecnologia, para a qual, o cobre, metal que a Casa da Boia comercializa em diversas formas, desde chapas até os fios, foi fundamental.
Até meados de 1800 a humanidade não conhecia a indução magnética. No ano de 1820, o físico Hans Christian Oersted observou que, ao passar uma corrente elétrica em um condutor, o mesmo mudava a direção da agulha de uma bússola. Essa foi a primeira constatação do que mais tarde viria a ser conhecido como eletromagnetismo.
A descoberta de Faraday
Michael Faraday
Aprimorando a experiência de Oersted, em 1821 o físico londrino Michael Faraday utilizou um anel de ferro, enrolando um fio de cobre (olha ele aí!) em uma metade da peça e outro pedaço de fio de cobre (de novo!) na outra metade. O primeiro filamento foi ligado a uma bateria. O segundo foi conectado a outro pedaço de fio, passando-o por uma bússola estrategicamente posicionada a uma certa distância do anel.
Ao ligar a bateria, Faraday percebeu que a agulha da bússola mudava de direção. Dessa forma, deduziu que uma corrente elétrica podia induzir uma corrente em um outro material condutor ainda que à distância.
Faraday reproduziu o experimento movimentando um ímã de forma cilíndrica dentro de uma bobina ligada a um galvanômetro. Percebeu, então, que esse movimento produzia uma perturbação na agulha do aparelho.
A partir daí Faraday constatou que o movimento de um ímã é responsável pela geração de corrente elétrica em um condutor, descobrindo assim o que hoje é conhecido como indução eletromagnética.
Bom, mas o que isso tem a ver com o rádio?
Vamos falar sobre Maxwell, Hertz, Tesla e Marconi
James Clerk Maxwell
Analisando os estudos de Michael Faraday, o físico escocês James Clerk Maxwell unificou, em 1864, todos os fenômenos elétricos e magnéticos observáveis, teorizando que todos os fenômenos elétricos e magnéticos poderiam ser descritos em apenas quatro equações, conhecidas atualmente como Equações de Maxwell.
Baseado nos estudos de Maxwell, até então teóricos, o Físico Alemão Heinrich Hertz, em 1887, Utilizou um oscilador feito de esferas de cobre (olha ele aí novamente), cada uma delas conectadas a uma bobina e separadas por um pequeno distanciamento o qual permitia o centelhamento pelas altas tensões aplicadas.
Heinrich Hertz
A ideia básica era, uma vez que uma centelha fechasse o circuito pelo ar e entre as esferas de bronze, a carga rapidamente oscilaria e esse movimento de cargas emitiria radiação eletromagnética de comprimento de onda da ordem do tamanho dos condutores de cobre.
E foi o que ocorreu quando Hertz ligou o oscilador, produzindo, em seu laboratório, a primeira transmissão e recepção de ondas eletromagnéticas. O resultado da experiência foi publicado em revistas científicas que chegaram ao conhecimento de outros cientistas e inventores, como o Sérvio Nikola Tesla e o italiano Guglielmo Marconi.
Nikola Tesla
Já formado em física e engenharia na Europa, Tesla se mudou para os Estados Unidos em 1884, conseguindo se estabelecer em Nova Iorque como empreendedor que patenteou dezenas de invenções relacionadas à eletricidade.
Durante a década de 1890, Tesla seguiu suas ideias para iluminação e distribuição mundial de energia elétrica sem fio, tentando colocar essas ideias em uso prático em seu projeto inacabado da Wardenclyffe Tower, uma transmissora sem fio intercontinental de comunicações e energia, mas ficou sem dinheiro antes que pudesse concluí-lo.
Enquanto isso, em 1894, Marconi aprimorou as experiências de Hertz e usando o princípio da indução elétrica em bolas de metal (adivinhe qual) conseguiu gerar um sinal eletromagnético que fez soar uma campainha instalada a metros de distância. Era o princípio da transmissão radiofônica.
Marconi e seu aparelho de telégrafo
Em 1899 conseguiu realizar uma transmissão sem fios do código Morse através do Canal da Mancha e dois anos mais tarde, conseguiu que sinais rádio telegráficos (a letra S do código morse) emitidos da Inglaterra, fossem escutados claramente em St. John’s (hoje parte do Canadá), atravessando o Atlântico Norte. A partir daí, fez muitas descobertas básicas na técnica da radiotransmissão, passando a ser considerado o inventor do rádio.
Mas…
Alguns contestam essa atribuição a Marconi com tendo sido o inventor do rádio. Inclusive, em processo envolvendo as questões das patentes de Tesla e Marconi, a Suprema Corte Norte Americana, no ano de 1943, declara que era falsa a reclamação de Marconi a respeito de várias patentes suas em que afirmava nunca ter tido conhecimento das patentes anteriormente registradas por Nikola Tesla e determinou que não havia nada no trabalho de Marconi que não tivesse sido antes descoberto por Tesla.
O fato aceito como certo é que muitos cientistas estavam estudando o assunto ao mesmo tempo e coube a Marconi a habilidade de “juntar” teorias e objetos criados pelos demais em um sistema eficiente de transmissão radiofônica, o que não havia sido realizado antes.
Ou não?
Ao sul do equador, em São Paulo…
Roberto Landell de Moura
Vamos viajar para um país insignificante na era das grandes invenções, talvez, exceto, por seu mais famoso inventor, Alberto Santos Dumont. Mas não é do gênio criador do avião que estamos falando, e sim de um padre católico e cientista, o gaúcho Roberto Landell de Moura.
Em 1892 Landell de Moura teria construído o primeiro transmissor sem fio de mensagens, antes de Guglielmo Marconi fazer seus primeiros testes na Itália.
Com ele teria realizado a primeira transmissão pública de som por meio de ondas hertzianas, ocorrida entre o alto da Avenida Paulista e o Alto de Santana, cobrindo uma distância de oito quilômetros. O problema é que não existe documentação sólida a respeito da data dos primeiros experimentos, o que prejudicou seu reconhecimento internacional, muito embora ele tenha patenteado sua invenção no Brasil e nos Estados Unidos.
De qualquer forma, é de Landell a primeira patente brasileira para um “aparelho destinado à transmissão fonética à distância, com fio ou sem fio, através do espaço, da terra e do elemento aquoso”, obtida em em 9 de março de 1901.
A partir de então, o brasileiro passou quatro anos nos Estados Unidos, desenvolvendo pesquisas na área da radiotransmissão e patenteando algumas invenções. Seus estudos despertaram o interesse de empresários norte-americanos, que desejavam produzir as invenções em escala industrial, mas Landell preferiu não negociar as invenções naquele país, pretendendo desenvolvê-las no Brasil, para onde retornou em 1905.
Matéria do New York Herald, de 1902, sobre as transmissões sem fio, dá grande destaque ao padre brasileiro Landell de Moura
A era do rádio
A chamada Era do Rádio (Old-time radio ou Golden Age of Radio) é o período que, nos Estados Unidos e outros países, compreendeu os anos de sucesso das emissoras de rádio. Nos EUA foram as décadas de 20 e 30, enquanto no Brasil o auge desse meio de comunicação ocorreu nos anos 40 a 50 do século XX. Até a chegada da televisão o rádio era o veículo de comunicação de massas com maior alcance e imediatismo.
Não por acaso os pioneiros artistas da TV brasileira eram em sua maioria, oriundos das radionovelas.