Apostamos que você respondeu de imediato Alexander Graham Bell. Mas… a história mostra que não foi bem assim.
Em 14 de janeiro de 1876, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a resolução 269, pela qual se reconheceu que o inventor do telefone havia sido o italiano Antonio Meucci e não Bell.
O cientista italiano Antonio Meucci se mudou para os Estados Unidos em 1850. Lá se estabeleceu em Staten Island, ao lado de Nova Iorque. No ano de 1856 Meucci, movido pela necessidade, construiu um telefone eletromagnético – que denominou telettrofono – para conectar seu escritório, no andar térreo de sua casa, ao seu quarto, localizado no segundo andar, pois sua esposa sofria de reumatismo e assim os contatos seriam facilitados.
Na época em dificuldades financeiras, Meucci só conseguiu pagar uma patente provisória do invento, que ele tentou vender à empresa de telégrafos Western Union. Esta, por sua vez, não deu importância ao projeto.
Quando Meucci exigiu a devolução dos seus projetos, em 1874, alegaram que haviam sido perdidos. Dois anos mais tarde, em 1876, Alexander Graham Bell , que havia dividido um laboratório com Meucci, conseguiu obter a patente do telefone e fez um negócio lucrativo com a Western Union. Foi quando Meucci processou Bell e recebeu o reconhecimento de sua invenção pelo Congresso Norte Americano.
A Suprema Corte dos Estados Unidos acolheu o caso e iniciaram-se as acusações por fraude. Mas o inventor faleceu em 1889, e o caso foi encerrado. Assim, Graham Bell obteve a patente definitiva do telefone.
Em São Paulo, uma empresa icônica marcou época
Quase 100 anos depois do reconhecimento da invenção do telefone por Meucci, na cidade de São Paulo nascia uma empresa que ficaria marcada na memória dos paulistas que viveram nas décadas de 70, 80 e 90. A TELESP.
A Telecomunicações de São Paulo S/A (TELESP) foi a empresa operadora de telefonia do sistema Telebras no estado de São Paulo, sucessora da CTB e da COTESP, permanecendo em atividade de maio de 1973 até o processo de privatização, em julho de 1998.
É preciso lembrar que, à época da formação da TELESP e praticamente até o seu fechamento, em 1998, não havia telefonia móvel celular e que o Estado, por suas subsidiárias, como a TELESP tinha o monopólio das comunicações telefônicas.
Não pense que, como fazemos hoje, para comprar uma linha telefônica, bastava ir a uma loja da TELESP e sair com seu número. A coisa era muito, muito mais complexa.
Primeiro, porque quem queria uma linha telefônica precisava se inscrever no chamado “plano de expansão”. O interessado ia até uma agência da TELESP, consultava se a região em que ele morava tinha ou iria ter os serviços de telefonia fixa. Caso tivesse, precisava se inscrever no plano de expansão, pois a demanda era muito maior do que a procura.
Depois de meses ou mesmo anos na fila, a pessoa que fosse “contemplada” com uma linha, precisava fazer um contrato com a TELESP, iniciar os pagamentos da compra da linha e aguardar mais alguns meses ou anos para a efetiva ligação.
Todo esse processo gerava um mercado paralelo de venda de linhas telefônicas.
Segundo o Datafolha, em junho de 1994, por exemplo, o preço médio de uma linha telefônica no mercado paralelo em São Paulo ficava entre de Cr$ 9,5 milhões e Cr$ 17,1 milhões, valor suficiente para comprar um Uno Mille novo!
O curioso e que o mercado paralelo de linhas telefônicas era uma atividade ilegal, mas era amplamente tolerada pelas autoridades. Os vendedores de linhas telefônicas eram conhecidos como “corretores” e atuavam em lojas abertas nas ruas ou mesmo em anúncios classificados de jornais.
Falta de linhas exigia uma oferta pública de comunicação
Já deu para perceber que não era fácil a vida de quem queria uma linha telefônica em São Paulo. Tanto pela demora, quanto pelo custo do mercado paralelo. Já pensou em decidir se compra um carro ou um telefone?
Por essa razão a TELESP disponibilizava milhares de pontos de acesso público à telefonia. Os famosos “orelhões” eram encontrados com facilidade pelas ruas da capital, ou nos postos de atendimento da própria empresa.
Aliás, falando no orelhão, você sabia que ele é um projeto brasileiro?
Oficialmente Telefone de Uso Público (TUP), o “orelhão” é um telefone público projetado pela arquiteta e designer chinesa, naturalizada brasileira, Chu Ming Silveira. Lançado em 4 de abril de 1972.
A ideia surgiu em princípios de 1970, quando Chu Ming chefiava o Departamento de Projetos da Companhia Telefônica Brasileira. Na época, os telefones públicos eram simples cabines de madeira ou metal, sem proteção contra as intempéries. Chu Ming queria criar um telefone público que fosse mais funcional e acessível, e que pudesse ser instalado em qualquer lugar.
O projeto da arquiteta foi um sucesso. O orelhão era feito de fibra de vidro, tinha um design moderno e colorido, que se tornou um símbolo da paisagem urbana brasileira.
Em pequenas cidades do interior do Brasil, em escolas, postos de saúde, e outros locais coletivos, era comum que as pessoas soubessem o número do, geralmente, único “orelhão” do local e ligassem para ele. Quem atendia, ou anotava o recado, ou chamava a pessoa que estava sendo procurada.
A sede da TELESP na capital paulista
Quando criada, e por ser uma empresa que administraria a telefonia em todo o estado de São Paulo, era previsto que a TELESP tivesse inúmeras sedes no estado, mas a sede central da companhia foi instalada no chamado Complexo Sete de Abril, localizado na Rua Sete de Abril, 309 – República, há menos de 2 km aqui da Casa da Boia.
O Edifício sede da empresa foi inaugurado em 1939, com projeto do consagrado Escritório Técnico Ramos de Azevedo & Severo Villares, a construção é tombada desde 1992 e abrigou a história da telecomunicação nacional.
Desde sua inauguração, como sede da Companhia Telefônica Brasileira (CTB), antecessora da TELESP, até a era dos grandes grupos de telefonia, como a própria TELESP e as multinacionais Vivo e Claro.
O edifício foi esvaziado em 2010, quando teve suas operações comerciais encerradas.
Atualmente o edifício é o segundo na cidade de São Paulo a receber o alvará para realizar um retrofit dentro das normas da lei do programa Requalifica Centro.
Ele está sendo reformado para se tornar um edifício de uso misto. Residencial e comercial. Um condomínio de apartamentos com uma galeria aberta de lojas e restaurantes.
As fichas, as listas e os fuscas
Em termos de telefonia, nada é mais icônico em São Paulo, além dos orelhões, do que os “fusquinhas” amarelos, com suas escadas no teto, que faziam a manutenção da rede telefônica e dos orelhões.
Outra nostalgia da época eram as fichas telefônicas, que liberavam os orelhões para o uso.
Elas eram feitas de uma liga metálica leve, eram vendidas em cartelas em postos de atendimento da TELESP, lojas, e, principalmente, bancas de jornais.
Para usar um orelhão era necessário introduzir as fichas. Quanto mais se falava, mais fichas eram necessárias.
Não havia um paulistano, ou paulistana, que não tivesse algumas na bolsa ou bolso!
E, para consultar os números de pessoas e empresas, as famosas e grandes listas telefônicas. Livros gigantes, de letras miúdas, com a relação de nomes e números de todos os assinantes. “Obrigatórias” em estabelecimentos comerciais e nas residências que tinham telefones instalados.
Elas eram distribuídas aos assinantes, de forma que, quem não tivesse uma linha telefônica precisava pedir emprestada a lista, ou pedir o favor de consultar a lista do vizinho.
A virada dos anos 90 para os anos 2000, as agendas digitais, o surgimento dos celulares e a popularização da telefonia móvel foi tornando tudo isso obsoleto. Memórias de um tempo não tão antigo assim, da paisagem e hábitos do paulistano.
O Dia de Reis, também conhecido como Epifania do Senhor, é uma data comemorativa celebrada no dia 6 de janeiro principalmente pelos adeptos do catolicismo, pois relembra a visita dos reis magos a Jesus Cristo, doze dias após o seu nascimento.
A história bíblica conta que os reis magos, vindos do Oriente, foram guiados por uma estrela até Belém, onde encontraram Jesus. Eles o adoraram e lhe ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra.
A tradição cristã atribui à estrela que teria guiado os reis magos o nome de “Estrela de Belém”.
Cientificamente falando, cientistas e teólogos tentam identificar a Estrela de Belém. Vale lembrar que durante séculos, não era permitido aos homens, buscar explicações para os “milagres de Deus”. Então, esse assunto só foi melhor estudado muito recentemente. Várias hipóteses foram levantadas, e várias dúvidas permaneceram.
Um dos principais complicadores neste estudo é a divergência na contagem do tempo pelos povos. O calendário hebráico adotado na Judéia não era o mais preciso dos calendários e não era sincronizado com o calendário juliano, o oficial de Roma. Por isso, não está certo se Jesus teria nascido exatamente em 25 de dezembro, há 2023 anos atrás.
A explicação menos provável para o fenômeno astronômico que guiou os reis magos, é que fosse realmente o nascimento de uma nova estrela.
Isso porque esse tipo de fenômeno é algo muito raramente observado. Praticamente todas as estrelas visíveis a olho nu em nosso céu noturno estão em um raio de apenas 2 mil anos-luz da Terra e não se conhece nenhuma estrela nessas proximidades que tenha nascido há menos de 100 milhões de anos.
Entre as explicações mais aceitas para o fenômeno que levou os reis magos do oriente até Belém, está a que eles teriam observado uma explosão de supernova. Quando estrelas muito massivas chegam ao final de sua vida, elas colapsam e explodem em um evento extremamente energético e luminoso chamado de supernova.
Uma supernova pode brilhar mais intensamente que toda sua galáxia e por um bom período de tempo. Ela pode ser uma explicação muito boa para o que teria sido a Estrela de Belém.
Mas, essa hipótese não tem o registro de nenhum astrônomo da antiguidade. O fato de algo tão extraordinário como uma supernova, não estar documentado, torna a explicação menos plausível.
Então, talvez a explicação para a Estrela de Belém seja um fenômeno menos incomum: um cometa.
Em várias culturas distintas, os cometas sempre foram vistos como mensageiros de Deus, normalmente eram interpretados como maus presságios, que antecedem catástrofes, guerras ou o fim de um reinado.
Mas se assim fosse, por que Deus enviaria um cometa, sinal de mal presságio, para anunciar algo tão bom quanto o nascimento de seu filho?
Tudo é uma questão de perspectiva. A chegada de Jesus, profetizado na Bíblia como “O Rei dos Judeus”, não deixou muito feliz Herodes, o rei da Judéia naquela época. Na verdade, ele ficou um tanto contrariado, ou melhor, bem furioso mesmo. Tanto que mandou matar todas as crianças com menos de dois anos de idade.
Mas além dessa história, bem conhecida, outro ponto que corrobora com a hipótese de que a Estrela de Belém era na verdade um cometa é que os cometas costumam se tornar brilhantes ao se aproximarem do Sol. Por isso, geralmente são avistados ao leste no final da madrugada, ou ao oeste, no início da noite. Um cometa pode ter surgido no leste e guiado os magos vindos do oriente por algumas noites até desaparecer em conjunção com o Sol.
Nenhum grande cometa, como o Halley, teve passagens próximas daquela época. O mais provável, nesse caso, é que a Estrela de Belém teria sido um cometa de longo período, ou até mesmo, um cometa que já tenha se extinguido.
Por volta do ano 5 antes de Cristo, astrônomos chineses registraram a passagem de um cometa, algo realmente próximo do nascimento de Jesus, principalmente considerando as diferenças de calendário entre chineses hebreus e romanos.
Mas, de fato, são apenas hipóteses, assim como para os cristãos os escritos da Bíblia são registros dos fatos acontecidos, para os adeptos de outras religiões, a narrativa pode não corresponder à realidade de suas crenças. E assim é a diversidade religiosa.
Dia de peregrinação, música e bolo
As celebrações do Dia de Reis são conhecidas popularmente como Folia de Reis ou Reisado e estão difundidas por diferentes regiões do Brasil, que tem séculos de tradição rural, vale lembrar.
Uma das práticas mais consolidadas da celebração do Dia de Reis são as visitações que grupos musicais chamados Terno de Reis costumam fazer às residências.
Estes grupos de músicos peregrinos visitam as casas e entoam canções com letras religiosas, geralmente desejando saúde aos anfitriões. Em troca, os grupos recebem a doação de alimentos.
Esses grupos podem ser formados também por dançarinos e contam com instrumentistas, todos eles usando trajes tradicionais da festa. Os alimentos arrecadados, geralmente, são direcionados para caridade.
Outra tradição popular do Dia de Reis é o Boi de Reis, um folguedo que é praticado durante o período natalino até o dia 6 de janeiro.
Podem existir variações na forma como a festa é celebrada nas várias regiões do país, e em algumas cidades as tradições do Dia de Reis são consideradas patrimônio cultural imaterial.
Ainda para os cristãos, o Dia de Reis significa o fim das comemorações natalinas, sendo, inclusive, o dia em que a tradição manda que seja desmontada a árvore de Natal.
O cantor Tim Maia eternizou uma canção de autoria do compositor Márcio Leonardo, no ano de 1971, que tinha a festa de reis como tema principal:
A Festa do Santo Reis Márcio Leonardo – Tim Maia
Hoje é o dia de Santo Reis Anda meio esquecido Mas é o dia da festa de Santo Reis Hoje é o dia de Santo Reis Anda meio esquecido Mas é o dia da festa de Santo Reis
Eles chegam tocando Sanfona e violão Os pandeiros de fita Carregam sempre na mão
Eles vão levando Levando o que pode Se deixar com eles Eles levam até os bodes
É os bodes da gente É os bodes, mé É os bodes da gente É os bodes, mé
Hoje é o dia de Santo Reis Hoje é o dia de Santo Reis Hoje é o dia Yeah, yeah, yeah, yeah, de Santo Reis Hoje é o dia de Santo Reis É o dia da festa, yeah, yeah
Hoje é o dia de Santo Reis, de Santo Reis Hoje é o dia de Santo Reis Hoje é o dia de Santo Reis Dia da festa, yeah, yeah
Hoje é o dia de Santo Reis Hoje é o dia de Santo Reis Yeah, yeah, yeah, yeah, yeah Hoje é o dia de Santo Reis
As primeiras comemorações de Ano-Novo que se tem registro datam de 4000 anos atrás. Aconteciam na Mesopotâmia e eram a celebração do fim do inverno e início da primavera, o que acontecia entre os dias 22 e 23 de março do nosso calendário atual.
Essa celebração simbolizava o início de uma nova safra de plantação e era o momento em que as pessoas pediam por alimentos e fartura para o ano.
Para os persas, assírios, egípcios e fenícios, o novo ano era celebrado em setembro e para os gregos em dezembro.
Os romanos foram os primeiros a estabelecer uma data no calendário para essa comemoração. A princípio, o ano novo romano era comemorado em 1º de março, mas em 153 a.C, estabeleceu-se a data de 1º de janeiro.
Em 46 a.C, os romanos adotaram o calendário juliano e mantiveram essa data.
Bem mais recentemente (em termos históricos, claro), em 1582, com a adoção do calendário gregoriano (que utilizamos atualmente) pela Igreja Católica, a data de 1º de janeiro foi oficialmente estabelecida.
O calendário é baseado no movimento da Terra em torno do Sol, desse modo ajusta-se com os eventos astronômicos, como o equinócio de primavera e o solstício de inverno.
Possui os famosos 365 dias, divididos em 12 meses. Mas, na verdade a volta da Terra em torno do Sol leva 365 dias e seis horas. Para descomplicar a coisa, estabeleceu-se que estas seis horas seriam acrescidas em um dia de fevereiro a cada quatro anos. Esse dia a mais ocorre nos anos bissextos e o próximo será em 2024, quando fevereiro terá 29 dias.
A passagem para o novo ano, no entanto, ainda é celebrada em datas diferentes por alguns povos e religiões, como para os muçulmanos, por exemplo, que comemoram em maio, e os judeus, cuja passagem do ano é comemorada no final de setembro, e os chineses, cujo ano novo se inicia em fevereiro.
Como se vê a data tem muito mais um significado simbólico, de rito de passagem, do que, necessariamente, um dia unânime.
Assim como este rito de passagem tem uma data peculiar dependendo da cultura ou religião, da mesma forma são as suas comemorações, que assumem características particulares ao redor do mundo.
No Brasil, inúmeras são as tradições do Réveillon. Aliás, aqui, um pequeno parênteses…
A palavra Réveillon tem origem no verbo em francês réveiller, que significa “acordar” ou “reanimar”. Logo a palavra foi adotada com sentido de “despertar” do novo ano. No seu país de origem, essa palavra era usada para descrever uma refeição leve que era feita à noite e que impedia que as pessoas dormissem.
A partir do século XVII, o termo Réveillon passou a ser utilizado para fazer referência às festas realizadas pela nobreza francesa, que duravam a noite toda. Tempos depois, as nobrezas de outros países adotaram o mesmo nome para as suas festas e o termo se popularizou a partir de então, descrevendo este período que marca o fim de um ano e o início de outro.
Agora, voltando às tradições brasileiras de Réveillon ou Ano-Novo, uma das mais populares é a de vestir-se de branco e para os que estão nas regiões litorâneas, pular 7 ondas no mar.
Essa simpatia está ligada à Umbanda e tem como intuito homenagear Iemanjá e invocar sua proteção para o ano que começa.
Vale lembrar que a Umbanda é uma religião brasileira de ancestralidade africana, surgida em 1908. A palavra “umbanda” pertence ao vocabulário quimbundo, de Angola, e quer dizer “arte de curar”.
A figura dos Orixás aparece para os umbandistas como uma energia natural que é acessada pelos espíritos guias (as entidades) e passada por meio desses espíritos às pessoas.
Iemanjá é um destes orixás. Feminino, considerado por muitos a Rainha do Mar. Recebe diferentes nomes, como Inaê, Janaína, Isis, Maria, Mucunã, Princesa do Mar e Dandalunda.
De acordo com a tradição, Iemanjá, através de sua divindade, nos purifica e dá força para vencer os obstáculos que teremos que enfrentar no próximo ano.
Mas, por que pular exatamente sete ondas no Réveillon?
Sete é um número considerado bastante espiritual em várias crenças, além de representar Exu, filho de Iemanjá.
Portanto, quando pula as sete ondas no mar, você invoca os poderes de Iemanjá para abrir caminhos para o próximo ano.
O uso predominante das roupas brancas também tem relação com a Umbanda. O branco é a cor oficial da religião, não só por representar a paz, mas também pelo sentido que possui relacionado aos seus fundamentos. Um deles é que o branco é o resultado da união de todas as cores refletidas, sugerindo assim o que são as premissas da Umbanda: a junção de influências em uma só crença, a união de todos os orixás em um só Deus e de todas as linhas de trabalho em um só objetivo: o da caridade-amor.
As tradições de ano novo no Brasil
Embora o branco seja a vestimenta predominante no ano novo do brasileiro, existe a crença de se associar outras cores a outros “desejos”, “características” ou “benefícios”, por assim dizer:
Branco: paz, pureza e calma;
Prata: novidades, inovação e modernidade;
Dourado: riqueza, sucesso e prosperidade;
Vermelho: paixão, desejo e intensidade;
Amarelo: dinheiro, alegria e extroversão;
Laranja: energia, entusiasmo e coragem;
Rosa: amor, afeto e carinho;
Lilás e roxo: autoconhecimento, desenvolvimento espiritual e intuição;
Verde: saúde, esperança e boa sorte;
Azul: harmonia, honestidade e confiança;
Preto: independência, autoridade e tomada de decisões.
No alimento da virada, simpatias para um bom ano
Não apenas a vestimenta influencia em um novo ano próspero. A crença popular lista uma série de alimentos que devem ser consumidos na virada do ano para trazer sorte, felicidade, saúde e progresso.
Aliás, aqui, vamos começar por um que, dizem, deve ser evitado: as aves. Sim, nada de frango, galinha, peru, pato, chester… O motivo? Aves ciscam para trás, o que significa atraso de vida!
Vai saber né? Na dúvida, e se puder, evite as penadinhas e abuse de:
Peixe, que traz sorte e fertilidade.
Os peixinhos são animais com uma fertilidade bem aflorada. Cada um coloca uma infinidade de ovos. Já para os cristãos, foi o alimento que Cristo multiplicou.
Carne de porco: fartura para agradecer
Assim como o peixe que não nada para trás, o porco é visto como um animal que fuça apenas para frente. Por isso, vale consumir na ceia de ano novo. Ele simboliza o progresso e a fartura.
Lentilha: é pura fartura
Muito saborosas, receitas com lentilha também significam fartura. Assim que virar o ano, o indicado é comer uma porção de lentilhas. Seja com arroz, salada ou cozida na forma de sopa.
Dizem que o fato de ela aumentar muito de tamanho quando cozida e, ao final, se parecer com uma pequena moeda, ajuda na fartura do ano que chega.
Uva: a rainha do dinheiro.
A uva é uma fruta abundante. Ela traz dinheiro para quem a degusta na virada. Mas para a simpatia funcionar precisa que as regras sejam seguidas à risca:. assim que der meia-noite, coma 12 uvas, mas uma uva a cada batida do relógio, ou a cada novo segundo do novo ano.
Diz a tradição que cada fruta representa um mês do ano e o sabor dela vai indicar como será o mês.
Por fim, uma receita especial de ano novo
Esta receita não é exatamente para alimentar o corpo, mas talvez a esperança. Com a receita de quem entende desse negócio de escrever muito mais do que a gente, nos despedimos de 2023, agradecendo a sua atenção, a sua leitura.
Que pratiquemos, todos, a todo dia, a receita de Ano Novo de Carlos Drummond de Andrade:
RECEITA DE ANO NOVO Carlos Drummond de Andrade Para você ganhar belíssimo Ano Novo cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido (mal vivido talvez ou sem sentido) para você ganhar um ano não apenas pintado de novo, remendado às carreiras, mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo seu interior) novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota, mas com ele se come, se passeia, se ama, se compreende, se trabalha, você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita, não precisa expedir nem receber mensagens (planta recebe mensagens? passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções }para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido pelas besteiras consumadas nem parvamente acreditar que por decreto de esperança a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa, justiça entre os homens e as nações, liberdade com cheiro e gosto de pão matinal, direitos respeitados, começando pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre.”
Natal de 2023, as compras por canais virtuais, seja nos chamados “marketplaces”, sites que reúnem pequenos ou mesmo grandes comerciantes que utilizam a plataforma para suas vendas, ou mesmo nos canais digitais diretos das lojas, é uma tendência irreversível e reflete o tempo em que vivemos, quando a tecnologia permite que toda a cadeia de fornecedores e logística do comércio faça com que um produto comprado pela internet chegue em nossas casas em poucas horas.
Voltemos ao natal de 1913.
110 anos atrás, mal e mal poucas residências da capital paulista tinham sequer uma linha telefônica. Os mascates, muitos imigrantes árabes, vendiam suas mercadorias de porta em porta. Os bairros concentravam pequenas lojas que vendiam de tudo. De alimentos a produtos de limpeza.
O paulistano que morasse em um bairro retirado e precisasse comprar um produto mais sofisticado só contava com as lojas do centro da cidade.
Mas, naquele Natal de 1913, uma nova loja inaugurada em 29 de novembro daquele ano, trazia uma novidade para a cidade. O conceito de departamentos.
Pela primeira vez os paulistanos poderiam entrar em um edifício e encontrar desde roupas até as novidades tecnológicas da época, tudo dividido em departamentos.
A novidade foi trazida pelos irmãos Walter John Mappin e Herbert Joseph Mappin, que abriram a sua loja na rua quinze de novembro, voltada à alta sociedade paulistana, mostrando vitrines de cristal na fachada, louças, porcelanas e objetos sofisticados para uma seleta clientela.
O sucesso foi absoluto. Logo o Mappin se tornaria referência de loja “chique” para os paulistanos. Tanto que a sede da rua Quinze de Novembro ficou pequena e, em 1919, a loja se mudou para a Praça do Patriarca. Nesse momento já contava com 34 departamentos e mais de 200 funcionários em sua estrutura.
A crise de 1929, o crescimento da cidade e a “invenção” do crediário
O Mappin que se firmara como uma “loja da elite” enfrentaria um grande problema quando a crise financeira de 1929 mexeu com a economia mundial, refletindo no consumo brasileiro também. O jeito foi se reiventar, com algumas soluções inovadoras naquele momento.
Primeiro, a empresa passou a usar uma comunicação em suas vitrines introduzindo algo que hoje, para nós, é basicamente comum. Passou a informar o preço das mercadorias expostas nas vitrines, o que não era usual no comércio à época.
Com o dinheiro “curto” das pessoas naquele momento de crise, introduziu o conceito de crediário. Pagar parcelado o valor da mercadoria.
As estratégias não só deram certo, como, passado o momento da crise de 1929, continuaram a impulsionar as vendas ainda sob a direção dos irmãos Mappin.
Em 1936, entretanto, suas ações foram colocadas à venda e compradas pelo inglês Alfred Sim, que, ao se tornar o maior acionista da loja implantou uma nova administração, adequando ao mercado brasileiro e com mais opções de mercadorias nacionais. Com o novo modelo de negócios, a empresa retomou seu crescimento e mudou a razão social para “Casa Anglo Brasileira S.A.”.
Em 1939, a empresa se mudaria novamente, desta vez para o edifício icônico onde permaneceria por mais 60 anos, o edifício da Praça Ramos de Azevedo. Em frente ao Theatro Municipal, possivelmente um dos endereços mais conhecidos do comércio paulistano do século XX.
Nas décadas de 40 e 50, o Mappin se tornou um verdadeiro ponto de compras para os paulistanos, antecipando o que viria a ser o conceito dos shoppings centers, colocando à disposição diversos tipos de produtos para seus clientes nos vários andares de sua nova sede.
A loja passou a comercializar produtos nacionais, como roupas, móveis e objetos de decoração, com muita diversidade de preços e de produtos. Começava aí a trajetória do Mappin como uma gigante loja de departamentos ou magazine.
Na década de 1940, o avanço econômico brasileiro e a entrada de novas empresas de comércio varejista afetaram a liderança do Mappin, que abriu seu capital na bolsa de valores em 1948.
Em 1950, a empresa teve seu controle acionário vendido ao fazendeiro e empresário do ramo do café Alberto Alves, que colocou no comando seu primogênito, o advogado Alberto Alves Filho. Ele seguiu no à frente do Mappin até a sua morte, em 1982. Sua viúva, Sônia Cosette Domit Alves, herdou a empresa e assumiu o controle do Mappin.
O Mappin teve anos de glória nas décadas de 60, 70 e 80, até o início de 90, lançando suas campanhas publicitárias memoráveis e atraindo multidões para as lojas.
Já nos anos 90, a empresa adquiriu cinco lojas da Sears no Brasil. A empresa adotou a estratégia de abrir filiais não apenas na capital mas no interior de São Paulo e nesta época, adquiriu também o controle acionário da Mesbla, outra loja tradicional.
Apesar de ser um gigante do comércio, com mais de 85.000 itens à venda naquele momento, a estratégia de expansão dos negócios não foi bem sucedida e começou a aumentar muito o endividamento da empresa, que acabou registrando o maior prejuízo de sua história em 1995.
Com isso, o negócio foi colocado à venda e acabou sendo adquirido pelo empresário Ricardo Mansur em 1996. O problema do endividamento, porém, agravou a delicada situação financeira das companhias e o grupo teve a falência decretada em 1999.
O edifício icônico do Mappin passou a ser utilizado por outra gigante do varejo brasileiro, a Casas Bahia, que instalou no prédio uma megaloja, no ano de 2004. A empresa permaneceu no edifício até o início deste ano. Em março de 2023, o edifício, cujo nome é “João Brícola”, ficou novamente desocupado.
Felizmente, por pouco tempo, já que o edifício vai ser reformado para abrigar as instalações das áreas administrativas do Sesc São Paulo.
20 anos depois, a volta
Exemplo do quão forte uma marca se mantém junto ao consumidor, praticamente 20 anos após a falência do grupo controlador, o Mappin voltou ao mercado, mas em outra configuração, como uma loja virtual apenas.
A marca Mappin foi adquirida em dezembro de 2009, em um leilão judicial, pela rede de lojas Marabraz que arrematou a marca por 5 milhões de reais. À época, especulou-se que a loja poderia reabrir, o que não aconteceu.
Levou cerca de 10 anos entre a aquisição pela Marabraz até a inauguração da loja virtual.
Quem tiver curiosidade ou quiser matar a saudade de uma loja que fez história na cidade de São Paulo pode acessar www.mappin.com.br
O Mappin e a Casa da Boia
Sendo à época de sua fundação e primeiras décadas de existência a maior loja de São Paulo, natural que o Mappin necessitasse de uma ampla gama de fornecedores em várias áreas.
Fornecedora não apenas de material hidráulico e das famosas boias de caixa d’água, que fizeram a sua fama, a Casa da Boia fabricava também uma ampla gama de produtos para decoração em cobre, como lustres, por exemplo. Também fornecia mobiliário comercial, como vitrines, suportes para chapéus, para calçados, camisas e armações para expositores diversos.
Os produtos da Casa da Boia, fabricados em cobre niquelado, verdadeiras obras de arte da metalurgia, se encaixavam perfeitamente a uma loja cujo conceito à época era atender a elite paulistana.
As pesquisas no acervo da Casa da Boia conduzidas pelos historiadores Renata Geraissati e Diógenes Sousa, encontraram inúmeros apontamentos em livros-caixa, que registram valores recebidos da “Mappin Stores” nas primeiras décadas do século XX.
Embora os livros não tragam a descrição dos produtos, as transações registradas como venda não deixam dúvidas que a Casa da Boia foi fornecedora durante décadas da mais icônica loja de departamentos paulistana.
Em pleno século 21 e nas grandes metrópoles mundiais, São Paulo, incluída, apertar um botão na parede e imediatamente ter uma lâmpada acesa em nossa casa, empresa, onde quer que seja, ou abrir uma torneira e ter acesso a água potável é algo tão comum, que muitos de nós não se dá conta de que há pouco mais de 100 anos a eletricidade era uma enorme novidade tecnológica.
Essa nova tecnologia emergente àquela época tem relação direta com dois marcos geográficos de nossa capital e também da região metropolitana. As represas Billings e Guarapiranga.
Fundamental para os acelerados processos de crescimento urbano e industrial do século XX, a energia elétrica foi produzida por usinas termoelétricas e hidrelétricas desde os princípios da década de 1880.
Instalada no Brasil desde 1899, a empresa canadense São Paulo Light, Power & Tramway dominou completamente o mercado paulistano de fornecimento de energia elétrica e iluminação pública desde os primeiros anos do século XX . A Light construiu, em 1901, sua primeira usina hidrelétrica. Atualmente denominada Edgard de Souza, esta unidade de produção, localizada em Santana de Parnaíba, foi a principal fornecedora da Capital por vários anos
Entre 1924 e 1925, a falta de chuvas levou à uma significativa diminuição da produção hidrelétrica em São Paulo, obrigando as autoridades municipais a implantarem medidas de racionamento energético, afetando a operação de serviços que dela dependiam como a iluminação pública, as linhas de bondes e o fornecimento doméstico. A Light busca então contornar a situação através de diversas medidas emergenciais para aumentar sua produção, estando entre elas a construção acelerada de uma pequena usina em Pirapora de Bom Jesus.
Em 1923, antes mesmo da crise, a Light entregou ao engenheiro Asa White Billings, um antigo projeto para construção de uma grande hidrelétrica para aproveitamento do potencial energético da descida da Serra do Mar na cachoeira de Itapanhaú – região de Mogi das Cruzes.
Billings solicitou estudos na região da serra e acabou por aceitar uma sugestão do engenheiro F. S. Hyde, que previa o aproveitamento de uma queda 725 metros na região do Rio das Pedras, através do uso de águas de diversos rios da Bacia do Alto Tietê.
Dois reservatórios – Rio Grande e Rio das Pedras – seriam construídos e ligados através de um canal. A Represa do Rio das Pedras – de baixa capacidade – receberia as águas do Reservatório do Rio Grande e as enviaria à uma usina a ser construída em Cubatão, através de tubulações que seriam instaladas na encosta da serra.
Os diversos rios da região que seriam aproveitados pelo projeto corriam em direção ao Rio Tietê através do Rio Grande. Por isso, o curso natural das águas precisaria ser invertido através da construção de uma barragem neste rio. Este era o projeto que daria origem às atuais represas Billings e Rio das Pedras, bem como a usina Henry Borden, em Cubatão.
No decorrer do ano de 1925, iniciaram-se obras em diversas frentes: da usina, no pé da serra, em Cubatão, dos tubos adutores, nas escarpas da serra; do Reservatório do Rio das Pedras, na crista da Serra; do canal denominado Summit e da barragem do Rio Grande, em Santo Amaro.
Em 10 de outubro de 1926, foi ligado o primeiro gerador da usina em Cubatão. Em janeiro de 1927, as águas do reservatório Rio Grande começam a subir. Em abril de 1928, o reservatório do Rio Grande atingiu a cota de 727 m e partir de 1929, já era possível navegar pelos braços da represa, ainda que com a cota abaixo da altura máxima, de 747 metros.
Segundo os defensores do projeto e a imprensa da época, além da sua função primária de abastecer a Usina Henry Borden, o Reservatório Rio Grande poderia também servir para abastecimento de água – como de fato ocorreu algum tempo depois – e para amenizar o problema das enchentes em São Paulo, através do controle das águas da bacia do Rio Pinheiros.
O reservatório do Rio Grande recebeu o nome do responsável pela sua construção em 1949, passando a ser largamente conhecida como “Represa Billings”.
A usina de Cubatão, cujo nome é “Henry Borden”, foi continuamente ampliada nos anos seguintes, atingindo sua capacidade máxima em 1961.
O complexo Henry Borden, localizado no sopé da Serra do Mar, em Cubatão, é composto atualmente por duas usinas de alta queda (720 m), denominadas de Externa e Subterrânea, com 14 grupos de geradores acionados por turbinas, perfazendo uma capacidade instalada de 889MW, para uma vazão de 157m 3 /s.
A mais antiga das usinas possui oito condutos forçados externos e uma casa de força convencional.
Já a usina subterrânea é composta de seis grupos geradores, instalados no interior do maciço rochoso da Serra do Mar, em uma caverna de 120 m de comprimento, 21 m de largura e 39 m de altura, cuja capacidade instalada é de 420MW.
Represa de Guarapiranga
A Represa de Guarapiranga, situada na divisa entre os municípios de São Paulo, Itapecerica da Serra e Embu-Guaçu, atualmente oferece água para mais de 4 milhões de pessoas na região metropolitana e tem pouca influência na geração de energia, mas ela nasceu justamente para ser o primeiro reservatório de grande porte a gerar energia para a capital.
Foi formada bem antes da Billings. Inicialmente conhecida por Represa de Santo Amaro, a Guarapiranga teve sua construção iniciada em 1906, pela Cia. Light, sendo concluída em 1908.
Sua finalidade era, originalmente, atender às necessidades de produção de energia na Usina Hidrelétrica de Parnaíba.
Com a entrada em operação da usina Henry Borden, na década de 20 do século XX, a Guarapiranga passa a ser predominantemente um reservatório para abastecimento de água potável a partir de 1928.
Na década de 1940, foram construídas as estações elevatórias de Pedreira e Traição para aumentar a vazão na Usina Henry Borden, revertendo o curso do Rio Pinheiros. O projeto foi ampliado e em 1949 a Billings passou a receber toda a água do Alto Tietê.
No início dos anos de 1980, foi construída uma barragem que separou o braço do Rio Grande do corpo principal da represa Billings. Desde o ano 2000, uma nova captação, em um dos braços denominado Taquacetuba, interligou a Billings à Guarapiranga.
Entre as décadas de 80 e 90 do século passado, a ausência de políticas claras de uso e ocupação do solo por parte da Prefeitura do Município de São Paulo e dos municípios vizinhos contribuiu para a criação de loteamentos irregulares e clandestinos ao redor da represa, que cresceram e hoje são ainda responsáveis por boa parte do lançamento clandestino de esgoto nas águas da represa.
Atualmente sufocada pela ocupação desordenada, a Guarapiranga sofre constantemente com o depósito de esgoto sem tratamento, o que exige um enorme esforço dos responsáveis pelo abastecimento da água na região metropolitana para tratar a água ali captada e fazê-la chegar em condições de consumo adequadas às residências.
Ao longo de seu percurso de 28 quilômetros de margens, a Guarapiranga, abriga inúmeros clubes náuticos, dos quais saíram grandes campeões da vela, como o São Paulo Yacht Club, Yacht Club Paulista, Yacht Club Itaupú, Clube de Campo Castelo, Clube de Campo de São Paulo e o Yacht Club Santo Amaro.
(2) – Cf. Saes, Alexandre Macchione. Luz, leis e livre-concorrência: conflitos em torno das concessões de energia elétrica na cidade de São Paulo no início do século XX. In: Dossiê: História, direito e justiça. Revista História (São Paulo). n.28. Editora Unesp. 2009. Os. 172-234. Acessível em https://www.scielo.br/j/his/a/kqMDc3Hzwmy5ND3ZqBZ6RSt/
(3) – CF. Souza, Edgard. História da Light – Primeiros 50 anos. São Paulo: Eletropaulo, 1989. p.191.
(4) – Cf. Jornal “O Progresso”, 2/7/1911, p.3.
(5) –Cf. Souza, Edgard. Idem.
(6) – Cf. Ibidem. p.91 e p.92.
(7) – Cf. Ibidem.
( 8 ) – Cf. Macedo, Toninho. Billings Viva. p.80.
(9)- Cf. Souza, Edgard. Idem. p.108.
(10) – Cf. Macedo, Toninho.Idem. p.80-81.
(11)- Cf. Jornal “A Manhã”, 27 de janeiro de 1929. p. 6.
(11) – Cf. Gomes, Francisco de Assis Magalhães. A Eletrificação no Brasil. In: Revista História & Energia. Número 2. São Paulo: Departamento de Patrimônio Histórico da Eletropaulo. Outubro de 1986. p.4.
(12) – Cf. Diniz, Renato & Ferrari, Sueli. A Billings e o Projeto da Serra. In: Revista História & Energia. Número 5. São Paulo: Departamento de Patrimônio Histórico da Eletropaulo. 1995. p.22-25.
(13) – Cf. Capobianco , João Paulo Ribeiro & Whately , Marussia. Billings 2000 –Ameaças e Perspectivas Para o Maior Reservatório de Água da Região Metropolitana de São Paulo. Relatório do Diagnóstico Socioambiental Participativo da Bacia Hidrográfica da Billings no Período 1989-99. Instituto Socioambiental, março, 2002. p.16.
A história dos viadutos que transpõem o Vale do Anhangabaú
Como todos sabem a cidade de São Paulo foi fundada por missionários no topo de uma colina, que se erguia às margens do Rio Tamanduateí, nas proximidades da confluência do Rio Anhangabaú. Nos idos do Séc XVI, quando os jesuítas ocuparam as terras do Cacique Tibiriçá e ergueram um pequeno colégio, a região não passava de um ponto de apoio aos tropeiros que seguiam viagem vindos do litoral rumo ao interior paulista e daí para outros estados.
Durante quase dois séculos, São Paulo permaneceu como uma vila pobre e isolada porque era difícil subir a Serra do Mar a pé da Vila de Santos e a geografia da área que viria a ser a capital também não ajudava muito os deslocamentos.
A situação viria a mudar em 1681 quando o Marquês de Cascais transferiu a capital da Capitania de São Vicente para a Vila de São Paulo. Com o crescimento da importância da capital paulista, em 1711 a região foi elevada à categoria de cidade.
Porém, a “cidade” da época se resumia ao que hoje conhecemos por “triângulo histórico”, formado pelos vértices das ruas que ligavam três pontos da cidade: o Largo São Bento, o Pateo do Collegio e o Largo São Francisco.
O adensamento da população paulistana na área tinha, também, um motivo geográfico, pois para a expansão da cidade um problema precisava ser resolvido: a transposição dos vales que cercavam a colina inicial.
Ao tomarmos o Pateo do Collegio como referência, à norte/leste a colina terminava na encosta que se erguia do rio Tamanduateí, à sudeste, embora menos íngreme a encosta se estendia até a região do atual bairro da Liberdade, depois se encontrava com o mesmo Tamanduateí.
Ao sul, o caminho era subida… para a encosta íngreme onde se encontra a Avenida Paulista. Finalmente à oeste, na direção do local onde seria erguida a principal estação ferroviária da capital, um vale inteiro a transpor, o Anhangabaú.
Viaduto do Chá, o pioneiro
Foi justamente pela transposição do Vale do Anhangabaú, local de plantações de chá, que a cidade de São Paulo começou a se expandir por meio dos viadutos, uma novidade à época, posto que o Viaduto do Chá foi o primeiro a ser construído na cidade.
A primeira estrutura a cruzar o vale data do ano de 1892. Era feita em treliça metálica, e o viaduto foi idealizado pelo litógrafo francês Jules Martin e oficialmente inaugurado em 6 de novembro de 1892 – sendo contemporânea à celebrada Torre Eiffel, construída em Paris em 1889 com o mesmo material.
A proposta da ponte sobre o vale foi apresentada à Intendência Municipal em 1887. Ao ser criado, o viaduto tinha como intenção ligar as ruas Direita e Barão de Itapetininga. Os trabalhos começaram apenas em 1888, mas foram interrompidos um mês depois: o Barão de Tatuí se opôs à demolição de seu solar, onde vivia com a viúva do Barão de Itapetininga.
A briga foi parar na Justiça, porém meses depois foi dado ganho de causa ao Município. No mesmo dia em que saiu o veredicto da Justiça, a população favorável à obra, munida de picaretas e marretas, pôs-se a demolir o solar, expulsando os moradores dali, e o projeto pôde ter continuidade.
A Companhia Paulista de Chá ficou com os direitos do projeto, quando foi retomado em 1889. Porém enfrentou problemas financeiros e quase foi à falência. Então o município transferiu a responsabilidade da concepção para a Companhia de Ferro Carril de São Paulo. Esta encomendou a estrutura metálica que compunha o viaduto à empresa alemã Harkort, de Duisburgo. O material chegou ao Brasil em maio de 1890.
O viaduto foi concluído dois anos depois, tendo sua inauguração em 6 de novembro de 1892. Em um primeiro momento, possuía 240 metros de comprimento, sendo 180 de estrutura metálica e 60 da Rua Barão de Itapetininga aterrada; catorze metros de largura, sendo nove da passagem central e cinco de passarelas laterais (com assoalhos de prancha de madeira); vinte metros de distância do rio; e arco central de 34 metros.
O viaduto era iluminado por 26 lâmpadas a gás e contava, para fins estéticos, com obras de arte em suas quatro extremidades e balaustrada de bronze, com o logotipo da Companhia de Ferro.
Para pagar as despesas de sua construção, eram cobrados sessenta réis, ou três vinténs, para a utilização da passagem, o que na época garantiu o apelido de Viaduto dos Três Vinténs.
Existia um portão no local para controlar a passagem e restringir seu uso no período da noite que só foi removido, tornando o viaduto gratuito, em 1897, quando o vereador Pedro Augusto Gomes Cardim, apoiado por uma petição popular, levou uma moção à Municipalidade.
Com o aumento do trânsito, congestionamentos e forte urbanização do centro de São Paulo, a estrutura passou a dar sinais de fadiga. Para substituí-lo, a Prefeitura instituiu durante a década de 1930 um concurso para a construção de outro viaduto no mesmo local. Levou a proposta do arquiteto carioca Elisário Bahiana, responsável também por projetar, em uma das cabeceiras do Viaduto, o edifício que por muitos anos abrigou o Mappin.
Em 18 de abril de 1938 o novo viaduto foi inaugurado ao lado do antigo (que começou a ser desmontado no mesmo dia), construção esta em concreto armado, com quase o dobro da largura, estrutura esta que permanece até hoje em uma das extremidades do Vale do Anhangabaú.
Viaduto Santa Ifigênia
Viaduto Santa Ifigênia nos anos 1940.
Ainda enquanto o primeiro viaduto do chá estava em funcionamento, a experiência bem sucedida da transposição do Vale do Anhangabaú pedia uma solução para a sua outra extremidade, justamente na colina onde fora fundado o Colégio Jesuíta que originou São Paulo.
A história desse viaduto se inicia por volta de 1890. Consta ter sido idealizado por Francisco da Cunha Bueno e Jayme Serra, que obtiveram naquele ano, a licença do Conselho de Intendentes, para a sua construção. A obra não foi iniciada e o contrato foi cancelado.
Em março de 1893, a Câmara autorizou a desapropriação do terreno entre o Mosteiro de São Bento e a Cia. Paulista de Vias Férreas e Fluviais, mas por divergências políticas mais uma vez o projeto foi suspenso. Depois de várias idas e vindas, finalmente o prefeito interino em exercício, Raymundo Duprat, conseguiu dar andamento ao processo.
Em 1908, a prefeitura obteve um financiamento de 700 mil libras junto ao governo da Inglaterra, fato esse pioneiro na municipalidade. A última parcela do empréstimo foi paga somente nos anos 70.
Projetado pelo escritório Micheli e Chiappori, o Viaduto Santa Ifigênia foi inaugurado em 26 de setembro de 1913 pelo prefeito Raymundo Duprat. Sua estrutura metálica tem 225 metros de extensão e três arcos. As grades do guarda-corpo são em ferro forjado, em estilo Art Nouveau. A via de trânsito foi pavimentada com blocos de granito (paralelepípedos) e incluía duas vias de trilhos para bondes elétricos.
A estrutura do viaduto foi totalmente fabricada na Bélgica. Cerca de mil e cem toneladas de armação metálica desembarcaram no porto de Santos e chegaram na região pela estrada de ferro São Paulo Railway.
A montagem foi realizada pela empresa Lidgerwood Manufacturing Company Limited, sob a direção do engenheiro Giuseppe Chiappori, sócio de Giulio Micheli e Mário Tibiriçá, enquanto a execução das fundações ficou a cargo do mestre de obras e carpinteiro alemão Johann Grundt.
Com a construção do Viaduto Santa Ifigênia, o largo de mesmo nome transformou-se rapidamente e viu surgir vários edifícios no seu entorno.
O Viaduto Santa Ifigênia, em sua estrutura de ferro e aço trazidos da Bélgica no início do Séc. XX, até hoje impressiona por sua beleza.
Apenas em 1975 a estrutura passou a ser protegida por lei municipal de zoneamento. Em 1978, houve nova restauração, desta vez pela Emurb. Foram acrescentadas luminárias em estilo antigo, misturadas com holofotes, e calçamento em pastilhas coloridas, Nesse trabalho também foi acrescentada uma escada metálica de acesso à av. Prestes Maia.
O objetivo ao construir este viaduto era, além de ligar os Largos São Bento e Santa Ifigênia, melhorar o trânsito de carros e carruagens que enfrentavam a ladeira da Av. São João, além de melhorar o trânsito da rua XV de Novembro e da rua São Bento, por onde passavam os bondes. Assim, haveria uma maneira mais eficiente de ligar um lado do Anhangabaú ao outro.
O segundo viaduto do centro da capital foi até tema de música do compositor Adoniran Barbosa “Viaduto Santa Efigênia” (leia o post de 2 de dezembro), em que ele exalta para a sua amada a beleza da construção:
Viaduto Santa Efigênia Adoniran Barbosa
Venha ver! Venha ver Eugênia, Como ficou bonito O Viaduto Santa Efigênia! Venha ver Foi aqui, Que você nasceu Foi aqui, Que você cresceu Foi aqui que você conheceu O seu primeiro amor Eu me lembro Que uma vez você me disse Que um dia que demolissem o viaduto De tristeza, você usava luto Arrumava sua mudança E ia embora pro interior
“Quero ficar ausente O que os olhos não vêm O coração não sente…”
O Brasil comemora, em 2 de dezembro, o Dia Nacional do Samba. Há duas histórias que se cruzam e que explicam o motivo das homenagens ao gênero nesta data, uma no Rio e a outra em Salvador.
No começo dos anos 1960, uma época em que a música norte-americana entrava com muita influência no Brasil, pairava no ar um certo receio diante de uma suposta ameaça aos gêneros nacionais. Neste contexto, entre os dias 28 de novembro e 2 de dezembro, foi realizado no Palácio Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro, o Congresso Nacional do Samba, que teve participação de nomes como Pixinguinha, Aracy de Almeida e Almirante.
Nesta ocasião, foi redigido um documento batizado de Carta do Samba, que versava sobre a importância do gênero, bem como sobre a necessidade de manter suas características fundamentais. Na página 6 do documento, um aviso: “foi sancionada lei estadual declarando o dia 2 de dezembro Dia do Samba, à base de projeto apresentado, nesse sentido, pelo deputado Frota Aguiar”. O projeto citado, no entanto, acabou vetado pelo governador Carlos Lacerda. Só acabou sendo sancionado em 1964.
Antes disso, em 1963, o vereador soteropolitano Luiz Monteiro da Costa também apresentou um projeto de lei, este na Câmara Municipal de Salvador, que “institui o Dia do Samba, manda preservar as características da música popular e dá outras providências”. Monteiro da Costa mencionava que a proposta era também uma homenagem ao compositor Ary Barroso, que acabara de receber o título de “Cidadão da Cidade de Salvador”. O vereador baiano, no entanto, também citava a Carta do Samba redigida no Rio em seu projeto de lei.
“Nas escolas de samba da Guanabara e nos redutos principais do samba, nessa data, o samba será festejado com o repicar de tamborins, com o ‘roncar’ das cuícas e com uma alvorada de 21 batidas no ‘surdo’. O tão esperado Dia do Samba também será comemorado pelas emissoras de rádio que apresentarão programas com gravações de nossa consagrada música popular”, diz trecho do documento histórico.
Com as duas manifestações políticas em torno do gênero, uma no Rio e outra em Salvador, passou-se a comemorar o Dia do Samba no dia 2 de dezembro. Ao longo do tempo, a homenagem ganhou proporção nacional.
A gente não pretende aqui nos estender em compreender, comentar ou tentar, pretensiosamente este ritmo a respeito do qual Dorival Caymmi já alertava em sua canção “Samba da Minha Terra”. Segundo Caymmi, “quem não gosta de samba, bom sujeito não é. É ruim da cabeça, ou doente do pé”.
Enfim, falar de samba é falar de um dos gêneros musicais preferidos dos brasileiros, e olha que há incontáveis variações de samba:
Samba-enredo – com origem no Rio de Janeiro na década de 30, é um samba que determina o ritmo dos desfiles das escolas de samba e aborda temas sociais e culturais.
Samba-de-partido-alto – é um samba de origem pobre, que tenta demonstrar a realidade de regiões carentes. Seus principais compositores são Moreira da Silva, Zeca Pagodinho e Martinho da Vila.
Samba-Pagode – um dos ritmos dentro do samba que mais fazem sucesso, surgiu no Rio de Janeiro nos anos 70, com letras românticas e ritmo repetitivo, tem como principais representantes grupos como: Fundo de Quintal, Raça Negra, Só Pra Contrariar, entre outros.
Samba-canção – com origem na década de 20 tem característica ritmo lento e letras românticas.
Samba-carnavalesco – são as famosas marchinhas que embalavam os carnavais antigos e bailes típicos.
Samba-exaltação – esse tipo de samba trazia um saudosismo com letras que mostravam as maravilhas brasileiras, junto com acompanhamento de orquestra.
Samba-de-breque – tipo de samba que tem interrupções para comentários no meio da música, com temáticas críticas ou humorísticas.
Samba de gafieira – com origem nos anos 40, tem ritmo rápido e forte com acompanhamento, muito comum em danças de salão.
Sambalanço ou Samba Rock – Com influência do jazz o surgiu entre as décadas de 50 e 60 e embalou boates em São Paulo e Rio de Janeiro. Tem como principais representantes Jorge Ben Jor, Wilson Simonal e mais recentemente Seu Jorge.
Samba praiano – A Academia de Samba Praiana foi criada em 10 de março de 1960, por um grupo de rapazes, oriundos das cidades de Pelotas, Rio Grande e também Porto Alegre.
Samba-de-morro – é um sub-gênero musical do samba, criado e difundido na década de 1930, na cidade do Rio de Janeiro, por compositores que frequentavam as rodas de samba da Turma do Estácio. De ritmo vivo, o samba de morro é um estilo autenticamente popular, que costuma ser acompanhado por um pandeiro, um tamborim, uma cuíca e um surdo. Suas letras em geral tratam de temas diversos como malandragem, mulheres e o cotidiano nos morros e favelas cariocas.
João Rubinato e o samba paulistano
Só por estes exemplos já dá para ver que a gente pode passar um ano inteiro de nosso blog apenas falando de samba, mas hoje, a homenagem vai para João Rubinato, caipira de Valinhos, interior de São Paulo, que se tornou uma referência incontestável do samba paulista e cantou a cidade em centenas de composições.
Se você está aí pensando quem é esse tal de João Rubinato, é que ainda não dissemos que ele mesmo não achava seu próprio nome muito comercial e por isso resolveu adotar um nome artístico. Escolheu ser Adoniran Barbosa.
Adoniran compôs centenas de canções, muitas delas, sambas, em que a cidade de São Paulo foi protagonista ou coadjuvante e a gente vai fazer um rápido passeio por algumas delas, começando, como não poderia deixar de ser, por embarcar no trem, que sai agora, às onze horas. Embarque com a gente
Trem das Onze
A canção contrapunha o desejo boêmio do personagem, que aproveitava uma noite de amor no centro de São Paulo, à necessidade de estar em casa para que a sua mãe pudesse dormir, já que ela “não dorme enquanto eu não chegar”. Filho único, o personagem tinha “a sua casa para olhar”. Morava no bairro do Jaçanã e o trem das 11 horas da noite era o último a sair da estação da luz. Assim, se poder ficar “nem mais um minuto com a amada”, o personagem embarcava no trem mais famoso do samba paulista.
O Morro da Casa Verde
Os personagens dos sambas de Adoniram povoavam a cidade, como os sambistas que acordavam o morro da Casa Verde: “Silêncio é madrugada. No Morro da Casa Verde a raça dorme em paz.E lá embaixo meu colegas de maloca, quando começam a sambar não param mais”.
Coríntia
O tatuapé, sede da “Fazendinha” foi cantado em seu amor pelo Timão:
“Como é bom ser alvi-negro, Ontem, hoje e amanhã Respirar no ar mistura Do Tietê com Tatuapé Lá do alto a velha Penha Do Anchieta e Bandeirantes Ver São Jorge lá da Lua Abençoando a fazendinha Onde mora um gigante Tem igreja e tem biquinha Coríntia, Coríntia Meu amor é o Timão
O Casamento do Moacir
Adoniran perambulava com seus personagens pela cidade, até que um dia foram convidados para ir à Vila Ré, no casamento do Moacir:
A turma da favela convidaram-nos Para irmos assistir O casamento da Gabriela com o Moacir Arranjemos uma beca preta E um sapato branco bem apertado no pé E se apreparemos para ir Na catedral lá da vila Ré…
Samba do Arnesto
Mas, nem só de convites bem sucedidos viveu Adoniran. Arnesto o convidou para um samba no Brás, então bairro operário do centro de São Paulo:
O Arnesto nos convidou Prum samba, ele mora no Brás. Nós fumo e não encontremo ninguém Nós vortemo, cuma baita duma reiva Da outra vez, nós num vai mais.
Certamente, quem ficou mesmo com ravia foi Ernesto Paulelli, amigo de Adoniran, o “Arnesto” da música, que cansou de negar em entrevistas, que tenha dado “cano” no amigo.
E de todas as aventuras de Adoniran pela cidade, nem sempre seus “passeios” saiam lá muito bem, como cantou em Samba no Bixiga:
Samba no Bixiga Domingo nós fumos num samba no bexiga Na rua major, na casa do Nicola À mezzanotte o’clock Saiu uma baita duma briga Era só pizza que avuava junto com as brajola
Adoniran foi um cronista da cidade de São Paulo, cantou suas mudanças, como em “Praça da Sé”:
Praça da Sé Praça da Sé, Praça da Sé Hoje você é Madame Estação Sé Quem te conheceu há alguns anos atrás Como eu te conheci Não te conhece mais nem vai conseguir Te reconhecer
Ou então, se espantou com uma obra aqui, bem do ladinho da Casa da Boia, convidando sua amada para conhecer o Viaduto Santa Ifigênia:
Viaduto Santa Ifigênia Venha ver Venha ver, Eugênia Como ficou bonito O viaduto Santa Ifigênia
Em Triste Margarida o galanteador, acompanhando a construção do metrô, tenta conquistar sua amada:
Triste Margarida Você está vendo aquela mulher que vai indo alí Ela não quer saber de mim Sabem por que? Eu menti pra conquistar seu bem querer Eu disse a ela que trabalhava de engenheiro Que o metrô de são paulo estava em minhas mãos E que se desse tudo certo Seria a primeira passageira Na inauguração
Tudo ía indo muito bem Até que um dia, até que um dia Ela passou de ônibus pela via 23 de maio E da janela do coletivo me viu Plantando grama no barranco da avenida…
Adoniran cantou amores, dores, alegrias e tristezas. Suas ou de seus personagens por toda a São Paulo, como quando viveu seu primeiro amor, na Vila Esperança:
Vila Espeança Vila Esperança, foi lá que eu passei O meu primeiro carnaval Vila Esperança, foi lá que eu conheci Maria Rosa, meu primeiro amor Como fui feliz, naquele fevereiro Pois tudo para mim era primeiro Primeira rosa, primeira esperança Primeiro carnaval, primeiro amor criança
Ou quando sentiu a dor da transformação urbana da capital derrubar a sua maloca:
Saudosa Maloca “Se o senhor não tá lembrado Dá licença de contar Que aqui onde agora está Esse edifício alto Era uma casa velha Um palacete abandonado Foi aqui seu moço Que eu Mato Grosso e o Joca Construímos nossa maloca Mais um dia Nem quero me lembrá Veio os home com as ferramentas O dono mandô derrubá”
Ou ainda, quando foi despejado da favela
Despejo na Favela Quando o oficial de justiça chegou Lá na favela E contra seu desejo / entregou pra seu narciso um aviso pra uma ordem de despejo Assinada seu doutor, assim dizia a petição dentro de dez dias quero a favela vazia / E os barracos todos no chão É uma ordem superior
Adoniran, João Rubinato, Matogrosso, Joca, Ernesto, Moacir, Iracema, Eugênia, criador e criaturas se confundem em uma obra monumental, de poesia e reflexão que poucos compositores conseguiram imprimir à cidade de São Paulo de forma tão intensa e apaixonada que talvez, como se vê, atualmente, o “rebatizar” de estações do Metrô, com um complemento, como, “Estação Palmeiras – Barra funda”, não fosse exagero se pensar em “São Paulo – Adoniran Barbosa”.
São vários os nomes que lembramos quando falamos em famílias e seu legado para a cidade. A família Jafet e o desenvolvimento industrial do Ipiranga, a família Matarazzo, várias famílias de origem árabe que construíram a base do comércio de nossa capital, como a família Assad Abdalla, por exemplo e a família Rizkallah, claro, que literalmente ajudaram a construir nossa capital.
Há outra família de relevante legado para a cidade e para a qual nem sempre a gente olha com a devida atenção. Recentemente, no último dia 21, se estivesse viva, sua matriarca teria completado 110 anos: a japonesa Tomie Ohtake.
Monumento em homenagemaos 70 anos da imigração japonesa, na avenida 23 de maio.
Nascida Tomie Nakakubo, chegou ao Brasil no ano de 1936. Casou-se com Ushio Ohtake, de quem incorporou o sobrenome e com quem teve dois filhos, Ruy e Ricardo Ohtake.
Em 1952 iniciou na pintura com o artista Keisuke Sugano. Passeou pela pintura figurativa e abstracionista e a partir dos anos 1970, passou a trabalhar com serigrafia, litogravura e gravura em metal.
Tapeçaria no Memorial da Améria Latina.
Mas, os paulistanos, talvez até mesmo sem saber, tem outras referências da artista que se naturalizou brasileira, em 1968. É na capital paulista que se encontra um acervo de obras de sua autoria em espaços públicos pela capital. Grande parte produzida a partir de seu interesse pela escultura em grandes dimensões.
Quem nunca passou pela descida (ou subida) da Avenida 23 de maio entre o Centro e o Paraíso e não se encantou com as formas fluidas de três “ondas” que “surfam” no canteiro central e que compõem o Monumento aos 80 anos da Imigração Japonesa.
Ou então não se impressionou com a força da tapeçaria gigantesca do auditório Simón Bolívar, no Memorial da América Latina.
Obra “As quatro Estações” na estação Consolação do Metrô.
Passando pela Avenida Paulista, seja pela superfície, ou embaixo dela, outras obras icônicas da artista.
Na plataforma de embarque da estação Consolação, a obra “As quatro Estações” traz quatro painéis em cerâmica representando, como diz o título, o verão, a primavera, outono e inverno.
Na própria avenida, está a última obra pública da artista, uma escultura orgânica, em aço, com 8,5 m de altura.
No Vale do Anhangabaú, mais especificamente na Ladeira da Memória, os paulistanos podem ver outra obra da artista, já integrada à paisagem urbana, uma pintura gigante em empena do edifício, com seus tons em amarelo.
Painel no Auditório Ibirapuera.
Um painel gigantesco em gesso, vermelho, uma das cores com as quais a artista mais se expressava, recepciona os visitantes do Auditório Ibirapuera.
No Campus da USP, o paulistano pode apreciar mais uma série de obras da artista.
Em frente à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas; a escultura “Ultramarinho”, em frente ao Espaço das Artes; o mural de pastilhas na recepção do Instituto de Estudos Brasileiros, dentre outras obras espalhadas pelo Campus.
Mas, se falamos aqui da grandiosa obra da matriarca da família Ohtake, que faleceu em 2015, estendemos nosso post à presença marcante da obra de seu filho, Ruy Ohtake, também falecido, em 2021. Esta expressa na arquitetura.
Hotel Unique.
Possivelmente seu projeto mais famoso seja o “barco” do hotel Unique, nos jardins em São Paulo. Mas Ruy tem outras inúmeras obras na capital de estilo próprio, como o também hotel Renaissance, na região da Paulista, ou o edifício Maison Mouette, em Santo Amaro.
Dentre outras tantas inúmeras intervenções urbanas na capital Ruy também dedicou seu talento a obras públicas, como a estrutura do terminal de ônibus Sacomã ou o complexo de edifícios que urbanizou parte da favela de Heliópolis, na mesma região.
E, claro, o edifício do Instituto Tomie Ohtake, em Pinheiros, que é presidido, por outro membro da família, de igual relevância para a capital paulista: Ricardo Ohtake, menos conhecido por sua produção artística e mais por seu talento na gestão cultural.
Terminal de ônibus Sacomã.
Gestor cultural, arquiteto e urbanista, artista gráfico, curador, Ricardo Ohtake já ocupou uma série de cargos relevantes à gestão cultural. Dirigiu o Centro Cultural São Paulo (CCSP), foi diretor do Museu da Imagem e do Som e da Cinemateca Brasileira e foi Secretário da Cultura do Estado de São Paulo.
Dirige o Instituto Tomie Ohtake desde sua fundação.
Assim como no final do Séc. XIX e início do Séc. XX, famílias de imigrantes contribuíram para a construção de nossa cidade, a família Ohtake foi igualmente importante para a construção de uma identidade urbana refletida nas obras de arte, nos edifícios e nas políticas culturais de nossa cidade.
O feriado de 15 de novembro marca uma data emblemática para os brasileiros, o dia exato em que, no ano de 1889, um golpe político-militar destituiu o então imperador Dom Pedro II, enterrando de vez, após quase 400 anos, o governo monárquico em nosso território.
Após a Guerra do Paraguai, a partir da década de 1870, foi tomando corpo a ideia de alterar o regime político vigente e alguns fatores influenciam nisso: o imperador D. Pedro II tinha apenas duas filhas. O trono seria ocupado, após a sua morte, por sua filha mais velha, a princesa Isabel, casada com Gastão de Orléans, Conde d’Eu, francês, o que gerava o receio em parte da população de que o país fosse governado por um estrangeiro.
O fato de os negros terem ajudado o exército na Guerra do Paraguai e, quando retornaram ao país, permaneceram como escravos, ou seja, não ganharam a alforria, também pesava sobre o imperador.
Além disso, a elite civil e militar estava descontente com os privilégios da monarquia, casos de corrupção e favorecimentos que pressionaram D. Pedro II.
em 1889, Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto, do Partido Liberal, então Presidente do Conselho de Ministros do Império, percebendo a difícil situação política em que o império se encontrava, apresentou à Câmara-Geral, (câmara dos deputados), um programa de reformas políticas do qual constavam, entre outras, medidas para dar maior autonomia administrativa para as províncias, liberdade de voto, liberdade de ensino, redução das prerrogativas do Conselho de Estado e mandatos não vitalícios para o Senado Federal, todas vetadas pela maioria dos deputados de tendência conservadora que controlavam a Câmara Geral.
Por sua vez, os militares do Exército Brasileiro estavam sujeitos às ordens do imperador e do Gabinete de Ministros, formado por civis, que se sobrepunham às ordens dos generais. Crescia na esfera militar e em boa parte da elite civil os ideais republicanos.
Uma “Fake News” antecipou a república
No Rio de Janeiro, os republicanos insistiram que o Marechal Deodoro da Fonseca, um monarquista, chefiasse o movimento revolucionário, com o que concordou, após alguma relutância. O golpe militar, que estava previsto para 20 de novembro, teve de ser antecipado. No dia 14, um boato começou a circular, dizendo que o governo havia mandado prender Benjamin Constant Botelho de Magalhães e Deodoro da Fonseca. Era apenas um boato, mas foi suficiente para antecipar o golpe de estado.
Convencido de que seria preso, Deodoro saiu de sua residência ao amanhecer do dia 15 de novembro, conclamando os soldados do batalhão a se rebelarem contra o governo. Ofereceram um cavalo ao marechal, que nele montou, e, segundo testemunhos, tirou o chapéu e proclamou “Viva a República!”. Depois apeou, atravessou novamente o parque e voltou para a sua residência.
Os revoltosos ocuparam o quartel-general do Rio de Janeiro e depois o Ministério da Guerra. Depuseram o Gabinete ministerial e prenderam seu presidente, Afonso Celso, que bem que tentou resistir apelando para o responsável pela segurança do Paço Imperial, general Floriano Peixoto, que enfrentasse os amotinados. Floriano Peixoto não apenas se recusou a defender o Paço, mas também aderindo ao movimento republicano, deu voz de prisão ao chefe de governo.
O único ferido no episódio da proclamação da República foi o Barão de Ladário, que resistiu à ordem de prisão dada pelos amotinados e levou um tiro.
Na tarde do mesmo dia 15 de novembro, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi solenemente proclamada a República. À noite, na Câmara Municipal do Município Neutro, (o Rio de Janeiro), José do Patrocínio redigiu a proclamação oficial da República dos Estados Unidos do Brasil, aprovada sem votação. O texto foi para as gráficas de jornais que apoiavam a causa, e, só no dia seguinte, 16 de novembro, foi anunciado ao povo a mudança do regime político do Brasil.
As referências à proclamação da República pela cidade de São Paulo
No breve resumo dos acontecimentos da Proclamação da República, alguns nomes citados são conhecidos dos paulistanos. Senão por sua participação no movimento, ao menos pelos que trafegam ou caminham por locais da capital paulistana.
Rua Afonso Celso – Importante via da Vila Mariana, faz menção ao último Presidente do Conselho de Ministros do Império, assim como a rua Visconde de Ouro Preto, no bairro da Consolação.
Praça Marechal Deodoro – A praça que faz menção ao protagonista da Proclamação da República, fica ainda na região central da cidade, na confluência de importantes avenidas, como o Elevado João Goulart, a Avenida São João, Rua das Palmeiras e Angélica.
Rua Barão de Ladário – Localizada no “miolo” do Brás é uma das principais ruas de artigos de comércio popular da capital.
Rua José do Patrocínio – Localizada na Aclimação, reverencia o autor do texto oficial da Proclamação.
Rua Rui Barbosa: localizada no bairro da Bela Vista homenageia um dos principais pensadores e defensores da República. Político, advogado, jornalista, Barbosa usava sua influência na imprensa para propagar as ideias republicanas. Em 15 de novembro de 1889, redigiu o primeiro decreto do governo provisório e foi nomeado ministro da Fazenda, no governo de Deodoro da Fonseca.
Rua Benjamin Constant – Perto da Casa da Boia e saindo da Praça da Sé a rua homenageia o pensador positivista que influenciou o período com ideias republicanas. Foi fundador do Clube Militar com Deodoro da Fonseca e um dos intelectuais do movimento.
Rua Quintino Bocaiúva – Também no centro histórico, pertinho da Casa da Boia, a rua faz menção ao único civil a cavalgar, ao lado de Benjamin Constant e do Marechal Deodoro da Fonseca, com as tropas que se dirigiram ao quartel-general do Exército brasileiro, na manhã de 15 de novembro. foi o primeiro ministro das relações exteriores da República, de 1889 a 1891.
Rua 15 de Novembro – Outra rua a poucos metros da Casa da Boia, a referência à 15 de novembro é óbvia, mas a via é mais antiga do que isso. Ela teve sua origem como uma ligação entre o Pátio do Colégio e o Largo de São Bento, no início da urbanização da cidade. Já se chamou Rua de Manuel Paes Linhares, Rua do Rosário, Rua da Imperatriz e ganhando seu nome atual após a Proclamação da República.
Praça da República – Conhecida antigamente como Largo dos Curros, era ali que os paulistanos do século XIX assistiam a rodeios e touradas. Posteriormente, foi chamada de Largo da Palha, Praça das Milícias e Largo 7 de Abril. Com a Proclamação da República, em 1889, a praça passou a se chamar 15 de Novembro e, finalmente, Praça da República.
Você sabe que a Casa da Boia mantém em seu imóvel histórico uma área de mostra permanente de documentos, fotografias e objetos sobre sua própria história a história de seus fundadores né? Este espaço pode ser visitado periodicamente e a visita é acompanhada pelos historiadores Renata Geraissati e Diógenes Sousa, que ajudam os visitantes a compreender os contextos históricos do final do Séc. XIX e XX, quando nosso fundador, Rizkallah Jorge Tahan, chegou ao Brasil, fundou a Casa da Boia e esta conquistou grande importância para a São Paulo do período.
E claro que opções em museus e casas culturais em São Paulo não faltam, só aqui pertinho da Casa da Boia a gente em várias opções, como o Farol Santander, o Centro Cultural Banco do Brasil, o Centro Cultural dos Correios… mas, você já ouviu falar do Museu da Cidade de São Paulo?
Esta instituição, ligada ao Departamento dos Museus Municipais da Secretaria Municipal da Cultura, tem uma proposta bastante diferenciada. Como explica o próprio site do Museu, são atribuições próprias do Museu da Cidade de São Paulo promover a reflexão contínua das dinâmicas de construção da cidade física e simbólica, retratar sua diversidade cultural e registrar a memória de sua população.
Nessa perspectiva, para além do seu acervo institucional (intramuros), a própria cidade é tratada como acervo operacional (extramuros). Enquanto o primeiro faz referência à cidade, o segundo, mais rico e complexo, possibilita o entendimento da cidade a partir de suas mais diferentes formas.
O legal é que sob o “guarda-chuva” do Museu, está um acervo arquitetônico composto por por uma rede de casas históricas, construídas entre os séculos 17 ao 20 e distribuídas nas várias regiões da cidade que representam remanescentes da ocupação da área rural e urbana da Cidade de São Paulo.
Ou seja, dá para montar um roteiro de visitação praticamente por todos os cantos da 5ª cidade mais populosa do mundo e a maior cidade da América do Sul.
Partindo dos pontos mais distantes do centro, conheça alguns imóveis históricos da cidade que estão sob responsabilidade do Museu da Cidade de São Paulo:
Capela do Morumbi
Na década de 1940, a Cia. Imobiliária Morumby efetivou o loteamento de suas últimas glebas. Fazia parte deste loteamento a antiga casa-sede da fazenda e, em sua proximidade, uma edificação em ruínas de taipa de pilão.
São várias as interpretações históricas atribuídas a estas ruínas: ora como sendo uma capela consagrada a São Sebastião dos Escravos, ora como capela acompanhada de sepulturas destinada aos proprietários da fazenda. Outros estudiosos acreditam ainda que tenham sido apenas ruínas de um paiol. A ausência de documentação mais detalhada não permite afirmar com segurança qual dessas hipóteses é a mais correta.
Visando atrair compradores e valorizar ainda mais os terrenos, a Cia. Imobiliária Morumby contratou o escritório do arquiteto Gregori Warchavchik (1896 – 1972) para fazer a reconstrução das ruínas de taipa de pilão. Interpretando-as como remanescentes de uma antiga capela, Warchavchik completou a edificação com alvenaria de tijolos. Convidou a pintora Lúcia Suanê que, em afresco, representou a cena do batismo de Cristo e os anjos com fisionomias de índios, nas paredes do batistério.
A Capela do Morumbi ficou fechada até por volta de 1975 e continuou sendo propriedade da Cia. Imobiliária Morumby.
Em 1979 o imóvel foi submetido a obras de revitalização e adaptação. Sua nave central foi convertida em sala de espetáculos para a realização de atividades culturais de pequeno porte. Foi aberta à visitação pública em 25 de janeiro de 1980.
Avenida Morumbi, 5.387 – Morumbi
Casa do Sertanista (Caxingui)
Próximo à Capela do Morumbi fica a Casa do Sertanista, cuja construção, remonta, de acordo com estudos realizados pelo arquiteto Luis Saia, a meados do século 17.
Segundo pesquisas sobre a origem desta casa, o Padre Belquior de Pontes teria sido o primeiro morador de que se tem notícia. Sabe-se, entretanto, que no final do século 19 pertenceu à família Beu, sendo posteriormente transferida à família Penteado que acabou por vendê-la à Cia. City de Melhoramentos. Esta, por sua vez, doou o imóvel à municipalidade em 1958 que passou a recuperá-lo em 1966. Em 1970. Concluídas as obras de restauração, foi instalado ali o “Museu do Sertanista”, voltado essencialmente para a cultura indígena.
Até 1987, realizaram-se várias exposições e mostras com o acervo indígena que lá ficava. Neste ano a casa foi fechada por necessidade de obras de conservação, interrompendo-se assim as atividades museológicas até então desenvolvidas.
Em 1989, por meio de um decreto de permissão de uso, esta casa histórica passou a abrigar o Núcleo de Cultura Indígena da União das Nações Indígenas, instalando-se então, a Embaixada dos Povos da Floresta.
Com a saída do Núcleo de Cultura Indígena em 1993, a casa passou por novas obras de conservação e restauro sendo ocupada pelo Museu do Folclore “Rossini Tavares de Lima” de 2000 até 2007. Esteve em restauro de 2008 a 2012, quando reabriu com a exposição “A Casa das Fontes”, da artista Sandra Cinto.
Sítio Morrinhos
O Sítio Morrinhos é um conjunto arquitetônico composto pela casa-sede, construída no início do século 18, por diversas construções anexas datadas da segunda metade do século 19 e outras do início do século 20. Todo o conjunto está implantado no centro de uma extensa área verde, formada por árvores frutíferas e ornamentais.
Na verga da porta principal da casa sede encontra-se a inscrição “1702”, provavelmente a data de sua construção. Originalmente, foi uma residência rural servindo como sede de sítio, propriedade da família Baruel.
Em 1902, toda a área foi levada a leilão e arrematada pela Associação Pedagógica Paulista, como representante do Mosteiro de São Bento. A partir de então, o conjunto arquitetônico foi utilizado como chácara de descanso de seus membros nos finais de semana. Em 1952, o Mosteiro de São Bento faz um acordo com a firma Camargo Correa S.A. para a realização do loteamento da região que deu origem ao atual bairro Jardim São Bento.
A partir desse acordo, Sebastião Ferraz de Camargo passou a ser o proprietário do lote onde se encontra esse conjunto e, em 1952, doou o imóvel para a Prefeitura do Município de São Paulo.
Rua Santo Anselmo, 102 – Jd. São Bento
Casa do Tatuapé
A Casa do Tatuapé é uma construção em taipa de pilão, com seis cômodos e dois sótãos, que se diferencia de outros exemplares remanescentes do período colonial por apresentar telhado de apenas “duas águas”. Um documento de 1698 confirma a construção do imóvel em um terreno que pertencia ao padre Matheus Nunes de Siqueira. Passou por inúmeros donos e funções e no final da década de 1970 foi adquirida pela Prefeitura de São Paulo.
Entre 1979 e 1980, sob responsabilidade do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), por meio de um projeto realizado em conjunto com o Museu Paulista da USP, foram realizadas pesquisas arqueológicas e, em um segundo momento, o imóvel passou por obras de restauro.
Em 1981 a Casa do Tatuapé foi aberta à visitação pública e uma década depois passou por novas obras de preservação. Em 1992, a Casa do Tatuapé foi reaberta à população, abrigando atividades sócio-culturais.
Rua Guabiju, 49
Casa do Bandeirante
A Casa do Bandeirante representa um dos exemplares típicos das habitações rurais paulistas construídas entre os séculos 17 e 18 em vasta área periférica ao núcleo urbano primitivo, localizadas predominantemente junto à bacia de dois rios: o Tietê e o seu afluente Pinheiros.
Neste conjunto remanescente, identificado a partir da década de 30 em princípio por Mario de Andrade e depois por Luis Saia, esta casa representa um raro exemplar de edificação que acompanha as mudanças da cidade de São Paulo desde os primeiros séculos da colonização portuguesa, evidenciando em seu partido arquitetônico e em suas paredes a memória dos processos construtivos da arquitetura colonial paulista, em especial da taipa de pilão.
Em 1602 há registros dessa propriedade como pertencente a Afonso Sardinha, com o nome de Ubatatá, termo tupi que significa “terra dura”. Posteriormente foi feita a doação de seus bens à Capela de Nossa Senhora das Graças da ordem dos jesuítas.
Com a expulsão dos jesuítas em 1759, a área foi a leilão e pertenceu a vários proprietários, tendo sido adquirida por Eugênio Vieira de Medeiros em 1875, sendo conhecida na época com o nome de “Rio Abaixo dos Pinheiros”. A Cia. City de São Paulo comprou o imóvel em 1912 e doou à municipalidade, em 1944, a área que incluía a edificação conhecida então como a “Casa Velha do Butantã”. Após a doação o imóvel permaneceu sem definição de uso até o início dos anos 50.
Em 1953, a Comissão do IV Centenário de São Paulo torna-se responsável pela casa, promovendo sua restauração, realizada pelo arquiteto Luis Saia e nela instalando, a partir de 30 de outubro de 1955, um museu evocativo da época das bandeiras, com acervo próprio, a partir do recolhimento de móveis, utensílios e outros objetos históricos no interior de São Paulo, Minas Gerais e Vale do Paraíba. Acumulando simbolicamente ao longo dos anos identidades diversas, a Casa do Bandeirante está incluída, em caráter permanente, nos roteiros turístico-históricos da cidade, ícone de um passado histórico idealizado, espaço de crítica e contextualização de mitos e documento arquitetônico preservado.
Praça Monteiro Lobato, s/n – Butantã
Sítio Da Ressaca
A Casa do Sítio da Ressaca, como hoje é conhecida, foi sede de um sítio localizado nas proximidades do antigo caminho de Santo Amaro, que era banhado pelo córrego do Barreiro, também chamado Fagundes e Ressaca.
Situada à meia encosta de uma colina, a Casa data, provavelmente, de 1719, ano inscrito na verga de sua porta principal. Algumas de suas telhas são ainda originais e trazem inscrições do século 18, como a data de fabricação e o nome do oleiro. As portas e batentes, em canela preta, também são originais.
A técnica construtiva empregada neste imóvel foi a taipa de pilão, que consistia em socar o barro com a mão de pilão entre pranchas verticais de madeira (taipal), formando-se assim as paredes externas com cerca de 50 cm de espessura; as paredes internas eram originalmente de pau-a-pique. Introduzida pelos portugueses, essa técnica de origem árabe foi amplamente utilizada pelos paulistas que, devido ao seu isolamento geográfico, dependiam essencialmente do barro como recurso para construção.
A Casa do Sítio da Ressaca possui algumas peculiaridades em relação aos demais exemplares de casas bandeiristas existentes na cidade: a assimetria de sua planta, um único alpendre não centralizado na fachada principal e o telhado de duas águas.
Seu último proprietário, Antonio Cantarella, responsável pela urbanização do bairro do Jabaquara, transformou o sítio em chácara, realizando seu loteamento em 1969. Esta modificação coincidiu com a chegada do metrô à região e a desapropriação de mais de um terço da área para instalação do seu pátio de manobras.
Rua Nadra Raffoul Mokodsi, 3 – Jabaquara
Casa Modernista
A Casa Modernista da Rua Santa Cruz, de autoria do arquiteto ucraniano Gregori Warchavchik (1896–1972), projetada em 1927 e construída em 1928, é considerada a primeira obra de arquitetura moderna implantada no Brasil.
Projetada para abrigar a residência do arquiteto, recém-casado com Mina Klabin (1896-1969), filha de um grande industrial da elite paulistana, a casa gerou forte impacto nos círculos intelectuais e na opinião pública em geral, com a publicação de artigos em jornais dos mais diversos espectros políticos, favoráveis ou contrários à nova orientação estética proposta.
Além da edificação, mereceu destaque o jardim, projetado por Mina Klabin, devido ao uso pioneiro de espécies tropicais. Warchavchik relatou as inúmeras dificuldades técnicas que teve que enfrentar durante a construção de um edifício moderno no Brasil, como por exemplo a incipiente indústria da construção civil naqueles anos.
Alguns historiadores apontam contradições presentes na obra, que não correspondiam a preceitos do modernismo europeu, não aceitando totalmente a justificativa dada pelo arquiteto quanto à industrialização. No entanto, nota-se que se trata de uma obra pioneira, de transição, que expressa muitas das contradições da época.
Em 1935, a casa passou por uma reforma, quando o arquiteto procurou adequá-la para a família que crescia, ao mesmo tempo em que experimentava alterações na lógica da circulação e no arranjo dos ambientes.
Nos anos seguintes, pequenas alterações ocorreram, conforme mudavam as necessidades da família, mas, de modo geral, o conjunto manteve-se com as mesmas feições até os dias de hoje. A família residiu ali até meados dos anos 1970, quando vendeu a propriedade. Em 1983, uma construtora apresentou um projeto para implantar na área um condomínio residencial, combatido imediatamente pela população local, que criou a “Associação Pró-Parque Modernista”, mobilizando-se pela defesa da casa e de sua área verde.
Em 1984, a Casa Modernista recebeu tombamento patrimonial pelos órgãos das instâncias Federal (Iphan) Estadual (Condephaat) e Municipal (Conpresp).
Devido a diversos processos judiciários, o imóvel permaneceu sem atividades, resultando daí um rápido processo de deterioração. Em 2000 foram realizadas obras para a sua recuperação. Em 2008, a Prefeitura do Município de São Paulo passou a ser permissionária do imóvel, sendo a responsável por seu uso e manutenção.
Rua Santa Cruz, 325, Vila Mariana
Casa do Grito e Cripta Imperial
A Casa do Grito tem sido motivo de pesquisas sistemáticas sobre seu valor histórico como técnica construtiva, a fim de desvinculá-la do cenário da Proclamação da Independência ocorrida em 1822. Sua denominação deve-se à associação com o quadro de Pedro Américo, intitulado “Independência ou Morte”, onde é retratada uma casa com características semelhantes. No entanto, o documento mais antigo referente a esse imóvel é datado de 1844 e consta dos autos do inventário de Guilherme Antonio de Moraes.
Posteriormente, a pequena casa pertenceria a diferentes proprietários, até ser adquirida, em 1911, pela família Tavares de Oliveira, que permaneceu como moradora até a sua desapropriação pela municipalidade em 1936.
A casa ficou relegada ao abandono até 1955, quando uma campanha, realizada pela Sociedade Geográfica Brasileira e o jornal A Gazeta, atribuiu caráter histórico ao imóvel, a partir da constatação de sua técnica construtiva: a taipa de sopapo ou pau-a-pique. Lançaram, então, a ideia de recuperá-la para visitação pública. Certamente, esta ideia estava vinculada às comemorações do IV Centenário da cidade de São Paulo. As obras de restauro, incluindo uma janela falsa, tiveram a intenção de aproximá-la da casa representada na obra de Pedro Américo, no intuito de caracterizá-la com o cenário composto pelo artista.
Em 1958, por iniciativa da gestão municipal, o imóvel foi transformado em Museu do Tropeiro, abrigando um cenário característico dessa época, composto por móveis e alfaias adquiridos por meio de compra na região do Vale do Paraíba, ou pela doação de particulares e entidades diversas. O projeto tinha a intenção de compor um ambiente do que se imaginou ter sido um pouso de beira de estrada em princípios do século 19.
No final da década de 70, a crítica a essas concepções museológicas implicou na desmontagem do cenário. Os objetos passaram a integrar o acervo de bens móveis históricos, então sob responsabilidade do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH).
Em 1981, a Casa do Grito foi objeto de pesquisas arqueológicas e passou por uma obra de restauro que procurou corrigir os excessos das intervenções anteriormente realizadas. Em 2007 passou por nova etapa de restauro e conservação, tendo sido reinaugurada em 7 de setembro de 2008. Este imóvel está incorporado ao Parque da Independência.
Também no Parque da Independência, está a Cripta Imperial, que guarda os restos mortais do Imperador Dom Pedro I, da sua primeira esposa, a Imperatriz Leopoldina e da segunda esposa, Dona Amélia de Leuchtenberg.
Fica localizada sob o Monumento à Independência, e as histórias de ambas as construções se encontram entrelaçadas, não sendo possível explicar uma sem trazer informações sobre a outra.
O Monumento à Independência foi criado em 1922 como parte das comemorações do centenário da emancipação política brasileira. Em 1917, o Governo do Estado de São Paulo organizou um concurso, aberto à participação de artistas brasileiros e estrangeiros que apresentaram projetos e maquetes. O conjunto de maquetes foi exposto no Palácio das Indústrias. O projeto vencedor foi o do artista italiano Ettore Ximenes (1855 – 1926), cuja aprovação não teve a unanimidade da comissão, que estranhou a ausência de elementos mais representativos do fato histórico brasileiro a ser perpetuado. O projeto de Ximenes foi então alterado, com a inclusão de episódios e personalidades vinculados ao processo da independência, tais como: a Inconfidência Mineira (1789), a Revolução Pernambucana (1817), e as figuras de José Bonifácio de Andrada e Silva (1763 – 1838), Hipólito da Costa, Diogo Antonio Feijó e Joaquim Gonçalves Ledo, principais articuladores do movimento. O monumento, embora não concluído, foi inaugurado em 7 de setembro de 1922, ficando completamente pronto somente quatro anos depois.
Ao longo do tempo, o monumento sofreu vários acréscimos. Em 1953, começou a ser construída em seu interior a Cripta Imperial (ainda referida como capela), onde seriam depositados os despojos da Imperatriz Leopoldina, em 1954. Em 1972, consolidou-se a sua sacralização com a vinda dos despojos de D. Pedro I e, posteriormente, em 1984, dos restos mortais de Dona Amélia, segunda Imperatriz do Brasil.
Praça do Monumento, s/n – Ipiranga
No centro, mais quatro espaços do Museu da Cidade de São Paulo
Chácara Lane
O imóvel tombado em 2004 pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo – é remanescente de uma antiga chácara paulistana construída no final do século 19, sendo importante referência histórica para a memória dos assentamentos urbanos na cidade. Naquele final de século os moradores mais abastados possuíam, além da sua moradia no núcleo urbano central, chácaras localizadas em áreas próximas do centro da cidade ou nos seus arrabaldes para o lazer familiar.
Foi residência do Reverendo George W. Chamberlain e funcionou como sede da Escola Americana, que deu origem à Universidade Presbiteriana Mackenzie. Em 1906, o Dr. Lauriston Job Lane adquiriu da viúva do reverendo, Mary Amnesty Chamberlain, a chácara situada à rua da Consolação 1024, compreendendo casa de morada e benfeitorias. O Dr. Job Lane construiu nesse terreno um consultório projetado pelo arquiteto Jorge Krug.
A Chácara Lane, cujo endereço atual é a Rua da Consolação, entre as ruas Itambé e Piauí, contudo, permaneceu como chácara até os anos 1940, quando foi comprada pela prefeitura para abrir loteamento no local, que não foi executado, pois os técnicos da época concluíram que as ruas seriam muito estreitas e somente casas pequenas poderiam ser construídas.
Rua da Consolação, 1024 – Consolação
Beco do Pinto, Casa da Imagem e Solar da Marquesa
O Beco do Pinto, conhecido também como Beco do Colégio, era uma passagem utilizada na São Paulo colonial para o trânsito de pessoas e animais, ligando o largo da Sé à várzea do rio Tamanduateí.
Atualmente, juntamente com a Casa da Imagem e o Solar da Marquesa de Santos, constitui um significativo conjunto arquitetônico, histórico e cultural.
Seu nome relaciona-se ao sobrenome do proprietário da casa ao lado do logradouro, o Brigadeiro José Joaquim Pinto de Moraes Leme, e às suas desavenças com os vizinhos e a Municipalidade, por ter fechado o acesso ao Beco em 1821. Em 1826, a passagem foi reaberta e recebeu da Câmara o nome oficial de Beco do Colégio.
No ano de 1834, a Marquesa de Santos, ao comprar este imóvel de um dos herdeiros do Brigadeiro Pinto, conseguiu, da Câmara, o fechamento da passagem. Após a abertura da ladeira do Carmo em 1912, atual Av. Rangel Pestana, o Beco perdeu sua função e foi definitivamente desativado.
Vestígios de calçadas do século 18 em dolomita, tijolo e paralelepípedo, assim como fragmentos de louça, vidro, cerâmica, ossos e grafite e, também, material usado para autópsia como estiletes e facas pertencentes à delegacia de polícia que funcionou no local no início do século 20, foram coletados durantes as prospecções arqueológicas executadas pelo convênio de 1979, firmado entre a Prefeitura e o Museu Paulista.
As escadas, grades e portões foram executados de forma a implementar uma versão moderna, sem perder as características anteriores. Vitrines com vestígios dos antigos calçamentos foram montadas no local nas obras de restauro da década de 1990, quando passou a integrar o circuito cultural da cidade de São Paulo.
Casa da Imagem
A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, desenvolve a estruturação da Casa da Imagem, instituição voltada à memória fotográfica da cidade de São Paulo.
A coleção de 84 mil fotografias passou por detalhada intervenção de conservação preventiva e foi guardada em reserva técnica especialmente projetada para sua tipologia, segundo padrão internacional. Cerca de 130 mil destas imagens foram digitalizadas e, com suas informações catalográficas, estão disponíveis no banco de dados, possibilitando o gerenciamento da coleção e o resgate de informações, operação que se completará com o acesso pela internet.
Antecedendo estas ações, a Casa nº 1, assim conhecida pela numeração que recebeu na época de sua construção, foi destinada a abrigar o projeto Casa da Imagem. Em 2009 iniciaram-se as obras de restauro, que incluíram a reparação integral da parte estrutural, adaptação para acessibilidade, rede de lógica e telefonia, instalação do reservatório para combate a incêndio e intervenções nas pinturas ornamentais internas.
Solar Da Marquesa De Santos
Partindo do Páteo do Colégio, os primeiros povoadores passaram a ocupar os terrenos vizinhos, construindo suas moradias e formando as primeiras ruas da cidade. Na Rua do Carmo, hoje Roberto Simonsen no 136, localiza-se o Solar da Marquesa de Santos, raro exemplar de residência urbana do século 18.
Não há dados precisos sobre a data de construção desse imóvel. Em 1802, foi dado como pagamento de dívidas ao Brigadeiro José Joaquim Pinto de Morais Leme, primeiro proprietário documentalmente comprovado. Contudo, documentos do século 18 indicam a existência de quatro casas na Rua do Carmo entre 1739 e 1754. A junção de duas dessas casas de taipa de pilão teria originado o Solar, conforme registros fotográficos do século 19, além de prospecções arqueológicas e análises arquitetônicas realizadas pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH).
A Marquesa de Santos, Domitila de Castro Canto e Melo (1797 – 1867), foi a proprietária entre 1834 e 1867, adquirindo o imóvel da herdeira do Brigadeiro Leme. A partir de então, tornaram-se famosas as festas ali realizadas, e o imóvel passou a ser conhecido como Palacete do Carmo, uma das residências mais aristocráticas de São Paulo. Com sua morte, a propriedade da casa passou para seu filho, o Comendador Felício Pinto de Mendonça e Castro. No ano de 1880, é colocada em hasta pública e arrematada pela Mitra Diocesana, que aí instalou o Palácio Episcopal, introduzindo modificações no local, como a construção de uma capela e de uma cripta sob o altar-mor. É desse momento, provavelmente, a inclusão de características neoclássicas em sua fachada principal.
Em 1909, o imóvel foi adquirido pela The São Paulo Gaz Company, que nele instalou o seu escritório. Para adaptar-se ao novo uso, a casa passou por diversas modificações e ampliações: foram demolidas paredes de taipa de pilão, janelas e portas, transformadas em vitrines. Para melhorar a iluminação e a ventilação, foi aberto um pátio na lateral direita do lote, alterando o desenho do telhado. Na década de 1930 foram construídos anexos à edificação original, aumentando sua área útil e alterando por completo a fachada posterior do imóvel. Em 1967, a Companhia Paulista de Gás (sucessora da The São Paulo Gaz Company) foi desapropriada e todos os seus imóveis passaram à Prefeitura. Em 1975, já incorporado ao patrimônio municipal, o Solar foi sede da Secretaria Municipal de Cultura e alguns de seus departamentos, como o Departamento do Patrimônio Histórico, criado nesse ano.
Os diferentes usos e adaptações sucessivas levaram à descaracterização do imóvel, exigindo sua recuperação, que teve início em 1991. As pesquisas, que embasaram o projeto e as obras de restauração, revelaram não ser possível reconstituir qualquer estágio de construção dentre os vários pelos quais passou o Solar. Deste modo, o restauro realizado, conforme normas internacionais para intervenções em bens histórico-arquitetônicos, procurou preservar e destacar elementos de suas várias etapas construtivas: a conservação dos amplos ambientes do andar térreo, resultantes das diversas demolições, a preservação no pátio interno de vestígios remanescentes da calçada do século 18 e a demolição de intervenções da década de 1960.
O pavimento superior conserva até hoje paredes de taipa de pilão e pau-a-pique do século 18 e mantém as características ambientais das intervenções do século 19, como forros apainelados, pinturas murais e artísticas e pisos assoalhados, entre outras. Trechos de diversas paredes foram deixados aparentes, com o intuito de informar sobre as antigas e as novas técnicas construtivas encontradas no Solar, como a taipa de pilão, o pau-a-pique, a taipa francesa e a alvenaria de tijolos. Quanto ao tratamento dado à fachada, optou-se por conservar sua feição neoclássica, já incorporada à paisagem do centro.
O Solar da Marquesa de Santos abriga atividades museológicas e a sede do Museu da Cidade de São Paulo.
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