A construção e os detalhes da Catedral da Sé
A construção e as curiosidades
da Catedral da Sé
O Natal é uma das datas máximas de celebração para os adeptos da religião católica, simbolizando o nascimento de Jesus Cristo. Época em que os cristãos se voltam à família, à celebração da vida e da união fraterna. A Igreja Católica (a entidade) é catalisadora dessas manifestações e as igrejas (as edificações) propriamente ditas são o local de acolhimento dos fiéis. Há exatos 70 anos São Paulo inaugurava a sua mais majestosa igreja: a Catedral da Sé.
A história da Catedral Metropolitana Nossa Senhora da Assunção e São Paulo, mais conhecida informalmente como “Catedral da Sé” remonta à época colonial, quando o Cacique Tibiriçá, chefe da nação indígena dos Tupiniquins, que habitavam a região da Vila de Piratininga quando os portugueses chegaram ao planalto paulista permitiu, em 1589, que os jesuítas construíssem uma igreja em um terreno próximo ao local onde haviam instalado seu colégio (a meio caminho entre o Largo São Bento e a Praça da Sé).
Muito tempo se passou até que a primeira edificação ficasse pronta, em 1616.
Até 1745, São Paulo pertencia à então Diocese do Rio de Janeiro e, com a bula Candor Lucis Aeternae (Candor da Luz Eterna), do Papa Bento XIV, foi elevada à sede do Bispado.
No dia 7 de junho de 1908, o Papa São Pio X elevou a Diocese de São Paulo à sede metropolitana, criando a província eclesiástica homônima com mais outras cinco dioceses.
Uma nova igreja será construída
O primeiro arcebispo de São Paulo, Dom Duarte Leopoldo e Silva, foi quem capitaneou o projeto de construção de uma nova e imponente sede para a catedral.
Dom Duarte negociou com a prefeitura um terreno no centro da capital, em troca do terreno da Sé Antiga e da igreja de São Pedro dos Clérigos e contratou o arquiteto e engenheiro alemão Maximilian Emil Hehl, então professor da professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, para criar o projeto da nova igreja.
Hehl desenhou uma catedral em estilo gótico, inspirada nas grandes catedrais europeias, mas com a inclusão de uma cúpula de concreto sobre o cruzeiro, característica academicamente classificada como pertencendo à arquitetura religiosa renascentista.
Iniciada em 1913, as obras da igreja foram acompanhadas por Hehl até sua morte, em 1916, quando então passaram a ser supervisionadas por outros professores da Escola Politécnica, como Alexandre Albuquerque, e, a partir de 1940, por Luís Inácio de Anhaia Melo.
Todos os mosaicos, esculturas e mobiliário que compõem a igreja de acordo com o projeto de Hehl seriam trazidos da Itália, por meio de navios.
Mas, vale lembrar que em 1914 eclode a primeira grande guerra mundial, que duraria até 1918. Ainda que o continente europeu tenha vivido uma trégua até 1939, quando se iniciou a segunda grande guerra (1939-1945), o fornecimento dos materiais necessários à catedral ficou comprometido por anos.
Toda essa situação fez com que a obra se arrastasse até 1954, quando a Catedral da Sé foi finalmente inaugurada, mas, de forma incompleta. Ainda faltavam as torres.
Em 1956 foi organizada uma comissão responsável pela “Campanha das Torres para São Paulo”, com o objetivo de angariar fundos para a construção das torres e o término das obras.
Finalmente, em 15 de novembro de 1969, as duas torres da Catedral da Sé foram inauguradas, finalizando o projeto iniciado quase 60 anos antes.
A catedral em detalhes
Apesar do autor do projeto ser alemão e a catedral ter inspiração gótica europeia, inúmeros elementos decorativos da nave principal receberam a influência da cultura brasileira, dando a ela um aspecto ímpar.
Detalhes nos capitéis das colunas representam animais da fauna brasileira (como tatu, macaco, porco, morcego, coruja) e plantas da flora nativa (maracujá e jabuticaba, entre outras).
A nave principal da Catedral tem 111 metros de comprimento por 46 de largura. Ela é formada ainda por mais quatro naves cobertas por abóbadas ogivais, unidas pela cúpula central sustentada por doze colunas imponentes.
A igreja comporta 8.000 pessoas e é a quarta maior catedral gótica do mundo.
É a mais alta igreja de São Paulo, com impressionantes 92 metros de altura (considerando as torres). Somente a cúpula tem nada menos do que 70 metros de altura.
Cripta guarda os restos mortais de personalidades
A palavra cripta pode até nos remeter a um local sombrio, claustrofóbico, escuro, ledo engano, quando falamos da cripta da Catedral da Sé.
Localizada abaixo da nave principal, com acesso por uma escadaria ao lado do altar, a cripta foi inaugurada em 1919, antes mesmo da própria catedral. É um espaço enorme, com pé direito igualmente gigantesco, como tudo nesta catedral.
Ela contém 30 câmaras mortuárias destinadas a guardar os sarcófagos dos bispos e arcebispos, além de guardar os restos mortais do cacique Tibiriçá, do padre Feijó, Regente do Império e do padre Bartolomeu de Gusmão, considerado o inventor do balão.
Aliás, uma curiosidade, o corpo de Alberto Santos Dumont ficou guardado na cripta entre julho e dezembro de 1932, durante a revolução constitucionalista, até ser transportado para ser sepultado no Rio de Janeiro.
Fica a sete metros de profundidade e tem formato de cruz. Possui duas esculturas de Jó e São Jerônimo que simbolizam a morte e foram produzidas em Roma pelo artista Francisco Leopoldo e Silva.
Curiosamente o local possui 4 vitrais que serviam de iluminação parcial à cripta quando a catedral ainda não havia sido erguida. Hoje, são destacados por iluminação elétrica.
Abriga o maior órgão da América do Sul
Essa imensa obra de arte confeccionada na Itália é considerada o maior órgão da América do Sul, com cinco teclados manuais e cerca de 12 mil tubos com entalhes a mão, seguindo o estilo gótico.
Fabricado em Milão (Itália) pela indústria Balbiani & Bossi, em 1953, o instrumento tem cinco teclados manuais, 329 comandos, 120 registros e impressionantes 12 mil tubos, cujas bocas, de forma gótica, apresentam relevos entalhados à mão.
Apesar de sua imponência, o órgão da Catedral da Sé não emite um som há quase 25 anos, desde que apresentou uma quebra e nunca mais foi restaurado.
Atualmente, esta restauração é objeto de financiamento por meio da Lei Rouanet, que já captou parte do valor estimado, mas os trabalhos de restauração ainda não tem data para serem concluídos.
Por fim, o cobre na cúpula
A última das curiosidades sobre a Catedral diz respeito a algo que comercializamos aqui na Casa da Boia há quase 127 anos.
Se você já teve oportunidade de olhar para a cúpula e para as torres da Catedral, já reparou que elas são verdes. E não são desta cor porque foram pintadas, mas justamente por serem cobertas de milhares de placas de cobre.
O cobre fica verde devido a um processo natural de oxidação, que é causado pela exposição ao ar atmosférico, principalmente em ambientes com poluição. Uma série de reações que envolvem sulfato e cloreto presentes na atmosfera.
Essa oxidação deixa o cobre com este belo tom de verde. E, antes que você possa pensar que isso representa um problema, ao contrário do que acontece com materiais que tem ferro em sua composição e cuja oxidação ataca o metal, a camada esverdeada que recobre o cobre é benéfica para o material, pois esta pátina é, na verdade, uma proteção do metal que, sob ela conserva intocadas as suas características.
Fontes:
https://arquisp.org.br/catedral-da-se/
https://arquisp.org.br/historia/
https://www.facebook.com/catedraldasesp
https://www.facebook.com/catedraldasesp/photos
https://vejasp.abril.com.br/cultura-lazer/orgao-tubos-catedral-se-restauro