Os teatros de São Paulo na virada do Séc. XX
teatros de São Paulo
na virada do Séc. XX
Dia 27 de março é comemorado o Dia Mundial do Teatro.A data foi escolhida pelo Instituto Internacional de Teatro da Unesco (órgão das Nações Unidas voltado à educação, à ciência e à cultura) durante seu IX Congresso Mundial, em Viena, em 1961. A ocasião foi marcada pela inauguração do Teatro das Nações, em Paris, França, mas só um ano depois, em 27 de março de 1962, o espaço cultural realizou uma festa de abertura oficial de uma temporada de apresentações.
Uma das artes mais antigas expressadas pela humanidade, tem sua origem na Grécia antiga, e é “mãe” de um sem fim de variações de linguagem, textos, estéticas, cenografias, vertentes, interpretações e gêneros.
A São Paulo, do Séc. XIX, época em que o imigrante sirio Rizkallah Jorge Tahan chega ao Brasil e posteriormente funda a Casa da Boia era uma cidade bucólica, a sua população dormia cedo, e tinha como atração principal da sua vida noturna, os saraus de poesia na casa das famílias, notadamente as mais abastadas, ou intelectualizadas.
Entretanto, a riqueza que o café começava a gerar impulsionava o crescimento da capital paulista. Ainda mais com a chegada da luz elétrica.A noite, agora, poderia ser estendida. E foi. As atividades antes restritas às residências ganharam espaço em cabarés e bares.
Nesta época, o intercâmbio cultural trazido pela geração dos filhos dos barões do café, que, invariavelmente, acabavam em algum momento de sua formação, estudando na Europa, pedia que a cidade cada vez mais inspirada no velho continente, “importasse” manifestações estéticas, arquitetônicas, culturais e artísticas européias. Uma delas o teatro de ópera.
O aparecimento do primeiro prédio de teatro da capital paulista, chamado de Casa da Ópera, localizado no que é hoje a rua de São Bento, remonta ao século XVII. O prédio ficava entre o largo São Bento e o antigo Largo do Rosário, hoje praça Antônio Prado.
Por questões morais e preconceitos da época, em meio aos manifestos contrários ao seu funcionamento, este pequeno teatro teria sido obrigado a fechar.
No século XVIII, quando dom Luís António de Sousa Botelho e Mourão, o Morgado de Mateus, era governador geral da capitania de São Paulo (1965 a 1775), surgiria aquele que é considerado o primeiro teatro oficial de São Paulo. Seria instalada na Casa da Fundição, nos baixos do Palácio do Governo, no Pátio do Colégio, uma sala de espetáculos para 350 pessoas, chamada igualmente de Casa da Ópera.
O local tinha uma construção rudimentar para uma casa de espetáculos, com três portas no rés do chão e três janelas no primeiro andar. Trazia no interior, à altura do saguão, duas escadas, que davam, uma para o camarim e outra aos 28 camarotes. Na plateia havia bancos simples. A iluminação era feita por velas de cera e candeeiros de azeite.
Foi neste local que dom Pedro I, ao proclamar a independência do Brasil, em 7 de setembro de 1822, foi aclamado pelo povo, rei do Brasil.
Pesquisa de doutorado conta a história de teatros do início do Séc. XX
Em 2010 o pesquisador Fausto Viana publicou um texto intitulado “Elaboração e Viabilidade de um Museu de Teatro na cidade de São Paulo”. Como diz o próprio autor, “O projeto é a elaboração de um Museu de Teatro na Cidade de São Paulo. É um exercício acadêmico, apenas, sem comprometimento nem com a USP, nem com a Vila Maria Zélia, nem com a Prefeitura.” Um projeto de doutoramento em museologia, na Universidade Lusófona de Lisboa.
O autor pesquisa a história de inúmeros teatros antigos de São Paulo e foi fonte de referência muito importante para este post.
Diz ele que a “Casa da Ópera” anteriormente citada era conhecida também por Teatro do Palácio e que foi criado provavelmente entre 1811 e 1813. Foi utilizado pela Sociedade de Harmonia Paulistana, em 1832.
Adotou depois o novo nome de Teatro Harmonia Paulista; foram substituídos pela empresa União e Constância, composta de jovens artistas e negociantes. Em 1860, recebeu ordem de ser destruído, por risco de incêndio.
Teatro Batuíra
O Teatro do Batuíra tinha este nome em função do nome de seu proprietário, o português Antônio Gonçalves da Silva Batuíra. Funcionou entre 1860 a 1870, na Rua da Cruz Preta, nº10, no trecho que ia da Rua do Jogo da Bola à Rua da Freira (na ordem, atuais ruas Quintino Bocaiúva, Benjamin Constant e Senador Feijó), segundo Fausto Viana.
Sua pequena platéia e uma única ordem de tribunas não comportavam mais do que duzentos espectadores, quase sempre estudantes da Academia de Direito, entre os quais assiduamente eram vistos Martinho Prado Júnior, Domingos Marcondes e Souza Lima, e, por vezes, o futuro Barão do Rio Branco.
O Theatro São José
Começou a ser construído em 1858 mas só foi inaugurado em 1864 com apresentação da peça Túnica de Nessus, do estudante de direito Sizenando Nabuco, ainda assim não acabado e cheio de problemas. A plateia era de chão batido e, por algum tempo, muitos assistiam espetáculos sentados em cadeiras levadas pelos escravos.
O teatro só ficou pronto mesmo em 1874, agora, imponente, dispunha de acomodações para mil duzentas e cinqüenta e três pessoas e era considerado um dos maiores teatros do Brasil na época, se consolidando como um importante polo cultural da cidade e passando a receber importantes companhias internacionais.
Mas, na madrugada de 15 de fevereiro de 1898, às vésperas do carnaval, um grande incêndio acabou destruindo o tradicional teatro.
Dizem que um funcionário, preparando o local para o baile de carnaval, havia esquecido uma um bico de gás aberto. Ao amanhecer, o edifício ficou em ruínas, permanecendo apenas as paredes externas.
Logo após o incêndio que destruiu o primeiro teatro foi decidido que o São José seria reconstruído, desta vez, na outra extremidade do Viaduto do Chá, onde hoje está a praça Ramos de Azevedo.
Projetado em estilo eclético pelo arquiteto Carlos Ekman, o novo teatro foi inaugurado em 28 de dezembro de 1909.
O novo São José tinha capacidade para 3000 espectadores,distribuídos em 387 cadeiras na plateia, 39 camarotes, 28 frisas, 356 lugares no anfiteatro, 415 nos balcões e 629 nas galerias.
Todos os lugares da plateia, que tinha forma tradicional de ferradura, possuíam uma visão privilegiada do palco, pois o projeto do edifício aproveitou o declive para o Vale do Anhangabaú, que se situava ao fundo, nas vizinhanças da rua Formosa.
Apesar de majestoso, e de ter recebido grandes companhias europeias, o Theatro São José teve vida curta, com a construção de um vizinho que se tornaria ainda mais famoso.
Em 1911 é inaugurado o Theatro Municipal, praticamente em frente ao São José
Assim o “antigo” teatro teve sua programação fortemente alterada, passando a contar com temporadas curtas, elencos de segunda linha e plateias reduzidas, sendo obrigado a recorrer à fontes de renda alternativa: aluguel das suas dependências para pequenas lojas, ateliês, oficinas de alfaiates e, até mesmo, residências, sendo definitivamente desativado, como teatro, em 1919, passando a pertencer à Assunção e Cia, que venderia o prédio para a São Paulo Tramway, Light and Power Company, a famosa “Light”.
A empresa utilizou as instalações do antigo teatro para as suas atividades até agosto de 1924, quando se iniciou a demolição do prédio. O entulho resultante da demolição do Theatro São José serviu para o aterramento da área onde hoje existe o Mercado Municipal de São Paulo.
As peças que ornavam as fachadas do teatro, como os mascarões e as esculturas em cimento, foram reaproveitadas na construção da Vila Itororó, então construída pelo comerciante português Francisco de Castro, onde permanecem decorando o local até hoje.
No local do Theatro São José foi construído o Edifício Alexandre Mackenzie, que durante muitos anos abrigou as atividades da Light São Paulo e posteriormente da Eletropaulo. Atualmente o edifício abriga o Shopping Light.
Outros teatros tiveram vida mais curta
A São Paulo daquele final de Séc. XIX e início do XX contou com outros teatros, menores, como o Provisório Paulistano. Aberto em 1873 e que recebeu companhias nacionais e internacionais, fechou, depois da reabertura do novo São José.
Reabriu com o nome de Teatro Ginásio Dramático, em 1879. A partir de 1891, passou a ser o Teatro Minerva.
Passou por nova reforma e reabriu com o nome de Teatro Apolo, reabrindo a 16 de fevereiro de 1895. Foi demolido provavelmente em 1898.
O Teatro Politeama foi fundado em 21 de fevereiro de 1892, sendo a terceira casa de espetáculos que São Paulo tinha no período.
Era uma casa para cerca de três mil pessoas, mas em um barracão de zinco e madeira. Amplo, em formato circular, de perfeita solidez, em arco.
Era inicialmente um circo, depois apresentou companhias eqüestres, e aí conheceu o auge com companhias líricas.
Tudo se acabou em 27 de dezembro de 1914, quando foi mais um teatro a pegar foto e terminar totalmente destruído.
O Teatro Santana surgiu por sobre o terreno do antigo Teatro Apolo. Foi aberto ao público em 1900, com grande luxo. Era iluminado com luz elétrica e a gás, tinha entradas separadas para artistas e público, que se distribuía na platéia e em duas ordens de camarotes, sem colunas.
As cadeiras e poltronas da platéia e do balcão tinham seu assento de palhinha, com pernas ou armações de ferro, como então eram usadas nos mais modernos teatros da Europa, mas também só durou aproximadamente dois anos.
Em 12 de janeiro de 1912, o prédio foi vendido ao governo para a construção do Viaduto Boa Vista.
O Teatro Colombo ficava no Largo da Concórdia, e tinha capacidade para 1968 pessoas. Foi inaugurado em 1908, pela Companhia Dramática Italiana, de Antonio Bolognesi. Passou um tempo sendo usado como cinema e em 1966, no dia 19 de julho, foi destruído, adivinhe… por um incêndio.
E São Paulo se tornou polo de produção teatral
Avançando algumas décadas, já um pouco fora de nosso tema, mas impossível não citar, São Paulo é privilegiada por manter em atividade centenas de teatros com programação para todos os públicos. Alguns icônicos para a história do município e para o Brasil.
Para não nos estendermos, citamos alguns, como o Teatro Brasileiro de Comédia, construído e inaugurado em 1948, por iniciativa do industrial italiano Franco Zampari, com o apoio financeiro de parte da elite paulistana, o icônico Teatro Oficina, onde José Celso Martinez Corrêa, dá asas a montagens oníricas, o SESC Consolação, espaço de atuação do rigor técnico de Antunes Filho, o Teatro da Sociedade de Cultura Artística, onde os paulistanos podem apreciar as mais renomadas orquestras de música erudita. O Sergio Cardoso, “casa” da Companhia Cisne Negro de Dança, a Sala São Paulo, uma das mais importantes salas de espetáculo do mundo, o espaço multicultural do teatro do SESC Pompeia, o monumental teatro do Memorial da América Latina e, claro, o circuito comercial com inúmeros teatros que inserem São Paulo ao circuito cultural mundial.
Viva o teatro!
Fontes:
https://virtualia.blogs.sapo.pt/20149.html