A história dos viadutos que transpõem o Vale do Anhangabaú
Como todos sabem a cidade de São Paulo foi fundada por missionários no topo de uma colina, que se erguia às margens do Rio Tamanduateí, nas proximidades da confluência do Rio Anhangabaú. Nos idos do Séc XVI, quando os jesuítas ocuparam as terras do Cacique Tibiriçá e ergueram um pequeno colégio, a região não passava de um ponto de apoio aos tropeiros que seguiam viagem vindos do litoral rumo ao interior paulista e daí para outros estados.
Durante quase dois séculos, São Paulo permaneceu como uma vila pobre e isolada porque era difícil subir a Serra do Mar a pé da Vila de Santos e a geografia da área que viria a ser a capital também não ajudava muito os deslocamentos.
A situação viria a mudar em 1681 quando o Marquês de Cascais transferiu a capital da Capitania de São Vicente para a Vila de São Paulo. Com o crescimento da importância da capital paulista, em 1711 a região foi elevada à categoria de cidade.
Porém, a “cidade” da época se resumia ao que hoje conhecemos por “triângulo histórico”, formado pelos vértices das ruas que ligavam três pontos da cidade: o Largo São Bento, o Pateo do Collegio e o Largo São Francisco.
O adensamento da população paulistana na área tinha, também, um motivo geográfico, pois para a expansão da cidade um problema precisava ser resolvido: a transposição dos vales que cercavam a colina inicial.
Ao tomarmos o Pateo do Collegio como referência, à norte/leste a colina terminava na encosta que se erguia do rio Tamanduateí, à sudeste, embora menos íngreme a encosta se estendia até a região do atual bairro da Liberdade, depois se encontrava com o mesmo Tamanduateí.
Ao sul, o caminho era subida… para a encosta íngreme onde se encontra a Avenida Paulista. Finalmente à oeste, na direção do local onde seria erguida a principal estação ferroviária da capital, um vale inteiro a transpor, o Anhangabaú.
Viaduto do Chá, o pioneiro
Foi justamente pela transposição do Vale do Anhangabaú, local de plantações de chá, que a cidade de São Paulo começou a se expandir por meio dos viadutos, uma novidade à época, posto que o Viaduto do Chá foi o primeiro a ser construído na cidade.
A primeira estrutura a cruzar o vale data do ano de 1892. Era feita em treliça metálica, e o viaduto foi idealizado pelo litógrafo francês Jules Martin e oficialmente inaugurado em 6 de novembro de 1892 – sendo contemporânea à celebrada Torre Eiffel, construída em Paris em 1889 com o mesmo material.
A proposta da ponte sobre o vale foi apresentada à Intendência Municipal em 1887. Ao ser criado, o viaduto tinha como intenção ligar as ruas Direita e Barão de Itapetininga. Os trabalhos começaram apenas em 1888, mas foram interrompidos um mês depois: o Barão de Tatuí se opôs à demolição de seu solar, onde vivia com a viúva do Barão de Itapetininga.
A briga foi parar na Justiça, porém meses depois foi dado ganho de causa ao Município. No mesmo dia em que saiu o veredicto da Justiça, a população favorável à obra, munida de picaretas e marretas, pôs-se a demolir o solar, expulsando os moradores dali, e o projeto pôde ter continuidade.
A Companhia Paulista de Chá ficou com os direitos do projeto, quando foi retomado em 1889. Porém enfrentou problemas financeiros e quase foi à falência. Então o município transferiu a responsabilidade da concepção para a Companhia de Ferro Carril de São Paulo. Esta encomendou a estrutura metálica que compunha o viaduto à empresa alemã Harkort, de Duisburgo. O material chegou ao Brasil em maio de 1890.
O viaduto foi concluído dois anos depois, tendo sua inauguração em 6 de novembro de 1892. Em um primeiro momento, possuía 240 metros de comprimento, sendo 180 de estrutura metálica e 60 da Rua Barão de Itapetininga aterrada; catorze metros de largura, sendo nove da passagem central e cinco de passarelas laterais (com assoalhos de prancha de madeira); vinte metros de distância do rio; e arco central de 34 metros.
O viaduto era iluminado por 26 lâmpadas a gás e contava, para fins estéticos, com obras de arte em suas quatro extremidades e balaustrada de bronze, com o logotipo da Companhia de Ferro.
Para pagar as despesas de sua construção, eram cobrados sessenta réis, ou três vinténs, para a utilização da passagem, o que na época garantiu o apelido de Viaduto dos Três Vinténs.
Existia um portão no local para controlar a passagem e restringir seu uso no período da noite que só foi removido, tornando o viaduto gratuito, em 1897, quando o vereador Pedro Augusto Gomes Cardim, apoiado por uma petição popular, levou uma moção à Municipalidade.
Com o aumento do trânsito, congestionamentos e forte urbanização do centro de São Paulo, a estrutura passou a dar sinais de fadiga. Para substituí-lo, a Prefeitura instituiu durante a década de 1930 um concurso para a construção de outro viaduto no mesmo local. Levou a proposta do arquiteto carioca Elisário Bahiana, responsável também por projetar, em uma das cabeceiras do Viaduto, o edifício que por muitos anos abrigou o Mappin.
Em 18 de abril de 1938 o novo viaduto foi inaugurado ao lado do antigo (que começou a ser desmontado no mesmo dia), construção esta em concreto armado, com quase o dobro da largura, estrutura esta que permanece até hoje em uma das extremidades do Vale do Anhangabaú.
Viaduto Santa Ifigênia
Viaduto Santa Ifigênia nos anos 1940.
Ainda enquanto o primeiro viaduto do chá estava em funcionamento, a experiência bem sucedida da transposição do Vale do Anhangabaú pedia uma solução para a sua outra extremidade, justamente na colina onde fora fundado o Colégio Jesuíta que originou São Paulo.
A história desse viaduto se inicia por volta de 1890. Consta ter sido idealizado por Francisco da Cunha Bueno e Jayme Serra, que obtiveram naquele ano, a licença do Conselho de Intendentes, para a sua construção. A obra não foi iniciada e o contrato foi cancelado.
Em março de 1893, a Câmara autorizou a desapropriação do terreno entre o Mosteiro de São Bento e a Cia. Paulista de Vias Férreas e Fluviais, mas por divergências políticas mais uma vez o projeto foi suspenso. Depois de várias idas e vindas, finalmente o prefeito interino em exercício, Raymundo Duprat, conseguiu dar andamento ao processo.
Em 1908, a prefeitura obteve um financiamento de 700 mil libras junto ao governo da Inglaterra, fato esse pioneiro na municipalidade. A última parcela do empréstimo foi paga somente nos anos 70.
Projetado pelo escritório Micheli e Chiappori, o Viaduto Santa Ifigênia foi inaugurado em 26 de setembro de 1913 pelo prefeito Raymundo Duprat. Sua estrutura metálica tem 225 metros de extensão e três arcos. As grades do guarda-corpo são em ferro forjado, em estilo Art Nouveau. A via de trânsito foi pavimentada com blocos de granito (paralelepípedos) e incluía duas vias de trilhos para bondes elétricos.
A estrutura do viaduto foi totalmente fabricada na Bélgica. Cerca de mil e cem toneladas de armação metálica desembarcaram no porto de Santos e chegaram na região pela estrada de ferro São Paulo Railway.
A montagem foi realizada pela empresa Lidgerwood Manufacturing Company Limited, sob a direção do engenheiro Giuseppe Chiappori, sócio de Giulio Micheli e Mário Tibiriçá, enquanto a execução das fundações ficou a cargo do mestre de obras e carpinteiro alemão Johann Grundt.
Com a construção do Viaduto Santa Ifigênia, o largo de mesmo nome transformou-se rapidamente e viu surgir vários edifícios no seu entorno.
O Viaduto Santa Ifigênia, em sua estrutura de ferro e aço trazidos da Bélgica no início do Séc. XX, até hoje impressiona por sua beleza.
Apenas em 1975 a estrutura passou a ser protegida por lei municipal de zoneamento. Em 1978, houve nova restauração, desta vez pela Emurb. Foram acrescentadas luminárias em estilo antigo, misturadas com holofotes, e calçamento em pastilhas coloridas, Nesse trabalho também foi acrescentada uma escada metálica de acesso à av. Prestes Maia.
O objetivo ao construir este viaduto era, além de ligar os Largos São Bento e Santa Ifigênia, melhorar o trânsito de carros e carruagens que enfrentavam a ladeira da Av. São João, além de melhorar o trânsito da rua XV de Novembro e da rua São Bento, por onde passavam os bondes. Assim, haveria uma maneira mais eficiente de ligar um lado do Anhangabaú ao outro.
O segundo viaduto do centro da capital foi até tema de música do compositor Adoniran Barbosa “Viaduto Santa Efigênia” (leia o post de 2 de dezembro), em que ele exalta para a sua amada a beleza da construção:
Viaduto Santa Efigênia Adoniran Barbosa
Venha ver! Venha ver Eugênia, Como ficou bonito O Viaduto Santa Efigênia! Venha ver Foi aqui, Que você nasceu Foi aqui, Que você cresceu Foi aqui que você conheceu O seu primeiro amor Eu me lembro Que uma vez você me disse Que um dia que demolissem o viaduto De tristeza, você usava luto Arrumava sua mudança E ia embora pro interior
“Quero ficar ausente O que os olhos não vêm O coração não sente…”
O Brasil comemora, em 2 de dezembro, o Dia Nacional do Samba. Há duas histórias que se cruzam e que explicam o motivo das homenagens ao gênero nesta data, uma no Rio e a outra em Salvador.
No começo dos anos 1960, uma época em que a música norte-americana entrava com muita influência no Brasil, pairava no ar um certo receio diante de uma suposta ameaça aos gêneros nacionais. Neste contexto, entre os dias 28 de novembro e 2 de dezembro, foi realizado no Palácio Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro, o Congresso Nacional do Samba, que teve participação de nomes como Pixinguinha, Aracy de Almeida e Almirante.
Nesta ocasião, foi redigido um documento batizado de Carta do Samba, que versava sobre a importância do gênero, bem como sobre a necessidade de manter suas características fundamentais. Na página 6 do documento, um aviso: “foi sancionada lei estadual declarando o dia 2 de dezembro Dia do Samba, à base de projeto apresentado, nesse sentido, pelo deputado Frota Aguiar”. O projeto citado, no entanto, acabou vetado pelo governador Carlos Lacerda. Só acabou sendo sancionado em 1964.
Antes disso, em 1963, o vereador soteropolitano Luiz Monteiro da Costa também apresentou um projeto de lei, este na Câmara Municipal de Salvador, que “institui o Dia do Samba, manda preservar as características da música popular e dá outras providências”. Monteiro da Costa mencionava que a proposta era também uma homenagem ao compositor Ary Barroso, que acabara de receber o título de “Cidadão da Cidade de Salvador”. O vereador baiano, no entanto, também citava a Carta do Samba redigida no Rio em seu projeto de lei.
“Nas escolas de samba da Guanabara e nos redutos principais do samba, nessa data, o samba será festejado com o repicar de tamborins, com o ‘roncar’ das cuícas e com uma alvorada de 21 batidas no ‘surdo’. O tão esperado Dia do Samba também será comemorado pelas emissoras de rádio que apresentarão programas com gravações de nossa consagrada música popular”, diz trecho do documento histórico.
Com as duas manifestações políticas em torno do gênero, uma no Rio e outra em Salvador, passou-se a comemorar o Dia do Samba no dia 2 de dezembro. Ao longo do tempo, a homenagem ganhou proporção nacional.
A gente não pretende aqui nos estender em compreender, comentar ou tentar, pretensiosamente este ritmo a respeito do qual Dorival Caymmi já alertava em sua canção “Samba da Minha Terra”. Segundo Caymmi, “quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça, ou doente do pé”.
Enfim, falar de samba é falar de um dos gêneros musicais preferidos dos brasileiros, e olha que há incontáveis variações de samba:
Samba-enredo – com origem no Rio de Janeiro na década de 30, é um samba que determina o ritmo dos desfiles das escolas de samba e aborda temas sociais e culturais.
Samba-de-partido-alto – é um samba de origem pobre, que tenta demonstrar a realidade de regiões carentes. Seus principais compositores são Moreira da Silva, Zeca Pagodinho e Martinho da Vila.
Samba-Pagode – um dos ritmos dentro do samba que mais fazem sucesso, surgiu no Rio de Janeiro nos anos 70, com letras românticas e ritmo repetitivo, tem como principais representantes grupos como: Fundo de Quintal, Raça Negra, Só Pra Contrariar, entre outros.
Samba-canção – com origem na década de 20 tem característica ritmo lento e letras românticas.
Samba-carnavalesco – são as famosas marchinhas que embalavam os carnavais antigos e bailes típicos.
Samba-exaltação – esse tipo de samba trazia um saudosismo com letras que mostravam as maravilhas brasileiras, junto com acompanhamento de orquestra.
Samba-de-breque – tipo de samba que tem interrupções para comentários no meio da música, com temáticas críticas ou humorísticas.
Samba de gafieira – com origem nos anos 40, tem ritmo rápido e forte com acompanhamento, muito comum em danças de salão.
Sambalanço ou Samba Rock – Com influência do jazz o surgiu entre as décadas de 50 e 60 e embalou boates em São Paulo e Rio de Janeiro. Tem como principais representantes Jorge Ben Jor, Wilson Simonal e mais recentemente Seu Jorge.
Samba praiano – A Academia de Samba Praiana foi criada em 10 de março de 1960, por um grupo de rapazes, oriundos das cidades de Pelotas, Rio Grande e também Porto Alegre.
Samba-de-morro – é um sub-gênero musical do samba, criado e difundido na década de 1930, na cidade do Rio de Janeiro, por compositores que frequentavam as rodas de samba da Turma do Estácio. De ritmo vivo, o samba de morro é um estilo autenticamente popular, que costuma ser acompanhado por um pandeiro, um tamborim, uma cuíca e um surdo. Suas letras em geral tratam de temas diversos como malandragem, mulheres e o cotidiano nos morros e favelas cariocas.
João Rubinato e o samba paulistano
Só por estes exemplos já dá para ver que a gente pode passar um ano inteiro de nosso blog apenas falando de samba, mas hoje, a homenagem vai para João Rubinato, caipira de Valinhos, interior de São Paulo, que se tornou uma referência incontestável do samba paulista e cantou a cidade em centenas de composições.
Se você está aí pensando quem é esse tal de João Rubinato, é que ainda não dissemos que ele mesmo não achava seu próprio nome muito comercial e por isso resolveu adotar um nome artístico. Escolheu ser Adoniran Barbosa.
Adoniran compôs centenas de canções, muitas delas, sambas, em que a cidade de São Paulo foi protagonista ou coadjuvante e a gente vai fazer um rápido passeio por algumas delas, começando, como não poderia deixar de ser, por embarcar no trem, que sai agora, às onze horas. Embarque com a gente
Trem das Onze
A canção contrapunha o desejo boêmio do personagem, que aproveitava uma noite de amor no centro de São Paulo, à necessidade de estar em casa para que a sua mãe pudesse dormir, já que ela “não dorme enquanto eu não chegar”. Filho único, o personagem tinha “a sua casa para olhar”. Morava no bairro do Jaçanã e o trem das 11 horas da noite era o último a sair da estação da luz. Assim, se poder ficar “nem mais um minuto com a amada”, o personagem embarcava no trem mais famoso do samba paulista.
O Morro da Casa Verde
Os personagens dos sambas de Adoniram povoavam a cidade, como os sambistas que acordavam o morro da Casa Verde: “Silêncio é madrugada. No Morro da Casa Verde a raça dorme em paz.E lá embaixo meu colegas de maloca, quando começam a sambar não param mais”.
Coríntia
O tatuapé, sede da “Fazendinha” foi cantado em seu amor pelo Timão:
“Como é bom ser alvi-negro, Ontem, hoje e amanhã Respirar no ar mistura Do Tietê com Tatuapé Lá do alto a velha Penha Do Anchieta e Bandeirantes Ver São Jorge lá da Lua Abençoando a fazendinha Onde mora um gigante Tem igreja e tem biquinha Coríntia, Coríntia Meu amor é o Timão
O Casamento do Moacir
Adoniran perambulava com seus personagens pela cidade, até que um dia foram convidados para ir à Vila Ré, no casamento do Moacir:
A turma da favela convidaram-nos Para irmos assistir O casamento da Gabriela com o Moacir Arranjemos uma beca preta E um sapato branco bem apertado no pé E se apreparemos para ir Na catedral lá da vila Ré…
Samba do Arnesto
Mas, nem só de convites bem sucedidos viveu Adoniran. Arnesto o convidou para um samba no Brás, então bairro operário do centro de São Paulo:
O Arnesto nos convidou Prum samba, ele mora no Brás. Nós fumo e não encontremo ninguém Nós vortemo, cuma baita duma reiva Da outra vez, nós num vai mais.
Certamente, quem ficou mesmo com ravia foi Ernesto Paulelli, amigo de Adoniran, o “Arnesto” da música, que cansou de negar em entrevistas, que tenha dado “cano” no amigo.
E de todas as aventuras de Adoniran pela cidade, nem sempre seus “passeios” saiam lá muito bem, como cantou em Samba no Bixiga:
Samba no Bixiga Domingo nós fumos num samba no bexiga Na rua major, na casa do Nicola À mezzanotte o’clock Saiu uma baita duma briga Era só pizza que avuava junto com as brajola
Adoniran foi um cronista da cidade de São Paulo, cantou suas mudanças, como em “Praça da Sé”:
Praça da Sé Praça da Sé, Praça da Sé Hoje você é Madame Estação Sé Quem te conheceu há alguns anos atrás Como eu te conheci Não te conhece mais nem vai conseguir Te reconhecer
Ou então, se espantou com uma obra aqui, bem do ladinho da Casa da Boia, convidando sua amada para conhecer o Viaduto Santa Ifigênia:
Viaduto Santa Ifigênia Venha ver Venha ver, Eugênia Como ficou bonito O viaduto Santa Ifigênia
Em Triste Margarida o galanteador, acompanhando a construção do metrô, tenta conquistar sua amada:
Triste Margarida Você está vendo aquela mulher que vai indo alí Ela não quer saber de mim Sabem por que? Eu menti pra conquistar seu bem querer Eu disse a ela que trabalhava de engenheiro Que o metrô de são paulo estava em minhas mãos E que se desse tudo certo Seria a primeira passageira Na inauguração
Tudo ía indo muito bem Até que um dia, até que um dia Ela passou de ônibus pela via 23 de maio E da janela do coletivo me viu Plantando grama no barranco da avenida…
Adoniran cantou amores, dores, alegrias e tristezas. Suas ou de seus personagens por toda a São Paulo, como quando viveu seu primeiro amor, na Vila Esperança:
Vila Espeança Vila Esperança, foi lá que eu passei O meu primeiro carnaval Vila Esperança, foi lá que eu conheci Maria Rosa, meu primeiro amor Como fui feliz, naquele fevereiro Pois tudo para mim era primeiro Primeira rosa, primeira esperança Primeiro carnaval, primeiro amor criança
Ou quando sentiu a dor da transformação urbana da capital derrubar a sua maloca:
Saudosa Maloca “Se o senhor não tá lembrado Dá licença de contar Que aqui onde agora está Esse edifício alto Era uma casa velha Um palacete abandonado Foi aqui seu moço Que eu Mato Grosso e o Joca Construímos nossa maloca Mais um dia Nem quero me lembrá Veio os home com as ferramentas O dono mandô derrubá”
Ou ainda, quando foi despejado da favela
Despejo na Favela Quando o oficial de justiça chegou Lá na favela E contra seu desejo / entregou pra seu narciso um aviso pra uma ordem de despejo Assinada seu doutor, assim dizia a petição dentro de dez dias quero a favela vazia / E os barracos todos no chão É uma ordem superior
Adoniran, João Rubinato, Matogrosso, Joca, Ernesto, Moacir, Iracema, Eugênia, criador e criaturas se confundem em uma obra monumental, de poesia e reflexão que poucos compositores conseguiram imprimir à cidade de São Paulo de forma tão intensa e apaixonada que talvez, como se vê, atualmente, o “rebatizar” de estações do Metrô, com um complemento, como, “Estação Palmeiras – Barra funda”, não fosse exagero se pensar em “São Paulo – Adoniran Barbosa”.
São vários os nomes que lembramos quando falamos em famílias e seu legado para a cidade. A família Jafet e o desenvolvimento industrial do Ipiranga, a família Matarazzo, várias famílias de origem árabe que construíram a base do comércio de nossa capital, como a família Assad Abdalla, por exemplo e a família Rizkallah, claro, que literalmente ajudaram a construir nossa capital.
Há outra família de relevante legado para a cidade e para a qual nem sempre a gente olha com a devida atenção. Recentemente, no último dia 21, se estivesse viva, sua matriarca teria completado 110 anos: a japonesa Tomie Ohtake.
Monumento em homenagemaos 70 anos da imigração japonesa, na avenida 23 de maio.
Nascida Tomie Nakakubo, chegou ao Brasil no ano de 1936. Casou-se com Ushio Ohtake, de quem incorporou o sobrenome e com quem teve dois filhos, Ruy e Ricardo Ohtake.
Em 1952 iniciou na pintura com o artista Keisuke Sugano. Passeou pela pintura figurativa e abstracionista e a partir dos anos 1970, passou a trabalhar com serigrafia, litogravura e gravura em metal.
Tapeçaria no Memorial da Améria Latina.
Mas, os paulistanos, talvez até mesmo sem saber, tem outras referências da artista que se naturalizou brasileira, em 1968. É na capital paulista que se encontra um acervo de obras de sua autoria em espaços públicos pela capital. Grande parte produzida a partir de seu interesse pela escultura em grandes dimensões.
Quem nunca passou pela descida (ou subida) da Avenida 23 de maio entre o Centro e o Paraíso e não se encantou com as formas fluidas de três “ondas” que “surfam” no canteiro central e que compõem o Monumento aos 80 anos da Imigração Japonesa.
Ou então não se impressionou com a força da tapeçaria gigantesca do auditório Simón Bolívar, no Memorial da América Latina.
Obra “As quatro Estações” na estação Consolação do Metrô.
Passando pela Avenida Paulista, seja pela superfície, ou embaixo dela, outras obras icônicas da artista.
Na plataforma de embarque da estação Consolação, a obra “As quatro Estações” traz quatro painéis em cerâmica representando, como diz o título, o verão, a primavera, outono e inverno.
Na própria avenida, está a última obra pública da artista, uma escultura orgânica, em aço, com 8,5 m de altura.
No Vale do Anhangabaú, mais especificamente na Ladeira da Memória, os paulistanos podem ver outra obra da artista, já integrada à paisagem urbana, uma pintura gigante em empena do edifício, com seus tons em amarelo.
Painel no Auditório Ibirapuera.
Um painel gigantesco em gesso, vermelho, uma das cores com as quais a artista mais se expressava, recepciona os visitantes do Auditório Ibirapuera.
No Campus da USP, o paulistano pode apreciar mais uma série de obras da artista.
Em frente à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas; a escultura “Ultramarinho”, em frente ao Espaço das Artes; o mural de pastilhas na recepção do Instituto de Estudos Brasileiros, dentre outras obras espalhadas pelo Campus.
Mas, se falamos aqui da grandiosa obra da matriarca da família Ohtake, que faleceu em 2015, estendemos nosso post à presença marcante da obra de seu filho, Ruy Ohtake, também falecido, em 2021. Esta expressa na arquitetura.
Hotel Unique.
Possivelmente seu projeto mais famoso seja o “barco” do hotel Unique, nos jardins em São Paulo. Mas Ruy tem outras inúmeras obras na capital de estilo próprio, como o também hotel Renaissance, na região da Paulista, ou o edifício Maison Mouette, em Santo Amaro.
Dentre outras tantas inúmeras intervenções urbanas na capital Ruy também dedicou seu talento a obras públicas, como a estrutura do terminal de ônibus Sacomã ou o complexo de edifícios que urbanizou parte da favela de Heliópolis, na mesma região.
E, claro, o edifício do Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, que é presidido, por outro membro da família, de igual relevância para a capital paulista: Ricardo Ohtake, menos conhecido por sua produção artística e mais por seu talento na gestão cultural.
Terminal de ônibus Sacomã.
Gestor cultural, arquiteto e urbanista, artista gráfico, curador, Ricardo Ohtake já ocupou uma série de cargos relevantes à gestão cultural. Dirigiu o Centro Cultural São Paulo (CCSP), foi diretor do Museu da Imagem e do Som e da Cinemateca Brasileira e foi Secretário da Cultura do Estado de São Paulo.
Dirige o Instituto Tomie Ohtake desde sua fundação.
Assim como no final do Séc. XIX e início do Séc. XX, famílias de imigrantes contribuíram para a construção de nossa cidade, a família Ohtake foi igualmente importante para a construção de uma identidade urbana refletida nas obras de arte, nos edifícios e nas políticas culturais de nossa cidade.
O feriado de 15 de novembro marca uma data emblemática para os brasileiros, o dia exato em que, no ano de 1889, um golpe político-militar destituiu o então imperador Dom Pedro II, enterrando de vez, após quase 400 anos, o governo monárquico em nosso território.
Após a Guerra do Paraguai, a partir da década de 1870, foi tomando corpo a ideia de alterar o regime político vigente e alguns fatores influenciam nisso: o imperador D. Pedro II tinha apenas duas filhas. O trono seria ocupado, após a sua morte, por sua filha mais velha, a princesa Isabel, casada com Gastão de Orléans, Conde d’Eu, francês, o que gerava o receio em parte da população de que o país fosse governado por um estrangeiro.
O fato de os negros terem ajudado o exército na Guerra do Paraguai e, quando retornaram ao país, permaneceram como escravos, ou seja, não ganharam a alforria, também pesava sobre o imperador.
Além disso, a elite civil e militar estava descontente com os privilégios da monarquia, casos de corrupção e favorecimentos que pressionaram D. Pedro II.
em 1889, Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, do Partido Liberal, então Presidente do Conselho de Ministros do Império, percebendo a difícil situação política em que o império se encontrava, apresentou à Câmara-Geral, (câmara dos deputados), um programa de reformas políticas do qual constavam, entre outras, medidas para dar maior autonomia administrativa para as províncias, liberdade de voto, liberdade de ensino, redução das prerrogativas do Conselho de Estado e mandatos não vitalícios para o Senado Federal, todas vetadas pela maioria dos deputados de tendência conservadora que controlavam a Câmara Geral.
Por sua vez, os militares do Exército Brasileiro estavam sujeitos às ordens do imperador e do Gabinete de Ministros, formado por civis, que se sobrepunham às ordens dos generais. Crescia na esfera militar e em boa parte da elite civil os ideais republicanos.
Uma “Fake News” antecipou a república
No Rio de Janeiro, os republicanos insistiram que o Marechal Deodoro da Fonseca, um monarquista, chefiasse o movimento revolucionário, com o que concordou, após alguma relutância. O golpe militar, que estava previsto para 20 de novembro, teve de ser antecipado. No dia 14, um boato começou a circular, dizendo que o governo havia mandado prender Benjamin Constant Botelho de Magalhães e Deodoro da Fonseca. Era apenas um boato, mas foi suficiente para antecipar o golpe de estado.
Convencido de que seria preso, Deodoro saiu de sua residência ao amanhecer do dia 15 de novembro, conclamando os soldados do batalhão a se rebelarem contra o governo. Ofereceram um cavalo ao marechal, que nele montou, e, segundo testemunhos, tirou o chapéu e proclamou “Viva a República!”. Depois apeou, atravessou novamente o parque e voltou para a sua residência.
Os revoltosos ocuparam o quartel-general do Rio de Janeiro e depois o Ministério da Guerra. Depuseram o Gabinete ministerial e prenderam seu presidente, Afonso Celso, que bem que tentou resistir apelando para o responsável pela segurança do Paço Imperial, general Floriano Peixoto, que enfrentasse os amotinados. Floriano Peixoto não apenas se recusou a defender o Paço, mas também aderindo ao movimento republicano, deu voz de prisão ao chefe de governo.
O único ferido no episódio da proclamação da República foi o Barão de Ladário, que resistiu à ordem de prisão dada pelos amotinados e levou um tiro.
Na tarde do mesmo dia 15 de novembro, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi solenemente proclamada a República. À noite, na Câmara Municipal do Município Neutro, (o Rio de Janeiro), José do Patrocínio redigiu a proclamação oficial da República dos Estados Unidos do Brasil, aprovada sem votação. O texto foi para as gráficas de jornais que apoiavam a causa, e, só no dia seguinte, 16 de novembro, foi anunciado ao povo a mudança do regime político do Brasil.
As referências à proclamação da República pela cidade de São Paulo
No breve resumo dos acontecimentos da Proclamação da República, alguns nomes citados são conhecidos dos paulistanos. Senão por sua participação no movimento, ao menos pelos que trafegam ou caminham por locais da capital paulistana.
Rua Afonso Celso – Importante via da Vila Mariana, faz menção ao último Presidente do Conselho de Ministros do Império, assim como a rua Visconde de Ouro Preto, no bairro da Consolação.
Praça Marechal Deodoro – A praça que faz menção ao protagonista da Proclamação da República, fica ainda na região central da cidade, na confluência de importantes avenidas, como o Elevado João Goulart, a Avenida São João, Rua das Palmeiras e Angélica.
Rua Barão de Ladário – Localizada no “miolo” do Brás é uma das principais ruas de artigos de comércio popular da capital.
Rua José do Patrocínio – Localizada na Aclimação, reverencia o autor do texto oficial da Proclamação.
Rua Rui Barbosa: localizada no bairro da Bela Vista homenageia um dos principais pensadores e defensores da República. Político, advogado, jornalista, Barbosa usava sua influência na imprensa para propagar as ideias republicanas. Em 15 de novembro de 1889, redigiu o primeiro decreto do governo provisório e foi nomeado ministro da Fazenda, no governo de Deodoro da Fonseca.
Rua Benjamin Constant – Perto da Casa da Boia e saindo da Praça da Sé a rua homenageia o pensador positivista que influenciou o período com ideias republicanas. Foi fundador do Clube Militar com Deodoro da Fonseca e um dos intelectuais do movimento.
Rua Quintino Bocaiúva – Também no centro histórico, pertinho da Casa da Boia, a rua faz menção ao único civil a cavalgar, ao lado de Benjamin Constant e do Marechal Deodoro da Fonseca, com as tropas que se dirigiram ao quartel-general do Exército brasileiro, na manhã de 15 de novembro. foi o primeiro ministro das relações exteriores da República, de 1889 a 1891.
Rua 15 de Novembro – Outra rua a poucos metros da Casa da Boia, a referência à 15 de novembro é óbvia, mas a via é mais antiga do que isso. Ela teve sua origem como uma ligação entre o Pátio do Colégio e o Largo de São Bento, no início da urbanização da cidade. Já se chamou Rua de Manuel Paes Linhares, Rua do Rosário, Rua da Imperatriz e ganhando seu nome atual após a Proclamação da República.
Praça da República – Conhecida antigamente como Largo dos Curros, era ali que os paulistanos do século XIX assistiam a rodeios e touradas. Posteriormente, foi chamada de Largo da Palha, Praça das Milícias e Largo 7 de Abril. Com a Proclamação da República, em 1889, a praça passou a se chamar 15 de Novembro e, finalmente, Praça da República.
Você sabe que a Casa da Boia mantém em seu imóvel histórico uma área de mostra permanente de documentos, fotografias e objetos sobre sua própria história a história de seus fundadores né? Este espaço pode ser visitado periodicamente e a visita é acompanhada pelos historiadores Renata Geraissati e Diógenes Sousa, que ajudam os visitantes a compreender os contextos históricos do final do Séc. XIX e XX, quando nosso fundador, Rizkallah Jorge Tahan, chegou ao Brasil, fundou a Casa da Boia e esta conquistou grande importância para a São Paulo do período.
E claro que opções em museus e casas culturais em São Paulo não faltam, só aqui pertinho da Casa da Boia a gente em várias opções, como o Farol Santander, o Centro Cultural Banco do Brasil, o Centro Cultural dos Correios… mas, você já ouviu falar do Museu da Cidade de São Paulo?
Esta instituição, ligada ao Departamento dos Museus Municipais da Secretaria Municipal da Cultura, tem uma proposta bastante diferenciada. Como explica o próprio site do Museu, são atribuições próprias do Museu da Cidade de São Paulo promover a reflexão contínua das dinâmicas de construção da cidade física e simbólica, retratar sua diversidade cultural e registrar a memória de sua população.
Nessa perspectiva, para além do seu acervo institucional (intramuros), a própria cidade é tratada como acervo operacional (extramuros). Enquanto o primeiro faz referência à cidade, o segundo, mais rico e complexo, possibilita o entendimento da cidade a partir de suas mais diferentes formas.
O legal é que sob o “guarda-chuva” do Museu, está um acervo arquitetônico composto por por uma rede de casas históricas, construídas entre os séculos 17 ao 20 e distribuídas nas várias regiões da cidade que representam remanescentes da ocupação da área rural e urbana da Cidade de São Paulo.
Ou seja, dá para montar um roteiro de visitação praticamente por todos os cantos da 5ª cidade mais populosa do mundo e a maior cidade da América do Sul.
Partindo dos pontos mais distantes do centro, conheça alguns imóveis históricos da cidade que estão sob responsabilidade do Museu da Cidade de São Paulo:
Capela do Morumbi
Na década de 1940, a Cia. Imobiliária Morumby efetivou o loteamento de suas últimas glebas. Fazia parte deste loteamento a antiga casa-sede da fazenda e, em sua proximidade, uma edificação em ruínas de taipa de pilão.
São várias as interpretações históricas atribuídas a estas ruínas: ora como sendo uma capela consagrada a São Sebastião dos Escravos, ora como capela acompanhada de sepulturas destinada aos proprietários da fazenda. Outros estudiosos acreditam ainda que tenham sido apenas ruínas de um paiol. A ausência de documentação mais detalhada não permite afirmar com segurança qual dessas hipóteses é a mais correta.
Visando atrair compradores e valorizar ainda mais os terrenos, a Cia. Imobiliária Morumby contratou o escritório do arquiteto Gregori Warchavchik (1896 – 1972) para fazer a reconstrução das ruínas de taipa de pilão. Interpretando-as como remanescentes de uma antiga capela, Warchavchik completou a edificação com alvenaria de tijolos. Convidou a pintora Lúcia Suanê que, em afresco, representou a cena do batismo de Cristo e os anjos com fisionomias de índios, nas paredes do batistério.
A Capela do Morumbi ficou fechada até por volta de 1975 e continuou sendo propriedade da Cia. Imobiliária Morumby.
Em 1979 o imóvel foi submetido a obras de revitalização e adaptação. Sua nave central foi convertida em sala de espetáculos para a realização de atividades culturais de pequeno porte. Foi aberta à visitação pública em 25 de janeiro de 1980.
Avenida Morumbi, 5.387 – Morumbi
Casa do Sertanista (Caxingui)
Próximo à Capela do Morumbi fica a Casa do Sertanista, cuja construção, remonta, de acordo com estudos realizados pelo arquiteto Luis Saia, a meados do século 17.
Segundo pesquisas sobre a origem desta casa, o Padre Belquior de Pontes teria sido o primeiro morador de que se tem notícia. Sabe-se, entretanto, que no final do século 19 pertenceu à família Beu, sendo posteriormente transferida à família Penteado que acabou por vendê-la à Cia. City de Melhoramentos. Esta, por sua vez, doou o imóvel à municipalidade em 1958 que passou a recuperá-lo em 1966. Em 1970. Concluídas as obras de restauração, foi instalado ali o “Museu do Sertanista”, voltado essencialmente para a cultura indígena.
Até 1987, realizaram-se várias exposições e mostras com o acervo indígena que lá ficava. Neste ano a casa foi fechada por necessidade de obras de conservação, interrompendo-se assim as atividades museológicas até então desenvolvidas.
Em 1989, por meio de um decreto de permissão de uso, esta casa histórica passou a abrigar o Núcleo de Cultura Indígena da União das Nações Indígenas, instalando-se então, a Embaixada dos Povos da Floresta.
Com a saída do Núcleo de Cultura Indígena em 1993, a casa passou por novas obras de conservação e restauro sendo ocupada pelo Museu do Folclore “Rossini Tavares de Lima” de 2000 até 2007. Esteve em restauro de 2008 a 2012, quando reabriu com a exposição “A Casa das Fontes”, da artista Sandra Cinto.
Sítio Morrinhos
O Sítio Morrinhos é um conjunto arquitetônico composto pela casa-sede, construída no início do século 18, por diversas construções anexas datadas da segunda metade do século 19 e outras do início do século 20. Todo o conjunto está implantado no centro de uma extensa área verde, formada por árvores frutíferas e ornamentais.
Na verga da porta principal da casa sede encontra-se a inscrição “1702”, provavelmente a data de sua construção. Originalmente, foi uma residência rural servindo como sede de sítio, propriedade da família Baruel.
Em 1902, toda a área foi levada a leilão e arrematada pela Associação Pedagógica Paulista, como representante do Mosteiro de São Bento. A partir de então, o conjunto arquitetônico foi utilizado como chácara de descanso de seus membros nos finais de semana. Em 1952, o Mosteiro de São Bento faz um acordo com a firma Camargo Correa S.A. para a realização do loteamento da região que deu origem ao atual bairro Jardim São Bento.
A partir desse acordo, Sebastião Ferraz de Camargo passou a ser o proprietário do lote onde se encontra esse conjunto e, em 1952, doou o imóvel para a Prefeitura do Município de São Paulo.
Rua Santo Anselmo, 102 – Jd. São Bento
Casa do Tatuapé
A Casa do Tatuapé é uma construção em taipa de pilão, com seis cômodos e dois sótãos, que se diferencia de outros exemplares remanescentes do período colonial por apresentar telhado de apenas “duas águas”. Um documento de 1698 confirma a construção do imóvel em um terreno que pertencia ao padre Matheus Nunes de Siqueira. Passou por inúmeros donos e funções e no final da década de 1970 foi adquirida pela Prefeitura de São Paulo.
Entre 1979 e 1980, sob responsabilidade do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), por meio de um projeto realizado em conjunto com o Museu Paulista da USP, foram realizadas pesquisas arqueológicas e, em um segundo momento, o imóvel passou por obras de restauro.
Em 1981 a Casa do Tatuapé foi aberta à visitação pública e uma década depois passou por novas obras de preservação. Em 1992, a Casa do Tatuapé foi reaberta à população, abrigando atividades sócio-culturais.
Rua Guabiju, 49
Casa do Bandeirante
A Casa do Bandeirante representa um dos exemplares típicos das habitações rurais paulistas construídas entre os séculos 17 e 18 em vasta área periférica ao núcleo urbano primitivo, localizadas predominantemente junto à bacia de dois rios: o Tietê e o seu afluente Pinheiros.
Neste conjunto remanescente, identificado a partir da década de 30 em princípio por Mario de Andrade e depois por Luis Saia, esta casa representa um raro exemplar de edificação que acompanha as mudanças da cidade de São Paulo desde os primeiros séculos da colonização portuguesa, evidenciando em seu partido arquitetônico e em suas paredes a memória dos processos construtivos da arquitetura colonial paulista, em especial da taipa de pilão.
Em 1602 há registros dessa propriedade como pertencente a Afonso Sardinha, com o nome de Ubatatá, termo tupi que significa “terra dura”. Posteriormente foi feita a doação de seus bens à Capela de Nossa Senhora das Graças da ordem dos jesuítas.
Com a expulsão dos jesuítas em 1759, a área foi a leilão e pertenceu a vários proprietários, tendo sido adquirida por Eugênio Vieira de Medeiros em 1875, sendo conhecida na época com o nome de “Rio Abaixo dos Pinheiros”. A Cia. City de São Paulo comprou o imóvel em 1912 e doou à municipalidade, em 1944, a área que incluía a edificação conhecida então como a “Casa Velha do Butantã”. Após a doação o imóvel permaneceu sem definição de uso até o início dos anos 50.
Em 1953, a Comissão do IV Centenário de São Paulo torna-se responsável pela casa, promovendo sua restauração, realizada pelo arquiteto Luis Saia e nela instalando, a partir de 30 de outubro de 1955, um museu evocativo da época das bandeiras, com acervo próprio, a partir do recolhimento de móveis, utensílios e outros objetos históricos no interior de São Paulo, Minas Gerais e Vale do Paraíba. Acumulando simbolicamente ao longo dos anos identidades diversas, a Casa do Bandeirante está incluída, em caráter permanente, nos roteiros turístico-históricos da cidade, ícone de um passado histórico idealizado, espaço de crítica e contextualização de mitos e documento arquitetônico preservado.
Praça Monteiro Lobato, s/n – Butantã
Sítio Da Ressaca
A Casa do Sítio da Ressaca, como hoje é conhecida, foi sede de um sítio localizado nas proximidades do antigo caminho de Santo Amaro, que era banhado pelo córrego do Barreiro, também chamado Fagundes e Ressaca.
Situada à meia encosta de uma colina, a Casa data, provavelmente, de 1719, ano inscrito na verga de sua porta principal. Algumas de suas telhas são ainda originais e trazem inscrições do século 18, como a data de fabricação e o nome do oleiro. As portas e batentes, em canela preta, também são originais.
A técnica construtiva empregada neste imóvel foi a taipa de pilão, que consistia em socar o barro com a mão de pilão entre pranchas verticais de madeira (taipal), formando-se assim as paredes externas com cerca de 50 cm de espessura; as paredes internas eram originalmente de pau-a-pique. Introduzida pelos portugueses, essa técnica de origem árabe foi amplamente utilizada pelos paulistas que, devido ao seu isolamento geográfico, dependiam essencialmente do barro como recurso para construção.
A Casa do Sítio da Ressaca possui algumas peculiaridades em relação aos demais exemplares de casas bandeiristas existentes na cidade: a assimetria de sua planta, um único alpendre não centralizado na fachada principal e o telhado de duas águas.
Seu último proprietário, Antonio Cantarella, responsável pela urbanização do bairro do Jabaquara, transformou o sítio em chácara, realizando seu loteamento em 1969. Esta modificação coincidiu com a chegada do metrô à região e a desapropriação de mais de um terço da área para instalação do seu pátio de manobras.
Rua Nadra Raffoul Mokodsi, 3 – Jabaquara
Casa Modernista
A Casa Modernista da Rua Santa Cruz, de autoria do arquiteto ucraniano Gregori Warchavchik (1896–1972), projetada em 1927 e construída em 1928, é considerada a primeira obra de arquitetura moderna implantada no Brasil.
Projetada para abrigar a residência do arquiteto, recém-casado com Mina Klabin (1896-1969), filha de um grande industrial da elite paulistana, a casa gerou forte impacto nos círculos intelectuais e na opinião pública em geral, com a publicação de artigos em jornais dos mais diversos espectros políticos, favoráveis ou contrários à nova orientação estética proposta.
Além da edificação, mereceu destaque o jardim, projetado por Mina Klabin, devido ao uso pioneiro de espécies tropicais. Warchavchik relatou as inúmeras dificuldades técnicas que teve que enfrentar durante a construção de um edifício moderno no Brasil, como por exemplo a incipiente indústria da construção civil naqueles anos.
Alguns historiadores apontam contradições presentes na obra, que não correspondiam a preceitos do modernismo europeu, não aceitando totalmente a justificativa dada pelo arquiteto quanto à industrialização. No entanto, nota-se que se trata de uma obra pioneira, de transição, que expressa muitas das contradições da época.
Em 1935, a casa passou por uma reforma, quando o arquiteto procurou adequá-la para a família que crescia, ao mesmo tempo em que experimentava alterações na lógica da circulação e no arranjo dos ambientes.
Nos anos seguintes, pequenas alterações ocorreram, conforme mudavam as necessidades da família, mas, de modo geral, o conjunto manteve-se com as mesmas feições até os dias de hoje. A família residiu ali até meados dos anos 1970, quando vendeu a propriedade. Em 1983, uma construtora apresentou um projeto para implantar na área um condomínio residencial, combatido imediatamente pela população local, que criou a “Associação Pró-Parque Modernista”, mobilizando-se pela defesa da casa e de sua área verde.
Em 1984, a Casa Modernista recebeu tombamento patrimonial pelos órgãos das instâncias Federal (Iphan) Estadual (Condephaat) e Municipal (Conpresp).
Devido a diversos processos judiciários, o imóvel permaneceu sem atividades, resultando daí um rápido processo de deterioração. Em 2000 foram realizadas obras para a sua recuperação. Em 2008, a Prefeitura do Município de São Paulo passou a ser permissionária do imóvel, sendo a responsável por seu uso e manutenção.
Rua Santa Cruz, 325, Vila Mariana
Casa do Grito e Cripta Imperial
A Casa do Grito tem sido motivo de pesquisas sistemáticas sobre seu valor histórico como técnica construtiva, a fim de desvinculá-la do cenário da Proclamação da Independência ocorrida em 1822. Sua denominação deve-se à associação com o quadro de Pedro Américo, intitulado “Independência ou Morte”, onde é retratada uma casa com características semelhantes. No entanto, o documento mais antigo referente a esse imóvel é datado de 1844 e consta dos autos do inventário de Guilherme Antonio de Moraes.
Posteriormente, a pequena casa pertenceria a diferentes proprietários, até ser adquirida, em 1911, pela família Tavares de Oliveira, que permaneceu como moradora até a sua desapropriação pela municipalidade em 1936.
A casa ficou relegada ao abandono até 1955, quando uma campanha, realizada pela Sociedade Geográfica Brasileira e o jornal A Gazeta, atribuiu caráter histórico ao imóvel, a partir da constatação de sua técnica construtiva: a taipa de sopapo ou pau-a-pique. Lançaram, então, a ideia de recuperá-la para visitação pública. Certamente, esta ideia estava vinculada às comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo. As obras de restauro, incluindo uma janela falsa, tiveram a intenção de aproximá-la da casa representada na obra de Pedro Américo, no intuito de caracterizá-la com o cenário composto pelo artista.
Em 1958, por iniciativa da gestão municipal, o imóvel foi transformado em Museu do Tropeiro, abrigando um cenário característico dessa época, composto por móveis e alfaias adquiridos por meio de compra na região do Vale do Paraíba, ou pela doação de particulares e entidades diversas. O projeto tinha a intenção de compor um ambiente do que se imaginou ter sido um pouso de beira de estrada em princípios do século 19.
No final da década de 70, a crítica a essas concepções museológicas implicou na desmontagem do cenário. Os objetos passaram a integrar o acervo de bens móveis históricos, então sob responsabilidade do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH).
Em 1981, a Casa do Grito foi objeto de pesquisas arqueológicas e passou por uma obra de restauro que procurou corrigir os excessos das intervenções anteriormente realizadas. Em 2007 passou por nova etapa de restauro e conservação, tendo sido reinaugurada em 7 de setembro de 2008. Este imóvel está incorporado ao Parque da Independência.
Também no Parque da Independência, está a Cripta Imperial, que guarda os restos mortais do Imperador Dom Pedro I, da sua primeira esposa, a Imperatriz Leopoldina e da segunda esposa, Dona Amélia de Leuchtenberg.
Fica localizada sob o Monumento à Independência, e as histórias de ambas as construções se encontram entrelaçadas, não sendo possível explicar uma sem trazer informações sobre a outra.
O Monumento à Independência foi criado em 1922 como parte das comemorações do centenário da emancipação política brasileira. Em 1917, o Governo do Estado de São Paulo organizou um concurso, aberto à participação de artistas brasileiros e estrangeiros que apresentaram projetos e maquetes. O conjunto de maquetes foi exposto no Palácio das Indústrias. O projeto vencedor foi o do artista italiano Ettore Ximenes (1855 – 1926), cuja aprovação não teve a unanimidade da comissão, que estranhou a ausência de elementos mais representativos do fato histórico brasileiro a ser perpetuado. O projeto de Ximenes foi então alterado, com a inclusão de episódios e personalidades vinculados ao processo da independência, tais como: a Inconfidência Mineira (1789), a Revolução Pernambucana (1817), e as figuras de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763 – 1838), Hipólito da Costa, Diogo Antonio Feijó e Joaquim Gonçalves Ledo, principais articuladores do movimento. O monumento, embora não concluído, foi inaugurado em 7 de setembro de 1922, ficando completamente pronto somente quatro anos depois.
Ao longo do tempo, o monumento sofreu vários acréscimos. Em 1953, começou a ser construída em seu interior a Cripta Imperial (ainda referida como capela), onde seriam depositados os despojos da Imperatriz Leopoldina, em 1954. Em 1972, consolidou-se a sua sacralização com a vinda dos despojos de D. Pedro I e, posteriormente, em 1984, dos restos mortais de Dona Amélia, segunda Imperatriz do Brasil.
Praça do Monumento, s/n – Ipiranga
No centro, mais quatro espaços do Museu da Cidade de São Paulo
Chácara Lane
O imóvel tombado em 2004 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo – é remanescente de uma antiga chácara paulistana construída no final do século 19, sendo importante referência histórica para a memória dos assentamentos urbanos na cidade. Naquele final de século os moradores mais abastados possuíam, além da sua moradia no núcleo urbano central, chácaras localizadas em áreas próximas do centro da cidade ou nos seus arrabaldes para o lazer familiar.
Foi residência do Reverendo George W. Chamberlain e funcionou como sede da Escola Americana, que deu origem à Universidade Presbiteriana Mackenzie. Em 1906, o Dr. Lauriston Job Lane adquiriu da viúva do reverendo, Mary Amnesty Chamberlain, a chácara situada à rua da Consolação 1024, compreendendo casa de morada e benfeitorias. O Dr. Job Lane construiu nesse terreno um consultório projetado pelo arquiteto Jorge Krug.
A Chácara Lane, cujo endereço atual é a Rua da Consolação, entre as ruas Itambé e Piauí, contudo, permaneceu como chácara até os anos 1940, quando foi comprada pela prefeitura para abrir loteamento no local, que não foi executado, pois os técnicos da época concluíram que as ruas seriam muito estreitas e somente casas pequenas poderiam ser construídas.
Rua da Consolação, 1024 – Consolação
Beco do Pinto, Casa da Imagem e Solar da Marquesa
O Beco do Pinto, conhecido também como Beco do Colégio, era uma passagem utilizada na São Paulo colonial para o trânsito de pessoas e animais, ligando o largo da Sé à várzea do rio Tamanduateí.
Atualmente, juntamente com a Casa da Imagem e o Solar da Marquesa de Santos, constitui um significativo conjunto arquitetônico, histórico e cultural.
Seu nome relaciona-se ao sobrenome do proprietário da casa ao lado do logradouro, o Brigadeiro José Joaquim Pinto de Moraes Leme, e às suas desavenças com os vizinhos e a Municipalidade, por ter fechado o acesso ao Beco em 1821. Em 1826, a passagem foi reaberta e recebeu da Câmara o nome oficial de Beco do Colégio.
No ano de 1834, a Marquesa de Santos, ao comprar este imóvel de um dos herdeiros do Brigadeiro Pinto, conseguiu, da Câmara, o fechamento da passagem. Após a abertura da ladeira do Carmo em 1912, atual Av. Rangel Pestana, o Beco perdeu sua função e foi definitivamente desativado.
Vestígios de calçadas do século 18 em dolomita, tijolo e paralelepípedo, assim como fragmentos de louça, vidro, cerâmica, ossos e grafite e, também, material usado para autópsia como estiletes e facas pertencentes à delegacia de polícia que funcionou no local no início do século 20, foram coletados durantes as prospecções arqueológicas executadas pelo convênio de 1979, firmado entre a Prefeitura e o Museu Paulista.
As escadas, grades e portões foram executados de forma a implementar uma versão moderna, sem perder as características anteriores. Vitrines com vestígios dos antigos calçamentos foram montadas no local nas obras de restauro da década de 1990, quando passou a integrar o circuito cultural da cidade de São Paulo.
Casa da Imagem
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, desenvolve a estruturação da Casa da Imagem, instituição voltada à memória fotográfica da cidade de São Paulo.
A coleção de 84 mil fotografias passou por detalhada intervenção de conservação preventiva e foi guardada em reserva técnica especialmente projetada para sua tipologia, segundo padrão internacional. Cerca de 130 mil destas imagens foram digitalizadas e, com suas informações catalográficas, estão disponíveis no banco de dados, possibilitando o gerenciamento da coleção e o resgate de informações, operação que se completará com o acesso pela internet.
Antecedendo estas ações, a Casa nº 1, assim conhecida pela numeração que recebeu na época de sua construção, foi destinada a abrigar o projeto Casa da Imagem. Em 2009 iniciaram-se as obras de restauro, que incluíram a reparação integral da parte estrutural, adaptação para acessibilidade, rede de lógica e telefonia, instalação do reservatório para combate a incêndio e intervenções nas pinturas ornamentais internas.
Solar Da Marquesa De Santos
Partindo do Páteo do Colégio, os primeiros povoadores passaram a ocupar os terrenos vizinhos, construindo suas moradias e formando as primeiras ruas da cidade. Na Rua do Carmo, hoje Roberto Simonsen no 136, localiza-se o Solar da Marquesa de Santos, raro exemplar de residência urbana do século 18.
Não há dados precisos sobre a data de construção desse imóvel. Em 1802, foi dado como pagamento de dívidas ao Brigadeiro José Joaquim Pinto de Morais Leme, primeiro proprietário documentalmente comprovado. Contudo, documentos do século 18 indicam a existência de quatro casas na Rua do Carmo entre 1739 e 1754. A junção de duas dessas casas de taipa de pilão teria originado o Solar, conforme registros fotográficos do século 19, além de prospecções arqueológicas e análises arquitetônicas realizadas pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH).
A Marquesa de Santos, Domitila de Castro Canto e Melo (1797 – 1867), foi a proprietária entre 1834 e 1867, adquirindo o imóvel da herdeira do Brigadeiro Leme. A partir de então, tornaram-se famosas as festas ali realizadas, e o imóvel passou a ser conhecido como Palacete do Carmo, uma das residências mais aristocráticas de São Paulo. Com sua morte, a propriedade da casa passou para seu filho, o Comendador Felício Pinto de Mendonça e Castro. No ano de 1880, é colocada em hasta pública e arrematada pela Mitra Diocesana, que aí instalou o Palácio Episcopal, introduzindo modificações no local, como a construção de uma capela e de uma cripta sob o altar-mor. É desse momento, provavelmente, a inclusão de características neoclássicas em sua fachada principal.
Em 1909, o imóvel foi adquirido pela The São Paulo Gaz Company, que nele instalou o seu escritório. Para adaptar-se ao novo uso, a casa passou por diversas modificações e ampliações: foram demolidas paredes de taipa de pilão, janelas e portas, transformadas em vitrines. Para melhorar a iluminação e a ventilação, foi aberto um pátio na lateral direita do lote, alterando o desenho do telhado. Na década de 1930 foram construídos anexos à edificação original, aumentando sua área útil e alterando por completo a fachada posterior do imóvel. Em 1967, a Companhia Paulista de Gás (sucessora da The São Paulo Gaz Company) foi desapropriada e todos os seus imóveis passaram à Prefeitura. Em 1975, já incorporado ao patrimônio municipal, o Solar foi sede da Secretaria Municipal de Cultura e alguns de seus departamentos, como o Departamento do Patrimônio Histórico, criado nesse ano.
Os diferentes usos e adaptações sucessivas levaram à descaracterização do imóvel, exigindo sua recuperação, que teve início em 1991. As pesquisas, que embasaram o projeto e as obras de restauração, revelaram não ser possível reconstituir qualquer estágio de construção dentre os vários pelos quais passou o Solar. Deste modo, o restauro realizado, conforme normas internacionais para intervenções em bens histórico-arquitetônicos, procurou preservar e destacar elementos de suas várias etapas construtivas: a conservação dos amplos ambientes do andar térreo, resultantes das diversas demolições, a preservação no pátio interno de vestígios remanescentes da calçada do século 18 e a demolição de intervenções da década de 1960.
O pavimento superior conserva até hoje paredes de taipa de pilão e pau-a-pique do século 18 e mantém as características ambientais das intervenções do século 19, como forros apainelados, pinturas murais e artísticas e pisos assoalhados, entre outras. Trechos de diversas paredes foram deixados aparentes, com o intuito de informar sobre as antigas e as novas técnicas construtivas encontradas no Solar, como a taipa de pilão, o pau-a-pique, a taipa francesa e a alvenaria de tijolos. Quanto ao tratamento dado à fachada, optou-se por conservar sua feição neoclássica, já incorporada à paisagem do centro.
O Solar da Marquesa de Santos abriga atividades museológicas e a sede do Museu da Cidade de São Paulo.
A festa do dia das bruxas ou Halloween faz a alegria da criançada, cujos adultos, entre uma gostosura ou uma travessura, normalmente optam por oferecer aos pequenos “fantasmas”, “duendes” e seres “assustadores”, as gostosuras. E dá-lhe balas, chicletes, biscoitos, chocolate…
Muitos atribuem a comemoração, aqui no Brasil, à influência da cultura norte-americana, mas as origens das celebrações baseiam-se na sobreposição de diversas culturas, com a presença de festividades e rituais de diversos povos que aconteciam no mesmo período.
Uma das origens do Halloween é o festival celta Samhain, que marcava o fim do período de colheita, e era seguido do festival do Dia dos Mortos, quando, supostamente, aqueles que se foram poderiam circular no mundo dos vivos.
A cultura celta contempla diversos povos que viviam na Europa e tinham cultos em comum. Com a conquista pelos romanos e a cristianização desses povos, muitos desses cultos começaram a ser modificados. “Os festivais celtas estavam relacionados à fertilidade, tanto da terra e dos animais quanto das pessoas, o que, para os cristãos, era considerado bárbaro.
Os povos cristãos, então, passaram a celebrar seus mortos no dia 2 de novembro e, no dia em que os celtas celebravam o Dia dos Mortos (1º), instituíram o Dia de Todos os Santos. Para a visão cristã, a ideia de que as almas pudessem circular no mundo dos vivos era extremamente pagã e por isso, os cristãos distanciaram-se da celebração celta: o Halloween (all hallows’ eve).
Se por um lado o 31 de outubro tem a origem no sentido do Samhain; por outro a influência do cristianismo fez a data se converter na festa infantil das “gostosuras ou travessuras”, tão comum nos Estados Unidos.
Do norte da América aqui para o lado de baixo do Equador, a comemoração foi sendo difundida em filmes,séries e pelo “american way of life”, ou seja, cada vez mais a classe média e rica, que tinha acesso às influências culturais dos Estados Unidos foi incorporando em suas comunidades e escolas, a comemoração do Halloween.
O Saci contra-ataca
Mas, se na cultura brasileira não temos referências de grandes bruxas… nosso folclore é rico em entidades sobrenaturais, ligadas, principalmente à proteção das matas e florestas, influência ancestral dos indígenas e de uma sociedade brasileira predominantemente rural até a década de 70/80 do Século passado.
A partir da perspectiva de que não há ligações entre a celebração do Halloween e a cultura brasileira, a então deputada Angela Guadagnin apresentou, em 2003 o projeto de Lei 2.479-A, para que, no dia 31 de outubro, fosse celebrado no Brasil o Dia do Saci. Em 2004, a data foi oficializada no Estado de São Paulo e, em 2010, no país.
Vale lembrar que a data propõe a valorização dos elementos culturais ligados à formação do brasileiro, mas convenhamos, “competir” com o Halloween não é fácil.
Ainda se considerarmos que, no Brasil, o dia do Folclore é comemorado em 22 de agosto.
Aliás, neste post a gente abordou um pouco das lendas urbanas da capital paulista, que constroem parte do folclore sobrenatural de São Paulo.
Mas o Dia do Saci, oportunidade de resgatar esses valores de nossa cultura tradicional, é levado a sério em muitas localidades.
Em São Luiz do Paraitinga, no interior de São Paulo, essa data é comemorada com festa, por pessoas que querem resgatar e valorizar o folclore brasileiro. Segundo Eduardo Coelho, de 54 anos, que se declara um “Saciólogo” (um estudioso e especialista em sacis), o movimento não é uma oposição ao Halloween e sim uma valorização do folclore brasileiro.
Para o Saciólogo, existe explicação para o Saci ser o personagem selecionado como protagonista, dentre tantos outros personagens da mitologia brasileira.
“O Saci é popular no Brasil inteiro, de norte a sul, todos conhecem. Pra gente se tornou o grande ícone, ele puxa a fila de toda mitologia brasileira, foi escolhido também por seu um grande representante da cultura brasileira”.
Eduardo faz uma análise interessante da figura do Saci: “o gorro vermelho do Papai Noel representa os Europeus; a aparência representa nossa descendência afro; já as traquinagens como danças e por ser o guardião das matas, representa os indígenas”, arrisca.
O fato é que o Brasil, de norte a sul, é rico em seres mitológicos, cada qual com suas características fantásticas. Bora conhecer alguns deles:
O folclore paulistano
Repercussão da ocupação europeia na costa e depois interior paulista, quase majoritariamente, dos portugueses (já que franceses se estabeleceram no rio e holandeses no nordeste), os mitos europeus e indígenas, retocados pela emoção africana, tiveram uma área de irradiação que foi além das fronteiras do estado.
O folclore paulistano repete seu padrão em Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso e Goiás. Os mitos são idênticos sem vestígios de fronteiras entre eles.
São mitos paulistas irradiados para outros estados como o Lobisomem, o Caipora, o Saci, o Cavalo-sem-Cabeça, a Mãe d’Água,… Outros secundários que são adaptações regionais, são; Mãe-de-Ouro, a Pisadeira, o Canhimbora, o Lobo-do-Mato, a Arma-do-Padre-Aranha, a Mãozinha-Preta….
Conheça algumas entidades de nosso folclore nacional
A Cabra Cabriola, era uma espécie de Cabra, meio bicho, meio monstro.
Em Pernambuco, o mito é do fim do século XIX e início do século XX. Esse mito ocorre também em outros estados do Nordeste, a exemplo de Alagoas, Sergipe e Bahia.
Era um Bicho que soltava fogo e fumaça pelos olhos, nariz e boca. Atacava quem andava pelas ruas desertas nas noites de sexta. Mas, o pior era que a Cabriola entrava nas casas pelo telhado ou porta, à procura de crianças malcriadas e travessas
O Mapinguari é o mais popular dos monstros da Amazônia. Seu domínio estende-se pelo Pará, Amazonas, Acre, vivificado pelo medo de uma população meio nômade que mora nas matas, subindo os rios, acampando nas margens desertas dos grandes lagos e lagoas sem nome.
Caçadores e trabalhadores de todos os ofícios citam o Mapinguari como um verdadeiro demônio do Mal. É um matador por natureza.
Por isso mesmo, Mata sempre, com singular precisão, infalivelmente, obstinadamente, quem encontra pela frente. Mata para comer.
Descrevem-no como um homem agigantado, negro pelos, cabelos longos que recobrem seu corpo como um manto, de mãos compridas, unhas em garra e fome insaciável…
A Cuca é um ente velho, muito feio, desgrenhado, que aparece no meio da noite para levar consigo crianças inquietas, as tagarelas, aquelas que não além de não dormirem não param de falar.
Para muitos, a Cuca é apenas uma ameaça de perigo sem forma. Amedronta pela deformidade que possa ter. Mas, de verdade, ninguém sabe ao certo que aparência tem essa fantástica criatura.
É um fantasma noturno. Figura em todo Brasil nas cantigas de ninar. É uma aparição que não está localizada em nenhuma região específica, mas em toda parte.
Atua em todos os lugares. Conduz a criança num saco e some imediatamente depois de fazer a presa, sem deixar vestígios de sua passagem.
O Curupira, em sua descrição mais comum, é um anão de cabelos vermelhos, com pelo e dentes verdes ou azuis. Como protetor das Árvores e dos Animais, costuma punir os agressores da natureza e o caçador que mate por prazer.
Seus pés voltados para trás, serve para despistar os caçadores, deixando-os sempre a seguir rastros falsos. Quem o vê, perde totalmente o rumo, e não sabe mais achar o caminho de volta.
É impossível capturá-lo. Para atrair suas vítimas, ele, às vezes, chama as pessoas com gritos que imitam a voz humana. É também chamado de Pai ou Mãe-do-Mato, Curupira e Caapora.
Para os Índios Guaranis ele é o Demônio da Floresta. Às vezes é visto montando um Porco do Mato.
O Boitatá era uma espécie de cobra e foi o único sobrevivente de um grande dilúvio que cobriu a terra. Para escapar ele entrou num buraco e lá ficou no escuro, assim, seus olhos cresceram.
Desde então anda pelos campos em busca de restos de animais mortos. No sul do Brasil se diz que ele come apenas os olhos dos animais capturados ou já mortos, e tantos olhos devora, que fica cheio da luz, mais parecendo uma bola de chamas, um clarão vivo. Se transforma numa espécie de cobra de fogo que serpenteia dentro da escuridão. Com essa forma, algumas vezes, persegue os viajantes noturnos ou caçadores mais distraídos.
No Nordeste do Brasil é chamado de “Alma dos Compadres e das Comadres”. Para os índios ele é “Mbaê-Tata”, ou Coisa de Fogo, e mora no fundo dos rios.
O Boitatá é o Fogo-fátuo ou Fogo-de-Santelmo, luz cintilante, intermitente, que aparece e desaparece sem prévio aviso, produto que surge do processo de decomposição dos fosfatos de hidrogênio dos corpos de animais mortos.
Dizem que o viajante, quando o encontrar, deve ficar parado, imóvel e de olhos fechados, sem respirar, e então, o fogo-fátuo desaparece. Mas, quando o viajante teima em persegui-lo, ele foge, intangível, e tanto mais corre quanto mais se procura apanhá-lo.
E quando, ao contrário, o homem foge, O Boitatá persegue-o, atormentando-o, deixando ele desorientado, enlouquecido, até que finalmente o mata.
A Lenda do Boto Cor-de-Rosa, ou simplesmente a Lenda do Boto, é uma lenda de origem indígena que faz parte do folclore brasileiro. Ela surge na região amazônica, no Norte do País.
Reza a lenda que o boto-cor-de-rosa, animal inteligente e semelhante ao golfinho que vive nas águas amazônicas, se transforma num jovem belo e elegante nas noites de lua cheia.
Normalmente ele aparece nas festividades de junho, nas comemorações dos santos populares (Santo Antônio, São João e São Pedro), durante as festas juninas.
Vem vestido de branco e com um grande chapéu a fim de esconder o buraquinho que ele tem no alto da cabeça para respirar e para esconder o nariz pontudo, que se mantém após a sua transformação.
Dono de um estilo comunicativo, galã e conquistador, o boto escolhe a moça solteira mais bonita da festa e a leva para o fundo do rio. Lá a engravida e depois a abandona.
Na manhã seguinte ele se transforma em boto novamente. Por esse motivo, a Lenda do Boto é utilizada muitas vezes para justificar uma gravidez fora do casamento.
Helloween ou folclore nacional, o legal é curtir a data sabendo que, por trás de uma festividade aparentemente comercial, há todo um universo cultural, rico, vasto e detalhado que remetem às origens dos povos, sejam eles o europeu ou o brasileiro.
O jornal O Estado de São Paulo repercute o dia histórico do culto ecumênico pela morte de Vladimir Herzog.
Há 48 anos, em uma sexta-feira, 24 de outubro de 1975. Militares do Exército entram na sede da TV Cultura de São Paulo para intimar um jornalista a comparecer às dependências da instituição (Exército) para prestar depoimentos.
O jornalista Vladimir Herzog
O então diretor de jornalismo da emissora, Vladimir Herzog, combina de, no dia seguinte, 25 de outubro, ir até a sede do Departamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna, mais conhecido como Doi-Codi, para prestar o depoimento sobre as ligações que ele mantinha com o Partido Comunista Brasileiro.
Sábado, 25 de outubro de 1975. Herzog se dirige espontaneamente à rua Tutóia, 921, na Vila Mariana, sede do Doi-Codi, possivelmente imaginando que, cumprida a burocracia, regressaria aos seus afazeres. Não regressou. O depoimento tornou-se uma sessão de tortura, durante a qual Vlado, como era também conhecido, foi brutalmente assassinado.
Dado a figura pública de Herzog, os militares logo se apressaram a divulgar a versão de que Herzog havia se suicidado, nas dependências do Doi-Codi. Detalhe. Teria se enforcado, com o próprio cinto que ele teria amarrado a uma janela menor do que sua própria altura.
Uma imagem da suposta cena do suicídio fora amplamente divulgada e mostrava Herzog ajoelhado, enforcado.
A repercussão do crime
Lógico que a sociedade não engoliu a história, mas vivíamos os tempos da ditadura militar. Qualquer manifestação individual ou mesmo coletiva contrária aos mandatários, representava um risco. Mas, felizmente, três líderes religiosos foram protagonistas daquele momento de resistência, assumindo um protagonismo que aumentou a pressão da sociedade sobre o regime.
Vladimir Herzog era judeu e segundo a tradição judaica suicidas não podem ser sepultados juntos de pessoas que morreram de causas naturais ou foram assassinados. O Rabino Henry Sobel, que conduziu a cerimônia de sepultamento de Herzog, fez o sepultamento na área não reservada aos suicidas. Uma atitude que dizia de maneira inequívoca: “Vladimir Herzog foi assassinado”.
A união de Dom Paulo Evaristo Arns, Henry Sobel e Jaime Wright marcou um dos momentos mais importantes da história brasileira.
Diante da repercussão do caso, o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Paulo Evaristo Arns, oferece a Catedral da Sé, para um ato ecumênico em memória do jornalista, o que é aceito por Sobel. Junta-se aos representantes da Igreja Católica e da Confederação Israelita Paulista, o reverendo Jaime Nelson Wright, pastor presbiteriano, voz ativa contra a ditadura.
A despeito das ameaças sofridas, os três decidem levar adiante a manifestação, marcada para o dia 31 de outubro de 1975.
Naquela manhã as principais avenidas da cidade foram tomadas por forças do Exército, que dificultavam a passagem de veículos e mesmo pessoas em direção ao centro da cidade.
A estratégia das pessoas era chegar à Catedral da Sé em pequenos grupos, evitando manifestações no percurso, que pudessem servir de pretexto para uma ação dos militares.
Apesar das ameaças dos militares 8.000 pessoas estiveram no culto, na Catedral da Sé.
Foi assim que cerca de 8.000 pessoas, aos poucos, desafiando a ditadura, foram chegando à Praça da Sé.
Dom Paulo Evaristo Arns, declarou em entrevistas, posteriores, que 500 policiais estavam nas proximidades da Catedral e que um de seus temores era justamente o estopim de um movimento de repressão aos manifestantes.
A despeito da possibilidade de uma repressão, o ato transcorreu sem incidentes.
A celebração ecumênica em torno da morte de Herzog é considerada uma das primeiras e certamente a maior manifestação em massa contra a ditadura, desde que fora instaurada, a partir do golpe de 1964.
Já no mesmo dia 31 de outubro, data da celebração, o Comando do Segundo Exército emite ordens para que sejam determinadas as circunstancias do suicídio de Vladimir Herzog. No dia seguinte, foi aberto um Inquérito Policial Militar, que durou até março de 1976, concluindo que “nenhum delito havia ocorrido por parte do DOI-CODI”. A investigação é arquivada apesar do fato de que o médico que supostamente havia realizado a autópsia de Herzog testemunhou nunca ter visto o corpo do jornalista.
A partir da celebração na Praça da Sé, o regime passou a ser mais fortemente questionado, e a pressão da sociedade foi desencadeando os grandes movimentos que culminaram no “Diretas Já”.
No ano de 2012, o Brasil instituiu a CNV – Comissão Nacional da Verdade, em 18 de maio, que foi criada para apurar graves violações de Direitos Humanos ocorridas durante o período da Ditadura Militar, Clarice Herzog, viúva Vladimir, solicita junto a comissão, a retificação de seu atestado de óbito, que alegava, como causa da morte, “enforcamento por asfixia mecânica”.
37 anos após a sua morte, no dia 15 de março de 2013, a família do jornalista, recebe finalmente o novo atestado de óbito no Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP) que traz a verdadeira causa da morte “lesões e maus-tratos sofridos durante o interrogatório nas dependências do segundo Exército DOI-Codi”.
A antiga sede do Doi-Codi, na rua Tutoia, foi tombada pelo Condephaat, em 2014.
Em 2009 foi fundado o Instituto Vladimir Herzog (IVH) que tem como missão a defesa irrestrita da democracia, dos direitos humanos e da liberdade de expressão.
A covardia do assassinato na Vila Mariana e a coragem do ato realizado na Praça da Sé há exatos 48 anos, foram determinantes para o início da queda de um regime ditatorial e a construção do país democrático que é o Brasil hoje.
Imagem de São Francisco, no interior da igreja no centro de SP.
Recentemente, em comemoração ao Dia Mundial dos Animais, falamos aqui no Blog sobre o fato de São Paulo ter sido pioneiro no Brasil em criar uma ONG de proteção aos nossos amigos peludinhos (quem quiser pode ler o texto aqui).
Mas o fato é que a data de 4 de outubro é considerada o Dia Mundial dos Animais por ter sido o dia do sepultamento do santo, falecido em 3 de outubro de 1226 e para os adeptos do catolicismo, a representação maior da proteção e amor aos animais é simbolizada pela figura de São Francisco.
O italiano, nascido na cidade de Assis, entre 1181 e 1182 (não se sabe a data exata), e sua infância e juventude em nada se diferenciava de um filho de família abastada da Idade Média, até que, por volta dos 25 anos de idade, teria ouvido uma voz divina que o conclamava a uma vida dedicada aos necessitados.
Progressivamente, deixou a vida de luxo que levava e se tornou um missionário, renunciando a sua própria herança e passando a se dedicar a cuidar dos pobres e necessitados. Francisco era conhecido, igualmente, pela devoção que dedicava aos animais e à natureza.
Por volta de 1209, funda a Ordem Franciscana, que prescrevia uma pobreza absoluta para os monges e para a Ordem, em imitação literal da vida de Jesus Cristo e seus apóstolos conforme narrada nos Evangelhos, que não possuíam nada pessoalmente nem em comum.
São Francisco de Assis tinha uma relação muito especial com os animais. Ele acreditava que todos os seres vivos, incluindo os animais, são criaturas de Deus e devem ser respeitados. Ele pregava que os animais são nossos irmãos e irmãs, e que devemos cuidar deles com amor e compaixão.
Francisco era frequentemente visto conversando com os animais, e acreditava que eles podiam entender o que ele dizia. Ele também costumava dar comida e água aos animais, e até mesmo pregava para eles.
Ficou famosa a história do lobo de Gubbio. Um lobo feroz que estava aterrorizando a cidade de Gubbio, na Itália. Conta-se que Francisco fez uma pregação para o lobo e que após o fato, ele nunca mais incomodou os moradores da cidade.
A ordem de São Francisco em São Paulo
Quase despercibida por quem passa de carro próximo à Faculdade de Direito, a igreja é uma das mais antigas da capital e próxima da Casa da Boia.
No ano de 1640 sete franciscanos chegaram a São Paulo junto com uma caravana missionária. Eles se instalaram em uma casa onde atualmente está localizada a Praça do Patriarca, no Centro Histórico de São Paulo.
Em 1642 a Câmara Municipal de São Paulo doou aos franciscanos um terreno, onde hoje está o Largo São Francisco, a poucos metros da Casa da Boia, seguindo pela rua São Bento.
Consta na documentação da Secretaria de Estado da Cultura, que a Igreja de São Francisco já estava pronta no ano de 1643. O Convento de São Francisco e São Domingos, no entanto, foi inaugurado apenas quatro anos depois.
Entre os anos de 1828 e 1858, a igreja foi administrada pela Ordem Terceira de São Francisco. Em 1858, o prédio foi tomado pela Irmandade de São Benedito e os franciscanos só recuperariam a igreja em 1908.
A Igreja de São Francisco pertencia ao triângulo central dos principais estabelecimentos religiosos de São Paulo, do qual faziam parte, além de São Francisco, as igrejas do Carmo e de São Bento.
O Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do estado de São Paulo solicitou o tombamento da Igreja de São Francisco em 4 de agosto de 1971.
O processo de tombamento da igreja foi finalizado em 19 de abril de 1982, quando o então secretário extraordinário da cultura do estado de São Paulo, Antônio Henrique da Cunha Bueno, publicou uma resolução oficializando o processo.
Após incêndio e a reconstrução do templo no Séc. XIX, a imagem de São Francisco é uma das poucas peças originais da igreja.
A igreja original era construída em taipa de pilão, pedra-ferro nos arcos internos e externos, telhas capa e canal e paredes em alvenaria de tijolos. A igreja foi reformada em 1744, ano em que as características externas atuais, que fazem parte do estilo barroco, tomaram forma. Antes disso, a igreja tinha características jesuíticas, que eram consideradas padrão para as igrejas da província.
Em 1880, o edifício foi reconstruído devido a um incêndio, que provocou sua destruição quase completa. Da igreja original sobraram as paredes e a imagem de São Francisco de Assis, que permanece na igreja até os dias de hoje.
Duas comemorações importantes para os brasileiros acontecem em 12 de outubro. O dia da Padroeira do Brasil e o Dia das Crianças. E essas comemorações não acontecem na mesma data por acaso.
A imagem original de Nossa Senhora Aparecida não tem o manto azul com a qual é largamente conhecida.
Comecemos pela história da padroeira do Brasil, e vamos retroceder para 1717.
Conta a história que foi em outubro de 1717 que Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso estavam pescando no Rio Paraíba do Sul, em seu trecho paulista, quando encontraram às margens do rio uma imagem de uma santa.
Seria uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, feita de terracota, com 36 centímetros de altura e 2,5 quilos.
Ela chegou aos pescadores em dois pedaços: primeiro o corpo e, em seguida, a cabeça. Como ela foi “aparecida”, o nome encaixou perfeitamente e o episódio foi considerado um milagre.
A principal teoria a respeito da santa é que ela tenha sido jogada na água por alguma pessoa que queria se livrar da imagem, que estava quebrada. Muitas pessoas têm a crença de que uma representação de santo quebrada pode trazer má sorte.
O primeiro milagre dela teria acontecido no mesmo dia em que foi achada pelos pescadores. Os trabalhadores tinham sido encarregados de conseguir peixe para o banquete que a Vila de Santo Antônio de Guaratinguetá iria oferecer a Dom Pedro de Almeida e Portugal, o Conde de Assumar.
Ele era governador da província de São Paulo e Minas Gerais e estava visitando a região entre 17 e 30 de outubro de 1717. Porém, eles não estavam tendo um dia produtivo e os peixes não apareciam em suas redes. Até que eles acabaram pegando a imagem da santa.
Depois que eles a encontraram, a pescaria foi um sucesso. Foi ali mesmo e dessa forma que a santa teria realizado seu primeiro milagre.
A estátua ficou originalmente alojada na casa de Felipe Pedroso, um dos pescadores que a encontrou. Este se tornou um local popular para os visitantes que desejavam orar pela estátua, levando a família de Pedroso a construir uma pequena capela para abrigar a estátua.
Curiosidades e teorias
A visão mais conhecida da imagem de Nossa Senhora Aparecida é coberta com o manto azul e a coroa dourada.
A imagem de Nossa Senhora Aparecida, de certa forma, ainda traz alguns mistérios, dúvidas e teorias.
Primeiramente, pesquisadores acreditam que a cor verdadeira da imagem não era negra, mas que ficar anos submersa na água fez com que ela ficasse escura. Entretanto, em um país com metade da população negra, muitas pessoas se viram representadas pela imagem e isso fez com que o carinho dos brasileiros fosse ainda maior pela santa.
Relatos históricos dizem que a imagem foi encontrada no rio na segunda quinzena de outubro de 1717. Então, ela não poderia ter sido achada no dia 12, data em que é comemorado o feriado.
Porém, o dia teria sido escolhido para representá-la por ter outros significados simbólicos. Foi em 12 de outubro de 1492, por exemplo, que Cristóvão Colombo chegou ao continente americano e, no mesmo dia, em 1822, Dom Pedro I se tornou imperador do Brasil.
A história da Basílica de Aparecida
A chamada Basílica antiga, do Séc. XIX, precedeu o templo atual, que começou a ser construída na década de 1950.
Após a imagem ter sido levada à casa do pescador Felipe Pedroso, que, como dissemos, construiu uma pequena capela para obrigá-la, a fama da santa começou a atrair cada vez mais devotos ao local. A pequena capela foi substituída em 1734, por uma capela maior e, em 1834, pela primeira basílica do local.
Em 1955, com o número de peregrinações ainda crescendo, começaram as obras do prédio atual, em um local próximo.
O templo católico tem espaço para mais de 30.000 pessoas. Só é menor do que a Basílica de São Pedro, em Roma.
A basílica de Aparecida recebeu por três vezes a Rosa de Ouro, uma das mais antigas e nobres condecorações papais:
A primeira, pelo Papa Paulo VI, em 1967, por ocasião do jubileu de 250 anos do aparecimento da imagem da Nossa Senhora da Conceição Aparecida, sendo a entrega feita a 15 de agosto daquele ano.
A segunda, foi abençoada pelo Papa Bento XVI, em 18 de março de 2007, por ocasião de sua visita ao Brasil.
A terceira foi dada pelo Papa Francisco, em 09 de outubro de 2017, pelo jubileu de 300 anos da aparição da imagem.
O 12 de outubro religioso
A Basílica de Aparecida comporta até 30.000 pessoas em seu interior.
“Nossa Senhora é Maria, mãe de Jesus. Aparecida é o título. E a gente tem que lembrar que, no Brasil da colonização, Nossa Senhora da Conceição foi promulgada padroeira de Portugal e de todo domínio português. Ou seja, está presente em nossa história desde a colonização”, explica o padre e professor da PUC -SP, Felipe Cosme Damião Sobrinho
12 de outubro foi uma convenção de data. Nossa Senhora é padroeira do Brasil desde 1930. É importante lembrar que, no calendário antigo, a maternidade divina de Maria era celebrada em 11 de outubro no calendário romano. Além disso, temos a coincidência com a data da conquista da América, em 12 de outubro de 1492. Anteriormente, a festa de Nossa Senhora Aparecida era comemorada em 7 de setembro”, explica Sobrinho.
Oficialmente, o dia 12 de outubro foi designado como feriado no Brasil a partir de 1980, por meio da promulgação da lei 6.802 pelo presidente João Figueiredo, em 30 de junho daquele ano.
E o 12 de outubro das crianças
A Johnson ajudou a popularizar o Dia da Criança ao promover o concurso “Bebê Johnson”, cuja premiação acontecia em 12 de outubro.
Você sabia que o Brasil é o único país que comemora o Dia das Crianças em 12 de outubro?
Pois é, a data não é uma comemoração mundial. Na verdade, desde 1925, muitos países celebram no dia 1º de junho o Dia Internacional da Criança. Já a ONU definiu, em 1959, o 20 de novembro como o Dia Mundial da Criança, com a adoção da Declaração Universal dos Direitos da Criança.
A razão do Brasil ter adotado o 12 de outubro remonta ao Terceiro Congresso Americano da Criança, realizado em concomitância com o Primeiro Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, realizado no ano de 1923, que reuniu aproximadamente 2.700 pessoas de 16 países.
Este congresso também aconteceu durante as comemorações do centenário da Independência do Brasil.
Assim como as Exposições Universais, bastante tematizadas na historiografia, os congressos, realizados em profusão entre finais do século XIX e início do XX, tornaram-se espaços especialmente estratégicos para as Nações modernas propagandearem sua adesão aos avanços científicos e tecnológicos através da exemplaridade e da espetacularização.
No caso dos Congressos da Criança, era a oportunidade que encontravam os envolvidos com a temática da infância em suas diversas faces (pediatras, professores, juristas, políticos, filantropos) para colocar luzes sobre a importância estratégica da infância em um projeto com pretensão de progresso e modernidade.
Em face da realização do congresso, o então presidente brasileiro, Arthur Bernardes instituiu o Dia das Crianças em 12 de outubro de 1924, por meio do decreto nº 4.867, de 5 de novembro de 1924 e a primeira comemoração foi em 1925.
A fabricante brasileira de brinquedos Estrela popularizou, também, o 12 de outubro, visando a venda de seus produtos.
Em 1940, o presidente Getúlio Vargas mudou a comemoração para 25 de março (dia da promulgação da primeira constituição brasileira).
Mas, a partir de 1955, a marca de brinquedos Estrela iniciou a campanha intitulada “Semana do Bebê Robusto”. A ação consistia em usar o Dia da Criança para alavancar a venda de brinquedos. Dez anos depois, em 1965, foi a vez da empresa Johnson & Johnson dedicar-se ao mesmo tipo de projeto, com a campanha “Bebê Johnson 65”.
A partir de então, o Dia da Criança, criado no Brasil em 1924, passou a ser disseminado em todo o país.
No dia 4 de outubro comemora-se o Dia Mundial dos Animais. Embora já fosse comemorado desde 1925, na Alemanha, por iniciativa do cinologista Heinrich Zimmermann, a data ganhou maior proporção a partir de 1978, quando a UNESCO publicou a Declaração Universal dos Direitos dos Animais. Este documento estabelece que os animais são seres sencientes e que os seres humanos têm o dever de protegê-los e respeitá-los.
A data é referência ao sepultamento de São Francisco de Assis, em 4 de outubro de 1.226. O santo católico que, rico de nascença, abriu mão de seus bens para se dedicar aos pobres era também conhecido por ser um protetor dos aniamais.
A convivência humana com os animais remonta à pré-história, quando, então, o homem nômade tinha no animal, tanto um predador, quanto uma presa. O processo de domesticação teve início desde a pré-história, quando a proximidade entre homens e animais era relatada nas pinturas de cavernas.
A arte de domesticar animais se iniciou na cultura humana quando os homens começaram a viver em determinadas regiões e passaram a usar a criação de animais para auxiliar na produção de alimentos, para transporte de pessoas ou cargas e até mesmo para cuidados com os terrenos. Este processo fez com que os animais não só se aproximassem dos homens como também se tornassem mais dependentes deles.
Em nossa sociedade moderna os animais continuam sendo fundamentais para a sobrevivência da raça humana. Bois, vacas, galinhas, frangos, porcos e outros são fontes de alimento para nós. Várias espécies são usadas como cobaias em testes dos mais variados produtos, de medicamentos e cosméticos. Animais podem ser vetores de transmissão de doenças, como ratos e pombos ou podem ser os nossos melhores amigos, como cães e gatos.
Muitas civilizações antigas viam os animais como seres divinos ou mitológicos, sendo frequentemente associados a divindades ou forças naturais, e eram vistos como símbolos de poder, sabedoria ou fertilidade.
O gato, para os egípcios, era associado à deusa Bastet. A cobra era associada ao deus Apep, e o falcão era associado ao deus Horus.
Para os gregos o leão era associado ao deus Zeus, o cavalo era associado à deusa Atena, e o elefante era à deusa Ísis.
Já para os chineses, a representação do dragão (que convenhamos é um animal que não existe) é considerado um símbolo de poder e sorte. O tigre é um símbolo de força e ferocidade, e o cão é um símbolo de fidelidade e proteção.
Astecas, Incas, Indianos, os povos originários da América do Norte, todos projetavam em algum animal a representação do desconhecido, do bom ou do mau agouro.
São Paulo criou a ONG pioneira na proteção dos animais
Primeira publicação da UIPA – Ata da Assembleia de fundação, em 1895.
No ano de 1893, um morador da capital paulista, o suiço Henri Ruegger, dispôs-se a denunciar os maus-tratos a que era submetido um cavalo, em plena área central de São Paulo, mas tomou ciência de que inexistia, no país, entidade destinada à proteção dos animais. Assim, iniciou uma mobilização junto à nata da sociedade paulistana para fundar uma entidade que defendesse os direitos dos animais.
Sua revolta chegou aos ouvidos da imprensa paulista e ao jornalista do Diário Popular, Furtado Filho, que acabou publicar um importante artigo sobre os maus tratos impostos aos animais e conclamou a sociedade paulistana a se unir na defesa dos direitos dos animais.
Pessoas visitam o abrigo da entidade, nos anos 50.
Dois anos mais tarde, liderados por Ignacio Wallace da Gama Cochrane, um grupo de damas e cavalheiros da sociedade paulistana uniram-se para a criação daquela que hoje é a mais antiga associação civil do Brasil: A União Internacional Protetora dos Animais,
Assim, em 30 de maio de 1895, constituiu-se a primeira Diretoria da UIPA, cujo presidente era Ignácio Wallace da Gama Cochrane, descendente de nobres ingleses, Superintendente das Obras Públicas de São Paulo, Senador da República, fundador do Instituto Pasteur e da Companhia Telefônica de São Paulo.
Antes da Lei 390, de 1899, caes e gatos de rua eram sumariamente envenenados pelos agentes da prefeitura.
O início de funcionamento da instituição começou a causar muito impacto na defesa dos animais em São Paulo. Ainda no século 19 a UIPA conseguiu uma importante vitória de defesa animal junto à prefeitura que foi a criação de depósitos para animais apreendidos (não se falava abrigo ainda) e também a decisão de passar a enviar os “cães vagabundos”, como eram chamados os cães de rua, para os novos depósitos que seriam geridos pela entidade, ao invés dos animais serem mortos envenenados.
Para se ter uma ideia da crueldade oficial vigente na época, cães de rua sequer eram levados para algum tipo de centro de zoonoses. Eles eram mortos por veneno no próprio local onde eram encontrados pelos agentes públicos. Isso só mudou com a ação da UIPA.
Pouco mais de dez anos após sua criação, nas proximidade de 1910, a UIPA já havia se estabelecido como o braço sólido de apoio ao poder público e a população na defesa animal. As touradas da Praça da República, que fizeram muito sucesso entre 1900 e 1908, foram deixando de existir muito pela pressão desta associação, que tinha em seus quadros nomes de peso, como seu próprio fundador Ignacio Wallace da Gama Cochrane (bisavô de Eduardo Matarazzo Suplicy), Antônio Prado, Affonso Vidal, Alcântara Machado e René Thiollier.
No período em que Thiollier foi presidente da UIPA a associação cresceu e ampliou suas ações junto à proteção animal. Foi neste período em que a entidade lançou a publicação “Zoophilo Paulista” inspirada na revista portuguesa “Zoophilo”. A revista foi a primeira dedicada a falar de animais mas teve curta duração, sendo raríssimos os exemplares sobreviventes.
Entidade ocupava áreas que viriam a ser o Ibirapuera
Área do canil da UIPA é hoje parte do Parque Ibirapuera.
Nesta mesma época foram dados os passos para a construção da nova sede da entidade, no número 400 da rua França Pinto, Vila Mariana, onde além de receber denúncias contra os maus tratos a animais passaria a ter o primeiro hospital veterinário de São Paulo e também um cemitério de animais.
Este número ficava onde hoje é o Parque do Ibirapuera, entre os portões 4 e 5. Ou seja, parte do parque era da UIPA.
Eles foram um dos pioneiros da região, estabelecendo ali inicialmente os abrigos de animais, para cães e gatos, além de estábulos e também abrigos para outros animais. Logo se tornaram uma referência na região, especialmente com o hospital veterinário cujo primoroso atendimento levava pessoas de todos os cantos da cidade com seus animais de estimação. Mesmo com a inauguração do Parque do Ibiraquera em 1955 a UIPA foi mantida no local, a proposta da entidade em uma área relativamente pequena do parque ia de encontro ao projeto de uma área de natureza.
Tão logo a UIPA estabeleceu-se na Vila Mariana, a entidade tratou de arrecadar fundos para tornar realidade a criação do primeiro hospital veterinário de São Paulo, décadas antes do poder público pensar em algo do gênero (o primeiro hospital veterinário público só chegou há alguns anos atrás). Para tanto eram feitos bailes de gala e campanhas arrecadatórias, com seus resultados divulgados nos jornais paulistanos, com o intuito de estimular outras pessoas a doarem ou se associarem à instituição.
Outro hábito da UIPA era divulgar mensalmente nos jornais de São Paulo as atividades da entidade em relação a seu campo de atuação, com os animais recolhidos, multas aplicadas, etc..
Pessoas aguardam atendimento no então único hospital veterinário publico da capital.
Já o hospital veterinário tornou-se uma realidade no ano de 1929. No local antes até funcionavam atendimentos mas era muito mais simples. A enfermaria geral do então Hospital Zoophilo de São Paulo foi inaugurado no dia 15 de novembro daquele ano.
A unidade foi chamada de Pavilhão Dr. Marcello Thiollier e vinha completar as demais instalações da UIPA que correspondiam a administração, área de isolamento, asilo e o cemitério. O total da área toda da UIPA com o novo hospital atingia 13.200 metros quadrados.
Mas a atuação da UIPA na Vila Mariana começaria a mudar na década de 70 na gestão do então prefeito Figueiredo Ferraz que fez tudo que estava a seu alcance para remover a UIPA de sua área original. A ideia do então prefeito era levar a associação para o mais longe possível, sendo oferecido e recusado um terreno em São Miguel Paulista.
O prefeito acabou acertando a mudança para um local mais próximo, no bairro do Pari em plena Marginal Tietê (ao lado do Estádio do Canindé) onde a entidade está até os dias atuais.
No terreno da UIPA na Vila mariana foi construído o primeiro cemitério para animais da capital. Ele seria desocupado em 1972 e sua área incorporada ao Parque do Ibirapuera.
Dos anos 1970 para cá o cenário da proteção animal mudou bastante. Novas instituições surgiram pelo país para aumentar ainda mais a defesa dos bichos, novas leis foram escritas e novas punições foram criadas. Mesmo com todas estas novidades, a mais antiga instituição brasileira ligada à defesa animal sobreviveu e está até hoje atuando com muita força e garra.
Apesar de seus quase 130 anos de atuação, a UIPA, como muitas outras instituições nacionais, enfrenta muitas dificuldades para manter-se ativa e protegendo os animais, pois são financiadas quase que exclusivamente por doações e se mantêm ativas graças a muitos voluntários.
Então fica a dica. Neste post contamos a história da UIPA por seu pioneirismo em São Paulo, mas muitas entidades são igualmente atuantes e importantes na proteção dos nossos amigos. Se puder, procure conhecer e ajudar alguma delas!
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